"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 4 de julho de 2017

"CRIMINOSO EM SÉRIE"

GEDDEL É PERSONAGEM DE UM ‘QUADRO PERTURBADOR DE CORRUPÇÃO SISTÊMICA’, DIZ MPF
EX-MINISTRO DE TEMER FOI PRESO POR SUPOSTA TRAMA CONTRA A LAVA JATO

MPF DEFENDE PERMANÊNCIA NA PRISÃO DE EX-MINISTRO DE TEMER PARA 'INTERROMPER CONTINUIDADE DELITIVA' (FOTO: VALTER CAMPANATO/ABR)


Preso ontem, 3, na Operação Lava Jato, Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria do Governo Temer foi classificado como ‘criminoso em série’ pelo Ministério Público Federal. Os procuradores ainda sustentam que o aliado do presidente é personagem de um ‘quadro perturbador de corrupção sistêmica’.

Geddel foi preso por supostamente tramar contra a Lava Jato. Segundo a Procuradoria, ‘o aprofundamento dos indícios descobertos com a análise do conteúdo armazenado no aparelho telefônico apreendido permitiu aos investigadores constatarem intensa e efetiva participação de Geddel Vieira Lima no esquema criminoso’.

Ligações de Geddel para o celular da mulher do doleiro Lúcio Funaro – preso na Papuda desde julho de 2016 – reforçaram as suspeitas dos investigadores contra o ex-ministro de Temer. ‘Caraínho’, como Geddel é chamado, estaria interessado em saber de Raquel Funaro se o marido dela está mesmo disposto a fazer delação premiada.

Para o MPF, a prisão do ex-ministro de Temer é ‘necessária para interromper a continuidade delitiva’.

Além da prisão preventiva, a Justiça acatou os pedidos de quebra de sigilos fiscal, postal, bancário e telemático do ex-ministro.

O ex-ministro nega envolvimento em crimes. Sua defesa alega que a prisão de Geddel é desnecessária.


04 de julho de 2017
diário do poder
 

PEC QUE REDUZ NÚMERO DE PARLAMENTARES TEM 1.3 MILHÃO DE VOTOS FAVORÁVEIS

PROJETO PREVÊ REDUÇÃO DE 513 PARA 386 DEPUTADOS E DE 81 PARA 54 SENADORES

PESQUISA ONLINE DO SENADO TEVE 99% DE APROVAÇÃO A


A consulta pública sobre a proposta de emenda à Constituição que reduz o número total de deputados e senadores já recebeu mais de 1,3 milhão de votos, sendo mais de 99% favoráveis e, até esta terça (4), apenas 7.681 votos contrários, menos de 1% dos votos totais.

De autoria do senador Jorge Viana (PT-AC), a PEC 106/2015, em análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, diminui o número de deputados federais de 513 para 386, e de senadores, de três para dois por unidade da federação. Para Viana, o Legislativo pode exercer suas funções típicas "com uma estrutura mais enxuta" e sem prejuízo da representatividade popular. "O meu propósito não é diminuir porque não tem importância; meu propósito, com esse projeto, é tornar mais difícil o acesso, valorizar mais", disse

A proposta altera os artigos 45 e 46 da Constituição e determina uma diminuição de 25% dos representantes na Câmara dos Deputados e de um terço no Senado Federal. Ficam assegurados, no entanto, os mandatos dos atuais deputados e senadores que ocupam as vagas a serem extintas.

A PEC foi assinada por mais 33 senadores, faltando assim, 15 votos para aprovação em plenário. Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), uma das que assinou a proposta, defendeu outras modificações como a que estabelece limite de mandatos para deputados e senadores. "Nós precisamos promover modificações mais profundas", afirmou a senadora.

A senadora se referiu à PEC 50/2014, que estabelece limite de dois mandatos no Senado e três para deputados e vereadores. Ela destacou que ambas as PECs propõem uma renovação na política.



