Dois meses depois, o que ficou das manifestações maciças de junho? Haverá consequências permanentes dos protestos? Algo mudou na prática? Quem ganhou e quem perdeu? Este é um balanço, parcial e inacabado, do que as ruas trouxeram e levaram.
Dilma Rousseff (PT) foi o para-raios das manifestações. Perdeu popularidade mais rapidamente do que qualquer outro presidente brasileiro pós-ditadura, mas logo que encontrou o fundo do poço começou a escalá-lo, lentamente. Ainda tem a recuperar dois terços do que perdeu, mas sua trajetória é ascendente. Não se pode falar o mesmo de outros políticos.
Sergio Cabral (PMDB) é, até agora, a principal vítima das manifestações. A aprovação do governador do Rio desmilinguiu-se tão completamente que mesmo seu legado na área de segurança - a dita pacificação das favelas - sofre contestações como nunca antes. De força eleitoral na própria sucessão, tornou-se contagioso. Só o papa ainda escreve ao governador.
Geraldo Alckmin (PSDB), se houvesse a opção, teria hibernado em maio para acordar na primavera, quando só houvesse flores. Mas seu inverno não acaba.
O governador paulista esteve no centro das manifestações: foi sua PM que deu o tiro de largada para os protestos em massa ao disparar balas de borracha contra os filhos da classe média. Agora, corre risco de descarrilar.
Em quase 20 anos de mandarinato tucano em São Paulo, nunca a oposição teve tanta munição contra o Bandeirantes. Os petistas acham que é sua chance. Mas o perfil e o histórico eleitoral paulista sugerem que alternativas podem vir pelo outro lado. Filhotes do malufismo têm motivos para excitação.
Outros governadores já perceberam que andar na rua sem sobressaltos é coisa pré-manifestações.
Os precavidos, como o governador cearense Cid Gomes (PSB), compraram helicópteros. Outros têm que se contentar com o destino pedestre de seus candidatos em 2014. Na Bahia, nenhum dos aliados de Jaques Wagner (PT) está conseguindo chegar a dois dígitos no Ibope.
O PMDB usou os protestos para manifestar suas demandas junto ao governo. Aproveitou a fragilidade parlamentar da presidente para aprovar o que mais lhe convém. Mesmo sendo lembrados pouco carinhosamente pelos manifestantes, os caciques peemedebistas federais estão entre os que mais ganharam com os protestos.
Mais importante, o PMDB não deixou passar nada da reforma política que pudesse colocar em xeque o seu poder em Brasília. Aliás, a reforma política é uma expressão desprovida de significado para dois em cada três brasileiros, como mostrou o Ibope. Só 7% se dizem bem informados sobre ela. Essa é a maior garantia de que nada venha a "desempoderar" os peemedebistas.
Marina Silva cresceu nas pesquisas de intenção de voto no pós-protesto, mas custa a viabilizar seu partido. Sem legenda própria, dependerá dos caprichos de um ou outro cacique partidário e terá mais dificuldade para manter a imagem de candidata "outsider" da política tradicional.
Para Marina e os demais presidenciáveis, setembro de 2013 é a chave de 2014. É quando se saberá quem poderá ou não ser candidato por qual legenda. Se José Serra vai continuar empatando a candidatura de Aécio Neves no PSDB, ou se vai empatá-lo no PPS, por exemplo.
Para Dilma, o Sete de Setembro também é o teste que dirá se sua tentativa de resposta às manifestações de junho está surtindo efeito. Se passar na prova das ruas - e a economia deixar -, a presidente pode escalar o poço com mais segurança. Se tropeçar, está arriscada a voltar ao patamar para onde havia despencado.
Fora isso, as ruas trouxeram um novo vocabulário para a política: horizontalidade, mídia ninja, black bloc, spray de pimenta. Vamos ver o que sobra depois que setembro passar.
27 de agosto de 2013
José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo