"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de junho de 2014

NOTAS DO COTIDIANO POLÍTICO PELO JORNALISTA CLAUDIO HUMBERTO

Não pretendemos que este tema se sobreponha aos demais”
Pré-candidato a presidente do Partido Verde, Eduardo Jorge, sobre a “natureza”


GOVERNO PAGOU (SEM SABER)PROTESTO DOS ÍNDIOS

A manifestação de um grupo de índios, em 27 de maio, que ficou conhecida pelas flechas atiradas contra policiais e motoristas, foi bancada com recursos federais. E sem que o governo soubesse. Acionada para investigar o caso, a Polícia Federal identificou servidores e antropólogos ligados ao governo federal ou financiados com recursos públicos, por trás do protesto.

COMO GADO

Recursos também foram usados pelos antropólogos ligados à Funai e Funasa, ilegalmente, para levar índios a Brasília como gado.

CAUSA PRÓPRIA

ONGs fizeram os índios protestar contra o projeto de transferir a demarcação de terras ao Congresso – retirando poder das ONGs.

BUCHA DE CANHÃO

Exibindo cocares que lembravam filmes de faroeste americano, índios foram conduzidos à passeata que acabou em pancadaria e flechadas.

HESITAÇÃO

O Planalto avalia a oportunidade de a PF indiciar e entregar à Justiça servidores e antropólogos que estavam por trás da baderna indígena.

MAUS-TRATOS DE DILMA NA TV

A oposição trabalha para levar à TV, na campanha, testemunhos de funcionários dos palácios do Planalto e da Alvorada supostamente ofendidos pela presidente Dilma. Como o caso da camareira que teria tomado uma bordoada, após pegar um colar diferente do solicitado pela patroa. Ou os médicos e militares, ajudantes de ordem, que, maltratados, passaram a enfrentar até problemas emocionais.

INSUPORTÁVEL

Entre as histórias marcantes de bullying de Dilma: levou uma oficial da Marinha, indignada, a abandonar sua ajudância de ordens.

EU AVISEI...

Ex-ministro muito ligado a Dilma, hoje em campanha no seu Estado, chegou a adverti-la para possível denúncia de serviçais maltratados.

EXCESSOS

Impaciente e intolerante a falhas, Dilma dá broncas consideradas desproporcionais sem olhar a quem, de ministros a camareiras.

BOCA MALDITA

Nelson Bocaranda, o blogueiro do jornal El Universal (Venezuela), que primeiro anunciou o câncer de Hugo Chávez, diz que a doença de Lula voltou, obrigando visitas de madrugada ao hospital Sírio Libanês.

TEMER FAZ OFENSIVA

Às vésperas da convenção do PMDB, nesta terça (10), o vice Michel Temer passa o fim de semana em Brasília ao telefone, em busca de votos favoráveis à reedição da aliança com Dilma.

VIÉS DE BAIXA

Eduardo Campos (PSB) perdeu 4 pontos percentuais e Dilma (PT) 3, na disputa presidencial, segundo o Datafolha. Ambos fora da margem de erro. Aécio Neves (PSDB), mais estável, oscilou apenas 1%.

NOVA SENSAÇÃO

O presidenciável Pastor Everaldo (PSC) caminha para se transformar na sensação da campanha. Sua ligação a Marcos Feliciano (PSC-RJ), terror do mundo gay, não parece atrapalhar seu desempenho.

PP DE VOLTA

Filho do senador Benedito de Lyra (PP-AL) e enrolado com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal, o deputado Arthur Lira apareceu na última reunião do blocão, que se rebelou contra o Dilma.

SANSÃO

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), neo-cabeludo após implante, tenta descobrir quem o apelidou de “Sansão”, após a valentia contra servidores. A brincadeira é dos amigos da “governança” do Senado.

AREIA MOVEDIÇA

O PT-SC, que lançou Cláudio Vignatti ao governo, está uma arara com a presidente Dilma, que rasgou seda na última sexta ao governador Raimundo Colombo, do PSD, que está longe de apoiá-la no Estado.

CIRCULANDO

De nada resolveu a carteirada de Marcio Lacerda (PSB), prefeito de Belo Horizonte, na tentativa de receber a seleção chilena no aeroporto. Foi barrado por militares da Aeronáutica para não “atrasar o desembarque”.

PENSANDO BEM...

...teremos Copa com faturamento Fifa, estádios padrão Lula, transportes estilo Cuba e preços nível Noruega.

PODER SEM PUDOR

BISTURI RÁPIDO

Após uma homenagem ao Dia da Mulher, na Assembleia Legislativa da Paraíba, uma loura estonteante de "magníficos e exuberantes seios", como relatou Hélder Moura no Correio da Paraíba, passou pelo médico e deputado Antônio Ivo. Boquiaberto, cutucou o deputado Inaldo Leitão:

- Eu em cima de uns peitos desses...

Só então Ivo notou que sua própria mulher ouvira o gracejo. E o desafiou:

- O que é que você fazia, Antônio Ivo?!...

Ele, em cima da bucha:

- ...eu pegava o meu bisturi e fazia uma plástica de torar!



11 de junho de 2014
Claudio Humberto

OPOSIÇÃO EM OBSTRUÇÃO NA CÂMARA PARA DERRUBAR DECRETO BOLIVARIANO DA DILMA


Oposição manda dizer para Dilma que aqui não é a Bolívia nem a Venezuela dos seus "miguchos" bolivarianos.
 
O DEM, o PSDB e o PPS anunciaram na sessão desta terça-feira que estão em obstrução para impedir a votação de projetos até que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), coloque em votação o decreto legislativo que suspende a criação de conselhos populares proposta pelo presidente Dilma Rousseff em decreto. Desde a semana passada, nove partidos assinaram requerimento para a tramitação, em regime de urgência, da matéria, mas o presidente Henrique Alves não incluiu a votação dele na pauta.
 
- Desde a semana passada estamos pedindo a votação da urgência e do decreto. O governo imaginou que o assunto sairia da pauta. Ou o presidente da Câmara ou a Casa se pronunciam e aceitam votar este decreto, ou não teremos outras votações - avisou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), acrescentando: - Também poderemos sair da obstrução se a presidente revogar o decreto dela. Será um recuo salutar.
 
O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse estar preocupado com a obstrução na Câmara. Ele participou de evento para entrega de 80 mil cisternas com recursos da Fundação Banco do Brasil, nesta terça-feira.
Segundo ele, o decreto foi mal compreendido, pelos parlamentares, porque não cria nenhuma instituição nova. Carvalho disse que falará com o presidente da Câmara e se dispõe a ir ao Congresso esclarecer dúvidas sobre o tema.
 
- O decreto não cria nenhuma instituição nova. Os conselhos se espalham por 5 mil municípios e prestam um serviço extraordinário para o país. A proposta do SUS surgiu nos conselhos. O decreto não fere nenhuma das prerrogativas do Congresso, ele está sendo mal compreendido - disse.
 
HENRIQUE ALVES DIZ QUE ESTÁ NEGOCIANDO REVOGAÇÃO
 
O anúncio da obstrução da oposição provocou intenso debate no plenário. Henrique Alves reagiu, explicou que ele está articulando com o governo para a revogação do decreto, e fez um apelo para que a oposição saia da obstrução: - Não tenho como discutir agora algo que não pautei. Estou fazendo uma negociação republicana, tentando que o decreto seja revogado. Só espero que amanhã não saia publicado que esta Casa não votou nada por conta dos jogos da Copa. O plenário tem que decidir se quer realizar hoje seu trabalho!
 
A deputada Alice Portugal (PC do B-BA) solidarizou-se com Henrique Alves e cobrou a votação de projetos que estão pautados. - Presidente, o senhor fez um desagravo ao Parlamento. Vários grupos da sociedade estão aqui presentes, aguardando a votação de projetos importantes. Vamos votar - disse Alice.
 
(O Globo)
10 de junho de 2014
in coroneLeaks

PMDB FECHA ALIANÇA COM PT, CHAMANDO GOVERNO DE "INEFICIENTE" E "CORRUPTO"


Decisão foi referendada em convenção nesta terça-feira - André Dusek/Estadão
 
Com críticas ao PT e ao governo, o PMDB aprovou nesta terça-feira (10) em convenção nacional o apoio à reeleição de Dilma Rousseff. Foram 398 votos pela manutenção da aliança (59%) contra 275 (41%) da ala que defendia o rompimento.
 
Mesmo com a vitória, o resultado representa constrangimento ao Planalto. Em 2010, o apoio peemedebista à chapa de Dilma havia sido aprovado por 84% dos convencionais. Com a decisão de hoje, a petista obtém cerca de 2 minutos e 20 segundos (em cada bloco de 25 minutos) na propaganda eleitoral na TV, que é o principal instrumento das campanhas políticas. O espaço no chamado "palanque eletrônico" é definido, principalmente, pelo tamanho dos partidos coligados.
 
O evento peemedebista, realizado no Senado, em Brasília, foi pontuado por reclamações de falta de apoio do partido da presidente da República aos candidatos do PMDB, principalmente no Rio de Janeiro, onde a legenda terá o PT como adversário na tentativa de reeleger Luiz Fernando Pezão. A ala contrária a Dilma chegou a discursar contra a aliança e a distribuir panfletos em que acusa o governo de ineficiência e corrupção.
 
