"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 12 de janeiro de 2014

GUERRA PSICOLÓGICA, FRAUDE REAL


A virada do ano mostrou que é uma injustiça manter os mensaleiros presos. Ao apagar de 2013 e ao raiar de 2014, o Brasil mostrou que aprova a picaretagem como forma de governo. Não é justo, portanto, em se legitimando os picaretas de hoje, manter os picaretas de ontem encarcerados, sendo todos correligionários. Basta de desigualdade. Liberdade para todos.
A picaretagem inaugural do governo popular em 2014 teve como porta-voz o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Como se sabe, o PT se especializou na arte de mentir para a coletividade - e depois descobriu que não precisava de especialização nenhuma, porque o Brasil engole qualquer mentira tosca. Por isso é que Lula diz que o mensalão era caixa dois de campanha e não se desmoraliza perante a opinião pública. Está provado que o mensalão foi roubo de dinheiro público cometido pelo PT, e está provado que mentir no Brasil não tem o menor problema. Com essa jurisprudência, o ministro da Fazenda não tem por que não se espalhar.

Guido Mantega anunciou, triunfante, que o governo cumpriu a meta de superavit primário em 2013.0 ministro disse que o resultado oficial sairia no fim de janeiro, mas ele decidira antecipar a divulgação para "acalmar os nervosinhos". Assim é o PT hoje: como as mentiras colam facilmente, elas passaram a vir acompanhadas de zombaria. O governo cumpriu a meta de superavit depois de reduzi-la em R$ 35 bilhões - de R$ 108 bilhões para R$ 73 bilhões. Se fizesse isso com pensão alimentar, o ministro estaria preso.

Como já foi dito neste espaço, o Brasil é mulher de malandro. É lesado pelo bando e continua votando nele. Devendo-se ressalvar que mesmo uma mulher de malandro não aceitaria este trato: o malandro paga só dois terços da pensão porque ele mesmo resolveu encolhê-la em um terço. É o tipo da malandragem que só cola no matrimônio petista com o eleitorado masoquista.

O superavit para acalmar os nervosinhos tem outros truques espertos. Mais alguns bilhões de reais em despesas de 2013 serão contabilizados pelo governo popular depois da virada do ano. Malandragem de playground. Fora a contabilidade criativa no Tesouro Nacional - hoje devidamente aparelhado pelos companheiros -, expediente picareta já notado e repudiado mundo afora, mas tolerado Brasil adentro. É com esse arsenal de trampolinagens que os companheiros desviam o dinheiro público para a propaganda política e a rede de facilitações populistas. Por que só os mensaleiros têm de pagar?

O anúncio esperto do ministro da Fazenda foi feito poucos dias depois de um pronunciamento da presidente da República em cadeia nacional - o pronunciamento "de fim de ano" de Dilma Rousseff. Como um país que se diz diferente da Venezuela chavista tolera um "pronunciamento de fim de ano" da presidente em rede obrigatória de rádio e TV? Onde está o senso crítico e a vergonha na cara dos brasileiros para repudiar essa praga do comício oficial em tudo quanto é data comemorativa? Onde estão os manifestantes nervosinhos, a oposição, a OAB, as ONGs da cidadania e todas essas vozes estridentes que vivem panfletando bondades cívicas por aí?

Pois bem: no comício oficial e obrigatório de Réveillon, Dilma Rousseff denunciou - eles continuam denunciando - a existência de uma "guerra psicológica" para afugentar investimentos e desestabilizar a economia nacional. É muita modéstia do PT achar que alguém pode desestabilizar a economia melhor do que eles.

Que repelente contra investidores poderia ser mais eficiente do que um governo que mente a céu aberto sobre suas contas? Que fabrica superavit e esconde dívida? Que atropela a meta de inflação e tenta mascará-la amarrando preços de tarifas, que ninguém sabe quando e como serão liberados? Que faz declarações ideológicas sobre a política monetária e cambial do Banco Central, ora baixando os juros no grito, ora jogando impostos na lua para tentar conter a fuga de dólares? Qualquer guerra psicológica dos inimigos da pátria seria brincadeira de criança perto da lambança real dos amigos da onça.

Não é justo que a turma do valerioduto assista a essa orgia de trás das grades. Pelo grau de tolerância do Brasil 2014, Dirceu, Delúbio, João Paulo Cunha (o Mandela brasileiro) e companhia são uns injustiçados.
12 de janeiro de 2014
Guilherme Fiuza, Revista Época

 
 

COMÉDIA E TRAGÉDIA


 
Eu estava no banheiro do shopping quando escutei duas amigas conversando sobre o filme que haviam acabado de assistir. Uma disse: Li no jornal que era uma comédia e vim disposta a gargalhar muito. A outra: Também fui surpreendida, esperava outra coisa, não esse soco no estômago. Estava na cara que elas haviam assistido ao mesmo filme que eu, o impiedoso Álbum de Família, que no roteiro de cinema de Zero Hora está anunciado realmente como comédia, ainda que sejam 120 minutos de descontroles, rancores, humilhação, traição, sarcasmo, agressão física e maquiavelices.