04 de julho de 2017
diário do poder

CONTRARIANDO LULA, JUÍZA NEGA SIGILO EM INVENTÁRIO DE MARISA LETÍCIA

LULA PEDIU SIGILO NO INVENTÁRIO DE MARISA. JUÍZA NEGOU

"O INTERESSE PÚBLICO JUSTAMENTE RECOMENDA A TRANSPARÊNCIA DE SEUS ATOS", DISSE JUÍZA.
Segundo decisão da juíza Fatima Cristina Mazzo, o pedido de Lula para que o inventário de Marisa Letícia corra em sigilo é inviável: "Considerando-se a notoriedade das pessoas envolvidas, mormente o fato de o inventariante ter exercido elevado cargo público, o interesse público justamente recomenda a transparência de seus atos", diz a juíza. Em junho, a defesa do petista havia entrado com pedido de sigilo sobre o inventário da ex-primeira dama, sob a alegação de que o ex-presidente "acostará aos autos documentação financeira sua e de sua falecida mulher, o que trará uma indesejável exposição sobre informações de sua vida privada e de seu patrimônio".


Leia, abaixo, a decisão de Mazzo.




04 de julho de 2017
diário do ´poder

ALEXANDRE GARCIA DESMORALIZA ESQUERDISTAS APOIADORES DO DITADOR MADURO. MALTA ARREBENTA NO SENADO.

VAZOU ÁUDIO EM QUE GILMAR MENDES AFIRMA QUE LULA É UM BANDIDO

https://www.youtube.com/watch?v=1j8uZpuCSvE8 jun. 2017 ... Vazou Áudio Em Que Gilmar Mendes Afirma Que Lula é Um Bandido! E Agora PTralhada??? .... O cara tem provas de que o Lula e bandido?
04 de julho de 2017postado por m.americo

ENQUANTO ISSO, NUMA TERRA CHAMADA BRASIL, UM CIDADÃO DESCOBRE QUE NÃO TEM DIREITO A NADA...

Temos o Direito de Que?


04 de julho de 2017
postado por m.americo

LAVANDO A ROUPA SUJA DOS JUDEUS, DOS CRISTÃOS E DOS MUÇULMANOS

BOECHAT: PRESIDENTE AGORA OCULTA CONVIDADOS COM CERCA VIVA

SÉRGIO MORO DÁ RESPOSTA SENSACIONAL SOBRE PERÍODO MILITAR NO BRASIL

BOECHAT:: "QUEM PODERIA IMAGINAR O BRASIL CONCENTRADO EM COLAR NO CALCANHAR DOS POLÍTICOS"

REVELAÇÃO! O MOTIVO DA DEMORA DE SÉRGIO MORO NA SENTENÇA DE LUÍS INÁCIO LULA DA SILA

DESCOLANDO-SE DO PLANALTO, RODRIGO MAIA DECIDIU VIAJAR PARA BUENOS AIRES

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Planalto acha que Rodrigo Maia não é mais confiável
Primeiro nome da linha sucessória do país, Rodrigo Maia (DEM-RJ) deve ir à Argentina em missão oficial no fim desta semana e evitará substituir Michel Temer no Palácio do Planalto durante a viagem do presidente à Alemanha para o encontro do G20. Esta seria a primeira vez que Maia assumiria o comando do Palácio do Planalto desde que a PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentou uma denúncia contra Temer por corrupção passiva, a partir de delações de executivos da JBS.
Citado entre parlamentares e líderes como possível sucessor de Temer em caso de queda, Maia tem adotado uma postura de cautela diante da crise política. Ele engavetou, por exemplo, 24 pedidos de impeachment contra Temer e tem evitado se expor em articulações sobre a votação da denúncia de corrupção contra o presidente.
EUNÍCIO ASSUME – Com a ausência de Maia, o Palácio do Planalto deve ser ocupado pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), também aliado de Temer.
Segundo a Folha apurou, Maia deve embarcar para Buenos Aires na quinta-feira (6) e retornar ao Brasil no sábado (8), mesmas datas da viagem de Temer a Hamburgo para o encontro dos chefes de governo das 20 maiores economias do mundo.
Apesar dos gestos de Maia, aliados de Temer ainda o observam com desconfiança, uma vez que ele seria o principal beneficiário de uma possível autorização da Câmara ao prosseguimento da denúncia da PGR. Nesse caso, o presidente seria afastado do cargo por até 180 dias para ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal, e Maia assumiria interinamente o comando do Palácio do Planalto. Ele também é apontado como favorito em uma eleição indireta que seria convocada em caso de condenação de Temer.
RECUO – Inicialmente, o presidente havia decidido não participar da reunião do G20. Nesta segunda-feira (3), no entanto, ele recuou.
Segundo a Folha apurou, a mudança deveu-se ao esforço do presidente de demonstrar que seu governo não está paralisado em decorrência da denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Caso não participasse da reunião, o peemedebista seria o primeiro presidente brasileiro a não viajar ao G20 desde 2010.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Temer está naquela situação da célebre peça de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar – se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. (C.N.)