Maior aliado do PT na coalizão dilmista, o PMDB possui cinco ministérios, mas reclama constantemente que seu espaço é pequeno e que não tem autonomia total nas pastas sob sua responsabilidade. Na abertura da convenção, o vice-presidente da República, Michel Temer, minimizou a dissidência e afirmou que a manutenção da aliança com o PT visa "abrir as portas" para que no futuro "o PMDB ocupe todos os espaços políticos, para o bem dos brasileiros".
Dizendo que o partido é o responsável pela "grande revolução social neste país", Temer afirmou que não acreditava nas "intrigas" que, segundo ele, apontavam para traições. Com a vitória de sua ala, Temer será novamente o vice na chapa de Dilma. Antes de discursar, Temer repetiu que estaria satisfeito mesmo que a aliança fosse aprovada até mesmo por margem mínima. E negou constrangimento: "Isso é comum no PMDB, se a gente não se acostumar com isso depois de 40 anos, não dá para fazer política."
Em sua fala, o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), disse que o partido apresentará propostas de governo a Dilma, entre elas o ensino em tempo integral e a "defesa permanente da liberdade de expressão e pensamento". "Disso o PMDB não abre mão", afirmou Raupp. Setores do PT defendem propostas de regulação da mídia. O ex-governador Roberto Requião (PMDB-PR) tem proposta similar, mas ela não encontra respaldo na cúpula peemedebista.
REBELIÃO
 
Vice de Dilma, alas do PMDB ameaçaram nos últimos meses romper a aliança e, inclusive, lideraram na Câmara dos Deputados uma rebelião contra o Palácio do Planalto. Na lista de insatisfações, falta de interlocução com Dilma, reivindicação de maior espaço no governo e de apoio do PT às suas candidaturas nos Estados.
 
Nos discursos da convenção, coube à seção do Rio os maiores ataques. O prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes, afirmou que o partido devolverá "na mesma moeda" eventuais acusações que Pezão sofrer do PT. O partido de Dilma deve lançar na disputa o senador Lindberg Farias. Segundo Paes, o PT não tem sido patriótico em vários Estados. No Estado a maioria do PMDB deve apoiar a candidatura de Aécio Neves (PSDB) à Presidência. Segundo a cúpula da legenda no Estado, o principal culpado disso é o PT.
 
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, candidato ao governo do Rio Grande do Norte, também reclamou em discurso não receber o apoio do PT em seu Estado. Um dos peemedebistas mais críticos à aliança da legenda com Dilma, o ex-ministro Geddel Vieira Lima diz que o apoio seria aprovado por causa de Michel Temer. "Dilma deve ir à nossa senhora aparecida porque Temer a está levando nas costas".
 
Outro opositor à aliança, o deputado federal Danilo Forte (CE) pediu que o apoio ao PT não fosse aprovado. "Meu coração é Eduardo Campos, pena que ele está patinando. Marina [Silva] acabou com ele". Segundo o deputado, ele e o senador Eunício Oliveira (CE) "carregaram Michel no ombro em 2010". "Agora não dá mais: ou salva o Brasil ou o PT", disse ele à Folha.
 
(Folha Poder)
 
10 de junho de 2014
in coroneLeaks

VERGONHA POUCA É BOBABEM...

Cinicamente, Dilma Rousseff tira a corrupção debaixo do tapete, abraça Carlos Lupi de novo e aposenta de vez a faxineira.Não tem nível para criticar a Oposição.
 
O beijo de Carlos Lupi em Dilma Rousseff, dias antes de ser demitido por envolvimento em corrupção. O mito da faxineira ainda estava vivo.
 
Dilma prestigia convenção nacional do PDT que oficializou apoio a sua tentativa de reeleição (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Três anos depois, lado a lado com o mesmo Lupi. A faxineira morreu e está fedendo a cada pesquisa eleitoral.
 
Hoje Dilma foi ao encontro do PDT receber os segundos do partido para a propaganda eleitoral. Para isso, voltou a abraçar Carlos Lupi, ex-ministro do Trabalho e presidente do partido, que ela demitiu em 2011. Naqueles tempos em que mentia ao país que não aceitava corrupção no seu governo. Fosse só isso, até dava para entender, porque o PT de Dilma é o PT do Mensalão e das falcatruas na Petrobras., onde ela presidiu o Conselho de Administração, dando a última palavra sobre todos negócios da estatal. No entanto, Dilma desandou a atacar a Oposição, depois de participar de um ato eleitoral em pleno horário de trabalho. Ou não é crime eleitoral fazer discurso político no exercício do cargo, no meio da manhã?
 
Nem vale a pena referir as críticas de Dilma Rousseff, abraçada e dirigindo-se com familiaridade a um ex-ministro demitido por corrupção. Abaixo, reproduzimos uma matéria de O Globo, de 4 de dezembro de 2011,  para relembrar quem foi Dilma Rousseff e quem foi Carlos Lupi. Ou melhor, quem são! 
 
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do PDT, entregou neste domingo à presidente Dilma Rousseff seu pedido de demissão. Ele se antecipou, desta forma, à decisão da presidente, que convocou para esta segunda-feira reunião da coordenação política para tratar especificamente do caso. Na sexta-feira, em Caracas, Dilma já dera a indicação de que bateria o martelo sobre o futuro de Lupi nesta segunda. Afirmou ainda que tomava decisões objetivas e que não era nada romântica, em alusão ao fato de Lupi ter dito declarado "Dilma, eu te amo" em audiência no Congresso Nacional. Lupi é o sexto ministro a cair envolvido em escândalos de corrupção no mandato da presidente Dilma Rousseff.
 
Lupi entregou seu pedido à tarde, após rápido encontro, de cerca de meia hora, no Palácio da Alvorada. Na reunião, a presidente deixou claro que já havia decidido que demitiria o ministro, após a reunião de coordenação política convocada para debater o tema. A Lupi coube apenas a opção de se antecipar e apresentar seu desligamento.
 
A expectativa de setores do PDT era que Dilma tomasse a iniciativa de demitir Lupi. Para vários integrantes da sigla, a presidente deveria ter feito isso quando a Comissão de Ética Pública recomendou a exoneração do ministro, na quinta-feira passada, por inconsistência nas explicações sobre denúncias de irregularidades no Ministério do Trabalho. No entanto, Dilma avaliou que se o fizesse ficaria a reboque de um grupo auxiliar da Presidência da República. Desta forma, ter pedido esclarecimentos à Comissão sobre a recomendação foi apenas uma forma de ganhar tempo.
 
O secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Paulo Roberto Pinto, foi confirmado como ministro interino da pasta. Ele ocupará o cargo até a reforma ministerial que a presidente Dilma fará em janeiro, provavelmente após suas férias de dez dias logo no início do ano. Não há certeza de que o Trabalho ficará com o PDT, tampouco que migrará para o PT, que cobiça retomar a pasta. Existe ainda uma possibilidade de o PMDB assumir o cargo - por exemplo, na hipótese de se fundirem os ministérios do Trabalho e da Previdência, o que está em estudo no Palácio do Planalto.
 
Lupi se diz perseguido
 
Em nota oficial, Lupi confirmou a decisão em “caráter irrevogável” e se disse perseguido pela “mídia” e pela Comissão de Ética da Presidência, que teria recomendado sua demissão “sumariamente” e sem dar “direito de defesa”.
 
“Tendo em vista a perseguição política e pessoal da mídia que venho sofrendo há dois meses sem direito de defesa e sem provas; levando em conta a divulgação do parecer da Comissão de Ética da Presidência da República – que também me condenou sumariamente com base neste mesmo noticiário sem me dar direito de defesa -- decidi pedir demissão do cargo que ocupo, em caráter irrevogável.
Faço isto para que o ódio das forças mais reacionárias e conservadoras deste país contra o Trabalhismo não contagie outros setores do Governo.
 
Foram praticamente cinco anos à frente do Ministério do Trabalho, milhões de empregos gerados, reconhecimento legal das centrais sindicais, qualificação de milhões de trabalhadores e regulamentação do ponto eletrônico para proteger o bom trabalhador e o bom empregador, entre outras realizações.
Saio com a consciência tranquila do dever cumprido, da minha honestidade pessoal e confiante por acreditar que a verdade sempre vence.
A Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto divulgou também nota na qual informa o pedido de demissão e diz que a presidente Dilma agradece "a colaboração, o empenho e a dedicação" de Lupi enquanto esteve à frente da pasta e afirma que Lupi "continuará dando sua contribuição ao pais". Abaixo, a íntegra da nota:
 
"O ministro do Trabalho e do Emprego, Carlos Lupi, apresentou hoje, em caráter irrevogável, sua demissão à Presidenta Dilma Rousseff.
A Presidenta agradece a colaboração, o empenho e a dedicação do ministro Lupi ao longo de seu governo e tem certeza de que ele continuará dando sua contribuição ao pais. A partir desta segunda-feira, responde interinamente pelo Ministério do Trabalho o secretario executivo Paulo Roberto dos Santos Pinto".
 
Cronologia da crise
 
A cronologia da crise começa no dia 5 de novembro. Reportagem do GLOBO revelou que a CGU constatou indícios de desvios de dinheiro em convênios do Ministério do Trabalho com pelo menos 26 ONGs. A revista “Veja” denunciou também que o coordenador de qualificação do Ministério do Trabalho, Anderson Alexandre dos Santos, participava de suposto esquema de cobrança de propina de ONGs. No mesmo dia, Carlos Lupi afastou Santos - que é filiado ao PDT do Rio, mesmo partido do ministro.
 
No dia 8 de novembro, Lupi e o comando do PDT desafiaram a presidente Dilma Rousseff e avisaram que, em caso de demissão, o partido deixaria o governo. Numa entrevista após reunião da executiva do partido, o ministro diz: "Para me tirar do ministério, só se eu for abatido à bala".
 
No início de novembro, quando as denúncias envolvendo Lupi começaram a ganhar manchetes de jornal, o ministro veio a público desafiar a presidente, afirmando que duvidava que ela o demitisse. Depois, ao ser advertido pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, de que havia extrapolado o tom, ele tentou retratar-se e pediu desculpas, declarando que amava a presidente.
Lupi vai à Câmara apresentar explicações, mas mente sobre a carona em um jatinho. Reportagem do dia 1 de dezembro da “Folha de S.Paulo” mostrou que Lupi acumulou cargos na Câmara de Deputados e na Câmara Municipal do Rio. Ele já tinha sido acusado, anos antes, de acumular a presidência do PDT com o cargo de ministro.
Na sexta-feira, a Comissão de Ética Pública da Presidência da República aprovou recomendação para que a presidente Dilma demitisse o ministro do Trabalho. Dilma pediu, logo em seguida, explicações sobre à comissão.
 