É um filmaço, como quase sempre é quando o cinema presta reverência ao teatro: foi adaptado pelo dramaturgo Tracy Letts, autor da peça homônima, e o diretor John Wells manteve na tela a dramaticidade dos palcos. Em teatro, o exagero é natural, o tom costuma ser ligeiramente mais alto que o naturalismo de uma novela de tevê. Teatro é uma espécie de laboratório da vida e congrega todos os elementos que a ela pertencem.

Álbum de Família mostra o reencontro de três filhas com sua mãe, depois que essa fica viúva, e mais os agregados e parentes próximos que vieram para o funeral. Em poucos dias de convívio numa mansão decadente em Oklahoma, diversos traumas e mágoas eclodem: cada um dos visitantes possui várias dores entaladas na garganta, a ponto de, a certa altura, o espectador começar a achar graça daquele desfile inesgotável de fraturas emocionais.

Família é sempre um prato cheio – e agridoce. Amor e ódio, atração e rejeição, acolhimento e desprezo, idealizações e desilusões, carinho e perversidade: um cardápio sortido de emoções contraditórias distribuídas sobre a mesa. Em volta dela, nós, famintos por compreensão e tendo que ser diplomáticos e civilizados até que uma provocação nos faça perder as estribeiras.

A questão é que entre família não há divórcio. Não existe ex-pai, ex-mãe, ex-filho, mesmo que se suma do mapa, mesmo que peguemos a estrada para o mais longe possível. DNA é praga. Não tem rota de fuga. Nasceu, está danado. Então, melhor condescender do que se estressar.

Há famílias mais serenas do que outras, mais afetuosas do que cínicas, mais cinematográficas do que teatrais. Ainda assim, sempre haverá um papel para cada um de seus membros: o de vilão, o de vítima, o de playboy, o de trabalhador, o de folgado, o de frágil, o de problemático, todos apegados aos motivos que os levaram a ser como são.

E eles se acusarão a vida inteira, e se defenderão, e nunca haverá um consenso, e de nada adiantará tanto berro: de dramáticos passarão a patéticos, inevitavelmente. A classificação que o jornal deu ao filme não está tão errada como parece. Tragédia e comédia cedo ou tarde dão-se as mãos, elas que também são da mesma família. 

 

DOS MALES, O MENOR




 
12 de janeiro de 2014
Ferreira Gullar, Folha de SP

PT, EM NOTA OFICIAL, PEDE ESMOLA PARA BANDIDOS, COMO SE NÃO BASTASSE O QUE ELES JÁ ROUBARAM


Nota Oficial do PT
 
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, conclama os militantes, filiados, simpatizantes e amigos(as) do PT a contribuírem para o pagamento da multa injustamente imposta ao companheiro José Genoino Neto. Embora indevida e, além disso, desproporcional, trata-se de sentença judicial, obrigando, portanto, ao seu cumprimento.

Como o PT, em virtude da lei, não pode utilizar recursos próprios e nem do Fundo Partidário, propomos esta corrente de solidariedade que deve, igualmente, estender-se aos companheiros José Dirceu, Delúbio Soares e João Paulo Cunha.

As contribuições devem atender aos requisitos legais de origem e identificação do doador, com RG e CPF. A conta corrente aberta para a contribuição ao Genoino é: José Genoino Neto, Caixa Econômica Federal - Agência: 0269, Conta Poupança: 013.22277-7.

Rui Falcão - Presidente Nacional do PT

Esse Rui Falcão é muito cara de pau!
 
Apesar de entre quatro esmoleiros citados, três deles tenham nos roubado pelo menos duas vezes, no mensalão e como parlamentares cujos aproveitamentos são zero - Dirceu três, contando com a Casa Covil que ocupou como ministro -, Rui ainda tem o desplante de pedir aos militantes et caterva que contribuam para que esses bandidos continuem com o resultado das suas pilhagens intacto.
 
Quiuspariu!
P.S.: Se não me engano, não é multa o que eles têm a pagar, mas sim a simples devolução do que roubaram, ou, melhor dizendo, do que se conseguiu provar até agora que roubaram.
 
12 de janeiro de 2014

O PREÇO QUE PAGAMOS PARA SERMOS ROUBADOS


Com uma bancada de 14 senadores e 89 deputados federais, façam as contas de quanto nos custa ser roubados só com o sustento formal dessa tropa do PT.
 
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12 de janeiro de 2014

A SAGRAÇÃO DAS HEMÁCIAS

 

Meus primeiros heróis vieram dos gibis. Além dos tsunâmicos personagens do Disney, não desgrudava do Mandrake e do Fantasma.
Pouco me importava com o que considerava pequenos detalhes: o criado Lothar e os pigmeus da tribo Bandar, por exemplo. Eram coadjuvantes sem peso nas histórias centrais.
 
Também não reparava, imagina !, na estrutura familiar, muito esquisita, do Pato Donald, e na origem supersticiosa da fortuna do tio Patinhas.
Era um mundo sem tons cinza.
Mocinhos impecavelmente galantes, honestos, generosos, valentes, despojados. Vilões siderúrgicos: viviam para dominar, tiranizar, agredir, roubar, conspirar.
 
Em ambos os casos, por obra e graça do Espírito Santo, por punições ou privilégios genéticos. O que poderia um Menino entender de nuances psicológicas ou identidades de classe ? Melhor viver num universo onírico, de Fla-Flus plasmados em quadrinhos, do que encarar as sopas de abóbora.
 
