"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 6 de outubro de 2013

O JUIZ DOS JUÍZES...

O pecador que se nomeou Juiz dos Juízes escapou por pouco de enfrentar a primavera pendurado em embargos infringentes

  
Na festa promovida pela OAB para celebrar o 25º aniversário da Constituição de 1988, que o PT se recusou a assinar no dia da promulgação, o ex-presidente Lula confirmou que, se descobrissem que o governo simpatizava com o calendário gregoriano, os ferozes oposicionistas do século passado proporiam a adoção do calendário chinês. “O PT foi o único partido que, no dia da instalação da Constituinte, entregou um projeto de Constituição”, lembrou o palanque ambulante. “Só tínhamos 16 deputados, mas éramos desaforados como se fôssemos 500″. (Desaforado, como ensina o glossário da novílingua lulopetista, é o adjetivo que se deve aplicar a companheiros carentes de juízo e neurônios, que não resistem à tentação da molecagem irresponsável quando deliberam sobre assuntos relevantes).

“Se a Constituição que a gente apresentou fosse aprovada”, admitiu com o sorriso jocoso de quem retransmite uma previsão de Guido Mantega, “certamente seria ingovernável, porque éramos muito duros na queda”. No glossário da novilíngua, duro na queda é a expressão que designa quem confunde teimosia com coerência, é incapaz de refletir sobre ideias divergentes, rejeita o convívio dos contrários, sonha com o partido único e persegue o poder perpétuo. Há dez anos no controle do governo federal, os devotos continuam tão “duros na queda” quanto nos velhos tempos. O mestre mudou para pior.

Nesta terça-feira, por exemplo, aproveitou o sarau na OAB para proclamar-se Patrono do Judiciário e Controlador-Geral do Supremo Tribunal Federal. Caprichando na pose de Juiz dos Juízes, informou ter descoberto que os ministros devem usar a toga por menos tempo. “Se tudo no país pode ser renovado, por que um juiz tem que ficar a vida inteira?”, comparou. “Eu acho que tem que ter mandato em tudo quanto é lugar, porque senão as pessoas ficam 35, 40 anos”. Ele garante que a nova fórmula “teria outra vantagem: a alternância”. Mas ainda não decidiu se a idade limite para a aposentadoria “vai ser 75 anos ou vai ficar como está”.

O fundador do Brasil Maravilha reiterou que, se pudesse voltar no tempo, corrigiria um dos raríssimos erros que cometeu. “Eu teria mais critério para nomear ministros do Supremo”, penitenciou-se com sotaque de pecador no confessionário.

Mais critério, no caso, quer dizer mais desfaçatez, ou nenhuma vergonha. Lula nunca levou em conta os dois pré-requisitos constitucionais que antigamente orientavam o preenchimento de vagas no STF: eram indicados pelo chefe do Executivo e sabatinados pelo Senado apenas juristas dotados de notório saber e reputação ilibada.

Lula sempre indicou (e os senadores engoliram sem engasgos) doutores que lhe pareceram prontos para pagar a toga com a absolvição de bandidos companheiros e cumprir disciplinadamente as determinações do presidente que lhes garantiu o empregão. Com o julgamento do mensalão, descobriu que existem juízes independentes e sem medo. A decepção e o ressentimento induziram o estadista de galinheiro a parir a aberração com que sempre sonharam os bacharéis de porta de cadeia: a Teoria do Mais Critério.

Dos ministros nomeados por Lula, permanecem no STF Joaquim Barbosa, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Os dois primeiros não chegariam lá se o chefe do Executivo tivesse seguido a teoria que inventou. O nome de Lewandowski foi soprado por Marisa Letícia, que vivia ouvindo da vizinha elogios superlativos ao filho desembargador.
A indicação acabou dando certo, mas o primeiro dos selecionados com mais critério foi Dias Toffoli. Duas vezes reprovado no exame para o ingresso na magistratura, ex-advogado do PT, ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil, ex-chefe da Advocacia-Geral da União, tinha tudo para brilhar como ministro da defesa dos quadrilheiros do mensalão. Bingo.

Lula deveria ser mais amável com juízes que qualifica de “ingratos”, caso do já aposentado Ayres Britto e, sobretudo, de Joaquim Barbosa. Se fossem menos clementes, ambos teriam argumentos de sobra para defender a instalação do ex-presidente no banco dos réus.
Os ministros fingiram acreditar que Lula nunca soube de nada que ocorria nas salas ao lado, acima e logo abaixo do gabinete presidencial.
Também fingiram nunca ter ouvido o que disse José Dirceu mais de uma vez: “Nunca fiz nada sem a autorização do presidente Lula”.

Se os julgadores optassem por um tratamento menos compassivo, este começo de primavera encontraria o Juiz dos Juízes pendurado em meia dúzia de embargos infringentes.
E Dirceu teria muito mais chances de repassar a patente de chefe de quadrilha.