10 de junho de 2014
in coroneLeaks

ELES SABEM O QUE FAZEM

Depois de os metroviários terem resolvido manter na sexta-feira a greve no metrô de São Paulo, a empresa acusou o sindicato de "impor mais um dia de sofrimento covarde à população". Mas errou ao chamar a entidade de "irresponsável". Seria, se a paralisação tivesse sido uma decisão de momento, numa assembleia capturada por um punhado de cabeças quentes e vozes ameaçadoras, que acabaria revertida em pouco tempo pelas lideranças sensatas da categoria. A realidade é o oposto disso.

Em primeiro lugar, trata-se de um sindicato presidido por um membro fundador do ultrarradical Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, o PSTU. Além disso, o operador de trens Altino de Melo Prazeres Júnior é ligado à CSP-Conlutas, o braço sindical da sigla. No primeiro ato do Movimento Passe Livre contra o aumento das tarifas de ônibus, no ano passado, foi detido sob suspeita de vandalismo. É o típico adepto do "quanto pior, melhor". Isso pode fazer dele o que se queira, menos um irresponsável. O termo tampouco se aplica aos seus lugar-tenentes.

Tanto que não escolheram ao acaso o período em que começaram a pressionar a Companhia do Metropolitano para que cumprisse as suas exigências. O seu movimento é um entre tantos que promovem "a chantagem da Copa", como destacou o Estado em editorial de ontem. O intento é prensar contra a parede o poder público nesses dias de tensão diante do que poderão aprontar os black blocs e congêneres quando a bola começar a rolar, na expectativa de dobrá-lo às suas demandas, sem reprimir os seus clamorosos abusos contra os direitos das maiorias que deles dependem. É uma aposta na impotência da autoridade.

Já não bastassem essas evidências de calculado - portanto, responsável - desafio, salta à vista o escândalo das próprias reivindicações. No país em que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) ficou em 5,82% nos 12 meses encerrados em abril último (a data-base dos metroviários), eles começaram pedindo 16,5% de aumento. Não tendo sido a extravagância levada a sério, baixaram o pleito para 12,2%. E rejeitaram, como se fosse esmola, a oferta da companhia que engordaria os contracheques dos seus funcionários a um patamar entre 10,6% e 13,3%, conforme os benefícios incluídos.

Anunciada a greve, a desembargadora Rilma Hemetério, vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), ordenou ao sindicato que mantivesse o metrô funcionando 100% nos horários de pico, no início da manhã e nos fins de tarde, e 70% no resto do tempo. Ela se pautou pelo que estipula a Lei de Greve no caso da paralisação em serviços públicos essenciais. Como fascistas que são, violaram a ordem, sob a alegação de que cumpri-la equivaleria a não fazer greve. "No Brasil, é sabido o déficit de transporte público", argumentou a juíza, em resposta. "Qualquer coisa que diminua isso, no horário de pico, é penalizar a coletividade." Para os grevistas, a coletividade que se lixe.

Por fim, numa cínica tentativa de se mostrar solidários com as suas vítimas, propuseram à companhia, em troca da reabertura das estações, a desativação das catracas. Sabiam perfeitamente bem que nenhum dirigente de empresa, mesmo quando pública, poderia concordar em abrir mão de receita por serviços prestados - que dirá o seu acionista, o Estado. (No caso, a renúncia chegaria a R$ 5 milhões.) A ideia, portanto, era antagonizar o governo paulista com a população, neste ano de Copa e de eleições. Ou, como disse da greve o governador Geraldo Alckmin, é uma "nítida ação política para criar o caos". E para desviar a ira dos paulistanos dos causadores do transtorno para o alvo, afinal, de sua chantagem.

O fato de permanecerem abertas, ontem de manhã, apenas 31 das 61 estações das linhas operadas pelo metrô (ante 37 na quinta-feira) sujeitou a cidade a novo recorde matutino de engarrafamento: 252 km de lentidão. O governo quer a antecipação do julgamento sobre a manifesta ilegalidade da greve. Qualquer que seja a sentença e o desfecho do dissídio, a cidade que se prepare: a central do sindicalista Prazeres já anunciou uma passeata no dia da abertura da Copa, no Itaquerão. O "protesto" sairá da sede dos metroviários, no Tatuapé.

 
10 de junho de 2014
Editorial O Estadão

PROTECIONISMO DESCABIDO

O projeto de lei que proíbe a compra de publicações estrangeiras por órgãos públicos atrasaria o desenvolvimento cultural e tecnocientífico do país; felizmente seu arquivamento já foi solicitado


O líder do PT da Câmara Federal, deputado Vicentinho, apresentou no fim de março deste ano um projeto que impediria a compra de livros e outras publicações estrangeiras por órgãos públicos brasileiros. Pela proposta, universidades e institutos de pesquisa públicos, que sabidamente usam uma vasta produção acadêmica estrangeira, teriam seu trabalho, em grande parte, inviabilizado.

O projeto polêmico veio a público dias atrás, quando especialistas passaram a discutir a conveniência e a oportunidade da proposta, fato que foi levantado pela Gazeta do Povo em reportagem do dia 1.º de junho. O projeto estava apenas em estágio inicial de tramitação – em discussão na Comissão de Serviço Público (CSP). Mas a repercussão negativa foi tão grande que o próprio Vicentinho tomou a iniciativa, na quinta-feira, de solicitar o arquivamento de seu projeto antes mesmo de ele ser votado na CSP.

Embora tivesse sido procurado pela reportagem da Gazeta quando da reportagem sobre o projeto, Vicentinho preferiu não se pronunciar. A assessoria da liderança do PT na Câmara dos Deputados alegou que tinha havido um “mal-entendido” e que o deputado pretendia era proibir a compra de publicações produzidas no Brasil, mas impressas em outros países, como a China, por questões de redução de custo. A proposta, então, serviria como uma forma de proteção e fomento da indústria gráfica nacional. De acordo com a justificativa do projeto, “Objetivando minimizar a constante evasão de divisas, este projeto vem contribuir para que haja o compromisso do poder público para com a economia nacional. Necessitamos de adoção de restrições à importação de livros e demais publicações gráficas comumente adquiridas”.

Ainda segundo a assessoria, o projeto jamais impossibilitaria a assinatura de periódicos acadêmicos. Esse argumento, contudo, não aparecia na justificativa da proposta, nem no texto do projeto de lei. Na verdade, o art. 1.º do PL 7.299 era muito claro: “É vedada aos órgãos públicos federais, estaduais e municipais, a aquisição de publicações gráficas de procedência estrangeira para utilização de qualquer espécie e natureza da administração pública”.

Da forma como estava escrito, havia diversas razões para considerar o projeto absurdo. A primeira delas é que universidades, autarquias, fundações e institutos de pesquisa teriam de cancelar assinaturas de periódicos e bases de dados imprescindíveis para o desenvolvimento tecnológico e científico brasileiro. A segunda é que se tratava meramente de proteção de uma parcela do mercado, em detrimento de todo o resto da economia nacional. Em vez de proteger a economia nacional a única contribuição do projeto seria atrasar o desenvolvimento cultural e tecnocientífico do país.

Menos mal que Vicentinho tenha desistido da proposta; lamentável é que esse recuo tenha sido motivado exclusivamente pela repercussão negativa, e que projetos dessa natureza ainda sejam propostos em pleno século 21, em que a troca, o compartilhamento e a construção de conhecimento ocorrem na velocidade da luz, trafegando por fibras ópticas e cruzando fronteiras nacionais a todo momento. O que o Brasil precisa é de estímulos para ampliar o intercâmbio intelectual e científico, de iniciativas que abram o Estado para a inovação. Não de iniciativas anacrônicas completamente sem qualidades para levar o país a uma condição de país desenvolvido.


10 de junho de 2014
Editorial Gazeta do Povo, PR

ESPELHO ELEITORAL

Atual estágio da campanha presidencial traz recordes de indiferença popular, como evidencia resultado de recente pesquisa Datafolha

Caem todos. Resume-se assim, com certa crueza, o resultado do último levantamento do Datafolha sobre os candidatos a presidente.

Verdade que, numa análise mais detida, a oscilação de Aécio Neves (PSDB), de 20% para 19%, pode não passar de desvio dentro da margem de erro estatística.

Não foi o principal candidato oposicionista, de todo modo, quem se beneficiou do declínio de seus rivais. Este foi significativo no caso de Eduardo Campos (PSB), que interrompe a tímida trajetória positiva que o levara a 11% em maio para aterrissar em 7% na pesquisa publicada nesta sexta-feira (6).

Quanto à presidente Dilma Rousseff (PT), com 34% das intenções de voto (eram 44% em fevereiro), reafirmam-se os prognósticos de que sua eventual reeleição terá de passar pela barreira do segundo turno.

A micrografia dessas variações importa menos, todavia, do que a constatação inicial. Todos caem.

Nunca foi tão alto o percentual dos que, nesse período de eleições anteriores, declaravam não ter candidato. No atual levantamento, 13% dos entrevistados estão indecisos, e 17% falam em anular o voto, ou deixá-lo em branco.

Talvez possa ser atribuído algum peso estatístico ao fato de que, pela primeira vez desde a redemocratização, nenhum político com base eleitoral no Estado de São Paulo dispute a Presidência.

Diminui, sem dúvida, o fenômeno que beneficiou, em outros tempos, os nomes de José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Lula no maior colégio de votantes do país --e que mantém, na sucessão estadual, invariável o favoritismo de Geraldo Alckmin (PSDB).