E então vieram os anos 70. Não sobrou pedra sobre pedra. O chileno Ariel Dorfman escreveu o clássico Para ler o Pato Donald. Com ele, aprendemos que “o papel da literatura infantil na sociedade capitalista, desenvolvida ou não, é contribuir para que a criança interprete as contradições da realidade – como o autoritarismo, a pobreza e a desigualdade – como naturais.”
Conta-se, a esse propósito, uma história deliciosa, que jamais descobri se verdadeira. Os responsáveis pelas edições Disney na Itália resolveram transgredir a norma naturalizadora.
 
Criaram uma história em que os irmãos Metralha, sempre à caça da moeda número 1 do tio Patinhas (suposta fonte da riqueza do pato sovina), têm uma ideia luminosa. Percebem que aquele talismã era uma cortina de fumaça.
A verdadeira origem da fortuna do Patinhas eram seus bancos, fábricas, fazendas.
 
Em suma: os meios de produção e distribuição, a extração de mais-valia. Dos neurônios à ação. Os Metralha se organizam e, aos poucos, se apoderam do patrimônio físico do Patinhas, que, ato contínuo, empobrece.
A moedinha xamânica não passava de patacoada ! Resultado da ousadia: a edição foi rapidamente recolhida das bancas.
 
QUEM ERA LOTHAR?
 
O olhar crítico não parou por aí. Quem era Lothar ? Um príncipe africano, que renunciara à nobreza de seus ancestrais, à sua cultura, a seus valores mais caros, para servir ao homem branco. Um homem branco que, à semelhança do tio Patinhas, é rico, mas não há pistas para a origem e a manutenção da riqueza.
 
É rico … porque é. Sua vida amorosa é deserotizada, como costuma acontecer com os heróis dos quadrinhos. Todos chegados a uma paixão platônica.
O colonialismo é tão explícito quanto no domínio do Fantasma sobre a tribo Bandar. Os pigmeus têm uma adoração incondicional pelo Espírito que Anda, que acreditam imortal.
 
O Fantasma usa essa crença para manter a dominação sobre aqueles africanos e, através dela, estende a submissão aos demais povos locais. Interessante notar como o Fantasma, entre outros, foi “convocado” pelo exército americano, durante a Segunda Guerra Mundial, para combater a invasão japonesa na região do Pacífico.
 
Em gibis dos anos 40, os orientais eram retratados como idiotas de óculos, presas fáceis das zarabatanas dos pigmeus e da astúcia invencível do Fantasma. A guerra ideológica, montada em ignorância, escancarava um mal-disfarçado racismo. Pelas barbas do profeta ! Que heróis, hem ? 
 
UM PESO GALO
 
Fora das bancas de jornais, o Menino admirou um peso galo. Estranhou muito o nome. Peso galo significaria um boxeador com crina ? Esporas ? Cantava de madrugada ?
Quando via Eder Jofre nos ringues, no entanto, o que importava eram as sucessivas vitórias.
Engraçado, não se compadecia dos derrotados, muitas vezes desmaiados depois de surras impiedosas. Tempos depois, veio Muhammad Ali. Um dançarino que esmurrava.
Uma elegância que contrastava com a potência de golpes que machucavam e mutilavam. No auge da fama, recusou-se a servir na guerra do Vietnã e foi condenado à prisão.
 
“Que razão tenho para atirar contra uns caras que não me chamam de crioulo (nigger) e não estupraram ninguém da minha família ?”, perguntou. Sabia o que estava dizendo.
O racismo norte-americano nadava de braçada. Menos de 20 anos antes, durante a Segunda Guerra Mundial, o preconceito contra soldados negros era feroz no exército ianque.
Ficava a pergunta: como é que uma luta, cuja finalidade é “apagar” o adversário, desligar suas funções cerebrais, pode ser considerada um esporte?
 
VERSÃO DO COLISEU
Saímos do ringue e entramos no octógono. Aos socos do box, se juntaram os pontapés, joelhadas, caneladas e cotoveladas do MMA. Nesta versão moderna e globalizada do Coliseu romano, não sei o que é mais abjeto: a carnificina selvagem que acontece na arena, os urros descontrolados do público pedindo sangue ou a transmissão ufanista de locutores hipnotizados por cifrões.
 
Mesmo com imagens que remetem à nossa ancestralidade animal, mercadores da dor e do sofrimento insistem em incluir o MMA na categoria de esporte. O culto às celebridades instantâneas, como Anderson Silva, cria nas comunidades pobres a ilusão de que a pancadaria é atalho para a fama e a riqueza.
 
Os brutamontes, cercados de seguranças e marqueteiros, visitam as periferias divulgando seu “trabalho” e abrindo academias. Treinam a molecada na arte de quebrar a cara do outro, alegando que, desta forma, “afastam os menores do crime e do abandono”. Como se não existissem alternativas para canalizar a agressividade que cada um de nós carrega desde o berço.
 
