Acho engraçada a defesa que petistas e simpatizantes fazem do PT hoje, alguns fingindo até que estão criticando a legenda. Do “nunca antes na história deste país”, eles pularam para o “sempre antes na história deste país”, tentando passar a impressão de que o PT é “apenas” como os demais, que se corrompeu, que não resistiu à tentação, que se desviou de seus propósitos. Já cansei de mostrar aqui que não é nada disso, mas como o lado de lá continua insistindo na “tese”, preciso ser repetitivo.
É o caso do jornalista Luiz Garcia, de esquerda, que em sua coluna de hoje “critica” o PT com esse argumento, aproveitando para elogiar sua trajetória.
Por sua ótica, o grande pecado do PT foi se desviar de seu passado de luta pelas massas, e se tornar mais um corrupto, como os outros. Diz ele:
No episódio mais recente, ficamos sabendo que o Partido dos Trabalhadores, mais conhecido por PT, tem trabalhado com grande entusiasmo para encher os bolsos de uma turma que certamente não se identifica com as ideias e propostas com que foi criado.
Alguns eleitores indignados talvez digam que o PT finalmente mostrou que é farinha do mesmo saco. Ou seja, o partido está apenas se igualando à maioria dos outros partidos. O tal saco, pelo visto, teria farinha para todos. E seria irresistível para políticos de todos os continentes.
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Quando nasceu, o PT foi visto por muita gente boa como um partido que serviria para melhorar o nosso sistema político, já que representaria a grande massa de operários, que até então não tinha quem defendesse seus interesses.
Foi o que ele fez, durante muito tempo. Hoje, é com uma mistura de tristeza e indignação que vemos algo bem diferente: ele serve, talvez até com mais entusiasmo, aos interesses pessoais de uma grande fatia de seus quadros políticos.
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Podemos ter algum consolo lembrando que o saco é universal. Seja como for, sempre vale a pena buscar, em todas as eleições, candidatos que não moram nele. Não é fácil, mas, quem sabe, a gente talvez consiga encontrar, pelo menos, políticos que ainda não se tenham corrompido. E que prestem atenção a um aviso por enquanto amistoso: “Vamos ficar de olho em você.”
O PT não mudou; apenas se revelou no poder. Lamento a todos os que acreditaram nos discursos petistas no passado: foram ludibriados, foram ingênuos, deixaram o romantismo falar mais alto do que a experiência, blindaram-se contra a lógica e a razão em nome das emoções, partiram para o monopólio das virtudes. O PT nunca representou de fato as massas; ele sempre as usou em sua retórica, apenas isso. Ele enxerga as massas como algo manipulável para seus fins políticos. Era um partido de “intelectuais” que não pensavam, de estudantes que não estudavam, e de sindicalistas que não trabalhavam.
E sempre foi oportunista, “revolucionário”, disposto aos meios mais nefastos para chegar e ficar no poder. Basta ver seus camaradas, seus companheiros: ditaduras comunistas, guerrilheiros que sequestram e vendem drogas em nome da causa, terroristas que matam inocentes, mas gozam da estima dos pares porque o fazem com uma foice e um martelo estampados no peito. O PT fundou o Foro de São Paulo em 1990! Não dá para alegar ignorância. O simpatizante se deixou enganar, pois se sentia melhor, mais puro, “consciente”, ligado ao “povo”, só por defender o PT.
Seus métodos corruptos já tinham sido expostos no governo gaúcho, antes da chegada ao governo federal. Antes mesmo, no sindicalismo torpe e oportunista. Em conluio com máfias do lixo, com bicheiros. O PT não viu sua bandeira ética se esgarçar no poder; ela apenas veio à tona toda corroída pelas traças, mas já era uma bandeira falsa. Ou alguém acha que José Dirceu, que se apresentou para a mulher após quatro anos de “casamento” depois da anistia, treinado em Cuba, era um romântico sonhador que lutava pelas massas e foi corrompido no poder? Sério?
O PT nasceu torto, mas muitos preferiram ignorar em nome da utopia, do monopólio das virtudes. O PT não é “apenas” igual aos outros; ele é muito mais corrupto, justamente porque rouba em nome da causa, com a consciência tranquila do “bom revolucionário”, de quem faz tudo “pelo povo”. Por monopolizar a bandeira da ética e ser, na prática, o mais corrupto, o PT é o pior de todos. Por ser tão cínico, por flertar com ditaduras, por não respeitar as regras do jogo democrático, por demonizar os adversários de forma pérfida, o PT é o pior de todos.
O jornalista de esquerda acha que o PT mudou, e que a lição é, agora, “ficar de olho”. Provavelmente ele defende um PSOL da vida, mostrando que não aprendeu absolutamente nada. Quer uma vez mais buscar a “pureza”, ainda que num discurso hipócrita e na defesa de meios que sempre levarão a mais corrupção, por concentrar poder no estado e por fornecer aos bandidos um salvo-conduto para o crime, pois feito em nome da causa “nobre”.
Se o PT fosse “apenas” tão ruim quando os demais, o Brasil não estaria nessa situação calamitosa. Está porque é governado há tempo demais por uma quadrilha disfarçada de partido político, por uma turma que abraça ditadores assassinos, que defende bandidos abertamente, que protege terroristas, que “faz o diabo” para ficar no poder. José Dirceu é a cara do PT. Alguém realmente está disposto a sustentar que ele era um idealista que “se corrompeu”, e hoje é “somente” tão ruim quanto os demais políticos brasileiros?
02 de agosto de 2015
Rodrigo Constantino