A importância do horário eleitoral gratuito se acentua, portanto, dado o relativo desconhecimento que ainda recobre os candidatos de oposição nesta disputa.

É mais sedutora, entretanto, a hipótese de que nenhum postulante à Presidência tem conseguido, pelo histórico pessoal ou pela intervenção no debate público, refletir as tensões, as esperanças, as demandas políticas da sociedade.

Raras vezes estas aparentaram ser tão divididas, ao menos nos grandes centros urbanos.

Movimentações sociais exacerbadas, à esquerda, contrastam com uma nem sempre silenciosa expectativa conservadora de repressão policial. Que não se limita, ressalte-se, à necessária contenção dos excessos em manifestações de rua, mas extravasa para velhos temas como pena de morte, diminuição da maioridade penal e defesa da truculência pública ou privada.

Enquanto as tensões sociais se acentuam, às vésperas da Copa do Mundo, os candidatos parecem transitar num mundo à parte, entre "selfies", platitudes, ufanismos e jatinhos. Sua aparente indiferença pelo mundo real encontra seu reflexo na pouca atenção que parcela do eleitorado lhes dedica.


10 de junho de 2014
Editorial Folha de SP

NOTAS DO COTIDIANO POLÍTICO DO JORNALISTA CLAUDIO HUMBERTO

"É um acinte, é uma vergonha"
Presidenciável Aécio Neves (PSDB) sobre o número de ministérios do governo Dilma



DILMA DESPENCOU DEZ PONTOS DESDE FEVEREIRO

Análise das pesquisas realizadas pelo instituto Datafolha, entre fevereiro e junho, mostram que a direção do PT tem motivos para andar preocupada. Desde os 44% das intenções de voto registrados em fevereiro até a pesquisa realizada entre terça (3) e quinta (5), Dilma caiu dez pontos percentuais. Em abril, registrou uma queda, para 38%, e a tendência seguiu em maio, para 37%, até os 34% de junho.

QUEDA BRUSCA

Estudo do especialista Murilo Hidalgom com base no Datafolha, indica que Dilma caiu 9 pontos na região Norte somente de maio para junho.

TENDÊNCIA NACIONAL

A tendência de queda de Dilma se verificou também nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste (4 pontos). No Sul, caiu menos: 2%.

QUEDA LIVRE

A queda acentuada de Eduardo Campos no Datafolha deixou o PSB borocoxô. Com 7%, ele está empatado com Pastor Everaldo (PSC).

SIMPLES ASSIM

Dilma, eterna carrancuda, se diz surpreendida com o “mau humor” contra a Copa. É que as graças prometidas por “São” Lula acabaram.

GRUPO QUER EXPOR PEIXES MENOS GRAÚDOS NA CPI

Um grupo de senadores, deputados e advogados, que negociam a “blindagem” de presidentes de grandes empreiteiras na CPI Mista da Petrobras, combinaram oferecer “carne aos leões”, vazando denúncias contra outros parceiros da estatal. O objetivo é tirar do foco os donos de empresas como Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa etc. e negócios como a refinaria superfaturada de Abreu e Lima (PE).

ESTÁ DIFÍCIL

O grupo, pago a peso de ouro, concorda com a dificuldade de blindar a operação da compra superfaturada da refinaria de Pasadena, nos EUA.

HIPERFATURAMENTO

Estimada em R$ 3 bilhões, a obra da refinaria de Abreu e Lima já custou mais de R$ 20 bilhões e ainda está longe de ser concluída.

AGORA VAI

A estatal EBC, que transmite a TV Brasil “do Lula”, audiência zero, gastou R$ 2,3 milhões com seu próprio centro de transmissão na Copa do Mundo.

VIRANDO SUCO

Petistas passaram o dia mal-humorados, ontem, com nova queda e a alta rejeição de Dilma atestados na pesquisa Datafolha. O desgaste faz a credibilidade da presidente virar suco, dizem seus marqueteiros.

ALIANÇA NO CEARÁ

Estão adiantados os entendimentos para que o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), candidato favorito ao governo do Ceará, disponibilize seu palanque ao presidenciável Eduardo Campos (PSB).

OUVIDOS DE AÇO

Quem duvidava do declínio da popularidade da presidente Dilma Rousseff deve ter ficado impressionado com o coro impublicável da torcida contra ela, ontem, no jogo da seleção.

NA MARCA DO PÊNALTI

É de segunda divisão o time composto por 11 governantes latinos, africanos e do Qatar na abertura da Copa do Mundo com Dilma, liderados pelo “goleiro” Ban Ki-Moon, da ONU, surdo a vaias após bolo de folha de coca boliviana.

QUEDA DE BRAÇO

Impedida pelo próprio partido de disputar a reeleição, a governadora potiguar Rosalba Ciarlini acusa o senador José Agripino, presidente do DEM, de trocar o governo pela reeleição do filho, deputado Felipe Maia.

DESFALQUE

A festa junina da creche Canarinho, na quarta (4), em Brasília, já não conta com sua grande atração: a filha de José Dirceu, hoje com 5 anos. Não vê-la, aliás, é o maior motivo de abatimento do ex-ministro de Lula.

BRIGA TOCANTINENSE

O confronto entre o ex-governador Siqueira Campos e a senadora Katia Abreu (PMDB) agita a política de Tocantins. Ele é acusado de tentar destruí-la, e Katia segue candidata à reeleição, sem temê-lo.

BEM OU MAL, FALEM

Coordenador do núcleo digital do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência, Xico Graziano se reuniu com a bancada tucana para pedir empenho nas citações do nome do presidenciável nas redes sociais.

PENSANDO BEM...

...sexta (6) foi o Dia D da Segunda Guerra na Normandia. Na quinta (12), será o Dia D de Dilma no primeiro turno.


PODER SEM PUDOR

BENGALADA CATARINENSE

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) tentou convencer os catarinenses que é um amor de pessoa, na sua campanha para governadora, em 2010. Não deu certo: ficou em terceiro lugar. Pudera. Certa vez, ela chamou de "Senador da Bengalinha" o tucano Leonel Pavan (SC), que ficou indignado com o desrespeito às sequelas de uma cirurgia em sua perna direita. Ele deu o troco:

- Eu acompanhei a recuperação médica da senadora com a coleira cervical e nem por isso a chamei de "Senadora da Coleira" ou "do Cabresto".

 
10 de junho de 2014
Claudio Humberto

A RECONSTRUÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA

O melancólico apagar das luzes do atual mandato presidencial vem surpreendendo até mesmo quem jamais escondeu seu pessimismo sobre as possibilidades do governo Dilma Rousseff. O desempenho da economia deteriora-se a cada dia. Na esteira de um colapso na confiança de consumidores e investidores, o nível de atividade praticamente estagnou no primeiro trimestre. E está em queda no trimestre em curso. Já se estima que o crescimento do PIB em 2014 não chegue a 1,5%. O que deixaria a taxa anual média de crescimento da economia no governo Dilma Rousseff abaixo de 1,9%.

Apesar desse crescimento pífio, o quadro inflacionário segue preocupante. A inflação em 12 meses está prestes a ultrapassar o teto de tolerância da meta. Inflação de 7,5%, em 2015, em decorrência da inevitável descompressão de preços administrados que ocorrerá depois das eleições, é o que agora prevê um dos principais responsáveis pela desastrosa pajelança ministrada ao País sob o rótulo de "nova matriz macroeconômica" (entrevista de Nelson Barbosa, O Estado de S. Paulo, 29/5).

É bom não ter ilusões sobre a herança amarga com que terá de arcar o novo governo. Há pela frente uma complexa agenda de reconstrução da política econômica. E, dessa perspectiva, o cenário de reeleição da presidente só pode ser visto com enorme desalento. O governo mostra-se completamente despreparado para fazer o que precisa ser feito. Insiste em negar a necessidade de mudanças na política econômica. E, agarrando-se a um discurso primitivo e populista, que marca retrocesso de pelo menos 20 anos no debate econômico do País, vem denunciando qualquer proposta de mudança como defesa de arrocho salarial e desemprego.

A análise do cenário alternativo, de vitória da oposição na eleição presidencial, permite vislumbrar com mais clareza a agenda de reconstrução da política econômica que terá de ser enfrentada em 2015. É bom notar que, em meio às muitas dificuldades, haveria amplo espaço para uma colheita fácil de resultados iniciais importantes, com o anúncio de medidas que possam dar lugar ao choque de credibilidade que há muito tempo se faz necessário na condução da política econômica.

A simples nomeação de uma equipe econômica respeitável, que soubesse manter um discurso coerente e fosse capaz de restabelecer a sintonia entre as atuações da Fazenda e do Banco Central (BC), já faria grande diferença. Na área fiscal, a restauração da credibilidade do registro das contas públicas seria um grande avanço. Bastaria um anúncio singelo de encerramento definitivo do festival de truques contábeis que vêm pautando a política fiscal. Naturalmente, isso exigiria a desmontagem do gigantesco orçamento paralelo que, há muitos anos, o governo vem alegremente mantendo no BNDES.

A condução da política econômica em novas bases, aliada à percepção de efetivo compromisso do novo governo com a manutenção de regras estáveis, agências reguladoras bem tripuladas e postura desarmada em relação ao papel do capital privado na expansão da infraestrutura, poderia engendrar vigorosa recuperação dos investimentos e do nível de atividade.

Depois de todo um mandato presidencial em que as autoridades monetárias se permitiram manter a inflação muito acima da meta, reancorar as expectativas inflacionárias deverá exigir bem mais do que a simples nomeação de uma diretoria competente para o BC. Em meio à necessidade de reajustar preços administrados represados, é bem provável que o novo Banco Central leve algum tempo para fazer a inflação convergir para a meta, mesmo que se mostre convincentemente comprometido com esse objetivo.