Os praticantes sofrem de males neurológicos causados por pancadas frequentes na cabeça. Tremores e Mal de Parkinson são comuns em boxeadores. Ossos submetidos a golpes sucessivos e regulares ficam fragilizados, o que pode ter contribuído para as fraturas de Anderson Silva.
Foram mostrados de todos os ângulos e velocidades, na vulgar espetacularização da violência a que estamos nos habituando.
Como bem observou Ricardo Melo na Folha de São Paulo, num país onde as rinhas de galo são proibidas, é um absurdo que o MMA seja uma prática legal. Fosse vivo, o doutor Sobral Pinto entraria com uma ação por descumprimento da lei de proteção aos animais …
 
PATRIOTAGEM
 
Todas essas empulhações sanguinárias são narradas com a patriotagem de praxe. Como se a certidão de nascimento dignificasse a brutalidade profissionalizada. O ufanismo é uma praga nacional. Agora mesmo, a presidente Dilma bateu boca com o presidente da Fifa, garantindo que o Brasil fará “a Copa das Copas”. Como se não bastasse e de olho gordo nas eleições deste ano, acrescentou que “todos os que vierem ao Brasil serão bem recebidos, porque somos alegres e acolhedores”.
 
Qualquer brasileiro bem informado sabe que essa parolagem não passa de bravata. Sem entrar na tolice de “Copa das Copas” (o que será isso ?), como é que, em pleno século XXI, alguém ainda cai na lorota do povo cordial? Será que essa cordialidade explica o enorme aparato de segurança que está sendo montado para tranquilizar os que virão e, claro, serão “bem recebidos”? As ameaças devem vir de criminosos infiltrados do exterior …
 
Somos “alegres e acolhedores”? Quem são este “somos”? Isso vale para os prisioneiros do complexo de Pedrinhas, no Maranhão, que decapitaram três rivais e filmaram o horror? Valerá para os policiais que sequestraram e mataram o pedreiro Amarildo, no Rio?
E para os policiais que reprimiram com extrema violência os manifestantes nas jornadas de junho do ano passado? Fico por aqui e vou correndo tomar um Sonrisal.
 
12 de janeiro de 2014
 Jacques Gruman
 

MAIS UM ESCÂNDALO NA JUSTIÇA

No Amazonas, maioria dos presos ainda não foi a julgamento

 
 Além da superlotação e do alto número de rebeliões nos presídios — só em 2013, foram quatro, com a fuga de 176 presos —, o problema mais flagrante no Amazonas é a ausência de juízes e defensores públicos no interior.

Essa carência contribui para o índice considerado mais alarmante pelo Mutirão Carcerário realizado pelo Conselho Nacional de Justiça no ano passado: os processos de presos provisórios (ainda não julgados) correspondem a 78%, um dos maiores índices do país. Dentro da massa carcerária do estado, de 8.870 detentos (para 3.811 vagas disponíveis), o número de presos provisórios chega a 5.418.

O relatório alerta ainda para a infraestrutura precária da Vara de Execução Penal de Manaus, onde tramitam 9.434 processos, mas há só seis funcionários para movimentá-los.

Presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-AM, Epitácio Almeida diz que a falta de triagem, que separa presos por tipo de crime e pena, agrava a situação:

— Um cara que furtou um celular está ao lado do homicida, isso gera violência. Vivemos as agruras de um sistema falido, que não reeduca. É um barril de pólvora, Manaus é a sexta capital mais violenta do país, ultrapassamos Rio e São Paulo.
Vice-coordenadora nacional da Pastoral Carcerária, Petra Pfaller diz que o que viu no interior do estado é o retrato do que acontece em todo o Brasil:

— Especialmente no interior, a maioria das cidades só tem delegacias superlotadas que estão virando presídios, sem condições mínimas de higiene.

12 de janeiro de 2014
Letícia FernandesO Globo

ERUNDINA DIZ QUE SISTEMA POLÍTICA ESTÁ EXAURIDO

 

 
A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) diz que não existe ‘coerência política’ nas alianças regionais que seu partido tem fechado para fortalecer a pré-candidatura do governador Eduardo Campos à Presidência.

Na semana passada, o PSDB de Pernambuco aderiu ao governo de Campos. Erundina critica a natureza das decisões e afirma que elas não passaram pela Executiva Nacional do PSB. Apesar das ressalvas, ela diz que Campos ‘tem o desejo de fazer as coisas de maneira diferente’.

Em que medida a entrada do PSDB no governo de Eduardo Campos altera o acordo entre PSB e Rede?
Cada caso é fruto do sistema político exaurido, esgotado em responder às demandas da sociedade. Mantemos regras, normas e sistemas partidários e eleitorais defasados, sem identidade, e isso explica esse caos que existe nas políticas de alianças locais. A certeza que tenho é que não há coerência política a ponto de se conseguir dar unidade a alianças que podem ser reproduzidas no resto do país.

PSDB e PSB acordaram possíveis alianças em Pernambuco, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Sul e São Paulo. Qual é o limite para esses acordos acontecerem?
Isso já está dado. O processo já andou tanto, as conversas já se deram com tanta frequência e não passaram pelas direções partidárias. Marina Silva insiste em encaminhar as coisas de outra forma, mas é uma tentativa muito recente. A junção entre PSB e Rede é salutar, é a construção coletiva de um processo novo e vamos acumular para, se não for nessa eleição, introduzir algo novo num futuro que espero ser próximo.