06 de outubro de 2013
Augusto Nunes, Veja

RECORDE A HISTÓRIA DA EMPRESA QUE TRANSFORMOU LULINHA NO "RONALDINHO" DA INFORMÁTICA

 



ASSISTA O VÍDEO PARA VOCÊ VER QUE COISA MAIS FEIA...


 
Dilma foi vaiada quando saiu em defesa da governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini , que antes - também em discurso - quase não conseguiu falar por causa das vaias.
 
 
06 de outubro de 2013
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OS FRUTOS DO DESCASO

 

Alexandre Schwartsman
Deu muito o que falar a mais recente capa da “Economist”: depois da famosa foto do Cristo Redentor decolando como um foguete, símbolo de um país que parecia finalmente se reencontrar com o crescimento, agora se vê um projétil sem rumo, mais uma oportunidade perdida.
Fã que sou da revista, desta vez vou discordar dela, embora não da mesma forma que o governo brasileiro, cuja incapacidade para entender críticas atinge níveis lendários.

Não creio que o Brasil estivesse de fato decolando naquele momento; na verdade, nosso pífio desempenho nos últimos anos é um reencontro, mas com a dura realidade: o crescimento brasileiro, ainda que visivelmente mais rápido entre 2003 e 2010, nunca foi sustentável, no preciso sentido de poder ser mantido indefinidamente sem causar desequilíbrios, tanto internos quanto externos.

De fato, ao decompor a expansão do PIB entre o aumento do emprego e a elevação do produto por trabalhador, não há como evitar uma triste conclusão: a maior parcela do nosso crescimento não resultou de fazermos mais coisas com os mesmo recursos, mas, sim, de empregarmos mais recursos para fazer as mesmas coisas.

Soa um tanto abstrato, mas alguns números podem ajudar. Entre 2003 e 2013, o PIB cresceu, em média, 3,8% ao ano; destes, 2,3% resultaram do aumento do emprego e apenas 1,4% da maior produtividade. E o que é pior: nos últimos anos a contribuição da produtividade tem sido decrescente. Mesmo se desconsiderarmos as flutuações cíclicas, menos de 30% do crescimento do PIB dos últimos três ou quatro anos advém do aumento do produto por trabalhador. Trata-se de expansão baseada na força bruta.

O esforço reformista no Brasil, que se manteve até o começo de 2006, trouxe frutos, mas estes parecem ter durado apenas até 2009, quando a contribuição do aumento da produtividade representou um impulso da ordem de 1,7% ao ano para o PIB (ante 2,4% ao ano advindos do emprego).
Já nos últimos 12 trimestres até metade de 2013, a contribuição da produtividade se reduziu para 0,9% ao ano, enquanto a do emprego caiu para 2,2% ao ano.

Crescimento mais rápido da economia de 2003 a 2010 não poderia ser mantido sem causar desequilíbrios
 

Não é preciso um salto de imaginação para entender os entraves a este processo. A população em idade ativa (PIA) cresce cerca de 1% ao ano, o que implica limites muito claros à continuidade de uma estratégia que se ampare principalmente no aumento do emprego para a expansão do produto. Funciona bem quando a taxa de desemprego é alta, como era no começo do século, mas não pode ser mantida indefinidamente.

Já a produtividade, com boa vontade, tem crescido de 1% a 1,5% ao ano, o que significa que nossa velocidade de cruzeiro, dada a expansão da PIA, não pode ser muito diferente de 2% a 2,5% ao ano.
O que a “Economist” entendeu como um fracasso, em face de um crescimento mais vigoroso durante alguns anos, é apenas o reconhecimento dos limites existentes ao aumento do produto.

Como tenho insistido, não é esta a percepção que prevalece no governo (o que não chega a ser surpreendente, dada sua imunidade às críticas). Pelo contrário, todo arranjo de política econômica sugere que a visão oficial acerca da desaceleração é que se trata de fenômeno passageiro, resultado da crise externa, e que pode ser combatida com aumento do gasto e do crédito.

O resultado é um descompasso crescente entre a demanda (anabolizada pelo governo) e a capacidade limitada de resposta do setor produtivo. Do lado dos produtos que não podem ser facilmente importados e exportados, isto implica pressões sobre preços, expressas na alta inflação de serviços. Já no que se refere aos produtos que podem ser comercializados, resulta em piora das contas externas, também visível nos números mais recentes.

Concluindo, nossa chance já havia sido perdida antes de 2009, quando, embalados pelo aumento extraordinário dos preços de commodities, decretamos o fim prematuro do esforço reformista. Colhemos agora os frutos deste descaso.