Tudo isso seria só o começo: a reconstrução institucional preliminar que, em seguida, permitiria reabrir uma agenda mais ambiciosa de medidas que possam destravar o crescimento econômico do País. Uma agenda que desapareceu de cena há anos.

É essa possibilidade de ampliar as perspectivas de expansão da economia que

estará em jogo na eleição de outubro.

10 de junho de 2014
Rogério Werneck, O Estado de S.Paulo

RECESSÃO ENTRA NO HORIZONTE DA ECONOMIA

Adiada a transição do consumo para o investimento

Recessão. Essa palavra voltou ao vocabulário dos economistas do setor privado como uma possibilidade concreta para os próximos trimestres, mas é vista como uma conclusão prematura por autoridades do governo. Depois de um crescimento de apenas 0,2% no primeiro trimestre do ano, as expectativas se consolidam para uma contração da atividade no segundo e no terceiro trimestres.

"Já estamos em recessão", adiantou, porém, o ex-diretor do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá Sekular Investimentos. Ele explicou: qualquer contração do PIB igual ou superior a 0,2% no segundo trimestre provocará um ajuste sazonal, pelo IBGE, nos dados do primeiro trimestre que passaria a registrar PIB negativo ao invés do crescimento de 0,2%. Isso caracterizaria uma recessão técnica, entendida como dois trimestres consecutivos de queda do produto.


Modelos estão sendo rodados pelos economistas da área financeira com os dados mais recentes da economia real: queda de 0,3% na produção da indústria em abril e retração mais acentuada, de 0,6%, da indústria em maio, segundo dados divulgados pela Anfavea (associação das montadoras), além de menos dias úteis para a produção em junho com o início da Copa do Mundo.

O resultado seria um PIB negativo entre 0,4% e 0,5% no segundo trimestre. Desempenho que gera uma herança estatística ("carry over") ruim para o terceiro trimestre, que também apresentaria taxa negativa de cerca de 0,25%. Nos últimos três meses do ano, a variação do PIB tenderia a zero. Se confirmadas essas projeções, a expansão da economia no último ano da gestão de Dilma Rousseff pode ficar abaixo de 1%.

Técnicos do governo não descartam de todo a possibilidade de recessão. Mas consideram cedo para tomá-la como um cenário provável. Examinando os resultados do IBC-Br de julho de 2013 até o último dado conhecido, de março deste ano, o que se constata é que o país estagnou: teve, na média, uma taxa negativa de 0,02%.

É difícil entender como a inflação resiste no patamar de 6% com uma economia tão fraca, assim como as expectativas de inflação também não cedem.

A resposta está na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, que cita o "realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e dos preços administrados em relação aos livres". Ou seja, os destinos incertos da taxa de câmbio e dos preços represados pelo governo (energia, gasolina) concorrem para manter a expectativa inflacionária elevada para 2015. De março para cá os prognósticos do mercado colhidos pelo relatório Focus do Banco Central já agregaram mais de 1 ponto percentual na projeção de aumento dos preços administrados em 2015.

Em resumo: para levar o IPCA para a meta de 4,5% será preciso, antes, passar por uma inflação na casa dos 7% em 2015. A convergência da inflação, portanto, só pode ser vislumbrada de 2016 em diante, na avaliação de importantes fontes oficiais.

Outra questão que a ata ressalta é que mudanças relevantes na composição da demanda e da oferta agregada só devem ocorrer no médio prazo. Isso se traduziria pela transição do crescimento centrado na expansão do consumo para um modelo privilegiado pelo investimento. Apesar de essa mudança constar dos discursos oficiais, ela não se materializou.

O consumo das famílias e do governo cresceram ao limite e sustentaram a demanda agregada. Mas, agora, ambos bateram no teto. De pouco adianta o ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarar como fez ontem que "a taxa de crescimento da economia seria maior se houvesse mais crédito para o consumo".

Com os níveis de confiança do consumidor e dos empresários próximos ao que estavam no auge da crise global de 2008/09, não há como incentivar as famílias a se endividarem mais frente ao risco de perda do emprego. Os bancos não vão expandir o crédito a contento nem o governo poderá acelerar seu consumo com aumento do endividamento público, por limitações fiscais.

O crédito externo que financiou o aumento da demanda - processo que levou o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos para quase 4% do PIB - também rareou.

O aumento do investimento, porém, não ocorreu, deixando a economia estagnada e o governo sem instrumentos para reanimá-la.

A política monetária implementada pelo Banco Central elevou a taxa básica de juros em 3,75 pontos percentuais e seus efeitos começaram a aparecer. O aperto nos juros derrubou a demanda, mostrando que o juro como elemento central do controle da inflação continua eficaz. Não dobrou as expectativas porque elas estão sendo alimentadas por um eventual choque de preços administrados em 2015.

A elevação da taxa Selic não foi o fator preponderante a desestimular os investimentos. A queda vertiginosa da confiança dos empresários no futuro e a corrosão no relacionamento do setor privado com o governo é que estão na raiz da retração dos investimentos, apesar dos generosos financiamentos do BNDES a juros subsidiados.

Conforme a ata do Copom os juros devem ficar parados em 11% ao ano por um bom tempo. Os efeitos do aumento da Selic sobre a inflação, que são defasados e cumulativos, começaram a aparecer nos indicadores mais recentes da atividade econômica. Ficarão mais evidentes quando em agosto, no auge da campanha eleitoral, o IBGE divulgar o PIB do segundo trimestre.

O tempo econômico está andando mais rápido que o tempo político e isso preocupa o PT, principalmente se o desemprego começar a aumentar de forma visível antes das eleições. Dilma Rousseff concorre ao segundo mandato em uma situação bem mais adversa da que embalou sua campanha em 2010, quando o então presidente Lula turbinou o crescimento para 7,5%, deixou a inflação em 5,91% mas crescente e um ambiente de otimismo no país que elegeu sua sucessora. Foi uma herança ruim. A presidente entrega o primeiro mandato com menos crescimento, mais inflação e o pessimismo está disseminado no país.
 
10 de junho de 2014
Claudia Safatle, Valor Econômico

UMA ENORME PERDA DE TEMPO

Sem mudanças necessárias, o governo empurra a economia à estagnação e a indústria à retração

Precisou que os dados do PIB do primeiro trimestre do ano e os últimos resultados do desempenho industrial fossem divulgados para que se cristalizasse a percepção sentida pelos empresários de um modo geral no dia a dia de seus negócios: a economia está prostrada, para não dizer que regride a olhos vistos.

Quem ainda não se deu conta desta realidade, ou prefere não acreditar no que está ocorrendo, é o governo, ao insistir em adotar a política de nada fazer em período eleitoral.

Por que a economia progressivamente dá sinais de enfraquecimento? A razão principal reside na perda de confiança do empresariado na política econômica praticada pelo governo. Vale observar que a menor confiança alcança também o consumidor, de forma que o processo já envolve os principais responsáveis pelo investimento e pelo consumo. Não por acaso, os segmentos que mais prontamente refletem a deterioração do ambiente de negócios, como o de bens de investimento e bens duráveis de consumo, apresentam resultados cadentes --e vão arrastando os setores produtores de bens intermediários e bens de consumo não duráveis.

Neste ano até abril, a indústria de bens de capital produziu 4,8% menos que no mesmo período do ano passado, tendo sido de 1% o recuo de bens duráveis e de 1,2% o da indústria como um todo.

Potencialmente mais grave, por indicar aprofundamento na retração industrial, o tombo em abril merece destaque: a queda da produção industrial em geral, de 5,8% em relação a abril de 2013, foi puxada por bens de capital e bens duráveis.

Por que são relevantes tais considerações sobre a situação da indústria brasileira? A resposta é que esse setor, não é de hoje, está no centro do baixo crescimento econômico, sendo a razão maior da estagnação do PIB no primeiro trimestre.

A indústria, atualmente, tem pequena representação na economia, mas é muito mais expressiva nos investimentos e na inovação. Como investir e inovar são dois ingredientes indispensáveis para aumentar os ganhos de produtividade e assegurar o crescimento e o desenvolvimento social sustentados no longo prazo, o que se exige da indústria é que ela retome o protagonismo nesses processos.

Mas como recuperar o investimento e reativar as iniciativas inovadoras de um setor que vem de três trimestres seguidos de resultados negativos, medidos pela geração de valor agregado? De fato, tecnicamente, a atividade manufatureira, puxada pela indústria de transformação e a construção, está em recessão há nove meses.

Esta é a razão objetiva do desânimo empresarial. Com exceção da política monetária exercida pelo Banco Central, a condução da economia se notabiliza pela ausência de iniciativas que facilitariam a redução das incertezas empresariais e permitiriam a superação dos atuais entraves ao investimento.

Ao transferir para 2015 ações indispensáveis para a retomada econômica, certamente para se preservar de possíveis desgastes políticos-eleitorais, o governo impõe ao mesmo tempo o adiamento de decisões de investimentos que poderiam retirar a economia da má situação em que se encontra.

Por que investir agora, se é líquido e certo que ocorrerão mudanças relevantes na economia em 2015? A disseminação desse sentimento compromete em cheio não apenas a atividade econômica corrente, mas também, possivelmente, a do ano que vem. Enfim, trata-se de uma enorme perda de tempo.

Sem querer esgotar o rol de ações e reformulações que se fazem necessárias, seria fundamental dar partida o quanto antes, e não somente após as eleições, aos processos que permitirão restabelecer ou acelerar as condições para estimular os investimentos representativos de novas fronteiras de crescimento.

A título meramente ilustrativo, estes seriam os casos da infraestrutura, da energia elétrica, do petróleo e do etanol. No campo propriamente da indústria, já deveriam ter entrado em cena novas orientações de política industrial, de modo a diminuir a ênfase protecionista do mercado interno, deslocando o foco para a construção de competências para inovar e aumentar a produtividade. Isso requer, a nosso ver, uma profunda reformulação da política de comércio exterior e de reinserção do país na economia mundial.

