"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 6 de julho de 2014

REAL OU FALSO?

O Real foi iniciativa circunscrita no tempo e na meta: afastar o risco iminente da hiperinflação e devolver ao Brasil mínimo de estabilidade e previsibilidade econômica. Nesse sentido, teve êxito e passou à história. A melhor prova do sucesso é que nenhuma outra medida econômica brasileira continua a ser comemorada tanto tempo depois.

Falso é pensar no Real como plano de desenvolvimento de longo prazo ou o projeto de país que nos falta, coisas que ele jamais pretendeu ser. Vejo essa tendência equivocada nas perguntas que me fazem e em muitos artigos na imprensa. No lançamento da moeda eu costumava compará-la ao pedestal de um monumento. Isto é, a estabilidade seria o fundamento sobre o qual deveria ser edificado um projeto de desenvolvimento e distribuição.

Pode-se discutir se o que se construiu é harmonioso ou disforme, completo ou inacabado, se é sólido ou vai ruir amanhã. Já aí, porém, não se trata de mérito ou culpa do Real, mas do que veio depois.

Obra coletiva por excelência, o Real se deve, sobretudo, ao presidente Itamar Franco, a Fernando Henrique Cardoso e aos membros da equipe econômica mais competente que o país teve. Posso falar apenas do momento no qual me coube responsabilidade como ministro da Fazenda nos meses imediatamente anteriores e seguintes à entrada em circulação da moeda em 1º de julho de 1994.Seria exagero afirmar que o lançamento deu certo? Primeiro, graças à preparação por meio da brilhante concepção da URV e do cuidado de tudo anunciar com antecedência, sem choques nem surpresas.

Em seguida, pela execução: a troca de moedas tranquila, sem incidentes; a transparência da informação frequente, em linguagem clara, não em "economês"; a ausência de congelamento ou de tabelamento de preços. Prova é que, de todos os planos econômicos nacionais, o Real é o único que não causou vítimas nem ações de indenização na Justiça.

As fundações resistiram à prova do tempo. Construir sobre elas economia de baixa inflação, crescimento inclusivo e sustentável é o desafio para os sucessores da geração que lhes deixou um pedestal robusto e duradouro.

 
06 de julho de 2014
Rubens Ricupero, Correio Braziliense

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