06 de outubro de 2013
Alexandre Schwartsman
Fonte: Folha de S. Paulo, 02/10/2013

COMUNICAÇÃO DIGITAL IMPÕE NOVO MODELO DE GOVERNANÇA

Para Carlos Nepomuceno, doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), os novos hábitos da sociedade impulsionados pela internet demandam uma mudança na governança de todas as organizações. Em entrevista à TV Millenium, o autor de “Gestão 3.0: A crise das organizações” explica esse conceito e seus impactos sobre as instituições.


 
 
06 de outubro de 2013
imil

BRASIL, EDUCAÇÃO ZERO

 

Cora Ronai
Um país que trata os seus professores a cacetadas, balas de borracha e spray de pimenta é um país que despreza o seu futuro.

Há algumas semanas, voltou a circular pela internet um ranking de aprendizado mundial divulgado no final do ano passado pela Pearson, empresa inglesa dedicada à educação. Ele reflete dados colhidos entre 2006 e 2010 em 39 países e uma região administrativa (Hong Kong), e não chega a surpreender quem se interessa pelo assunto.

O primeiro lugar é ocupado pela Finlândia, seguida por Coreia do Sul, Hong Kong, Japão e Cingapura. O Brasil só não ficou em último lugar porque, espantosamente, a Indonésia conseguiu se sair ainda pior.

O ranking é baseado em dois indicadores, um que verifica a habilidade cognitiva dos alunos através de uma série de testes de leitura, matemática e ciência, e outro que aponta o nível da sua formação através das notas de graduação e cultura geral.

Entrevistado pela BBC, Sir Michael Barber, diretor do conselho educacional da Pearson, disse que os países mais bem colocados têm, em comum, uma “cultura da educação”: entre outras coisas, seus professores são respeitados e gozam de alto status social.

Aí está o X da questão. Educação não se compra pronta ali na esquina, nem se faz unicamente com escolas e professores; educação se faz com determinação social, e com a percepção generalizada de que levar os estudos a sério é fundamental para o desenvolvimento do país e de seus habitantes. Prova disso é que os Estados Unidos, com todo o seu poderio econômico, amargaram um medíocre 14º lugar no ranking.

“À primeira vista, dinheiro e educação parecem criar um círculo virtuoso, no qual países — e indivíduos — ricos compram boa educação para as suas crianças, que, por sua vez, se beneficiam economicamente” — diz o prefácio do estudo. — “Um olhar mais atento, porém, revela que tanto os maiores índices de renda quanto os melhores resultados nos testes de conhecimento são resultado de estratégias adotadas muitas anos antes, independentemente dos níveis de renda então existentes.”

O Brasil, longe de ter uma “cultura da educação”, tem uma “cultura da ignorância”, que as nossas crianças aprendem desde cedo.
Melhor do que ser bom aluno é ser esperto, é colar sem que o professor veja, é comprar as respostas das provas para ter não um conjunto de conhecimentos importante, mas um diploma. Que, aliás, e não por acaso, vale cada vez menos.
Não consigo imaginar outro país em que um presidente tenha dito, como disse Lula, que ler livro é como andar na esteira
 
Longe de gozar alto status social, como nos países verdadeiramente desenvolvidos, nossos professores são humilhados e desprezados pelos governantes. São agredidos pelos alunos em sala de aula com frequência alarmante e, muitas vezes, os pais dos agressores ainda se sentem no direito de tomar satisfações na diretoria.

A educação brasileira, que nunca foi lá aquelas maravilhas, começou a ser desmontada durante a ditadura e, de lá para cá, veio ladeira abaixo como um trator sem freio. Não consigo imaginar outro país em que um presidente tenha dito, como disse Lula, que ler livro é como andar na esteira.

Os sinais da decadência do ensino — que é, no fundo, a decadência do apreço pela cultura e pela educação — podem ser vistos em toda a parte, dos cardápios mal redigidos dos restaurantes às placas das rodovias federais, onde as crases não são usadas por necessidade, mas por capricho.

No rádio e na televisão praticamente não há entrevistado, de qualquer profissão ou instância de poder, que consiga formar uma frase correta, sem erros de regência ou de concordância. Quando as entrevistas são feitas com políticos ou com “autoridades”, então, a coisa desanda de vez.

Minha irmã é professora na pós-graduação em música da UniRio. Na semana passada, me mostrou algumas provas que corrigiu. Os alunos — candidatos a mestrado e doutorado — tinham que traduzir um pequeno trecho do inglês para o português. Era um trecho simples, sem maiores mistérios, sobre o papel do regente na orquestra. Em muitas das provas, a palavra “wand”, batuta, foi traduzida por varinha de condão, sua primeira acepção no dicionário.
Como é que um estudante formado em música num curso superior pode chegar a essa conclusão?! Será que não desconfia de que algo está errado numa tradução que põe nas mãos do regente uma varinha de condão no lugar de uma batuta? E não, o trecho a ser traduzido não se passava em Hogwarths!