 
10 de junho de 2014
Pedro Luiz Passos, Folha de SP

JUROS, CÁ E LÁ

A coluna de hoje fala sobre política monetária em dois lados do Atlântico, aqui e na Europa.

Ontem, na Ata do Copom, o Banco Central do Brasil não chegou a explicar por que manteve os juros básicos (Selic) a 11,0% ao ano. No comunicado emitido logo após a reunião do dia 28 de abril, avisara que os juros permaneceram os mesmos "neste momento", deixando, assim, a porta aberta para mudanças, tanto em uma direção quanto em outra. A ata não sustenta essa mensagem. Passa o recado de que os juros ficarão por aí por um bom tempo, até que o aperto monetário decidido anteriormente produza pleno efeito, supondo-se que leva entre seis e nove meses para isso.

A queda da atividade econômica (avanço fraco do PIB no primeiro trimestre e perspectiva de queda no segundo) parece ter causado profunda impressão no Banco Central, a ponto de levá-lo a mostrar mais firmeza.

Alguém poderia estranhar que o Copom deixou de olhar só para a meta de inflação e passou a trabalhar também para reativar a economia. É uma leitura equivocada. A paradeira da economia é fator que, por si só, poderá desacelerar a remarcação dos preços e, portanto, segurar a inflação. Isso não significa que a inflação em 12 meses não vá mais saltar para acima dos 6,5% ao ano neste e nos próximos dois ou três meses, como se espera. Significa apenas que a alta pode ser contida em alguma proporção que ainda se vai ver.

No mais, o Banco Central avisa que apenas espera que os efeitos do ciclo de aperto monetário dos últimos 13 meses ainda serão transferidos para a economia. A conferir.

A novidade vem do cão de guarda do euro. Além de derrubar os juros básicos de 0,25% para 0,15% ao ano, o Banco Central Europeu (BCE), presidido pelo italiano Mario Draghi (foto), optou pela prática de juros negativos, inédita em grandes bancos centrais.

Na faixa correspondente aos depósitos que os bancos deixam no BCE, os juros serão de -0,10% (menos 0,10 por cento) ao ano. Ou seja, nesses depósitos, em vez de receber, o banco depositante pagará juros. E ainda terá de enfrentar a desvalorização causada pela inflação. A exigência funciona como a cobrança de um imposto.

O objetivo é levar os bancos a emprestar dinheiro ao mercado e, com isso, ajudar a reativar a economia que por lá está mais parando do que até mesmo andando devagar. As decisões de ontem equivalem a um despejo de 400 bilhões de euros na economia do bloco.

Este é o último passo antes da opção ainda mais radical, que é a de injetar centenas de bilhões de euros por meio da recompra de títulos, operação conhecida como afrouxamento monetário quantitativo, semelhante à que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) começa a reduzir.

Se vai ou não levar a economia europeia e o emprego a engatarem a segunda marcha é coisa que ainda vai se ver. Esse despejo de euros no mercado tende a aumentar as disponibilidades de recursos também para o Brasil.

 
10 de junho de 2014
Celso Ming, O Estadão

CRIME SEM CASTIGO

Se a pena não é muito severa, é óbvio que o delito não foi de extrema gravidade. Mas nem por isso justifica-se que ela não seja cumprida do começo ao fim

Como deveria ser sabido por todos os cidadãos — e principalmente pelos encarregados de cuidar da paz e da segurança de todos nós — aqueles que cometem crimes precisam ser punidos como manda o Código Penal. Quanto pior o delito, mais sério deve ser o castigo. Para isso servem as penitenciárias.

É com surpresa, portanto, que descobrimos, graças a uma denúncia do secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, que uma lei de três anos atrás tornou suave, além do que seria lógico, a punição dos cidadãos condenados a penas de até quatro anos de cadeia. Se a pena não é muito severa, é óbvio que o delito não foi de extrema gravidade. Mas nem por isso justifica-se que ela não seja cumprida do começo ao fim. A lição dada aos culpados tem dupla consequência: vale como castigo e como exemplo.

Devidamente alarmado, Beltrame botou a boca no trombone: diz ele que 16 mil cidadãos foram presos em nosso estado entre janeiro e março deste ano. O que, a propósito, é um número assustador para cidadãos pacíficos. Para os encarregados de manter a lei e a ordem, deve ser desanimador constatar que a tal lei devolveu à rua uma considerável parcela desses 16 mil. Segundo o secretário, a porta giratória nas penitenciárias fez que aumentassem os índices de violência no Rio de Janeiro.

E não vamos esquecer que eles nunca foram baixos. É certo que a condenação à prisão por quatro anos ou menos indica que o réu não é do tipo que decapita criancinhas — mas, por isso mesmo, a pena é relativamente suave. Mas nada sugere que não deva ser cumprida do começo ao fim.

Beltrame afirma, com natural desânimo, que a nova lei teve a consequência de aumentar os números da violência no Rio de Janeiro. Deve ter razão: leis brandas demais obviamente estimulam a criminalidade. Ele propõe mais severidade para crimes como receptação e furtos feitos com auxílio de explosivos. Deve saber por que escolheu esses dois tipos de crime. Possivelmente, porque esses tipos de crime mostram níveis altos no estado. Um observador ignorante provavelmente escolheria delitos mais violentos. Mas é bem possível que esses já sejam punidos na medida certa.

Seja como for, o secretário fez bem em botar a boca no trombone. Infelizmente, uma solução mais enérgica para o problema depende de legislação aprovada pelo Congresso. Um grupo de secretários de Segurança de estados do Sudeste já apresentou proposta ao Legislativo de aprovação de projetos que garantam a punição da bandidagem e reduzam os índices de violência. Não é conhecido o ânimo do Legislativo em relação ao problema. Não vamos desejar isso — mas bem que ajudaria se um senador ou deputado fosse vítima de um assaltozinho brando.

 
10 de junho de 2014
Luiz Garcia, O Globo

RUA, PROTESTO E DESENCANTO

Clima nas ruas fica mais divisivo e impolítico e há desânimo com alternativas políticas

"QUEREMOS TRABALHAR", gritavam pessoas que quebraram portões e invadiram a estação de trem e metrô Corinthians-Itaquera, fechada ontem pela greve dos metroviários de São Paulo.

O clima nas ruas fica mais e mais divisivo desde o fim do ano passado, se não mesmo mais sombrio, uma desagregação que é impolítica (sem política e incivil), embora tenha efeitos políticos, claro, e talvez até derivações abertamente partidárias. Paulo da Força Sindical, adepto de Aécio Neves (PSDB), prometia ontem parar São Paulo com um protesto sindical contra o governo de Dilma Rousseff (PT).

A irritação das pessoas sem trem não é lá grande novidade. Em cada greve nos transportes públicos, é notório que a massa das pessoas se vira como pode para chegar ao trabalho, quando não àquela consulta marcada faz meses num serviço público de saúde. A vida da massa das pessoas é muito precária, bidu. A perda do emprego ou mesmo da consulta chorada pode resultar em desastres pessoais.

Ainda assim, em muita entrevista de passageiros irados, a gente percebe alguma solidariedade com grevistas, que podem de resto ser parentes, amigos ou vizinhos de quem ficou sem ônibus ou trem. Algo na linha, "entendo o direito deles", mas isso "prejudica os pequenos, não os grandes".

Mas, segundo pesquisas, a tolerância caiu bem, dada a agressividade da greve mais recente de motoristas e cobradores de ônibus, sem aviso, que teve trancamentos de ruas e violências mais diretas.

A greve dos metroviários decidida na noite de quarta, surpreendeu gente que voltava para casa no começo da madrugada de quinta e quem acorda muito cedo e não passa a vida "conectado" a mídias.

Aparentemente, a julgar por pesquisas e pela adesão às manifestações, violências diversas aos poucos envolveram os protestos de rua num clima mais sinistro, ao menos desde as depredações que se seguiram ao refluxo da massa na rua no final de 2013.

A morte do cinegrafista Santiago Andrade, em fevereiro, saques e medo por ocasião da greve da polícia em Recife e os tumultos agressivos das greves de ônibus em dezenas de cidades contribuíram para degradar o clima e a boa vontade do cidadão médio com manifestações de rua.

Além do mais, faz quase dois meses o protesto é dominado por trabalhadores de serviços públicos em greve: professores municipais, estaduais e até federais, rodoviários, metroviários, partes minoritárias do serviço federal (no IBGE, por exemplo) etc. Como é óbvio, o efeito imediato da greve deixa a vida especialmente mais difícil para a maioria mais pobre.

Ainda resta saber o destino dos até agora minguados protestos "contra a Copa" e da tática de movimentos como os sem-teto. Mas há um clima propício a reivindicações de "ordem" e a disseminação de um desânimo que, não sendo de origem propriamente econômica, tem acelerado a baixa da atividade econômica.

Sim, já aconteceu no Brasil democrático de climas ruins em situações socioeconômicas piores se dissiparem em questão de semanas. No entanto, havia então alguma expectativa de mudança, política ou não. Agora, parece haver por ora apenas desencanto.

 
10 de junho de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP

TRËS PONTOS

O Banco Central usou um argumento inesperado, suspendeu uma expressão relevante e fez uma aposta duvidosa na ata da última reunião do Copom. Argumentou que os níveis de confiança “modestos” vão dar mais força à política monetária. Tirou a expressão “neste momento”, dando a impressão de que a parada será longa. E apostou que o investimento vai subir.

A ata traz esses recados. Ao retirar a expressão que havia sido usada no comunicado após a reunião deu um sinal de que essa interrupção de alta da taxa de juros será mais longa. O argumento do parágrafo 26 é de que “é plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária sobre a inflação tendem a ser potencializados”. O BC quis dizer que, como os índices de confiança empresarial e do consumidor estão caindo muito, haverá menos atividade econômica. E isso elevará o efeito dos juros altos no combate à inflação.