O presidente estadual do PSB-SP, Márcio França, articula há meses um acordo para ser vice na chapa de Geraldo Alckmin. Mas interlocutores dizem que Marina e Campos conversaram e que essa possibilidade agora ‘tende a zero’.
A partir da aliança PSB-Rede esse quadro se encontra mais complicado.

É mais importante o PSB ter um candidato próprio ou se aliar ao PSDB de Alckmin?
Defendo candidatura própria junto com a Rede para construir uma nova força política e quebrar a polarização PT-PSDB, que é artificial, já que os dois partidos têm muita identidade do ponto de vista de alianças e propostas políticas. Precisamos introduzir novos elementos para renovar a política brasileira. Essa história de palanque duplo, palanque triplo, é um absurdo, é contribuir para esse quadro político caótico.

PENA DE MORTE À BRASILEIRA

 

 

 

O sistema prisional brasileiro já adota há muito tempo a pena de morte. Todos os anos dezenas de detentos são executados em penitenciárias administradas pela União ou pelos governos estaduais.
O retrato mais recente e evidente dessa barbárie é o complexo prisional de Pedrinhas, no Maranhão.

Só em 2013, 60 presidiários foram mortos na unidade em rebeliões ou brigas entre facções criminosas.
As mortes violentas e a falta de poder dos governos para controlar esses locais – e torná-los centros de ressocialização – não são novidade no Brasil, mas, quase sempre, são ignoradas. Dessa vez, porém, foi impossível esconder essa realidade cruel ocorrida sob a tutela do poder público.

As cenas filmadas e divulgadas de presos decapitados e esfaqueados dentro do presídio de Pedrinhas são chocantes. Evidenciam um local destituído de qualquer humanidade, um amontoado de pessoas em condições miseráveis vivendo em um mundo paralelo, com leis próprias.

O pedido do Comissariado de Direitos Humanos da ONU para uma investigação “imediata e imparcial” soa como mera formalidade. Os presídios brasileiros transformaram-se em espécies de território do crime organizado, onde a polícia e qualquer outro braço do Estado não têm força (ou vontade) para intervir.

REINO DO CRIME

Como será possível investigar as mortes dentro da penitenciária, se não consegue-se evitar os crimes ordenados por detentos, mas realizados nas ruas – vide ônibus incendiados, postos policiais metralhados e assassinatos encomendados.

A crise no Maranhão é uma repetição de fatos já ocorridos em outros Estados do país, como em São Paulo, onde por determinação de presidiários policiais foram executados. São Paulo também foi palco do “Massacre do Carandiru”, quando, em uma ação policial para conter uma rebelião, 111 presos foram mortos.

OMISSÃO

A questão prisional é tratada com omissão pelo poder público porque também encontra respaldo em uma certa conivência da sociedade com o tratamento dado aos encarcerados. Acuada pela violência crescente, boa parte da população reage de forma simplista ao problema e não se incomoda tanto com essa crise interminável do sistema carcerário. Afinal de contas, “ali não tem santo”.

Diante dessa lógica de aceitar a existência de um mundo cruel, sem leis nem dignidade dentro das penitenciárias brasileiras seria melhor introduzir de forma oficial a pena de morte.

É desumano ser conivente com essa matança, com práticas bárbaras, como se fosse um problema distante ou sem solução. Os cerca de R$ 1 milhão a serem gastos pela governadora Roseana Sarney com lagosta, camarão, sorvete e salmão para abastecer sua residência oficial não resolveriam a mazela do complexo de Pedrinhas, mas teriam um emprego mais digno.

(transcrito de O Tempo)

DADOS DA JUSTIÇA ELEITORAL AJUDAM A QUEBRAR MITOS DA POLÍTICA NACIONAL

 

 
Quando olhados em conjunto, os registros de filiação partidária no Brasil parecem quebrar alguns velhos mitos sobre o funcionamento da política brasileira.
Talvez o principal deles seja o da “política de gabinete”, termo usado para descrever conchavos políticos feitos por chefes partidários que, em tese, teriam o poder de determinar o resultado de uma eleição ou a montagem de um governo, por exemplo.

É claro que as articulações na cúpula do poder contam bastante para definir candidaturas e apoio político nas eleições estaduais e nacionais, assim como nos maiores municípios. Mas os dados mostram que, nas pequenas cidades, que é onde está o grosso dos cargos eletivos brasileiros, a mobilização popular antes do pleito para engrossar as filiações tem peso considerável no sucesso eleitoral dos partidos.

Essa mesma lógica derruba a ideia comum de que a atividade política no Brasil se concentra nas cidades grandes, onde vive população de maior renda e maior escolaridade. Os registros do TSE mostram justamente o contrário: a média de filiados por eleitor em um município com menos de 5 mil habitantes é quase três vezes maior do que a de uma grande cidade com mais de 200 mil pessoas.

ELEIÇÕES MUNICIPAIS

A importância desse fenômeno é óbvia: mais filiações significam maiores chances de eleger prefeitos, ou seja, mais apoio nas eleições para o Congresso nos anos seguintes. Isso, por sua vez, influencia no tempo de TV das próximas eleições e, eventualmente, pode culminar em maiores chances de se ganhar uma corrida presidencial.