Nem vou falar nas frases ininteligíveis, nos erros crassos de português ou na indigência geral do vocabulário, absolutamente deprimentes para quem ainda tem alguma esperança neste país.

O primeiro passo para a criação de uma “cultura da educação” é valorizar os professores, conferindo-lhes a devida importância no tecido social. Isso significa remunerá-los dignamente, dar-lhes reconhecimento e boas condições de trabalho. Isso é essencial para que o aluno possa olhar para o professor com admiração e respeito, e para que passe a considerar o magistério uma profissão nobre, digna de ser exercida. Valorizar os professores significa também ouvi-los quando dizem que não têm mais como continuar trabalhando com os salários ridículos que recebem.

Um país que trata os seus professores a cacetadas, balas de borracha e spray de pimenta é um país que despreza o seu futuro. A Indonésia que nos aguarde: no próximo ranking da Pearson, ninguém tasca o nosso último lugar.

06 de outubro de 2013
Cora Ronai
Fonte: O Globo, 03/10/2013

A ATRAÇÃO DO PODER

 

Merval Pereira
Aécio Neves aprendeu com o avô Tancredo que não existe nada que agregue mais na política do que a expectativa de poder, mais até que o poder presente, que é finito, tem prazo de validade. Por isso mesmo, deveria observar com cuidado o processo de conversão do sindicalista Paulinho da Força, que organizou o partido Solidariedade para fazer oposição ao governo federal e, à primeira abordagem, já admite aderir à base governista em troca da manutenção de alguns cargos de seus novos filiados.

Potencial candidato à Presidência da República pelo PSDB em 2014, o senador Aécio havia investido no apoio ao Solidariedade, apesar de criticar a facilidade de formação de partidos de aluguel no país. Também ele esperava contar com os dois minutos e tanto que o novo partido terá na propaganda oficial e vê agora ir por água abaixo sua estratégia.

Tem razão Aécio quando diz que essa cooptação em troca de cargos depõe contra a democracia, não ajuda que as pessoas se identifiquem e se aproximem da política, porque não veem nenhuma vinculação delas com os partidos que deveriam representá-las .

Mas, na vida real – e foi com base nela que contava o apoio do Solidariedade -, o que significa essa guinada de posição do sindicalista Paulinho da Força é que a presidente Dilma ainda mantém a expectativa de poder que atrai apoiadores de todos os lados.

No Brasil há poucos políticos que mantêm posições coerentes ao longo dos governos, mesmo que fiquem no ostracismo durante muitos anos. O PT era um desses partidos quando estava na oposição e, quando assumia posições claramente antimajoritárias, como ficar contra o Plano Real ou contra a Constituição de 1988, estava preparando seu futuro, que chegou depois de 14 anos de oposição e três derrotas de Lula para a Presidência da República (uma para Collor e duas, no primeiro turno, para FH).

Para se achegarem ao governo do turno, políticos fazem o diabo, e criar novos partidos virou a mágica da hora para permitir a revisão de atitudes. O PSD de Gilberto Kassab nasceu do temor de ficar na oposição, no DEM, e amargar esse exílio político do poder.

Agora mesmo o PROS já formou a sétima bancada da Câmara com políticos vindos de vários partidos, alguns da oposição e outros do PSB que pretendem permanecer no regaço do governo.
O fato é que, com a provável ausência de Marina na corrida presidencial e a desistência de José Serra de sair do PSDB para disputar a eleição por outra sigla, o cenário é cada vez mais favorável à reeleição de Dilma.

Paradoxalmente, a desistência de Serra é prejudicial à oposição de modo geral, como salientou o deputado Roberto Freire, que o queria como candidato do seu PPS, mas é boa para a unidade do PSDB.
O ex-governador já não tem condições de atrapalhar a candidatura de Aécio dentro do PSDB, mas a atrapalharia com certeza se fosse candidato por outra legenda. Seria quase impossível, por exemplo, Aécio vencer em São Paulo com Serra na disputa.
Agora, sem um paulista na corrida presidencial pela primeira vez desde a redemocratização, o que falará mais alto será a máquina partidária, que estará mobilizada para eleger o governador Geraldo Alckmin em dobradinha com o candidato da sigla ao Planalto.
Até mesmo porque a máquina do PT também está fortalecida em São Paulo com a eleição do prefeito Fernando Haddad.

Também na oposição o que mais se persegue é a tal da expectativa de poder, que já foi maior quando o cenário previa vários candidatos de oposição, e a possibilidade de ir para o segundo turno parecia certa.
Com a provável saída de Marina – se ela realmente não conseguir a aprovação do TSE e se recusar a ir para outra legenda -, não se sabe para onde vão os votos que seriam dados a ela. A perspectiva de que boa parte deles, ligados ao eleitorado de esquerda descontente com o PT, volte para a candidata do governo, como aconteceu em 2010, pode não se repetir.

