O Banco Central (BC), em sua última reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária), turbinou pela segunda vez consecutiva a Selic (taxa básica de juros) em 0,75 pontos percentual, atingindo 3,5% a.a. Logo após o encerramento, declarou imediatamente ao mercado financeiro que está dentro da previsão elevá-la no próximo encontro em meados de junho, visando impedir o avanço da inflação.
A decisão já era esperada pelo mercado e foi uma deliberação unânime dos membros do COPOM. Em março passado, a taxa sofreu o primeiro aumento, após seis anos, a partir da sua mínima histórica de 2% a.a. para 2,75% a.a.; portanto, assim nascia um novo ciclo de “normalização parcial”, evitando que a inflação chegasse ao descontrole.
Através do comunicado que sempre é feito pelo BC ao mercado, a previsão é de que as altas devam continuar dando seguimento ao processo de “normalização parcial” do estímulo monetário, ou seja, a atividade econômica ainda precisará delas ao longo do processo de recuperação da economia.
Mesmo assim, deverá acontecer outro ajuste na mesma intensidade na próxima reunião, inclusive sem descartar a possibilidade de aplicar um percentual maior se for necessário, visando também assegurar o cumprimento da meta de inflação.
A meta inflacionária estipulada pelo BC para este ano é de 3,75% com margem de tolerância até 5,25%. Acontece que a elevação dos preços no acumulado de 12 meses já alcançou 6,76%.
A previsão da inflação para 2021 em janeiro era de 3,34% e, hoje é de 5,06%, de acordo com a última pesquisa Focus que é feita semanalmente pelo BC sobre a expectativa do mercado. Apesar de ainda estar dentro da meta inflacionária, a taxa, atualmente, já se encontra no mesmo patamar do teto máximo permitido.
Caso venha a repetir outro aumento de 0,75% ponto percentual, o Copom estará com isso, sinalizando que vai continuar agressivo nos movimentos da Selic. Portanto, há mais do que uma duplicação, em um curto espaço de tempo, se comparamos com a taxa de apenas 2% a.a. que era praticada no início deste exercício.
Por outro lado, observa-se nas entrelinhas do referido comunicado que existem algumas menções ao “dovish” (ser menos agressivo) e insinua-se até a possibilidade de alguma suavização quanto ao ritmo da elevação dos juros.
Na realidade, se analisarmos atentamente, veremos que o documento traz aspectos tanto “hawkish” (ser mais agressivo) quanto “dovish”, no mesmo texto que anunciou a Selic a 3,5% a.a.
Quando menciona medidas de Inflação Subjacente (tendências no movimento da inflação, desprezando o impacto de fatores temporários ou circunstanciais relacionados ao índice de inflação), também conhecido como Núcleo da Inflação, refere-se dessa vez ao “topo” do intervalo da meta inflacionária, e não “acima” como foi colocado no comunicado da reunião de março passado.
O Comitê chegou a admitir que até houve uma redução dela entre um encontro e outro. Até então, basicamente, a inflação tem as suas principais consequências na alta do preço das commodities no ambiente externo, que não deve continuar a pressionar muito e o dólar deve estar bem valorizado frente ao real.
Sem dúvida, a economia está bastante frágil por conta da pandemia e pode piorar. Dessa forma, ainda continua o risco iminente de estagflação que vem a ser inflação com estagnação da atividade econômica.
Ainda há muita incerteza pela frente e, atualmente, o cenário nos mercados internacionais não é dos melhores.
18 de maio de 2021
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).