04 de julho de 2017
Bruno Boghossian e Gustavo Uribe
Folha

CÉSAR BENJAMIN, SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO, REVELA A TRÁGICA SITUAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

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Paes construiu um superávit fictício, diz Benjamin
César Benjamin, secretário municipal de Educação do Rio de Janeiro, de voz mansa e tom sempre afável, tornou-se um dos rostos mais visíveis da administração do prefeito Marcelo Crivella. Com o maior orçamento – 6,5 bilhões de reais– de uma Prefeitura em crise, Benjamin tem como principal desafio acabar com o analfabetismo funcional (a incapacidade de compreender textos simples) que ele situa num alarmante 20% e 30%. “Há uma grande divergência entre os dados oficiais – em torno de 4% – e o que a gente constatou nas escolas”, alerta.
O que o senhor encontrou ao chegar na Secretaria?Nós encontramos a Prefeitura como um todo, não só a Secretaria, numa situação financeira muito mais crítica do que se imaginava. O déficit global da Prefeitura deste ano está em torno de quatro bilhões. É muito significativo, pois o orçamento total é de 28 bilhões. Minha percepção é que a administração de Eduardo Paes construiu um superávit fictício com adiamento de pagamentos de despesas.
Crivella acaba de levantar uma polêmica sobre o financiamento público das escolas de samba. A ideia do prefeito é cortar pela metade a verba pública dos desfiles e remanejar esses recursos para creches conveniadas da Prefeitura. Você foi parte dessa decisão, como se chegou a ela?As escolas de samba até 2011 não recebiam nenhum dinheiro público direto. Passaram a receber um milhão de reais e, no ano passado, Eduardo Paes dobrou essa quantia. Nós enfrentamos falta de recursos e isso afeta, entre outras, as nossas creches conveniadas que há vários anos não têm reajuste da mensalidade repassada por cada criança. Essas creches, que têm 16 mil crianças, são instituições filantrópicas que recebem dinheiro nosso para funcionar e são muito importantes porque na origem são creches comunitárias, foram criadas no coração de comunidades muito pobres. A Prefeitura paga 300 reais por mês por criança, ou 10 reais por dia, é muito insuficiente. Comecei a perceber que temos uma porcentagem muito pequena de creches conveniadas em relação ao resto do Brasil, fizemos um estudo verificando que era possível aumentar seu número, mas percebi que em vez de aumentar estavam diminuindo por falta de recursos. Eu não consegui resolver com o orçamento da Educação e levei a questão ao prefeito. Estudamos o orçamento da Prefeitura e verificamos que o item mais fácil de ser cortado era esse aumento da verba das escolas de samba. A decisão do prefeito não foi retirar a verba das escolas, e sim retirar o aumento.
Não havia outra rubrica em todo o orçamento de onde tirar esses recursos, inclusive para evitar a crítica de o prefeito estar sendo populista ao anunciar um corte no Carnaval para investir em creches?Não há. A situação é muito grave e os cortes que estão sendo feitos são para que a Prefeitura do Rio de Janeiro não siga o caminho que o Estado seguiu. As escolas de samba têm outras muitas fontes de financiamento, esse milhão é troco para elas, e elas não prestam contas a ninguém.
Mas não será com essa decisão que o prefeito vai abrir a grande caixa preta das escolas de samba, ou sim?Eu acho muito difícil. Vou te dar uma informação que ninguém sabe. Um dos homens mais fortes da liga das escolas de samba é o Capitão Guimarães [conhecido bicheiro que responde em liberdade por uma condenação de 48 anos de prisão]. Ele foi capitão da polícia do Exército, foi meu carcereiro durante a ditadura militar. Um carcereiro muito ruim, até. Ele não me torturou pessoalmente, mas eu ouvi ele torturando pessoas. Esse é o submundo que cerca o Carnaval. Eu não acredito que a gente vai conseguir abrir essa caixa preta. Mas eu estou seguro de que haverá Carnaval, sim.