Pelo menos por enquanto candidato à Presidência da República, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, teria aí uma chance de crescer nas pesquisas se conseguisse passar para esse eleitorado que é uma oposição à esquerda, como definiu sua candidatura o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral.

O maior enigma é saber para onde iriam os votos evangélicos, que foram importantes na votação de Marina em 2010. Mas muita água ainda vai rolar até que se defina realmente o quadro, lá pelo começo de 2014.

06 de outubro de 2013
Merval Pereira
Fonte: O Globo, 03/10/2013

REPOSTANDO O TEXTO DE MARCO ANTONIO VILLA: "A HERANÇA MALDITA". VALE RELER...

 

Marco Antonio Villa
O lulismo vai deixar sinais indeléveis no Estado brasileiro. E, pelo visto, deve permanecer no poder até, no mínimo, 2018. Inexiste setor do Estado em que não tenha deixado sua marca. A eficácia na tomada do aparelho estatal é parte de um projeto de manietar o país, de controlar os três poderes.

O grande empresariado foi se transformando em um dos braços do Estado. A cada dia aumentou sua dependência dos humores governamentais. Ter uma boa relação com o Palácio do Planalto virou condição indispensável para o sucesso.
O empresário se tornou capitalista do capital alheio, do capital público. Para a burguesia lulista, nenhum empreendimento pode ter êxito sem a participação dos fundos de pensão dos bancos e empresas estatais, dos generosos empréstimos do BNDES e da ação direta do governo criando um arcabouço legal para facilitar a acumulação de capital — sem esquecer as obras no exterior, extremamente lucrativas, de risco inexistente, onde a empresa recebe de mão beijada, sem concorrência, como as realizadas na África e na América Latina.

A petrificação da pobreza se transformou em êxito. Coisas do lulismo. As 14 milhões de famílias que recebem o benefício do Bolsa Família são, hoje, um importante patrimônio político. Se cada família tiver, em média, 4 eleitores, estamos falando de 1/3 do eleitorado. A permanência ad aeternum no programa virou meio de vida. E de ganhar eleição. Que candidato a presidente teria coragem de anunciar o desejo de reformar o programa estabelecendo metas de permanência no Bolsa Família?

A máquina do Estado foi inchada por milhares de petistas e neopetistas. Além dos quase 25 mil cargos de assessoria, nos últimos onze anos foram admitidos milhares de novos funcionários concursados — portanto, estáveis. Diversamente do que seria razoável, a maior parte não está nas áreas mais necessitadas. Um bom (e triste) exemplo é o das universidades federais. Foi realizada uma expansão absolutamente irresponsável. Faculdades, campi, cursos, milhares de funcionários e docentes, para quê? Havia algum projeto de desenvolvimento científico? A criação dos cursos esteve vinculada às necessidades econômicas regionais? Foi realizado algum estudo das carências locais? Ou tudo não passou, simplesmente, de atendimento de demandas oligárquicas, corporativas e para dourar os números do MEC sobre o total de universitários no país?

Sem ter qualquer projeto para o futuro, foi acentuado o perfil neocolonial da nossa economia. Vivemos dependentes da evolução dos preços das commodities no mercado internacional — e rezando para que a China continue crescendo. Não temos uma política industrial. O setor foi perdendo importância. O investimento em ciência e tecnologia é ínfimo.
A chamada nova economia tem importância desprezível no nosso PIB. A qualificação da força de trabalho é precária. Convivemos com milhões de analfabetos como se fosse um dado imutável da natureza.
Em meio a esta barafunda, não causam estranheza o ataque, o controle e a sujeição do Supremo Tribunal Federal à horda lulista
 
A política externa amarrou o destino do Brasil a um terceiromundismo absolutamente fora de época. Nos fóruns internacionais, o país se transformou em aliado preferencial das ditaduras e adversário contumaz dos Estados Unidos. Abandonamos o estabelecimento de acordos bilaterais para fomentar o comércio. Enquanto o eixo dinâmico do capitalismo foi se transferindo para a região Ásia-Pacífico, o Brasil aprofundou ainda mais sua relação com o Mercosul.

Em vez de buscar novas parcerias, optamos por transformar os governos bolivarianos em aliados incondicionais.
Entre os artistas, a dependência estatal foi se ampliando. Uma simples peça de teatro, um filme, um show musical, nada mais é realizado sem que tenha a participação do Estado, direta ou indiretamente. Ter bons relações com o lulismo virou condição indispensável para a obtenção de “apoio cultural”. Nunca na história republicana artistas foram tão dependentes do governo — nem no Estado Novo. E cumprem servilmente o dever de obediência ao governo, sem qualquer questionamento.

