"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

JOAQUIM LEVY CORTA A TERÇA-FEIRA DE CARNAVAL


Joaquim Levy corta a terça-feira de Carnaval

Levy mostrou que é possível reaproveitar peças do guarda-roupa


SAPUCAÍ - Após cortar a popularidade de Dilma Rousseff em 20 pontos percentuais, Joaquim Levy, ministro do Juízo Final, anunciou novas medidas.
"Precisamos entender que este carnaval será mais austero. Cortei algumas bundas, reduzi o número de peitos na avenida e transformei a terça-feira em dia útil", esclareceu.
Entre as próximas medidas está o corte de 10 cm nas madeixas de Graça Foster.
"Desde 2009, o mercado vem dando indícios de que aquele corte de cabelo não era adequado", justificou.
Em seguida, mandou um recado: "Apertem os cintos, a pilota sumiu".
Ao saber das medidas, Lula cofiou a barba, temeroso por um novo corte.
"Depois que vi a alegria de Silvio Santos na Flórida, estou cogitando arrumar minhas malas e partir para lá", disse.


26 de janeiro de 2015
The i-Piauí Herald

O ÓBVIO ULULANTE

 

O leitor é um cliente. E um cliente deve ser bem tratado. Nós damos às pessoas o que elas querem
por Bernardo Carvalho
 

Há alguns anos, lá na empresa, alguém teve uma ideia genial: E se o mundo inteiro lesse o mesmo livro? A gente começou a trabalhar nesse sentido. Um monte de gente foi contratada para tornar isso possível e achar esse livro que todo mundo lesse. Os salários começaram a subir. E, como uma coisa sempre leva a outra, para pagar esses salários cada vez maiores, achar esse livro também se tornou cada vez mais urgente, assim como esse livro se tornou cada vez mais imprescindível. As perspectivas do negócio ficaram muito mais interessantes. Mas é claro que ainda estávamos na fase inicial, da tentativa e do erro.

Aos poucos, fomos aperfeiçoando a ideia e entendemos que um livro que todo mundo lê deve ressurgir necessariamente a cada ano para justificar os bônus que lá na empresa passamos a oferecer anualmente. O ideal seria que houvesse um livro que todo mundo lesse a cada semestre – e, por que não?, a cada mês e até mesmo dois ou três por mês. E assim o livro que todo mundo lesse, embora sempre o mesmo, deveria parecer muitos também. Um livro que todo mundo lê une, cria consenso, faz todo mundo pensar na mesma direção, achando que pensa diferente e com originalidade. E assim, sendo sempre igual, não cria problemas. Nós pensamos: Se conseguirmos dar continuidade ao nosso projeto, em alguns anos acabaremos esquecendo o que é discordar. Discordar é ruim. Porque discordar é briga. E briga é problema.

Ao mesmo tempo que tivemos a nossa ideia genial lá na empresa, alguém teve outra ideia igualmente genial em outra empresa: E se o mundo inteiro fizesse exatamente a mesma coisa, achando que faz diferente, não seria mais fácil e natural supervisionar o mundo e, por conseguinte, encontrar o livro que todo mundo vai ler? E se, para isso acontecer, a gente criasse um dispositivo no qual quanto mais as pessoas lessem uma coisa, mais a mesma coisa seria lida e quanto mais as pessoas vissem uma coisa, mais ela seria vista? Não parece óbvio? E não seria mais fácil para todos nós, lá na empresa, delegar o trabalho de achar o livro que todo mundo quer ler a esse dispositivo redundante, natural e óbvio? Um dispositivo que apenas expressa, por assim dizer, a vontade dos usuários, levados a acionar o dispositivo –ao mesmo tempo que, sem perceber, são usados por ele –, achando que agem por livre e espontânea vontade?

O problema é que, apesar da genialidade das ideias, ninguém sabia exatamente como pôr em prática essa máquina tão óbvia e natural. Fazia anos que já sabíamos lá na empresa que era melhor não publicar livros que criam problemas. As diferenças criam problema. E, embora seja considerado correto exaltar as diferenças, não gostamos de problemas lá na empresa. Ninguém gosta. Há alguns anos, alguém disse lá na empresa: Se as outras empresas dão ao mundo o que o mundo quer, por que a nossa haveria de dar ao mundo o que nem todo mundo quer? É a lei da oferta e da procura. Não é lógico e natural? A lógica e a natureza são as mães de todas as coisas. A começar pela economia. E por que não pela cultura?
 
Há alguns anos, alguém lá na empresa teve mais uma ideia genial (nós temos muitas ideias geniais lá na empresa): E se usássemos a língua que todo mundo fala, por assim dizer, de forma figurada, a língua que todo mundo entende, para fazer todo mundo ler o mesmo livro? Não seria lógico e natural? E se fizéssemos as pessoas das mais diferentes línguas escreverem cada vez em menos línguas até chegar a uma só, a mesma língua para todos? É claro que, para isso, teríamos que apresentar alguns atrativos. E qual melhor atrativo do que saber que se escreve na língua que todo mundo vai ler, a língua que todo mundo entende? E se, para persuadir os renitentes que se recusassem a escrever nessa língua comum, a gente desse a impressão de que continuavam escrevendo em línguas diferentes? Como?

Bastaria a gente propor que escrevessem, na mesma língua que todo mundo fala e entende, as experiências dos lugares onde se falam outras línguas. Não seria fantástico? E com isso, como se não bastasse, a gente ainda eliminaria toda necessidade de tradução. Bastaria deixar eles reproduzirem na mesma língua, na nossa língua comum, o sotaque e a cor local das outras línguas que nem todo mundo fala ou entende. E se a gente inventasse um nome para todos esses sotaques incorporados na mesma língua, numa única língua para todo mundo entender? Algo como multiculturalismo? Não seria incrível?

A impressão, pelo menos, seria muito positiva. Como se o mundo inteiro pudesse estar dentro de uma única e mesma língua. Assim, não haveria problema. Nós não gostamos de problema. Problema não dá dinheiro e dá dor de cabeça. Assim, todo mundo continuaria acreditando num mundo completamente diferente, sendo que o mundo inteiro estaria completamente igual. E cada vez mais igual, parecendo cada vez mais diferente, porque todo mundo leria na mesma língua o que antes era escrito em outras línguas que nem todo mundo lê, com a vantagem de que nem precisaríamos pagar pelas traduções.

Por sorte da gente lá na empresa, e por uma feliz coincidência, ao mesmo tempo que lá na empresa estávamos tendo essa ideia genial, alguém em outra empresa teve outra ideia genial. Eles pensaram, na outra empresa: E se a gente criasse um mecanismo e uma lógica, com base matemática e científica, por meio dos quais quanto mais se visse uma coisa, mais essa coisa seria vista e quanto mais uma pessoa lesse uma coisa, mais as outras seriam levadas a ler a mesma coisa, achando que chegavam a essa coisa por mérito e esforço próprio? Não seria incrível? Eles tiveram essa ideia em outra empresa. E, por isso, não podemos dizer que fosse a mesma ideia que nós tivemos lá na empresa, embora fossem muito semelhantes. Não podemos acusar ninguém de espionagem industrial ou plágio, porque não era a mesma ideia; era análoga.
 
Há muitas ideias geniais e análogas brotando ao mesmo tempo. É o que lá na empresa nós chamamos de sinergia. Vivemos uma época de sinergias. E, por analogia às fusões e aquisições que ocorriam à nossa volta, achamos que, assim como buscávamos um livro que o mundo inteiro lesse, também devíamos ser uma única empresa, composta de todas as outras empresas que tinham ideias muito semelhantes às nossas, para melhor supervisionar o mundo e melhor conduzi-lo nessa aventura de encontrar o livro que todo mundo lesse. E isso simplesmente porque a ideia da nossa empresa e a ideia das outras empresas eram análogas, simples e naturais: quanto mais as pessoas ouvirem falar de uma coisa, mais vão falar daquela coisa. Tudo está conectado. É simples, é humano. E o que é humano, por ser natural, é sempre bom. Isso tem que estar no livro que todo mundo vai ler, nós pensamos lá na empresa, porque é nisso que o mundo inteiro quer acreditar. O que é humano é sempre bom.

Há alguns anos, lá na empresa, alguém teve outra ideia genial, que se coadunava com as ideias geniais anteriores, compondo uma visão global: Vamos fazer tudo o que é negativo soar negativo. Não é lógico, óbvio e ululante? Assim, as pessoas terão repulsa à crítica. Naturalmente, elas querem ouvir coisas boas. E nós podemos dar apenas boas notícias. E nós vamos fazer as pessoas se identificarem de tal modo com esse mecanismo e com essa lógica criados pelas nossas empresas transformadas numa única empresa global, com base em fórmulas matemáticas e científicas, um mecanismo e uma lógica tão humanos e tão naturais quanto as próprias pessoas, que, quando esse mecanismo e essa lógica forem criticados, serão as próprias pessoas que se sentirão ofendidas, como se estivessem sendo atacadas pessoalmente. E vão retrucar como se defendessem Deus e a natureza.

Foi essa ideia genial que nós tivemos há alguns anos lá na empresa, depois de nos fundirmos com outra empresa, enquanto em mais outra empresa alguém tinha a mesma ideia, quer dizer, uma ideia análoga. A pessoa sai pelo mundo e acha que vai encontrando coisas ao acaso, mas as coisas que vai encontrando são apenas as coisas que as outras pessoas já encontraram antes, são as coisas que as pessoas mais encontram. Então, é natural que duas empresas diferentes tenham a mesma ideia ao mesmo tempo. Porque estão sintonizadas no seu tempo. Estão em sinergia. É lógico que esse mecanismo nos ajudou muito a achar o livro que todo mundo vai ler, simplesmente porque nos fez parar de procurar, deixando aos próprios leitores essa incumbência. Foi, de fato, uma ideia genial e, por assim dizer, análoga.

Afinal, se querem achar que a Terra é chata, por que insistir que ela é redonda? Para que contrariar as pessoas se podemos concordar com elas e com o que elas acham natural? Para que provocar o público? Para que forçá-lo a ver coisas que ele não vê a olho nu? Ou que não quer ver? Que presunção é essa, meu Deus? Lá na empresa, nós pensamos a olho nu, junto com o público, nunca contra ele. Lá na empresa, nós não somos presunçosos. E não queremos criar problema.
Trabalhamos pela cultura, pelo bem dos outros: Imaginamos que podíamos criar o critério único de excelência para o livro que todo mundo vai ler. Vou explicar.
 
Há alguns anos, antes das nossas ideias, um escritor que nascesse na periferia do mundo podia confrontar o mundo com a sua diferença. Aquilo tinha um valor, por ser diferente, mas era um valor menor e restrito, que não reconhecíamos plenamente no centro do mundo. E, embora tivéssemos tentado reduzir sua diferença a algo inteligível e palatável, restringindo a possibilidade das traduções até que ele entendesse exatamente o que devia escrever para ser traduzido e apreciado, ainda assim ele nos escapava. Continuavam a publicar tantas coisas desprezíveis na periferia do mundo! Mas se esse escritor tivesse que cumprir as mesmas regras de excelência impostas ao escritor que, no centro do mundo, estava submetido à única e mesma língua que todos entendemos, nós exportaríamos qualidade e faríamos o bem. Estão entendendo? Estão me acompanhando?

Antes de começarmos a ter ideias brilhantes lá na empresa, um imbecil qualquer podia dizer uma platitude qualquer em outra língua, como “a cultura é a regra; a arte é a exceção”, e todo mundo batia palmas. Pelas razões erradas! Pelas razões erradas! Aquilo era a Torre de Babel! Um poço de equívocos e mal-entendidos. É claro que a cultura é a regra. Então, o que pensamos lá na empresa foi: Viva a cultura! Todo mundo quer celebrar a cultura. Bola pra frente! Pensamento positivo.

Representamos os 99% contra o 1%. Estamos do lado da cultura. A arte é o 1%, é a exceção. E nós somos pelos 99%. Nós somos pelo bem, pela democracia e pela cultura, lá na empresa. Sem querer me gabar, eu mesmo tive a ideia de que era preciso inventar um critério único para julgar todos os livros que todo mundo lê. E qual o único critério capaz de açambarcar o mundo inteiro sem mais desculpas disso ou daquilo? A excelência! Nós pensamos: A excelência vai acabar com a desigualdade, com essa história de diferença disso e daquilo, relativismo disso e daquilo, que é apenas um eufemismo e uma desculpa para a corrupção e para a incompetência. É isso o que eles têm para nos dar na periferia: corrupção e incompetência disfarçadas de diferença. Com a excelência para todos, é preto no branco. Ou o livro é bom e todo mundo lê ou é ruim e nem todo mundo lê.
A excelência é objetiva e absoluta. Não precisa de crítica, basta a opinião de quem lê. E quanto mais opinião, mais excelente fica.

Então, se perguntarem o que é bom, que é que eu digo? E quando eu já não estiver aqui para dizer? Ora, basta deixar as pessoas dizerem que bom é o que é natural, e o natural é o que elas acreditam. Que foi? Deus não é bom? Então? E, para acreditar, a coisa tem que parecer crível.

Ninguém quer ouvir coisas negativas, crítica negativa. Não! Mas com as opiniões é diferente: você pensa em sinergia. Até para falar mal. E isso é bom, porque é coletivo. Não é mais a subjetividade de 1%; é a objetividade dos 99%. É claro que todo mundo quer ser singular, mas não dá pra todo mundo ser singular de verdade, façam as contas. Basta achar que é singular, como todo mundo acha, e continuar pensando a mesma coisa, como todo mundo pensa.

E por isso podemos publicar muitos livros sem comprometer a uniformidade de um livro só, contanto que todos sejam mais ou menos iguais ou análogos ou sinérgicos na sua aparente diferença. E o critério para avaliar esses livros e para fazer esses livros mais ou menos iguais é a medida da sua credibilidade. Eu explico. No que é que vocês mais acreditam: numa história que é o relato de alguma coisa que realmente aconteceu ou numa loucura qualquer tirada da cabeça singular de uma pessoa? O que é que tem mais ressonância? O que de fato ocorreu e todo mundo pode comprovar ou os pensamentos antinaturais de um doido?

Nós queremos acreditar no que estamos lendo. Queremos personagens de carne e osso. Queremos acreditar no que nos contam. Ninguém quer ler livros que põem em dúvida o que estão contando. Percebem? Então, o critério é o realismo do negócio. Tem que fazer acreditar para ser bom. Se começa a questionar, acabou. E por isso é importante todo mundo ler o mesmo livro e achar que acha diferente, achando a mesma coisa. Assim, não há problema nem discórdia. Só pode existir realismo se todo mundo acreditar minimamente nas mesmas coisas.
 
Lá na empresa, nós sabemos que tudo deve ser positivo e natural. Mas não posso deixar de alertá-los sobre o trabalho sub-reptício que os terroristas da exceção vêm desenvolvendo contra o nosso realismo e o nosso consenso, porque é preciso que vocês também estejam atentos para essa ameaça e que se protejam contra essa pequena peste quando ela se manifestar. Os terroristas da exceção acreditam nas singularidades, de verdade! E nos problemas. Eles dizem que a arte deve apresentar problemas, que a arte não tem que criar soluções. Eles querem criar problemas! Mas o público quer soluções. Ninguém precisa de mais problemas.

Eles usam a linguagem para pôr em dúvida o que outros estão dizendo. E por isso não são apenas tolos; são perigosos. Seu credo são as diferenças e as discordâncias, como se isso fosse possível. Onde na empresa funcionamos por pleo-nasmos, os terroristas da exceção funcionam por paradoxos. E aonde é que isso pode levar? A um mundo de dois ou três gênios, dizendo coisas que contrariam o que todos nós pensamos em consenso? E que contrariam aquilo em que acreditamos? É isso? Desde quando literatura é reflexão? E onde fica o prazer da leitura? Quem é que quer ler o que não dá prazer?

Problema não dá prazer. Vejam só a ironia e a contradição. Por isso, nós decidimos espalhar pelo mundo livros que repetem sempre as mesmas coisas, as mesmas crenças, na mesma e única língua que todo mundo entende e acredita, mesmo se as capas e os autores pareçam diferentes à primeira vista. Enquanto isso, alguns fracassados, presos ao passado, insistem em criar anacronismos, por meio de contradições e singularidades incompatíveis com o presente. Nada parece capaz de arrefecê-los e de convencê-los de que nós lá na empresa já ganhamos e temos o mundo em nossas mãos. Eles continuam lutando contra o que é natural. Em nome das diferenças e das exceções.

E que é que eles querem? Criar tantas visões de mundo quantos livros forem publicados? E como é que isso é possível com a quantidade de livros que precisamos publicar para que o mundo con-tinue caminhando na mesma direção e nós sigamos recebendo nossos salários? Querem ofender o público e o gosto do público à custa dos nossos bônus? É o público quem diz o que é arte e o que é literatura e o que é a verdade. Nós entendemos isso lá na empresa e damos ao público os canais para ele se expressar e nos dizer o que ele quer ler.

Nós nos orgulhamos disso. O leitor é um cliente. E um cliente deve ser bem tratado. Nós damos às pessoas o que elas querem. Nós atendemos às demandas. Nós damos a confirmação por meio do nosso realismo. Ninguém procura contradições e paradoxos. Nós trabalhamos com a certeza. E os terroristas da exceção querem semear o dissenso e a dúvida. Não há nada mais desagradável que a dúvida. Quem quer duvidar? E para que serve a literatura se não for para confirmar e agradar? Eu pergunto: Para quê? Que contraexemplos eles têm para dar? Os impressionistas? A arte moderna?
A ciência? É isso? É pra rir? Tomem cuidado com essa gente, porque não importa o que vocês lhes derem, quem é independente é insaciável, nunca se dá por satisfeito, nunca está contente com o mundo e nunca vai parar de ler e de buscar os livros que nem todo mundo lê, os livros que ainda não existem, os livros que estão por ser escritos e que não se parecem com nenhum outro. Depois não digam que não avisei. Muito obrigado e boa noite.

26 de janeiro de 2015

DIÁRIO DA DILMA

 

Quem primeiro se queixa foi quem atirou a ameixa


1º de dezembro - Tô adorando esse Joaquim Levy. Pedi para ele fazer minhas compras de Natal e economizei 35% em relação ao ano passado.
Recebi a Luiza Trajano no meu gabinete. Combinamos nosso Réveillon. Ela disse que me separará um lindo vestidinho branco do Magazine Luiza para entrarmos o ano juntas. Uma uva, ela.
 
2 de dezembro - Os manifestantes diferenciados largaram a avenida Paulista e vieram protestar no Congresso. Trouxeram o Lobão a tiracolo. Daqui a pouco estão abrindo uma pizzaria D.O.C. aqui. Oba.
O clima ficou tenso. Aquele espantalho do Agripino Maia resolveu me enfrentar no projeto de lei que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Olhei bem nos olhos do caboclo e soltei: Eu sou a diretriz orçamentária. Que fique claro. Em seguida, guardei meu cotó no coldre imaginário de couro.
 
3 de dezembro - Esse Laércio agora vem dizer que o Congresso está de cócoras. Passou recibo. Quem primeiro se queixa foi quem atirou a ameixa.
 
4 de dezembro - E a mamãe Noel aqui assinou convênios para liberar 3,24 bilhões de reais pro Geraldo Alckmin manter aqueles manifestantes em São Paulo. Menos mal que, mais dia, menos dia, não poderão mais tomar banho. Coxinha morre de vergonha de aparecer suado. Acham que confunde com pobre.
 
5 de dezembro - Marcaram uma Cúpula Extraordinária da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) só pra podermos fazer nosso amigo-oculto. Achei fofo.

6 de dezembro - Não me bastava vigiar 39 ministros, agora tenho que vigiar irmão de ministro? Não é que aquele Negromonte e o tal do Neurer têm uns irmãos bem suspeitos? Gente desclassificada!
 
7 de dezembro - Ainda bem que o Palmeiras escapou do rebaixamento. Se caísse, lá vinha o Serra dizer que era mais um descalabro do meu governo. Esse vampiro não deixa escapar nada.
 
8 de dezembro - Fui citada num episódio do seriado The Newsroom. Mandei um recado para a oposição entrar na Justiça exigindo que o Laércio seja citado no meu lugar. Isso está ficando cada vez mais divertido.
Cometi a besteira de dizer que estava aberta ao diálogo e tive que receber os representantes das centrais sindicais. A reunião durou dois meses de 31 dias. Ô, povinho prolixo.
 
9 de dezembro - O Janot pirou? Aquela mosca-morta resolveu dar uma de macho pra cima de moi? Não vem não, violão! Só tiro a Gracinha na hora que eu quiser! Já basta o Lula me dando ordens.
 
10 de dezembro - No meio desse tiroteio todo, fiquei comovida com o relatório da Comissão da Verdade. Chorei mesmo. Minha vida estava ali. Fiquei melancólica.
Bolsonaro, pode esperar, a tua hora vai chegar.
 
11 de dezembro - “Meu sonho talvez seja morrer bem gordo, sentado numa praça, comendo sem culpa. É, rindo e comendo doces. Tem a ver com desapego pessoal”, disse aquele pedaço de mau caminho chamado Alexandre Nero para a revista Claudia. Temos muito em comum. Vou mandar um brigadeiro de presente para ele.
 
12 de dezembro - Já não bastava a desconfiança do mercado, a austeridade econômica e a crise do euro. Agora a Unimed me sai do Fluminense. Que esse 2014 termine logo!
Hoje é sexta-feira. Não consigo imaginar programa melhor do que visitar Piraí acompanhada do Pezão. Ueba.
 
13 de dezembro - Já estava prestes a renovar meu guarda-roupa de praia quando o Levy veio me dizer que é melhor fazer isso depois de março, quando ninguém mais quer comprar biquíni. As coisas que esse homem está me ensinando!
 
14 de dezembro - Parabéns para mim, nessa data querida. Escolhi o Peixonauta como tema da minha festa de aniversário. Alugamos pula-pula, piscina de bolinhas e a Kátia Abreu fez esculturas com bexigas.
 
15 de dezembro - Às 19h30, lá estava eu no SGAN (Quadra 601 – Módulo K) para a solenidade de posse da Diretoria e Conselho Fiscal eleitos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA – triênio 2014–17. Como eu amo ser presidenta.
Raios, só agora me dei conta de que esqueci de convidar a Ideli para o meu niver. Dizem que ela chegou a comprar uma fantasia de agente especial da O.S.T.R.A., com relógio-comunicador e tudo. E agora?
 
17 de dezembro = Hoje tem almoço de confraternização com os oficiais-generais das Forças Armadas. Estou ressabiada. Vou pedir para esse ministro das Relações Exteriores provar a comida antes de mim. Se acontecer alguma coisa, ninguém sentirá muito a falta dele.
Cuba e Estados Unidos fizeram as pazes e o pessoal aqui reclama da minha amizade recente com a Kátia Abreu. É muito provincianismo.
 
18 de dezembro - Eike Batista ficou pobre e a Xuxa ficou desempregada. Nenhum numerólogo previu o ocaso da letra X em 2014.
Que fofo está o príncipe George! Ele me parecia enjoadinho, talvez por causa daquele nariz da família, mas melhorou muito. Lindinho nas fotos de Natal. Uma roupinha que só inglês sabe vestir. Berço é berço, não tem jeito.
 
19 de dezembro - Eu até achei que um dia viveria para ver Cuba e Estados Unidos ficarem miguxos. Mas confesso que não acreditei que esses olhinhos de Deus veriam a despedida de Sarney.
 
20 de dezembro - Tirei a Ideli da organização da ceia de Réveillon. A Abin veio me informar que a beata queria servir ovo de codorna com molho rosé. Já não me bastava o Petrolão?
 
21 de dezembro - O que é essa dieta Ravenna? Tudo de bom! Perdi 4 quilos. Estava meio desconfiada porque o médico é argentino, mas a Erenice tinha razão: é mi-la-gro-so. Não tenho mais a desculpa da campanha: agora é rumo aos 12 quilos.
 
22 de dezembro - Estou me escondendo do Lula. Sujeito chato! Quer me empurrar ministros goela abaixo o tempo todo com o olho lá em 2018. Outro dia imitei a voz da titia e disse que eu não estava. Não sei se colou. Mas não estou em posição de discutir. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
 
23 de dezembro - Baixei um joguinho chamado QuizUp no meu smartphone. Minha produtividade foi pro brejo. Respondi a tantos quizzes sobre o Alexandre Nero que fiquei com calo no dedo.
 
24 de dezembro - Quem diria que eu ia sentir saudade do Gilbertinho... estou um pouco boiando nessa Lava Jato. É pau e pedra pra todo lado, não consigo acompanhar. E ainda apareceu aquela moça veneno pra dizer que avisou todo mundo dos malfeitos. Acho uma graça! Agora, todo mundo sabia de tudo, avisou todo mundo, e não tem nada a ver com isso.
É como diz aquele rapaz: Ô, raça!

 
25 de dezembro - Gracinha continua tão no fundo do poço que a chamei para almoçar aqui em casa. Ela veio e trouxe presentes: uma caixa de bombom pra mamãe, um perfume Boticário pra titia e ações da Petrobras pra mim. Choramos juntas.
 
27 de dezembro - Ganhei uma amostra grátis de BB Cream e achei o máximo. Quecoisa boa! Hidrata, dá cor e protege do sol. O que não faz uma boa propaganda! Já comprei dois tubos. Mas só depois de fazer o credi-Raia, uma sugestão do Levy. Economizei 12 reais! O homem é mágico!
 
31 de dezembro - O cerimonial da posse fez questão de lavar o Rolls-Royce presidencial num lava a jato do posto Petrobras. Estou cercada de amadores por todos os lados. Vou encher a cara nessa virada de ano. Dane-se a dieta Ravenna.

26 de janeiro de 2015
in Piauí

CADA VEZ MENOS CONFIANÇA NA DILMA...


 
(O Globo) O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) iniciou 2015 com queda de 6,7 por cento em janeiro sobre o mês anterior, atingindo 89,8 pontos, menor nível da série iniciada em setembro de 2005.  Em dezembro, o indicador havia avançando 0,9 por cento na comparação mensal, alcançando 96,2 pontos e interrompendo dois meses de queda.

A Fundação Getulio Vargas (FGV) informou nesta segunda-feira que o resultado decorre tanto da piora da situação atual quanto das expectativas."A queda do ICC em janeiro dá sequência à tendência observada ao longo do ano passado e parece refletir aumento da preocupação com o mercado de trabalho e com a inflação", disse em nota o economista da FGV/IBRE Tabi Thuler Santos.

O Índice da Situação Atual (ISA) recuou 8,6 por cento, para 88,5 pontos em janeiro. O Índice de Expectativas caiu 6,2 por cento, a 90,8 pontos. Ambos os índices, segundo a FGV, estão nas mínimas históricas.

A proporção de consumidores que veem a situação atual como boa caiu de 8,7 por cento em dezembro para apenas 6,0 por cento em janeiro. Já a parcela dos que preveem melhora diminuiu de 23,3 por cento para 16,6 por cento. A retomada da confiança em geral, tanto de consumidores quanto de empresários, tem sido uma das principais bandeiras da nova equipe econômica, diante do persistente cenário de inflação alta e crescimento baixo vivido pelo Brasil.

26 de janeiro de 2015
 

BOLETIM FOCUS MOSTRA PROJEÇÃO DE PIB ZERO E INFLAÇÃO PRÓXIMA DE 7% PARA 2015

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(Valor) Inflação chegando aos 7% e crescimento da economia se aproximando do zero em 2015. Este é o cenário visto pelos analistas de mercado, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central. A mediana das estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deu um salto, de 6,67% para 6,99%, na última semana, enquanto a projeção para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 0,38% para 0,13% neste ano. Os analistas veem a inflação mais pressionada pelos preços administrados, cuja mediana subiu de 8,2 0% para 8,70%. 

Em 12 meses, a estimativa para o IPCA subiu de 6,66% para 6,69% e para o índice de janeiro houve ajuste de 1,10% para 1,20%. Na semana passada, o IBGE informou que o IPCA-15, prévia da inflação deste mês, subiu 0,89%. Em 12 meses, acumulou avanço de 6,69%.

Apesar da inflação mais salgada, os analistas não alteraram suas apostas para a taxa básica de juro, que seguem em 12,50% no fim deste ano. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic de 11,75% para 12,25% ao ano. Já o PIB deve ter ajuda menor da indústria, uma vez que a estimativa para o aumento da produção industrial neste ano passou de 0,71% para 0,69%.

O mercado vê um cenário um pouco melhor em 2016, com a inflação menos pressionada, uma taxa de juro menor e um crescimento maior que em 2015, embora o PIB de 2016 tenha sido revisado para baixo. A mediana das estimativas para o IPCA caiu de 5,70% para 5,60%. A estimativa para a Selic permaneceu em 11,50% e a do PIB cedeu de 1,80% para 1,54%, assim como a da produção industrial, de 2,65% para 2,50%.

Top 5
Os analistas Top 5, os que mais acertam as previsões, agora veem o IPCA deste ano em 6,86%, ante 6,60% na semana passada, e mantiveram a estimativa para a Selic em 13% ao fim de 2015. Para 2016, a projeções para o IPCA seguiu em 5,60%, mas a da Selic caiu de 12% para 11,75%.

26 de janeiro de 2015
 

ARMADILHAS PARA A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA





Movimentos do Brasil no cenário global deste ano não sinalizam grande mudança de política externa no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Nessas primeiras semanas, a participação coadjuvante do Brasil no desenho do eixo China-América Latina, a pouca atenção que o país conferiu à marcha de Paris contra o terror e o anúncio da ausência da chefe de Estado no Fórum de Davos 2015 prenunciam uma diplomacia do “mais do mesmo”.

Costuma-se dizer que a formulação da política externa cabe ao Palácio do Planalto; ao Itamaraty, sua execução. O problema é que não há na atual chefe de Estado qualquer predileção ou talento para o palco internacional, seja na condição de roteirista, diretor ou ator.

Daí a importância do novo chanceler, que terá de chamar a si a responsabilidade de “proteger” a política externa dos efeitos depreciadores do desinteresse ou da inépcia de Dilma. É tarefa nada fácil.

APESAR DE DILMA…
 
Muito do sucesso do Itamaraty nestes próximos quatro anos residirá na implementação da diplomacia não “com” a presidente, mas “apesar” dela.
Mesmo assim, é preciso entender que o ocaso da política externa não se origina exclusivamente da incompatibilidade Dilma-mundo.
 
Não resulta, tampouco, de disputas interministeriais por espaço características do jogo político em qualquer capital. Não é, ainda, tão-somente fruto de panorama fiscal que constrange o orçamento diplomático.
 
O principal fator a explicar o enfraquecimento do Itamaraty é a série de erros estratégicos que o Brasil vem cometendo. E esse conjunto de equívocos remonta a Lula 1.0.
Compõe-se sobretudo do foco ideológico nas relações Sul-Sul. A fatura chega agora na forma de uma pálida projeção do Brasil no cenário internacional.
 
No desejado caminho de volta do Brasil a um maior destaque no exterior, há muitos obstáculos conjunturais. Commodities minerais em que desfrutamos de vantagens comparativas experimentam inferno astral. Mas há também bom número de armadilhas adiante. Vão aqui dois exemplos.
 
E OS BRICS?
 
Inicia-se em abril a presidência russa dos Brics. Acossada por sanções do Ocidente e pauperizada pelo baixo preço do petróleo, Moscou pode imprimir caráter “confrontacionista” ao grupo. É tudo que os Brics não precisam num ano que tem de ser marcado pela inauguração pragmática do Novo Banco de Desenvolvimento.

Em nossa vizinhança, ao passo que no mundo real a Argentina pretere o Brasil à China como parceiro privilegiado de negócios, Axel Kiciloff, ministro da Economia de Cristina Kirchner e candidatíssimo à Casa Rosada, entoa canto de amor ao Planalto petista.

Sugere que as agruras internacionais da Petrobras derivam do apetite de fundos como o Aurelius, um dos “abutres” da dívida argentina, que agora lançaria “ataque simultâneo” para desestabilizar as maiores economias do Cone Sul.

Se o Brasil deseja uma nova política externa, terá de desviar com sabedoria de agendas que nada contribuem ao interesse nacional.

26 de janeiro de 2015
Marcos Troyjo
Folha

A LAMENTÁVEL MORTE DA RELAÇÃO ENTRE MÉDICO E PACIENTE

   


Bombardeadas, nas últimas semanas, pela sanha Global de aumentar a audiência do “Fantástico”, as entidades médicas contra-atacam, condenando a generalização dos ataques contra os “mafiosos” médicos, que vendem suas almas ao diabo, simulando cirurgias desnecessárias, usando materiais superfaturados, de validade vencida e outras maldades grossas.

Mas os médicos corretos, a maioria sem dúvida, já deveriam ter se mobilizado frente aos sinais sinistros que invadem a mídia constantemente, tais como venda de vagas em vestibulares de medicina, as péssimas condições de formação nos cursos médicos, a abertura indiscriminada de faculdades de quinta categoria, o sucateamento dos hospitais (fora os caríssimos e prestigiados centros que tratam presidentes e ricos, focados em fazer exames altamente complexos, assim como tratamentos e cirurgias, ajudados pelo BNDES e bancos públicos).

Prestemos atenção ainda em eméritos professores de grandes faculdades, que alertam para o desinteresse, falta de formação cidadã e humanista das novas gerações de médicos, que entram sem vocação ou dom, apenas por achar que “medicina dá dinheiro”. Os mestres alertam ainda sobre o alto grau de desistência no meio do curso, por incapacidade intelectual, descoberta de que não é sua área de competência, entre outras.

TESTES VOCACIONAIS

Um brilhante mestre da Escola Paulista de Medicina, num artigo para o jornal “Folha de S. Paulo”, chega a sugerir que haja testes pré–admissionais, para constatar se o vestibulando tem alguma vocação.
Ou seguir o exemplo do Conselho de Medicina de São Paulo, que está fazendo um teste (tipo o da Ordem dos Advogados do Brasil, a OAB, para bacharéis de direito) em que os que não alcançam nota mínima, ficam proibidos de fazer residência médica, embora sejam jogados no mercado como generalistas. No último ano, 60% foram reprovados! Imagine nos outros estados…

Mas serei mais humilde. Dedicarei grande parte desta coluna para relembrar aos colegas e ao público em geral que nada é mais sagrado, mais essencial na pratica médica, do que o momento empático e fundamental no atendimento que é a relação médico-paciente! O exercício da arte diagnóstica, da busca da cura, tem seu auge quando um ser que sofre – seja física, psíquica, social ou espiritualmente – senta em frente a um ajudador, no caso, um médico.

