Nos bons tempos de Cabral, Ary vivia rindo à toa
O agente fazendário Ary Ferreira da Costa Filho, da Receita estadual, conhecido por “Sombra”, foi preso no início da tarde desta quinta-feira. Ele é apontado pelo Ministério Público Federal como um dos principais operadores financeiros da quadrilha ligada ao ex-governador Sérgio Cabral. Ele teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal.
Ary foi preso foi preso na Rodovia Presidente Dutra (BR-116), na Pavuna, Zona Norte do Rio, em uma ação conjunta entre a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Polícia Federal. Segundo a PRF, por volta das 13h, policiais rodoviários federais receberam informação da Polícia Federal sobre o veículo em que o homem, de 55 anos, poderia estar. Os agentes da PRF montaram pontos de fiscalização ao longo da rodovia e conseguiram abordar o foragido, na pista sentido Rio. Ele estava acompanhado de uma mulher, numa Pajero, e não ofereceu resistência no momento da abordagem.
LAVAGEM DE DINHEIRO – Pela manhã, durante a Operação Mascate, agentes da PF estiveram na casa dele na praia da Barra da Tijuca, mas não o encontraram. O agente fazendário é suspeito de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.
A ação de hoje é mais um desdobramento da Operação Calicute em mais um nicho de negócios do grupo liderado pelo ex-governador: blindagem fiscal em troca do pagamento de propinas. Apontado como o primeiro operador de Cabral, o agente fazendário era conhecido nos corredores da Secretaria Estadual de Fazenda como “Ary fichinha”. Isso porque, relatam alguns colegas, distribuía senhas para os empresários que o procuravam em busca de algum tipo de vantagem, principalmente o perdão de multas por sonegação de ICMS.
OPERADOR DA QUADRILHA – “É um momento importante da operação, porque Ary era um dos mais importantes operadores financeiros da organização criminosa. Mais um elo que se fecha em torno desta organização. As investigações seguem e a gente espera com o resultado nas buscas e apreensões ajude a aprofundar ainda mais o trabalho” – afirmou o procurador da República Leonardo Cardoso de Freitas, coordenador da Operação Calicute.
O agente fazendário, que se apresentava como amigo de juventude de Cabral e o ajudava a organizar bailes para a terceira idade quando ensaiava os primeiros passos na vida política, atuava principalmente junto à Inspetoria de Veículos e da Material Viário da Fazenda, mas tinha forte influência nas Inspetorias Especializadas de Substituição Tributária, de Bebidas e de Supermercados.
Os investigadores chegaram ao nome de Ary com a ajuda de um acordo de colaboração assinado por um dos empresários beneficiados pela blindagem vendida pelo agente fazendário. Adriano José Reis Martins, um dos sócios da Eurobarra e da Américas Barra, rede de concessionárias de veículos, contou que Ary o protegia dos rigores da fiscalização de ICMs.
ESQUEMA CRIMINOSO – Pelo menos três imóveis da família de Adriano e uma empresa ligam o agente fazendário ao esquema de benefícios e blindagem fiscal. Parentes de Ary, incluindo o agente de tributos, ocupam três apartamentos na Avenida Lúcio Costa, Barra, pertencentes a firmas ligadas ao empresário Adriano Monteiro Martins, pai de Adriano José e chefe do clã que comanda a rede de concessionárias. Ary também foi sócio do empresário Gustavo Ferreira Mohammad, dono da Creações Opção, rede de malharias que teria ajudado Cabral a lavar dinheiro.
Ary mora, segundo as investigações, no apartamento nº 1201, Bloco 1, do Condomínio Atlântico Sul, na Avenida Lúcio Costa, pertencente à Gran Barra Empreendimentos e Participações, onde a PF foi à procura dele hoje. Esta empresa, que está em recuperação judicial, pertence a João do Carmo Monteiro Martins e a Jaime Fernando Reis Martins, respectivamente primo e irmão de Adriano Monteiro Martins.
ASSESSOR DE PEZÃO – A denúncia da Calicute foi encaminhada à Justiça no dia 5 de dezembro. No dia seguinte, Ary pediu exoneração do cargo de assessor especial do gabinete do governador Luiz Fernando Pezão. Ele ocupava a função desde o início do governo do amigo Sergio Cabral, em 2007, só permanecendo fora do Palácio Guanabara por três meses (de 6 de julho a 4 de outubro de 2010, quando exonerou-se pela primeira vez, para ser renomeado em seguida).
Ary entrou no serviço público em 1980 (provavelmente para atuar no programa “seu carnê vale milhões”, sem ter prestado concurso público). Em 1987, foi promovido ao cargo de agente de Fazenda.
Ele começou a trabalhar com Cabral em 1990, quando o político era deputado estadual. Segundo as investigações, em 1996 ele começou a trabalhar em cargo comissionado no gabinete do Cabral e, posteriormente, teve passagens por várias secretarias quando o peemedebista estava à frente do governo do estado.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Assim como os caminhos levavam a Roma, as investigações levam a Pezão, que foi secretário de Obras e assinava os contratos fajutos com as empreiteiras. Pezão está sendo protegido pelo foro privilegiado. Se estivesse sem mandato á teria sido algemado pelos federais. (C.N.)
03 de fevereiro de 2017
Ana Carolina Torres, Chico Otávio e Juliana Castro
O Globo