O movimento sindical foi apresado pelo governo. Os novos pelegos controlam com mão de ferro “seus” sindicatos. Recebem repasses milionários sem ter de prestar contas a nenhum organismo independente. Não vai causar estranheza se o Congresso — nesta escalada de reconhecer novas profissões — instituir a de sindicalista. A maioria dos dirigentes passou rapidamente pela fábrica ou escritório e está há décadas “servindo” os trabalhadores. Ser sindicalista virou um instrumento de ascensão social. E caminho para alçar altos voos na política.

O filé mignon do sindicalismo são os fundos de pensão das empresas e bancos estatais. Seus diretores — do dia para a noite — entraram no topo da carreira de profissionais do mercado financeiro. Recebem salários e bonificações de dar inveja aos executivos privados. Passam a conviver com a elite econômica. São mimoseados pela burguesia financeira de olho nos recursos milionários dos fundos. Mas ser designado para a direção do Fundo de Amparo ao Trabalhador é o sonho dourado dos novos pelegos.

Em meio a esta barafunda, não causam estranheza o ataque, o controle e a sujeição do Supremo Tribunal Federal à horda lulista. Os valores éticos e republicanos não combinam com sua ação política. Daí a necessidade de aparelhar todas as instâncias do Estado. E colocá-las a seu serviço, como já o fez com o Congresso Nacional; hoje, mero puxadinho do Palácio do Planalto.
Na república lulista, não há futuro, só existe o tempo.

06 de outubro de 2013
Marco Antonio Villa
Fonte: O Globo, 01/10/2013

UM MÊS PARA ESQUECER

 

Everardo Maciel
A monarquia britânica reserva a expressão annus mirabilis para assinalar os anos de fartura e sucesso, em contraposição ao annus horribilis, no qual prevalecem as desventuras. Para a economia brasileira, setembro de 2013 pode ser tido como o mensis horribilis, pela impressionante conjunção de notícias ruins, desbancando a tradição de agosto.
A balança comercial, no período de janeiro a setembro, registrou o maior déficit desde 1998 (US$ 1,62 bilhão).

Há muito tempo o Brasil não conhecia déficit primário nas contas do setor público. Agosto nos brindou com um déficit de R$ 432 milhões, a despeito das recorrentes tentativas das autoridades fiscais de escamotear a clara tendência de deterioração das contas, desde a crise financeira de 2008, mediante discursos que pretendem desqualificar a geração de superávit primário ou práticas ridículas de “contabilidade criativa”.

A pesquisa Focus, do Banco Central, que captura previsões do mercado financeiro, elevou a projeção de inflação para 2013 de 5,81% para 5,82%, bem próximo do teto da meta inflacionária. Mais grave, para 2014 se espera uma inflação ainda maior (5,84%). Não se pode, além disso, desconhecer o represamento de vários preços de combustíveis, energia elétrica e transportes públicos. Restou evidente que o controle dos preços dos combustíveis e da energia elétrica conseguiu, tão somente, produzir danos seriíssimos à saúde financeira da Petrobrás e da Eletrobrás.

É indispensável uma correção de rumos na política econômica. Sem preconizar saídas, um bom começo seria abandonar a arrogância, o voluntarismo e a fixação em surradas teses
A ambígua e mal elaborada política de concessões produziu, em setembro, fracassos memoráveis: ninguém se habilitou à licitação da Rodovia BR-262, que liga Minas Gerais ao Espírito Santo; as grandes empresas norte-americanas e britânicas (Chevron, Exxon Mobil, BP e BG) não se animaram a apresentar propostas para o Campo de Libra, joia do pré-sal e primeira área a ser explorada no regime de partilha.

O Relatório de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, divulgado naquele fatídico mês, mostrava que o Brasil, no cômputo geral de competitividade, caiu da 48.ª para a 56.ª posição, e, em relação à eficiência do governo, desabou da 111.ª posição para a desastrada 124.ª posição. De igual forma, a pesquisa anual do Banco Mundial sobre a facilidade para fazer negócios (Doing Business 2013) registrou que o País caiu da 128.ª para a 130.ª posição e, especificamente em relação ao pagamento de tributos, da 154.ª para uma impressionante 156.ª posição, num universo de 185 países.

O Banco Central reduziu de 2,7% para 2,5% a projeção de crescimento do PIB para 2013, mesmo considerando o pífio desempenho de 2012 (0,9%). Essa projeção é inferior à prevista para América Latina e Caribe (3%), segundo a Cepal, e somente superior à da Venezuela (1%).

Até no campo social setembro trouxe má notícia. O índice de analfabetismo, apurado em 2012 e em queda desde 1999, voltou a crescer, representando 8,7% (13,2 milhões de pessoas) da população maior de 15 anos. Ainda que esse índice tenha suscitado algumas controvérsias estatísticas, sua apuração decorre da mesma metodologia utilizada em toda a série histórica.