Mas você já disse que o tem em comum com Crivella é a busca da coerência entre a palavra e o gesto. O prefeito prometeu manter apoios às escolas, também à Parada LGBT, mas depois não cumpriu.Não estou acompanhando a questão da Parada, mas por que acho que esses cortes não configuram uma perseguição? Porque toda a Prefeitura está comprimindo seus recursos. Se a educação está diminuindo recursos, se a saúde está diminuindo recursos, por que o LGBT não pode diminuir recursos? Por que o Carnaval não pode? Podem, sim. O prefeito Crivella, por ser evangélico, sempre está sob suspeita de estar tramando alguma coisa. Eu não tenho nada contra homossexuais, eu brinco Carnaval, e no entanto eu concordo com a decisão do prefeito.
Por que suspender a transformação de duas arenas olímpicas em quatro escolas, uma das grandes promessas de legado olímpico?A gestão anterior deu grande ênfase à construção de grandes escolas e desequilibrou nosso orçamento. Herdamos 30 escolas inacabadas e uma rede muito mal conservada e nossa posição neste momento é não iniciar novas obras antes de terminar aquilo que já foi começado. Seria muito irresponsável hoje, no meio de uma crise fiscal, pegar os poucos recursos que temos para iniciar projetos novos.
No Complexo da Maré, houve vários tiroteio, um incêndio numa escola, uma professora baleada e quatro blindados da polícia entrando na comunidade. Os bombeiros pediram até escolta policial para apagar o fogo. Esta é uma situação de violência inédita? Como se chegou até aqui?Há uma piora da situação. Nós ainda não entendemos muito bem os motivos. Um motivo é óbvio que é a crise econômica e o aumento do desemprego que tem um impacto na violência, mas existem outras causas. Está havendo um confronto maior entre facções criminosas na disputa por territórios, os líderes dessas facções não são mais oriundos das comunidades, e as escolas, onde muitos estudaram antes, não são mais vistas como algo a ser preservado. Além disso, nitidamente, há uma presença maior de criminosos mais jovens, o que também aumenta o nível de violência. Eu já trabalhei nas favelas nos anos 90 e é claro que nós negociávamos para entrar, mas era muito mais fácil. Porque eram criminosos enraizados nas favelas e chefiados por pessoas mais velhas, com certa capacidade política de entender o que é bom e o que não é.
Por que resolveu abraçar a divulgação dos números de violência nas escolas? Qual o objetivo de fazer público que apenas houve sete dias de paz neste ano letivo sem nenhuma escola fechando suas portas? Seus críticos acreditam que é uma forma de espalhar o medo sem enfrentar o problema.Nossa rede é muito grande, cerca de 20% da cidade gravita em torno dela, é poderosa e tem legitimidade. No momento em que as instituições brasileiras perderam sua legitimidade, a sociedade quer reagir ao quadro de violência que esta vivendo, mas ela não encontra caminhos e a rede pública de educação vai começar a abrir caminhos para a sociedade reagir. E para reagir a gente tem que enfrentar o tamanho da crise. Não quero esconder a realidade, porque eu estou vendo que o Rio de Janeiro está morrendo aos poucos. O nível de violência atual não permite mais a vida social, dificulta muito o turismo, o comércio, a vida cultural… Vejo áreas da cidade que estão morrendo, às 19h30 não tem ninguém na rua, as pessoas estão trancadas em casa. Eu estou fazendo um chamamento à reação da cidade.