Por último, há o mito de que brasileiro não quer saber de política. Na verdade, a taxa de filiação partidária no Brasil – ou seja, de pessoas que realmente gastaram seu tempo indo até o diretório de um partido, preenchendo a ficha de filiação e se registrando na Justiça Eleitoral – é maior do que todos os países europeus, com exceção da Áustria e do Chipre.

A média brasileira, como aponta o professor da Unicamp Bruno Speck, é de um filiado a cada dez eleitores, o dobro da registrada na Espanha e o triplo da alemã, por exemplo. Participação e engajamento político significam muito mais do que apenas filiação, mas esses números podem apontar que o senso comum sobre a relação do brasileiro com a política talvez seja um pouco diferente da realidade.

12 de janeiro de 2014
Lucas de Abreu Maia e Rodrigo BurgarelliO Estado de S.Paulo

O HUMOR DO DUKE

 

Charge O Tempo 12/01

A LÓGICA QUE PROVOCOU A CRISE E O IMPÉRIO MUNDIAL DAS CORPORAÇÕES

 

01
 
Os bons votos de um ano feliz são rituais. Não passam de simples votos, pois não conseguem mudar o curso de um mundo no qual os superpoderosos  seguem sua estratégia de dominação global. Sobre isso é que precisamos pensar e até rezar, pois as consequências podem ser nefastas.

Muitos esperavam que o legado da crise de 2008 fosse um grande debate sobre que tipo de sociedade queremos construir. Erraram feio. A discussão não se deu. Ao contrário, a lógica que provocou a crise foi retomada com mais furor. Os super-ricos e superpoderosos decidiram que querem viver segundo o princípio darwinista do mais forte, e que se danem os mais fracos.

Via de regra, a lógica capitalista é feroz: uma empresa engole a outra. Quando se chega a um ponto em que restam apenas algumas grandes, elas mudam a lógica: em vez de guerrearem, fazem entre si uma aliança de lobos e comportam-se mutuamente como  cordeiros. Assim articuladas, detêm mais poder e acumulam mais para si e seus acionistas, desconsiderando totalmente o bem da sociedade.

A influência política e econômica que exercem sobre os governos, a maioria muito mais fraca que elas, é extremamente constrangedora, interferindo no preço das commodities e na redução dos investimentos sociais, como saúde, educação, transporte e segurança.

DOMINAÇÃO DO MUNDO

Há excelentes estudos sobre a dominação do mundo por parte das grandes corporações multilaterais. Mas fazia falta  um estudo de síntese, que foi feito pelo Instituto Suíço de Pesquisa Tecnológica (ETH), em Zurique, em 2011.

Dentre 30 milhões de corporações existentes, o instituto selecionou 43 mil para estudar melhor a lógica de seu funcionamento. O esquema simplificado se articula assim: há um pequeno núcleo financeiro central que possui dois lados – de um,  são as corporações que compõem o núcleo e, do outro, aquelas que são controladas por ele.

Tal articulação cria uma rede de controle corporativo global. Esse pequeno núcleo constitui uma superentidade. Dele emanam os controles em rede, o que facilita a redução dos custos, a proteção dos riscos, o aumento da confiança e, o que é principal, a definição das linhas da economia global que devem ser fortalecidas e onde.

Esse pequeno núcleo, fundamentalmente de grandes bancos, detém a maior parte das participações nas outras corporações. O topo controla 80% de toda a rede de corporações. Aí estão Deutsche Bank, J. P. Morgan Chase, UBS, Santander, Golden Sachs, BNP Paribas, entre outros tantos. No fim, menos de 1% das empresas controlam 40% de toda a rede.

INDIGNAÇÃO

Esse fato nos permite entender agora a indignação dos que acusam que 1% das empresas faz o que quer com os recursos suados de 99% da população. Eles não trabalham e nada produzem. Apenas fazem mais dinheiro com dinheiro lançado no mercado da especulação.

Foi essa absurda voracidade de acumular ilimitadamente que gestou a crise de 2008. Essa lógica aprofunda cada vez mais a desigualdade e torna mais difícil a saída da crise. Quanto de desumanidade aguenta o estômago dos povos? Pois tudo tem seu limite. Mas agora nos é dado ver as entranhas do monstro.

Como diz Dowbor: “A verdade é que temos ignorado o elefante que está no centro da sala”. Ele está quebrando tudo e pisoteando pessoas. Mas até quando? O senso ético mundial nos assegura que uma sociedade não pode subsistir por muito tempo assentada sobre a superexploração, a mentira e a antivida.

SITE QUE ARRECADA FUNDOS PARA GENOÍNO NÃO TEM TRANSPARÊNCIA

 
Site criado por filha de Genoino esconde o valor recolhido. Ardiloso, o site esconde do cidadão que não fizer a doação o montante arrecadado. Somente quem doar e enviar um e-mail receberá uma senha de acesso ao valor total recolhido.
Veja aqui:

http://www.apoiogenoino.com/.

(Resumindo: o mensaleiro adestrou até seus descendentes a não serem transparentes, para depois usar as sobras como verba de campanha.)