Tudo isso pode ser agravado com os ventos que sopram do norte. É muito provável que a política de expansão monetária dos EUA esteja chegando ao fim, implicando valorização dos juros básicos e do dólar. Para enfrentar a inflação decorrente da desvalorização do real, só restará a elevação dos juros, com repercussões na economia doméstica. Assim, o mensis horribilis pode ser o prenúncio de um annus horribilis.

É indispensável uma correção de rumos na política econômica.
Sem preconizar saídas, um bom começo seria abandonar a arrogância, o voluntarismo e a fixação em surradas teses.
Martin Wolf, um dos mais abalizados economistas contemporâneos, em entrevista a O Estado de S. Paulo em 15/9/2013, observou que “expansão fiscal em países com problemas estruturais só gera inflação”.
E, quanto ao Brasil, sentenciou:
“O Estado brasileiro é ineficiente e corrupto”.

06 de outubro de 2013
Everardo Maciel
Fonte: O Estado de S. Paulo, 03/10/2013

"NÃO HÁ 32 IDEOLOGIAS QUE JUSTIFIQUEM 32 PARTIDOS" - DIZ PAULO MOURA

A recente aprovação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a criação de dois novos partidos políticos – o Partido Republicano da Ordem Social (Pros) e o Solidariedade – e as “fatias” que demandarão do fundo partidário colocam a representatividade da política brasileira em questão. Ao todo, no Brasil, são 32 legendas registradas no TSE, sendo 25 representadas na Câmara.

MG 1625 Não há 32 ideologias que justifiquem 32 partidos, diz Paulo Moura
Carlos Pereira

O cientista político e especialista do Instituto Millenium Carlos Pereira explica que a quantidade de partidos na disputa é resultado da própria lei eleitoral brasileira. No país, as vagas para deputados e vereadores são distribuídas de forma proporcional aos votos totais obtidos por cada partido. “Nosso sistema de lista aberta, sem cláusulas de barreira, estimula naturalmente a criação de novos partidos”, afirma.

Para ele, o caráter hiperpresidencialista do Brasil exige um multipartidarismo. “Na configuração institucional na qual o país se encontra, com um Executivo extremamente poderoso e capaz de influenciar fortemente o Congresso, a existência de muitos partidos exerce um papel endógeno, quase natural, de controle desse poder, que fica constrangido em se comportar de forma tirânica”, argumenta.

Paulo Moura, também cientista político e especialista do Imil, critica o fisiologismo da criação das legendas. “A quantidade exagerada de partidos não é o real problema. Hoje, eles são criados como ferramentas de negócios. Não há 32 ideologias no mundo, e muito menos no Brasil, que justifiquem a criação de 32 siglas”, pontua.

professor paulo e1374173884242 Não há 32 ideologias que justifiquem 32 partidos, diz Paulo Moura
Paulo Moura

Na concepção de Moura, o caráter paraestatal das legendas atrapalha o processo democrático. “Os partidos têm acesso a verba pública, tempo de propaganda na televisão e estrutura de bancada no parlamento, ou seja, podem empregar pessoas”, analisa.

Moura é favorável à extinção do fundo partidário e a uma legislação que exija que os partidos elejam bancadas expressivas antes de terem acesso ao horário na televisão. “Há plena liberdade partidária em países como Inglaterra e Estados Unidos, por exemplo. Nesses países, a criação de novos partidos é até mais simples do que no Brasil. Mas eles são desestatizados, o que deveria acontecer aqui”, observa.
E você? O que pensa sobre a questão?

06 de outubro de 2013
imil

DE SONHÁTICA A PRAGMÁTICA

 Neste sábado, escrevia eu ontem, veremos se Marina da Silva é coerente ou hipócrita. Venceu a hipocrisia. Supostamente inconformada com o PT e PV, a acreana criou seu próprio partido, que aliás não era partido – para não se confundir com essas vulgares e corruptas agremiações que infestam o país – mas rede. Numa manobra inábil de marquetagem, denominou sua rede de Sustentabilidade, um heptassílabo em um país cujos eleitores muitas vezes têm dificuldades de pronunciar trissílabos. Sem falar no espaço que a palavrinha ocupa numa manchete de jornal.

Melhor a Rede, simplesmente. Um dia antes da decisão que negou o registro do partido, a ex-senadora, ex-ministra e hoje ex-redista - divulgou um vídeo onde falava em "democratização da democracia" e dizia que a Rede não queria apenas um "projeto de poder" e sim um "projeto de País".

No vídeo, Marina faz um balanço da atuação da militância, diz que o processo de criação do partido mobilizou 12 mil voluntários, a maior parte deles jovens. "Muitos partidos se institucionalizam para depois ganhar representação social. Nós fizemos exatamente o contrário. Ganhamos representação social no País inteiro e depois buscamos a institucionalização", afirmou.

Dois dias depois da ressaca, que resta da democratização da democracia, que sobrou do projeto de país? Os 12 mil voluntários, “a maior parte deles jovens”, ficaram órfãos do dia para a noite. Marina agora milita no PSB, Partido Socialista Brasileiro, seja lá o que isso quer dizer.