O senhor já se reuniu com muitos professores e diretores de escolas nesses meses, quais foram os relatos que mais o impactaram?A primeira vez que eu fui na Maré como secretário – digo isso porque na época em que fui clandestino eu fiquei escondido dentro da comunidade quando ainda era uma favela de palafitas – eu contei 162 furos de tiros de fuzil na fachada de uma escola. Uma espécie de cartão de visita. Ainda lá, na Maré, eu conversei com alguns grupos de homens armados de fuzil, tinha um rapaz muito jovem, e a frase que ele me disse eu não esqueci: “Antes, a PM me esculachava, agora ela me respeita”. Mas também tenho muitas histórias de heroísmo de diretores e professores, como quando mataram a menina Maria Eduarda [em 31 de março] e o pessoal da escola manteve o corpo três ou quatro horas dentro do local sem conseguir sair.
Nesse caso, ainda, o senhor foi um dos primeiros a acusar a polícia de ter matado a menina.Foi a polícia quem matou. Eu fui no dia seguinte, nós reconstruímos tudo, e quando a polícia atirou não havia confronto. Os policiais se posicionaram, mais ou menos a 150 metros da escola, e havia dois homens armados transitando na frente, mas isso é uma situação normal aí. Esses policiais tiveram tempo de fazer a mira, escolher os alvos e atirar. Só que atrás desses homens estavam as crianças jogando vôlei. E nós temos uma polícia que é incapaz de usar uma arma de guerra como um fuzil automático, porque ela não tem discernimento de quando pode ou não pode atirar. A polícia via nossos alunos. Não vou dizer 100%, mas 90% dos conflitos que atingem as escolas começam nas operações policiais.
O senhor já avaliou as incursões policiais nas comunidades de “desastradas, espalhafatosas e inúteis”. Qual seria sua proposta? Nós temos, no mínimo, duas reivindicações à polícia. Primeiro, é que, ao planejar alguma incursão, ela respeite as escolas, que leve em conta sua localização e não deixe elas na linha de tiro. Ela não tem feito isso, ao contrário. A segunda reivindicação é que a polícia não faça operação nos horários de entrada e saída dos alunos. Temos centros de 1.200 crianças, e nesses horários se concentram cerca de 2.000 pessoas no entorno das escolas.
O que a cúpula de segurança responde a essas reivindicações?Ela sempre promete uma revisão de procedimentos que nunca acontece, mas eu tenho dúvidas hoje até que ponto o comando da Polícia Militar comanda a tropa. Já fizemos reuniões com todos os batalhões da PM do Rio de Janeiro, somos até bem recebidos, mas isso não se traduz em efetividade. No dia seguinte repetem-se essas operações.
Em que sentido você acha que o comando não comanda a tropa?É um assunto delicado. Num país e num Estado onde o nível de corrupção dos governos chegou ao ponto que chegou, há uma dissolução das estruturas. Te pergunto o seguinte: o cabo da PM que entra na favela, dando e levando tiro, e olha para cima e sabe que o governador está ficando milionário, por que esse soldado não vai buscar também algum tipo de vantagem?
Poderia se dizer que senhor se tornou o secretário mais destacado da administração Crivella. Isso diz coisa boa do senhor, mas também pode sugerir a irrelevância de ações do governo municipal…Não sei se isso é verdade. O prefeito tomou uma decisão corajosa de colocar o pé no freio para evitar o descontrole. Este primeiro ano é o ano de arrumar a casa para que a gente possa respirar. Isso talvez explica essa menor visibilidade: ele não está tocando grandes projetos nem quer. A administração da Prefeitura não é uma corrida de 100 metros rasos, é uma maratona e será avaliada daqui a quatro anos. Ele está mantendo o lema de “cuidar das pessoas” e está me dando condições de trabalhar que a esquerda não me daria.
Que tipo de condições?Temos 65 mil funcionários na secretária de Educação, nenhum é indicado politicamente. A esquerda ia lotear a secretaria de Educação, gerência por gerência. Não por causa de corrupção, mas por causa da luta interna entre os grupos da própria esquerda.
