Se alguém pode derrubar a presidente Dilma Rousseff neste momento é o poder judiciário. São as instituições republicanas – não a oposição – que investigam se o PT, mais uma vez, desviou dinheiro público para fraudar o processo político e assim continuar no poder.
Se a continuidade do mandato presidencial está ameaçada, o golpe é urdido pela Constituição Federal. Ela fixou os limites da moralidade pública e da boa conduta administrativa que a presidente não respeitou. O crime de responsabilidade, aliás, parece feito sob medida para Dilma.
Como no Mensalão, quando o PT teve de criar a tese do ‘julgamento político’ para tentar desviar o foco do banditismo provado nas altas esferas de poder, a tese do golpe agora é a vacina retórica contra o peso da lei – que, a julgar pelos destemperos de Dilma Rousseff, está a caminho.
O contorcionismo retórico segundo o qual lobos malvados rondam o Estado de Direito é mais uma das lorotas que Dilma se habituou a contar aos brasileiros. Atribuir à oposição, às “elites” ou à “imprensa golpista” as pendências do PT com a Justiça e com os códigos criminais não vai funcionar.
Primeiro, porque pressupõe que as pessoas sejam burras e gostem de ser enganadas – a aprovação de Dilma fala por si. Segundo, pois depende da leniência das instituições. A Lava Jato mostra que este tempo já passou. Além do mais, o PT não é primário quando o assunto é fraude contra a democracia.
O ministro da Justiça foi na base do ‘se colar, colou’: “É de um profundo despudor democrático (…) O desejo de golpe sob o manto da aparente legalidade é algo reprovável do ponto de vista jurídico e ético”. Ele falava das doações ‘legais’ a partir de desvios na Petrobras? Ou das fraudes contábeis no ano eleitoral?
A escalada retórica, como se vê, tenta construir um discurso de vitimização que se antecipa ao veredito das instituições. Por que Dilma e o PT desconfiam das instituições, depois de tanto usá-las como exemplos de solidez e de independência na campanha eleitoral? Porque a história deles não fecha.
Dilma e o PT querem que os brasileiros acreditem que a leniência com a corrupção – e as vantagens políticas ali obtidas – se justificam pela luta de classes. O problema nesta fábula de Robin Hood 2.0 é que os supostos benfeitores dos pobres roubam do Estado para dar a eles mesmos. Para os pobres restam às contas a pagar pelos malfeitos, como a de luz. A história não fecha. Não adianta jogar purpurina.
O esvaziamento da presidente e o irrefreável avanço das investigações mostram que a narrativa do Planalto para a crise tem tudo para dar errado. Como disse o ex-ministro Carlos Ayres Britto, tudo se dá dentro da mais natural constitucionalidade. O único golpe aqui é o retórico, como o do tiro contra a inflação, estilo Collor. Melhor seria Dilma guardar o chororô e o ranger de dentes para quando a Justiça se manifestar.
08 de julho de 2015
José Anibal
Se a continuidade do mandato presidencial está ameaçada, o golpe é urdido pela Constituição Federal. Ela fixou os limites da moralidade pública e da boa conduta administrativa que a presidente não respeitou. O crime de responsabilidade, aliás, parece feito sob medida para Dilma.
Como no Mensalão, quando o PT teve de criar a tese do ‘julgamento político’ para tentar desviar o foco do banditismo provado nas altas esferas de poder, a tese do golpe agora é a vacina retórica contra o peso da lei – que, a julgar pelos destemperos de Dilma Rousseff, está a caminho.
O contorcionismo retórico segundo o qual lobos malvados rondam o Estado de Direito é mais uma das lorotas que Dilma se habituou a contar aos brasileiros. Atribuir à oposição, às “elites” ou à “imprensa golpista” as pendências do PT com a Justiça e com os códigos criminais não vai funcionar.
Primeiro, porque pressupõe que as pessoas sejam burras e gostem de ser enganadas – a aprovação de Dilma fala por si. Segundo, pois depende da leniência das instituições. A Lava Jato mostra que este tempo já passou. Além do mais, o PT não é primário quando o assunto é fraude contra a democracia.
O ministro da Justiça foi na base do ‘se colar, colou’: “É de um profundo despudor democrático (…) O desejo de golpe sob o manto da aparente legalidade é algo reprovável do ponto de vista jurídico e ético”. Ele falava das doações ‘legais’ a partir de desvios na Petrobras? Ou das fraudes contábeis no ano eleitoral?
A escalada retórica, como se vê, tenta construir um discurso de vitimização que se antecipa ao veredito das instituições. Por que Dilma e o PT desconfiam das instituições, depois de tanto usá-las como exemplos de solidez e de independência na campanha eleitoral? Porque a história deles não fecha.
Dilma e o PT querem que os brasileiros acreditem que a leniência com a corrupção – e as vantagens políticas ali obtidas – se justificam pela luta de classes. O problema nesta fábula de Robin Hood 2.0 é que os supostos benfeitores dos pobres roubam do Estado para dar a eles mesmos. Para os pobres restam às contas a pagar pelos malfeitos, como a de luz. A história não fecha. Não adianta jogar purpurina.
O esvaziamento da presidente e o irrefreável avanço das investigações mostram que a narrativa do Planalto para a crise tem tudo para dar errado. Como disse o ex-ministro Carlos Ayres Britto, tudo se dá dentro da mais natural constitucionalidade. O único golpe aqui é o retórico, como o do tiro contra a inflação, estilo Collor. Melhor seria Dilma guardar o chororô e o ranger de dentes para quando a Justiça se manifestar.
08 de julho de 2015
José Anibal