 

 

 

 

 



ARMADILHA LULISTA

 

 



  • Uma leitura atenta das respostas que o economista Luiz Gonzaga Belluzzo forneceu a Eleonora de Lucena na entrevista publicada no domingo passado pela Folha, permite perceber, sobretudo na versão integral (disponível na internet), de maneira cristalina o impasse brasileiro contemporâneo. Se feitas as devidas pontes entre o quadro econômico ali analisado e a situação política, tem-se um retrato agudo do momento atual.

    O professor da Unicamp mostra que o governo Dilma foi atingido em cheio pela segunda etapa da crise capitalista. Enquanto Lula viu-se beneficiado pelas “benesses do ciclo de commodities”, a presidente pegou uma longa fase de depressão da economia mundial.

    Para sustentar o dinamismo do Brasil em um contexto de desaceleração global seria necessário ter uma indústria forte. Mas, para tanto, o país precisava ter desvalorizado bastante o real, como já vinha alertando há alguns anos o ex-ministro Bresser-Pereira.

    A presidente teve a coragem de enveredar na direção necessária, realizando significativa redução da taxa de juros contra o desejo do mercado financeiro. Ao diminuir o ganho rentista, reduz-se a atratividade do Brasil como plataforma de valorização do capital especulativo internacional e, dessa forma, ajuda-se a controlar o sobrepreço da moeda.

    Ato contínuo, a equipe econômica e o Banco Central, orientados por Dilma, provocaram uma mididesvalorização do real, além de reforçar as medidas voltadas para restringir a liberdade de entrada e saída dos especuladores. Em outras palavras, mesmo que, como aponta Bresser-Pereira, não tenham sido na proporção devida, foram dados passos ousados para romper as amarras que impediam o Brasil de retomar o crescimento.

    De repente, no final de 2012, começa a haver uma reversão. O BC anuncia que voltará a aumentar os juros. O que houve? O governo sentiu que não tinha força para prosseguir no caminho iniciado. Ao contrário de investir, os empresários se afastaram de Dilma, por considerá-la intervencionista. O eleitorado lulista, por sua vez, “é o pessoal mais desinformado sobre as razões dos problemas, que foi submetido a um processo de obscurecimento durante séculos”, diz Belluzzo.

    Resultado: em lugar de 2013 ser o ano da retomada que Dilma deve ter planejado, foi caracterizado pela reversão sistemática do que fora plantado no período precedente. A armadilha está em que, como o lulismo não é mobilizador, não pode politizar as questões de fundo, autoimpedindo-se de construir uma base social suficiente para sustentar a ruptura necessária. De onde, então, virá a energia capaz de quebrar as 11 varas da camisa que, segundo Belluzzo, paralisa a nação?
     
    (artigo enviado por Mário Assis)
     
    12 de janeiro de 2013
    André SingerFolha de SP

    IPCA PODE SUPERAR TETO NAS ELEIÇÓES



    As projeções mensais para o Índice Nacional de Preços ao Amplo (IPCA) ao longo de 2014, que constam da última pesquisa Focus, feita pelo Banco Central com analistas de mercado, indicam que a inflação vai continuar em alta e voltará a beirar o teto da margem de tolerância (6,5%) no segundo semestre.

    No auge da disputa eleitoral, portanto, é possível que a economia viva momento semelhante ao de junho do ano passado, quando manifestações tomaram as ruas do País em meio ao reajuste das tarifas de transporte, mas com a inflação em 6,7% corroendo o poder de compra da população.

    Se essas projeções se confirmarem, o pico do IPCA se daria em setembro, próximo de 6,4%. Vale ponderar, no entanto, que essas análises devem ser revisadas já na segunda-feira, dada a surpresa com o
    dado de dezembro, que veio acima do teto das estimativas coletadas pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado (entre 5,73% e 5,88%). Há possibilidade, portanto, de que a alta de preços volte até a superar o limite da banda de flutuação bem no meio das eleições - mesmo descartando novos choques de preços, como uma eventual quebra de safra pelo frio nos EUA.

    Juros. O mercado até ensaiou uma alta mais forte da taxa de juros no mercado futuro nesta sexta-feira, após a surpresa da inflação de dezembro, com a maior variação mensal em dez anos. Mas a pressão durou pouco. Mais precisamente até que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, soltasse seu tradicional comentário sobre a alta dos preços no ano, com um tom mais "dovish" (suave), segundo a reação imediata de desaceleração nas taxas futuras.
     
     

    Para Tombini, a inflação ao consumidor mostrou resistência apenas "ligeiramente acima daquela que se antecipava". Além disso, o Banco Central continua colocando o câmbio e os choques de preços (gasolina pressionando o setor de transportes) como os principais responsáveis pela persistência do indicador - apesar de ter incluído o mercado de trabalho. "Essa resistência da inflação, em grande medida, se deveu à depreciação cambial ocorrida nos últimos semestres, a custos originados no mercado de trabalho, além de recentes pressões no setor de transportes."
    Como o presidente do BC disse em diversas oportunidades, a expectativa era que o IPCA ficasse abaixo do nível do ano anterior (5,84%). O mercado enxergava isso como uma espécie de meta informal, uma vez que o compromisso oficial, de 4,5%, estava fora de alcance. O resultado, no entanto, de 5,91%, frustrou essa projeção e trouxe como agravantes uma piora dos núcleos inflacionários e da dispersão da alta dos preços.

      http://www.youtube.com/watch?v=ofizbLZq4AM&list=UUGytPlYMBl3SXTsFgTyjLzA&feature=player_embedded

    Avaliação. 