O Banco Central diz que o país vai crescer menos este ano. A convicção geral é mesmo de que o ano passado foi ruim e este está pior. Mas ele diz que “o consumo tende a crescer em ritmo mais moderado do que o observado nos anos recentes; e os investimentos tendem a ganhar impulso”. Mas está acontecendo o oposto. Os dados de investimento estão caindo e com a queda do nível de confiança — que o próprio BC acha que ajudará no combate à inflação — os empresários costumam adiar as decisões de investimento.

Com esses três pontos o BC explica a decisão de interromper a alta de juros. O BC tinha subido a Selic durante um ano e, no acumulado, a dose foi de quase quatro pontos percentuais. É muito forte. Natural que pare diante da queda do nível de atividade. É normal também que os juros, depois de alta forte, continuem produzindo efeitos na economia, mesmo após o ciclo de aperto estar encerrado. Mas um problema ainda não foi resolvido e esse é o desafio da autoridade monetária: a atividade está cada vez mais fraca, mas a inflação permanece alta.

O IPCA de maio a ser divulgado hoje será menor do que o índice de abril, mas o acumulado em 12 meses pode subir se o número vier acima dos 0,37% de maio do ano passado. Mesmo que a inflação continue caindo na taxa mensal, é difícil conter a alta anual porque as taxas desses meses em 2013 foram muito baixas: 0,26%, em junho, e 0,03%, em

julho. Qualquer valor acima disso, este ano, fará o índice se aproximar do teto de 6,5%, com risco de estouro. Até abril, o índice acumulado de um ano mede 6,28%; muito alto para um país que cresceu apenas 2,2% em quatro trimestres até março.

Ontem, a Anfavea anunciou os números da produção de veículos de maio, que ficou estagnada em relação a abril. Nos cinco primeiros meses do ano, há um recuo de 13,3%, em relação ao mesmo período do ano passado. As exportações caíram 31,6%. Depois do PIB fraco do primeiro trimestre, os sinais são de que haverá um novo número ruim no segundo tri. O cenário de estagflação é o pior dos mundos para qualquer banco central. Se subir a taxa, prejudica ainda mais o PIB. Por outro lado, a inflação alta tira renda das famílias e aumenta custos dos empresários. Não existe saída fácil.

Entre as ameaças para o futuro da inflação está a desordem do setor elétrico. Depois de negar que haveria novo socorro às distribuidoras, o governo já admite que será necessário novo financiamento para cobrir o rombo das empresas descontratadas. Os primeiros números são de que o segundo empréstimo pode chegar a R$ 8 bilhões, depois dos R$ 11,2 bi que foram tomados em março. Tudo isso é pressão inflacionária no futuro porque esses empréstimos serão pago pelos consumidores, em forma de aumento das contas de luz.

O maior constrangimento das atas do Banco Central é a ausência de previsão sobre quando a inflação voltará ao centro de 4,5%, taxa que ainda não foi vista durante a gestão do presidente do banco, Alexandre Tombini. O máximo que a autoridade monetária consegue dizer é que ela estará acima do centro no ano que vem, tanto no cenário de referência quanto no cenário de mercado. A omissão dificulta o trabalho do próprio BC porque mantém as expectativas de inflação elevadas.

 
10 de junho de 2014
Miriam Leitão, O Globo

QUE FASE!

Não é a oposição que avança, é o governo que está derrotando a si mesmo

A cada nova pesquisa, ninguém mais tem dúvidas de que a grande maioria da população está insatisfeita com a vida no país e, na mesma proporção, descontente com a economia e preocupada com a inflação. Os números não mentem, a discussão possível é sobre as responsabilidades por esta situação e sobre o que deu errado. E o que fazer para corrigir os rumos e reduzir os danos.

Quando Lula aconselha Dilma a culpar a crise internacional pelos nossos números, a coisa está mesmo feia. Na América Latina, o Brasil só cresceu mais e teve menor inflação do que Argentina e Venezuela.

O sentido mais sensível do eleitor não é a visão, a audição, o tato ou o faro, mas o bolso. Em qualquer democracia, quando a grande maioria da população está insatisfeita — e há três anos a mesma maioria estava satisfeita —, dificilmente o governo consegue ser reeleito. Jimmy Carter e Bush pai foram derrotados pela economia.

Aqui, não é a oposição que avança, é o governo que está derrotando a si mesmo. Ao contrário de 2010, João Santana vai ter que remar contra a corrente, com vento de proa.

Vão dizer que faltaram comunicação e divulgação dos feitos do governo: as pessoas estão vivendo melhor, mas não sabem disso — é preciso informá-las e convencê-las. Apesar dos três anos de propaganda massiva do governo na televisão, incluindo as grandes estatais, que, como no governo Garrastazu Médici, vendem a crença do Brasil Grande.

Hoje, 20 milhões de famílias, 28% delas da classe C, têm TV por assinatura e estarão livres do horário eleitoral. As vantagens no tempo da propaganda partidária, que custaram o loteamento do governo, só valerão para a TV aberta.

Sim, as eleições são decididas mais pela emoção do que pela razão, mas como convencer um eleitor que a sua vida está melhorando se ele está sentindo piorar? Talvez o ameaçando com um novo governo que pode piorar ainda mais as coisas, na esperança que o medo vença a razão.

Mas a pior ameaça de volta ao passado é ter o PT na oposição, sabotando todas as ações de um eventual governo adversário, como fez com o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

 
10 de junho de 2014
Nelson Motta, O Estadão

DILMA, MAIS QUATRO ANOS PRA QUÊ?

O que poderia fazer a presidente que não tenha conseguido operar em condições mais favoráveis?

Jornalistas estrangeiros perguntaram à presidente Dilma Rousseff por que a economia cresce tão pouco. Ela disse não saber. Foi sincera. Não sabe mesmo. Como não tem o diagnóstico, falta-lhe o prognóstico. Entre o passado, que ela ignora, e o futuro, que ela não antevê, há este enorme presente à espera de medidas corretivas e profiláticas. Ocorre que seu governo é como seu discurso: um caos de fragmentos de ideias nem sempre muito claras, (des)ordenadas por locuções fora do lugar "no que se refere" (sic) ao que tem de ser feito. Ninguém entende nada, a começar da própria Dilma.

Dia desses, o ex-presidente Lula julgou ter encontrado a razão do "malaise". Os empresários, de mau humor, teriam deixado de investir. É mesmo? É próprio das cabeças autoritárias --e esse é o caso do Babalorixá de Banânia-- transformar dificuldades que são objetivas, que são técnicas, que têm origem em decisões equivocadas, em mera indisposição subjetiva. Há quanto tempo estão dados os sinais de que o crescimento da economia, ancorado no consumo interno, havia esgotado o seu ciclo? Assim como teve início em razão de circunstâncias que não eram do nosso controle, expirou por motivos igualmente alheios à nossa vontade. E lá ficou Guido Mantega a fazer previsões de crescimento --coitado!--, inicialmente, com margem de erro de dois pontos. Como a situação se deteriorou, ela já está em três...

Dilma pleiteia mais quatro anos, e eu fico cá a me perguntar --e espero, sim, que esta dúvida se alastre: pra quê? Com que amanhãs sorridentes ela vai acenar, que não tenha podido oferecer nesse tempo em que esteve à frente do governo, liderando uma base parlamentar que, no Ocidente, só deve ser menor do que a de Cuba? Qualquer analista razoável sabe que as circunstâncias vindouras são ainda piores dos que as do passado recente. O que poderia fazer a presidente, num cenário ainda mais inóspito, que não tenha conseguido operar em condições mais favoráveis? A resposta é um conjunto vazio.

Mais do que a indignação estridente dos grupelhos de extrema esquerda que estão nas ruas --estes só contribuem para turvar a visão da presidente--, Dilma tem de temer é o silêncio meio melancólico, mas não menos indignado, do homem comum, daquele que não tem uma agenda ideológica e que não pretende reformar a humanidade desde o fim. Contentar-se-ia com uma escola melhor, com uma saúde melhor, com um emprego melhor, com um salário melhor, com uma vida mais previsível. Eu sei, Dilma sabe e sabem os economistas e especialistas que os "gastos com a Copa", se investidos em saúde e educação, seriam de uma danada irrelevância. A conta é falsa, mas o problema para o qual aponta essa não solução é verdadeiro.

De 2002 para cá, o cenário de agora é o mais adverso enfrentado pelos petistas. As migalhas compensatórias já não têm a mesma força de antes para sustentar um projeto de poder. Parece haver no país uma ambição um pouco maior do que a da pobreza agradecida, que reverencia o nhonhô. Está certo o tucano Aécio Neves quando propõe que os programas sociais, ditos de "transferência de renda", passem à condição de políticas de Estado. De resto, eles devem ser apenas o começo da conversa, não o fim. É preciso acabar com a prática nefasta de chantagear os pobres.

A campanha que o PT levou à TV indica que, sem diagnóstico nem prognóstico, restou apenas o terrorismo eleitoral. Dilma pretende que o medo desinformado vença não a esperança, mas as possibilidades de mudança. Pior: sem conseguir entusiasmar nem a sua própria grei, cede a apelos "esquerdopatas" como "controle social da mídia" e criação da sociedade civil por decreto, evidenciando que, sob pressão, pode, sim, voltar à sua natureza. Mais quatro anos pra quê?

 
10 de junho de 2014
Reinaldo Azevedo, Folha de SP

DILMA E AS UVAS

Num de seus recentes discursos, Dilma Rousseff afirmou que as obras para a Copa terão padrão brasileiro, não padrão Fifa. Com essa frase queria dizer também que nossos padrões são mais democráticos, naturalmente referindo-se aos altos preços dos ingressos. Dilma fez tal declaração no fim de um período em que a Copa do Mundo foi perdida fora do campo e todos esperamos, ela com ansiedade singular, que seja ganha dentro do campo.