Em que plano ideológico você está no Brasil de hoje?Eu sou e sempre fui de esquerda. Mas eu acho que a esquerda brasileira vem vivendo um processo grave de deformação. Eu sai do PT em 1995 já dizendo que estava em curso um processo de corrupção grave, comandado pela cúpula do partido. Fiquei isolado dizendo isso, me crucificaram. A realidade está aí. A esquerda precisa fazer uma autocrítica muito mais profunda do que ela está disposta a fazer.
Em que sentido?Ela se afastou do povo. A esquerda foi para os gabinetes, para os governos, para o Parlamento, você tem milhares de quadros da esquerda ao longo dos últimos anos que ascenderam socialmente… Muitas vezes de maneira legal, mas outras de maneira ilegal. A esquerda não sairá dessa crise fazendo pequenos remendos. Se você me perguntar quem é que vai contribuir mais no médio prazo na respeitabilidade da esquerda brasileira, se sou eu ou são os grupos ultrarradicais que ficam gritando palavras de ordem como “Fora Temer” e “Nenhum direito a menos”, sou eu. A esquerda fala muito de revolução, mas quer eleger vereador e deputado, eu falo menos de revolução, mas dedico minha vida a ela.
Qual é seu diagnóstico da crise do Brasil?Em geral as pessoas estão olhando para cima. Quando pensam na crise, olham para os políticos, no Congresso, no presidente Temer, no Lula… mas a crise brasileira não está aí. Está embaixo. Há um processo de dissolução da sociedade, que nos coloca muito próximos de uma situação de anomalia, de ausência de regras, de ausência de referências, uma perda de valores essenciais do processo civilizatório. É essa crise que me preocupa mais. Eu não estou preocupado com a luta do PT contra o PSDB. A esquerda também é culpada dessa crise moral, se baseou em conchavos eleitorais e deixou de ser uma força que exercesse uma vanguarda intelectual moral, como é o papel histórico dela. Criou-se uma esquerda pós-moderna, e acho que a esquerda do Rio representa muito isso. Ela dá grande ênfase à política de costumes e discute essencialmente homossexualismo, drogas, aborto e é nessas questões de costumes que os evangélicos e o povo brasileiro são muito conservadores.
O senhor não se identifica com essas questões?Isso cria um conflito que aparentemente é antagônico entre a esquerda e os evangélicos, por exemplo, mas é um erro. Nunca me interessou especialmente a política dos costumes, eu penso na política do ponto de vista nacional e social. E essas duas questões me permitem dialogar muito fluentemente com os evangélicos, que são a força popular mais influente do Brasil contemporâneo. A polêmica brasileira não é a polêmica entre Jean Wyllis e Silas Malafaia. Enquanto a gente balizar a situação do Brasil na discussão de um homossexual com um pastor, estamos deixando de ver a verdadeira natureza da crise brasileira e estamos nos distanciando cada vez mais do povo. Isso me separa muito dessa esquerda, embora eu a respeite.
Tem se repetido muito nos últimos meses que o PT institucionalizou a corrupção, o senhor que há tempos denuncia práticas corruptas no partido, concorda com essa afirmação?Infelizmente, a afirmação é verdadeira. A corrupção atingiu um patamar inédito nos governos do PT, muito mais organizada, muito mais sistematizada. Saímos de uma fase mais artesanal da corrupção, que poderia ser muito grande, não digo que fosse pequena, mas mais improvisada, e entramos numa fase de corrupção sistêmica, planejada e associada ao projeto político.
O que o senhor pensa de Lula?Eu acho que o tempo de Lula passou. Ele não tem a menor ideia do que ele vai fazer se ele se eleger presidente no ano que vem. Mas ele está movido por uma grande causa que é a de não ser preso. Ele não é mais um quadro político, uma liderança nacional.
Quem te representaria em 2018?Neste momento ninguém. Acho que é maior crise da historia da República, inclusive pela falta de alternativa. (artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)
04 de julho de 2017
María MartínEl País