Ouvir com atenção suas queixas, auxiliá-lo a caracterizar suas dores e dúvidas, acolhê-lo, estabelecendo uma energia de empatia e compreensão, como quem troca de lado com o outro para entendê-lo e ajudá-lo. Ter a habilidade de esmiuçar seus sintomas e perceber os sinais da disfunção que acometem o paciente é o mínimo que se espera de um médico de alma, com o dom da cura, ou ao menos de minorar o sofrimento de quem a ele acorre.

O VERDADEIRO MÉDICO

Como diziam meus mestres da UFMG: “Em medicina, a clínica é fundamental, exames são complementares”. Ou ainda “um dia haverá uma supermáquina diagnóstica, em que o paciente, ao dar um passo, escaneará todo o corpo, células, funções e emitirá um relatório completo. Talvez, neste dia, ressurja o verdadeiro médico, pois o importante não é o relatório emitido, e sim como o paciente pode viver dignamente e com qualidade, a partir disso”.

Quem dera se as novas gerações entendessem que não é possível examinar, diagnosticar, compreender o seu paciente se a consulta não durar ao menos 30-40 minutos. Quanto mais breve uma consulta, mais exames se pede, menos diagnóstico existirá e nenhum tratamento passará de paliativo, desnecessário, ou pior, com graves erros médicos.

Em algumas palestras, chego a sugerir que o médico veja no paciente à sua frente um filho, mãe, esposa. Como gostaria que um ente querido fosse atendido ou tratado por outro colega, por mais humilde que seja o cliente? Pois trate desta formas sempre e sempre seu próximo paciente. Ou ainda, será que um médico gostaria de ser cliente de si mesmo?

Não tenho dúvida que o futuro dividirá a medicina em médicos (que escutam, falam e acolhem) e técnicos em medicina, impessoais, racionais, cirúrgicos nas suas intervenções e que se apoiam em exames mais que na relação médico-paciente.

Na minha experiência, 1/3 dos médicos é vocacionado, talentoso, humano. Outro 1/3 gostaria muito de sê-lo e se esforçam, mas não têm o dom e alma médica.
Quanto ao outro 1/3, haja Fantástico, Jornais Nacionais e Datenas!

26 de janeiro de 2015
Eduardo Aquino

O SISTEMA "S" A CAMINHO DO BREJO...

Devendo mais de R$ 1 bilhão ao Sistema S, o Pronatec está praticamente parado.
 
Há quatro meses, as instituições do Sistema S não veem a cor do dinheiro do Pronatec.
Um rombo que já ultrapassa R$ 1 bilhão. Responsáveis por mais de 80% das matrículas do programa, o Senai, Senac, Senar, Sescoop e SENAT estão desativando estruturas e não abrindo novas turmas. Não há dinheiro para sustentar a bandeira eleitoreira de Dilma que, neste momento, estuda até mesmo em interromper o programa por tempo indeterminado.

26 de janeiro de 2015
in coroneLeaks

ENQUANTO ACUSAVA AÉCIO, DILMA JÁ TINHA DECIDIDO ACABAR COM DIREITOS TRABALHISTAS


(Folha) A mudança nas regras para a concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários, anunciada no final do mês passado como uma das medidas de redução das despesas públicas, foi decidida pelo governo de Dilma Rousseff antes da eleição, encerrada em outubro de 2014. Um integrante do governo confirmou à Folha que as novas normas, que limitam a obtenção do seguro-desemprego e do abono salarial, foram definidas em meados de 2014. 

Em agosto, o governo reduziu em R$ 8,8 bilhões a previsão do gasto com o abono salarial para este ano. A revisão consta do PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) de 2015, enviado naquele mês pelo Planalto ao Congresso. O integrante do governo disse à Folha que a previsão foi feita com base em regras então definidas, que seriam anunciadas após a eleição. 

Na campanha, em ataques a adversários, Dilma disse que não faria alterações na lei que comprometessem direitos do trabalhador. Ao insinuar que seus opositores mudariam direitos trabalhistas, disse que não mexeria em benefícios como férias e 13º salário. "Nem que a vaca tussa", cravou a então candidata.
O tema virou um dos slogans da campanha de Dilma. O PT anunciou no site da candidata uma mobilização nacional, batizada de "Nem que a vaca tussa", contra mudanças nos direitos trabalhistas. 

ANTECIPAÇÃO
 
No dia 6 de novembro, o então ministro Guido Mantega (Fazenda) antecipou o que sua equipe já havia preparado. "Nós temos agora que fazer uma redução importante das despesas que estão crescendo, como o seguro-desemprego, abono salarial e auxílio-doença", disse, durante evento da FGV (Fundação Getulio Vargas) em São Paulo. 

Quando as novas regras foram divulgadas, no final de dezembro, Joaquim Levy já havia sido anunciado como o substituto de Mantega na Fazenda. Levy foi convidado oficialmente por Dilma para ocupar o cargo no dia 20 de novembro, duas semanas, portanto, depois da declaração de Mantega na FGV. 

Hoje, um trabalhador para receber o seguro-desemprego pela primeira vez precisa ter trabalhado seis meses nos últimos 36 meses anteriores à data da dispensa. Se requisitar o benefício pela segunda vez, vale a mesma regra. 

NOVAS REGRAS
 
Com as novas normas, válidas a partir de março, a pessoa pede o seguro-desemprego pela primeira vez precisa ter trabalhado 18 meses nos últimos 24 meses antes da demissão. Para obter o benefício pela segunda vez, é necessário ter recebido salário por ao menos 12 meses nos últimos 16 anteriores à dispensa. 

Segundo cálculos da Fazenda, metade dos trabalhadores que pediram o seguro em 2014 pela primeira vez não teria direito ao benefício com as novas regras.
Para o abono salarial, pago ao trabalhador que recebeu até dois salários mínimos, haverá carência de seis meses de trabalho ininterrupto para a concessão do benefício. Hoje, basta trabalhar um mês no ano. 

As novas regras tornam mais rígidas também as concessões de abono salarial, pensão por morte, auxílio-doença e seguro-defesa, pagos a pescadores durante períodos de proibição da pesca. A maior parte das alterações será feita por medidas provisórias, que terão de ser aprovadas pelo Congresso. O governo espera economizar R$ 18 bilhões.
As novas regras foram bem recebidas pelo mercado e por especialistas, por corrigirem distorções e reduzirem os gastos públicos.

26 de janeiro de 2015
 

ERA TUDO MENTIRA E AGORA LEVY QUER ACABAR COM SEGURO-DESEMPREGO



Levy considera ultrapassado o seguro-desemprego
 
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou nesta sexta-feira (23) que o atual modelo de auxílio-desemprego do país está “completamente ultrapassado”. A declaração foi dada em entrevista ao jornal “Financial Times”, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Em inglês, Levy utilizou a expressão “out-of-date” (em tradução livre, obsoleto ou ultrapassado) para se referir ao sistema de benefícios previdenciários. Ele citou a necessidade de “livrar-se de subsídios e ajustar os preços” como providências imediatas de sua política fiscal.