    A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria Integrada, classificou o IPCA em 2013, de 5,91%, como "desastroso", levando em conta as desonerações feitas pelo governo para controlar a alta de tarifas como da energia elétrica. "Não tem nada para comemorar. É muito ruim, em um ano no qual o governo fez de tudo e tomou medidas que custaram caro."

    Segundo Alessandra, esse cenário reforça a expectativa de inflação alta no ano que se inicia, na casa dos 6%, com risco de estouro do teto de 6,5% da meta. "Nessa previsão de 6% existe pouco espaço para a acomodação de choques. Se o ano tiver qualquer choque de câmbio ou de alimentos, há risco de a inflação ficar muito próxima do teto ou passar do teto."
    Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, o governo está sem margem de manobra para segurar os preços administrados e a recomposição deles em 2014 se torna um grande desafio no controle da inflação.

    Segundo ele, a questão dos preços controlados deixa o cenário igualmente desafiador para o BC. "O governo terá de proporcionar o reajuste dos administrados porque seu espaço fiscal está muito apertado."

    Rostagno prevê ainda uma alta da Selic na semana que vem. "Essa alta do IPCA em 2013 acima da inflação de 2012 aumenta a chance de elevação de 0,50 ponto porcentual do juro", completou.
    Fernando Travaglini - O Estado de S. Paulo 
    / COLABORARAM GABRIELA LARA E RENATA PEDINI 
    12 de janeiro de 2014

    CARTA ÀS AUTORIDADES: POR QUE O SILÊNCIO SOBRE O ESTADO POLICIAL DENUNCIADO POR TUMA?

    Excelências. Li, de capa a capa, o volumoso livro de Romeu Tuma Júnior que leva o sugestivo título "Assassinato de reputações". A obra ganhou uma espécie de lançamento nacional através da revista Veja, no início de dezembro último, e consta entre as mais vendidas no país. Presumo, por isso, que milhares de cidadãos a estejam lendo. Assim como eu, hão de estar perplexos e alarmados com as denúncias que faz. 

    É na condição de cidadão que redijo esta carta. Parece-me conveniente fazê-lo assim, aberta, para tornar pública a inquietação da maioria dos leitores que já percorreram as exaustivas páginas desse livro. Dirijo-a às autoridades porque são várias as que podem agir neste caso. Não alinharei, aqui, as acusações e denúncias descritas em "Assassinato de reputações". De um lado porque muito pouco sei sobre o autor e, como simples cidadão, não tenho como averiguar a autenticidade do que dele se diz e do que ele relata. De outro, porque a honra alheia não encontra em mim alguém disposto a assassiná-la. A prudência exige que sobre ela só se emita juízo público negativo após sentença transitada em julgado. 

    No entanto... milhares estão lendo esse livro. Como eu, se fazem perguntas civicamente inquietantes. Por que persiste, decorrido um mês inteiro de seu lançamento, o perturbador e coletivo silêncio de quantos deveriam agilizar-se para contestá-lo? Por que, mais grave ainda, as próprias instituições tão fortemente atacadas e apontadas como objeto de aparelhamento político-partidário não bradam em sua própria defesa? As denúncias são graves e, se verdadeiras, descortinam a gênesis de um Estado policial e totalitário. Há crimes noticiados no livro. E o de prevaricação não me parece o maior deles. 

    Em meio ao inquietante silêncio de quem deveria falar, as solitárias reações que encontro ao explosivo texto são disparos laterais dirigidos ao seu autor, que se apresenta, na obra, como uma das vítimas dos assassinatos em série que menciona. Convenhamos que desacreditar o livro com uso do argumentum ad hominem, mediante ataque pessoal ao autor, não é satisfatório ou suficiente ante a torrente de denúncias que formula, relatando episódios que diz ter pessoalmente vivido. Aos cidadãos brasileiros interessa saber se o que está dito no livro é verdade ou não. E quais as providências adotadas por quem as deve adotar. Inclusive contra o autor se for o caso. Num Estado de Direito, os fatos descritos exigem investigação e cabal esclarecimento. Não podem ser varridos para baixo do espesso tapete do tempo. Não são, também, prevaricação, o silêncio de quem deveria falar e a omissão de quem deveria agir? 

    Bem sei que a promiscuidade entre as funções de governo e as de Estado decorre do vício institucional que as vincula ao mesmo centro de poder. Nosso lamentável presidencialismo faz isso. É tentador, nele, confundir os espaços partidários (por isso provisórios) próprios do governo, com os espaços permanentes (e por isso não partidários) da administração pública e do Estado. No entanto, por mais que o modelo favoreça o aparelhamento das instituições, não é aceitável a ideia de que vivemos num país onde algumas delas servem para investigar ou não investigar, dependendo do lado para onde sopra o vento das más notícias. Gerar dossiês por encomenda política é coisa de Estado policial, totalitário.
     
    12 de janeiro de 2014
    Percival Puggina, publicado no jornal Zero Hora