Essa frase de Dilma marca uma inflexão do governo nas suas relações com a Fifa, cujos dirigentes afirmam que o Brasil propunha a Copa em 17, e não 12 cidades. Foi preciso conter a megalomania de Lula e a própria Fifa foi otimista quando considerou 12 um bom número, levando em conta o tamanho do Pais, não suas reais possibilidades.

O Estádio Mané Garrincha, beirando o R$ 1,5 milhão, custou mais caro que um estádio do Qatar - país com a maior renda per capita do mundo - para 2022. Se os cálculos forem comprovados, o padrão brasileiro foi mais caro, no Mané Garrincha, do que o padrão Fifa sonharia. O estádio de Brasília é um monumento. Não sabemos ainda se é um monumento à incompetência ou à roubalheira, embora no padrão brasileiro os dois joguem no mesmo time, bem perto do gol.

Três estádios foram plantados em cidades cujo futebol não atrai multidões. O velho estádio de Natal só conseguiu lotação plena quando o papa visitou a cidade. Para o novo estádio teremos de combinar com o papa Francisco algumas visitas regulares, algo difícil porque um papa não faz visitas apenas para cumprir tabela.

Em Cuiabá presenciamos um fato inédito na história: no dia da visita de inspeção da Fifa, o governador e o presidente da Assembleia estavam presos. É a Copa das Copas, ou o mico dos micos, como quiserem.

Em Manaus, na imensidão um estádio vazio, uma arena amazônica que me deixa perplexo, sobretudo quando vejo o que vi na Vila de Boim, a seis horas de barco de Santarém: o esforço das comunidades para jogarem a sua própria Copa, numa região da floresta para a qual não existe política de esporte.

Lula quis dar salto maior que as pernas e agora que o fracasso se revela resta apenas ironizar o padrão Fifa que se comprometeu a adotar.

A esquerda não tem o monopólio da duplicidade e da dissimulação. Mas num partido como o PT e, sobretudo, num governo ditatorial como o cubano, são os dois elementos vitais para sobreviver e crescer. Em O Homem que Amava os Cachorros, Leonardo Padura fala de uma família cubana, possivelmente a do próprio escritor, que ensinou aos filhos exatamente o oposto dessa regra da sobrevivência: falar a verdade, ser fiel a si próprio.

O discurso do governo brasileiro em relação à Copa é de um zigue-zague acrobático, uma tentativa desesperada de abordar os fatos de frente e cair na realidade. Não foi uma ideia feliz trazer a Copa para o Brasil e assumir os compromissos que assumiu com a Fifa.

Isso não significa que a Copa não deva ocorrer, muito menos que deixamos de torcer pela vitória dentro do campo. Significa apenas que a linguagem cínica do governo é uma fonte permanente de degradação da vida política. Reflete uma lei interna segundo a qual não é preciso dizer o que pensa, regra válida para todos os que aderem. Basta que façam o jogo, dancem de acordo com a música.

Até que ponto o cinismo triunfará amplamente numa sociedade democrática é o enigma que envolve o futuro próximo do Brasil. Controlar o aparato estatal, o Parlamento e até o Supremo Tribunal ainda é um cobertor curto. Restam a sociedade, a imprensa, a internet.

Os militares compreenderam que não tinham resposta para o futuro e organizaram a retirada para não baterem em fuga desordenada, arriscando a instituição. O PT não acumulou forças para encarar a verdade, arriscar o poder e preservar-se para o futuro.

O discurso de Dilma não é voltado para a frente. Apenas adverte que a vitória da oposição significará um ajuste que vai reduzir salários, aumentar o desemprego e cortar verbas sociais. Embora não reconheça, ela deve saber que é necessário um ajuste, que pode ser moderado, no sentido que lhe dá Amartya Sen. Quer dizer, não precisa reduzir salários nem cortar verbas sociais. Um ajuste desse tipo seria voltado para os gastos irracionais do governo. Mas bateria de frente com o mundo político e burocrático, toda essa gente agarrada a cargos, verbas, negociatas. Às vezes, quando falamos em defender o salário do povo, estamos defendendo os nossos próprios salários. E reaparecem aí a duplicidade e a dissimulação.

Dotar o Brasil de um governo inteligente, aberto e conectado, transformar um sistema político que se tornou uma gigantesca sanguessuga não figuram no seu horizonte. O único caminho é usar os interesses populares como escudo para os seus próprios interesses e agarrar-se ao poder.

Na classificação de presidentes de toda a República no quesito crescimento, Dilma está em penúltimo e Fernando Collor em antepenúltimo lugar, atrás de Floriano Peixoto, portanto, entre os quatro de baixo que vão para a Segundona. Ao afirmar que as dificuldades econômicas foram conjunturais, ela pede uma segunda chance. Mas pede como se estivesse no grupo de cima, preparando-se para a Libertadores.

Como dizia Cazuza, suas palavras não correspondem aos fatos, sua piscina está cheia de ratos. Aceitar que suas palavras não correspondem aos fatos e limpar a piscina política e administrativa dos seus ratos é uma tarefa gigantesca. O caminho mais fácil é controlar o Estado, o Parlamento o Supremo, mobilizar uma artilharia eletrônica.

Que venham todos, porque, independentemente de resultados eleitorais, há um imenso número de brasileiros sabendo o que há por trás dessa duplicidade e dissimulação. Gente que gostaria de falar sério sobre nossos problemas, e não perder a energia desmontando as bravatas de Lula, como essa da Copa. Perdemos tempo, dinheiro, operários, moradias, irresponsabilidade que nem a vitória no campo conseguirá apagar.

 
10 de junho de 2014
Fernando Gabeira, O Estadão

FORA DO CAMPO

"A situação está tão caótica que os ministros do governo Dilma já estão apelando até mesmo para o patriotismo dos grevistas"
A frase famosa do escritor e pensador inglês do século XVIII Samuel Johnson "o patriotismo é o último refúgio dos canalhas" volta e meia retorna ao debate quando governantes se utilizam do sentimento patriótico para encobrir seus erros. Parece que chegamos a esse ponto.
A situação está tão caótica que os ministros do governo Dilma já estão apelando até mesmo para o patriotismo dos grevistas na tentativa de reduzir os danos que já estão sendo causados pelo trânsito impossível em São Paulo, devido à greve dos metroviários ontem, e a diversas manifestações nos últimos dias, que prometem se repetir hoje no jogo-treino da seleção.

Ganhar a Copa também fora do campo virou mantra das autoridades brasileiras, a começar pela própria presidente Dilma. Infensa a entrevistas, a presidente anda procurando programas de televisão em todos os canais para falar bem da organização da Copa do Mundo, e pedir apoio da população para que tudo corra bem.

Não se cansa de repetir "nosso queridíssimo e saudoso" Nelson Rodrigues para dizer que a seleção é a pátria de chuteiras. Interessante que a hoje presidente renda homenagens a um dos maiores autores brasileiros, mas que sempre foi um reacionário de carteirinha.

Certamente a "guerrilheira" Dilma deveria considerar Nelson Rodrigues um direitista repulsivo, e a citação a ele não passa de ação de marketing para tentar uma aproximação com os torcedores. Nelson era dos que considerava que torcer pela seleção brasileira é um ato de patriotismo, e Dilma, embora tenha confessado que em 1970 torceu pelo Brasil mesmo sem querer, necessariamente pensava de maneira diversa antes de chegar ao poder.

ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mistura política e futebol da mesma maneira que os grevistas oportunistas, que aproveitam a visibilidade do país no mundo para encostar na parede seus empregadores na área estatal.

Quando Cardozo diz que é necessário projetar uma boa imagem do país, está dando a dimensão geopolítica que a organização da Copa do Mundo (e também das Olimpíadas) tem, e que o governo menosprezou, ao dar mais importância a ganhar a Copa do que a realizá- la, na análise correta do secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke.

Já o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência, está preocupado com manifestantes e grevistas, que oficialmente são o público- alvo de seu ministério.

É ele o responsável pela ligação com os chamados "movimentos sociais", que o PT cevou com dinheiro público e tratou com leniência até recentemente, imaginando que eles tivessem o "bom senso" de ajudar o governo numa hora como essa da Copa.

Mas o movimento dos sem-teto, que organiza manifestação em São Paulo para hoje, já ameaçou impedir que os torcedores cheguem ao Itaquerão para ver o jogotreino da seleção brasileira.

Falando em tom quase épico, Gilberto Carvalho pediu "uma trégua cívica" aos grevistas que paralisam serviços essenciais nas cidades-sede dos jogos da Copa.

Ora, quando o governo do ex-presidente Lula decidiu considerar de interesse nacional disputar a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, pensavase que se tratava de uma estratégia de política internacional que o governo havia montado para ressaltar a presença do Brasil nos Brics e, em consequência, no mundo.

A seu tempo, também Rússia, China e África do Sul assumiram esse papel. À importância geopolítica da tarefa não correspondeu, porém, à maneira desleixada como ambos os governos petistas trataram a realização dos eventos, e só na undécima hora veem nossas autoridades apelar para o patriotismo do povo brasileiro.

Surpreendentemente, o povo tão amante do futebol está separando a disputa em si dos erros do governo.

O desânimo que se reflete na falta de ruas enfeitadas certamente dará lugar à alegria dentro dos estádios.

Fizeram bem os jogadores e a comissão técnica em evitar uma ligação mais politizada com as autoridades governamentais e políticos de maneira geral.

Uma vitória do Brasil dentro do campo dará uma alegria à população, mas dificilmente fará o ambiente político se desanuviar. Uma derrota no futebol vai exacerbar os ânimos já exaltados. A vitória fora do campo está cada vez mais difícil.

10 de junho de 2014
Merval Pereira, O Globo