No fim do ano passado, o acesso a auxílios previdenciários como pensão por morte e seguro-desemprego ficou mais rigoroso após a edição de medidas provisórias. A medida pode ser considerada uma “minirreforma previdenciária”, parte do pacote do “período de austeridade” anunciado pelo ministro.

As novas regras para a obtenção do seguro-desemprego passam a valer a partir de março e podem restringir o acesso de mais de 2 milhões de trabalhadores, segundo cálculo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Em nota, o Ministério da Fazenda afirmou que a observação de Levy sobre a legislação do seguro-desemprego “teve como objetivo ampliar o debate pela modernização das regras desse benefício diante das transformações do mercado trabalho nos últimos 12 anos”.

CRESCIMENTO ECONÔMICO

Levy também reconheceu que o período de ajuste pode impactar no crescimento econômico. “Acredito que a economia parada não pode ser descartada como uma possibilidade, embora o PIB no Brasil seja resiliente”, afirmou à publicação.

Ainda sobre a política de cortes e ajuste fiscal, o ministro acrescentou que “assim que sua equipe colocar a casa em ordem, a reação será positiva”, referindo-se à necessidade de estimular a demanda e resgatar a confiança do mercado. Ele reconheceu, contudo, que as medidas anticíclicas têm suas limitações.

O ministro disse também que acredita que suas reformas estão em linha com as tendências internacionais, em particular as políticas para estimular a economia nos Estados Unidos e na China. “O mundo está mudando e é hora de o Brasil mudar”, afirmou.

SOBRE A PRESIDENTE

Levy afirmou, ainda, que considera a presidente Dilma Rousseff uma pessoa “muito decidida e que entende suas escolhas”.
O ministro disse ao jornal britânico que não está sozinho no governo, argumentando que outras reformas estão sendo feitas em outros ministérios do segundo mandato da petista, como de Energia e Agricultura.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGO que Dilma dizia na campanha, por sugestão do marqueteiro João Santana, que se tornou a maior autoridade do governo, era tudo mentira, conforme se depreende das declaração do gênio Joaquim Levy. (C.N.)

26 de janeiro de 2015
Deu no G1

O SOCO DO PAPA...

Solenemente discordo do soco de Sua Santidade



O Papa Francisco defendeu o direito de expressão, mas disse ser errado provocar os outros ao insultar a religião alheia. Os comentários do pontífice foram feitos após o ataque à revista satírica Charlie Hebdo em Paris na semana passada. 

Para ilustrar seu ponto, Francisco disse a jornalistas no avião papal que seu assistente poderia esperar um soco se ele xingar sua mãe. "É normal. Você não pode provocar, não pode insultar a religião dos outros”, disse ele, conforme relato da BBC.

Sua Santidade o Papa Francisco tem o hábito de conceder entrevistas a jornalistas, especialmente quando em viagem internacional. Nessas ocasiões ele costuma sair de seu banco no avião e vai até onde estão jornalistas da imprensa mundial que fazem a cobertura do Vaticano.

Não é prudente o que ele faz. A palavra de um Pontífice tem tal peso para enorme parcela da população mundial que quem ocupa essa elevada função precisa meditar sobre cada palavra.

Entrevistas  são momentos que favorecem a espontaneidade e não são adequados à cuidadosa reflexão.

Ora, um Papa não pode sair por aí distribuindo hipotéticos murros. E, menos ainda, pode usar a analogia que usou para tratar o atentado de Paris como um caso de ação e reação “natural”, para ficarmos com a palavra usada por ele.

26 de janeiro de 2015
Percival Puggina

O HUMOR DO ALPINO

                         Alpino e o filme congelante   




26 de janeiro de 2015

MELHOR PRIVATIZAR O ITAMARATY



Ministro Mauro Vieira deveria entregar as chaves a Dilma

O atual ministro das Relações Exteriores só tem uma saída: atravessar a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes, dirigindo-se à portaria do palácio do Planalto para entregar a qualquer bedel a chave do Itamaraty.

Vergonha maior fica difícil encontrar do que o reconhecimento de que seu ministério deixará de enviar às embaixadas, este mês, recursos para pagamento de luz, água, telefone, internet e outras despesas imprescindíveis ao seu funcionamento. Em muitos países as representações brasileiras já foram avisadas dos imediatos cortes de fornecimento, ou seja, ficarão isoladas. Deveriam fechar também.

A humilhação é flagrante para um país que se apresenta como a oitava economia do planeta. Bilhões de reais não faltaram para a Petrobras irrigar seus diretores, empreiteiras e políticos corruptos. Muito menos para reajustar vencimentos no Executivo, Judiciário e Legislativo. Sequer vale referir a orgia da construção ou reforma de estádios de futebol.

Parece cruel, mas é necessário assinalar: essa bancarrota em nossas relações exteriores deve-se ao profundo desprezo que a presidente Dilma dedica ao Itamaraty. Nem se fala do tratamento grosseiro que vem dedicando aos chanceleres, tratados como serviçais desimportantes.

Pior é a chefe do governo virar as costas para nossa política externa, permitindo a presença de um corpo estranho com gabinete no palácio do Planalto decidindo e dando palpites numa estratégia que já ocupou lugar fundamental na ação do poder público.

O clímax vem agora, com esse evidente descaso: nem a internet consegue ser acessada. Instruções e comunicados passam a ser interrompidos, como se de nada valessem. Vem de meses o calote aplicado nos credores, muitas vezes superado pela conta bancária pessoal de nossos embaixadores.

A solução seria privatizar o Itamaraty. Entregá-lo a um empreiteiro, a um dono de banco ou até a um doleiro, capazes todos de arcar com as despesas de nosso relacionamento com o mundo.

MELHOR ANDAR DEPRESSA

A semana que começa amanhã será crucial na Procuradoria-Geral da República para a definição final da lista de abertura de inquéritos e até de denúncias contra políticos envolvidos no escândalo da Petrobras.
Nos primeiros dias de fevereiro Rodrigo Junot deverá enviar suas conclusões ao ministro Teori Savaski, relator da matéria no Supremo Tribunal Federal. Saber quem está dentro e quem escapou tornou-se preocupação fundamental no Congresso, que por sinal inaugura daqui a uma semana a nova Legislatura.

Parlamentares em final de mandato e não reeleitos rezam para a lista demorar a ser divulgada, coisa que os faria réus na primeira instância da Justiça Federal do Paraná.
Os processos poderiam levar meses e anos para ser julgados, com todos os recursos subsequentes aos tribunais.

Já os deputados reeleitos ou os senadores com seus mandatos mantidos serão julgados pela maior corte nacional de justiça, em tempo bem mais rápido. Tem gente tremendo ao ouvir que o número de denunciados pode chegar a quarenta. Caso condenados, mesmo não sendo automática, a perda de seus mandatos parece óbvia, pela recomendação dos respectivos conselhos de ética.
Bem feito…

26 de janeiro de 2015
Carlos Chagas

EXTINÇÃO DO CERRADO COMEÇA A SECAR OS RIOS E RESERVATÓRIOS DE ÁGUA


http://i2.wp.com/www.jornalopcao.com.br/wp-content/uploads/2014/10/Entrevista-1.jpgO cientista Altair Barbosa, maior especialista do Cerrado

Uma ilha ambiental em meio à metrópole está no Campus 2 da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). É lá o local onde o cientista Altair Sales Barbosa idealizou e realizou uma obra que se tornou ponto turístico da capital: o Memorial do Cerrado, eleito em 2008 o local mais bonito de Goiânia e um dos projetos do Instituto do Trópico Subúmido (ITS), dirigido pelo ele.

Como professor e pesquisador, Barbosa tem graduação em Antropologia pela Universidade Católica do Chile e doutorado em Arqueologia Pré-Histórica pelo Museu Nacional de História Natural, em Washington (EUA). Mais do que isso, tem vivência do conhecimento que conduz.

É justamente pela força da ciência que ele dá a notícia que não queria: na prática o Cerrado já está extinto como bioma, o que propicia também o desaparecimento de importantes reservatórios de água, que abastecem outras áreas, o que já vem ocorrendo — a crise de abastecimento em São Paulo foi só o início do problema.

“Memorial do Cerrado” é uma expressão pomposa. Mas, tendo em vista o que vivemos hoje, é algo quase que tristemente profético. O Cerrado está mesmo em vias de extinção?

Dos ambientes recentes do planeta Terra, o Cerrado é o mais antigo. Os primeiros sinais de vida, principalmente de vegetação, que ressurgem na Terra se deram no que hoje constitui o Cerrado.

Portanto, vivemos aqui no local onde houve as formas de ambiente mais antigas da história recente do planeta, principalmente se levarmos em consideração as formações vegetais. No mínimo, o Cerrado começou há 65 milhões de anos e se concretizou há 40 milhões de anos. É um tipo de ambiente em que vários elementos vivem intimamente interligados uns aos outros.

A vegetação depende do solo, que é oligotrófico, com nível muito baixo de nutrientes, e o solo depende de um tipo de clima especial, que é o tropical subúmido com duas estações, uma seca e outra chuvosa.
Vários outros fatores, incluindo o fogo, influenciaram na formação do bioma – o fogo é um elemento extremamente importante porque é ele que quebra a dormência da maioria das plantas com sementes que existem no Cerrado.
É um ambiente que já chegou a seu clímax evolutivo. Ou seja, uma vez degradado, não vai mais se recuperar na plenitude de sua biodiversidade.

Por que o sr. é tão taxativo?

Uma comunidade vegetal é medida não por um determinado tipo de planta ou outro, mas, sim, por comunidades e populações de plantas. E já não se encontram mais populações de plantas nativas do Cerrado. Podemos encontrar uma ou outra espécie isolada, mas encontrar essas populações é algo praticamente impossível.

Outra questão: o solo do Cerrado foi degradado por meio da ocupação intensiva. Retiraram a gramínea nativa para a implantação de espécies exóticas, vindas da África e da Austrália.
A introdução dessas gramíneas, para o pastoreio, modificou radicalmente a estrutura do solo. Isso significa que naquele solo, já modificado, a maioria das plantas não conseguirá brotar mais.

É uma área fácil de trabalhar, em um planalto, sem grandes modificações geomorfológicas e com estações bem definidas. Junte-se a isso toda a tecnologia que hoje há para correção do solo.

É possível tirar a acidez do solo utilizando o calcário; aumentar a fertilidade, usando adubos.
Com isso, altera-se a qualidade do solo, mas se afetam os lençóis subterrâneos e, sem a vegetação nativa, a água não pode mais infiltrar na terra.

Onde há pastagens e cultivo, então, o Cerrado está inviabilizado para sempre, é isso?

Onde houve modificação do solo a vegetação do Cerrado não brota mais. O solo do Cerrado é carente de nutrientes básicos. Quando o agricultor e o pecuarista enriquecem esse solo, isso é bom para outros tipos de planta, mas não para as do Cerrado. Por causa disso, não há mais como recuperar o ambiente original, em termos de vegetação e de solo.

O mais importante de tudo isso é que as águas que brotam do Cerrado são as mesmas águas que alimentam as grandes bacias do continente sul-americano. É daqui que saem as nascentes da maioria dessas bacias. Esses rios todos nascem de aquíferos.
Um aquífero tem sua área de recarga e sua área de descarga. Ao local onde ele brota, formando uma nascente, chamamos de área de descarga.
Como ele se recarrega? Nas partes planas, com a água das chuvas, que é absorvida pela vegetação nativa do Cerrado.
Essa vegetação tem plantas que ficam com um terço de sua estrutura exposta, acima do solo, e dois terços no subsolo. Isso evidencia um sistema de raízes extremamente complexo.
Assim, quando a chuva cai, esse sistema radicular absorve a água e alimenta o lençol freático, que vai alimentar o lençol artesiano, que são os aquíferos.

Quando se retira a vegetação nativa dos chapadões, trocando-a por outro tipo, alterou-se o ambiente. Ocorre que essa vegetação introduzida tem uma raiz extremamente superficial. Então, quando as chuvas caem, a água não infiltra como deveria. Com o passar dos tempos, o nível dos lençóis vai diminuindo, afetando o nível dos aquíferos, que fica menor a cada ano.

As plantas do cerrado são de crescimento muito lento. Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, os buritis que vemos hoje estavam nascendo. Eles demoram 500 anos para ter de 25 a 30 metros. Também por isso, o dano ao bioma é irreversível

Qual é a consequência imediata desse quadro?

Em média, dez pequenos rios do Cerrado desaparecem a cada ano. Esses riozinhos são alimentadores de rios maiores, que, por causa disso, também têm sua vazão diminuída e não alimentam reservatórios e outros rios, de que são afluentes. Assim, o rio que forma a bacia também vê seu volume diminuindo, já que não é abastecido de forma suficiente. Com o passar do tempo, as águas vão desaparecendo da área do Cerrado.

Hoje, usa-se ainda a agricultura irrigada porque há uma pequena reserva nos aquíferos. Mas, daqui a cinco anos, não haverá mais essa pequena reserva. Estamos colhendo os frutos da ocupação desenfreada que o agronegócio impôs ao Cerrado a partir dos anos 1970: entraram nas áreas de recarga dos aquíferos e, quando vêm as chuvas, as águas não conseguem infiltrar como antes e, como consequência, o nível desses aquíferos vai caindo a cada ano. Vai chegar um tempo, não muito distante, em que não haverá mais água para alimentar os rios. Então, esses rios vão desaparecer.

Por isso, falamos que o Cerrado é um ambiente em extinção: não existem mais comunidades vegetais de formas intactas; não existem mais comunidades de animais – grande parte da fauna já foi extinta ou está em processo de extinção; os insetos e animais polinizadores já foram, na maioria, extintos também; por consequência, as plantas não dão mais frutos por não serem polinizadas, o que as leva à extinção também. Por fim, a água, fator primordial para o equilíbrio de todo esse ecossistema, está em menor quantidade a cada ano.

(entrevista enviada por Wilson Baptista Junior)

26 de janeiro de 2015