Para onde foi a moça que seguia “os mantenedores de utopia”, gente como Chico Mendes, Florestan Fernandes, Paulo Freire, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso? “Agora, aos 51 anos, quero fazer o que eles fizeram por mim. Quero ser mantenedora de utopias e mobilizar as pessoas”. Hoje, aos 55, Marina quer apenas tratar de sua sobrevida política.

Criará o PSB uma ala evangélico-ecológica? Ou evangelismo e ecologia vão pras cucuias, junto com os demais sonhos dos “sonháticos”? Ainda ontem, Marina dizia que sua decisão sobre uma eventual filiação a algum partido para disputar a eleição do ano que vem seria "programática" e "não terá caráter pragmático". A bem da verdade, prevaleceu o pragmático. Os “sonháticos” que busquem outro guru. Marina preferiu desenredar-se da rede que a enredava. O que importa é sua candidatura à Presidência da República.

Segundo a imprensa, Marina poderia candidatar-se como vice do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para disputar a eleição presidencial de 2014. Campos que se cuide. Ser vice não faz o perfil de dona Marina. Tanto que abandonou seu projeto de partido, por não poder ser candidata a presidente.

Veja é mais realista. Para a revista, não está definida a composição da chapa entre os dois. Por ora, ambos serão tratados como possíveis presidenciáveis - e pesquisas devem nortear a decisão. A Rede rachou. Rompeu-se. Empresários que investiram pesado no novo partido não gostaram de ver seus dinheiros indo pelo ralo. Fazer um presidente custa caro, mas rende em dobro, isso falando por baixo. Quanto aos que investiram sonhos, bom... sonhar não custa nada. Basta virar a cabeça de lado no travesseiro e sonhar outras utopias.

Houve época em que havia partidos no Brasil, com objetivos bem definidos. Um petebista nem em sonhos pensaria em se unir a um udenista. Hoje vale tudo. O que interessa são interesses individuais e partidos não passam de barrigas de aluguel. Há uma certa ojeriza entre os eleitores por políticos vira-casaca. Não é nada, não é nada, mas dona Marina está virando a casaca pela quarta vez.

As oposições – que a nada se opõem e esquecem que Marina foi ministra de Lula – acham providencial a adesão de Marina a um novo partido. Retiraria votos do PT e provocaria um segundo turno. Mas as oposições esquecem que petista tem o coração à esquerda. No primeiro turno, votam no candidato que mais lhes soa confiável. No segundo, voltam correndo para a casa paterna.

Ainda bem. Pois Marina, se eleita, nos faria sentir saudades de Dilma. El que vendrá, bueno te hará – dizem os espanhóis. Seja como for, vai ser divertido observar, nas próximas semanas, a reação dos órfãos.

Isso sem falar na besteira que acaba de proferir: sua Rede Sustentabilidade é "o primeiro partido clandestino criado em plena democracia". Em primeiro lugar, não conseguiu cumprir os requisitos que a lei exige para ser partido. Em segundo, de clandestina a tal de Rede não tem nada. O que ela está querendo? Ficar com um pé na Rede e outro no PSB? Será o primeiro político a militar em dois partidos ao mesmo tempo.

Vista como a candidata que foge aos padrões usuais de política, chegada a hora da verdade, Marina demonstrou ser apenas mais do mesmo.


06 de outubro de 2013
janer cristaldo

AO MENOS 46 DEPUTADOS E 2 SENADORES JÁ TROCARAM DE PARTIDO

Migração, que ainda pode crescer, foi estimulada pela criação de duas siglas
 
O troca-troca partidário já envolveu 48 parlamentares, dois deles senadores, segundo dados oficiais da Câmara dos Deputados e do Senado. Essa migração foi estimulada pela criação em setembro de dois partidos, o Solidariedade e o Partido Republicano da Ordem Social (Pros), mas levou parlamentares também a siglas tradicionais na política brasileira, como o PMDB.
 
Embora o prazo para a troca tenha terminado nesse sábado, 5, esse número ainda pode crescer, já que os dados divulgados pelas duas Casas baseiam-se na comunicação dos parlamentares às respectivas Mesas, o que não tem data definida para ocorrer.
 
Segundo os dados oficiais, o Solidariedade, do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical (SP), teve a adesão de 20 deputados e um senador (Vicentinho Alves, do Tocantins). Extraoficialmente, contudo, a direção do partido garante contar com 30 deputados.
 
O Pros filiou 13 deputados. Para atingir os 28 parlamentares que, segundo a direção da sigla, teriam aderido ao partido, 15 deputados ainda precisam comunicar a troca à Mesa da Câmara.
 
Uma das principais trocas foi a da senadora Kátia Abreu (TO), que deixou o PSD e foi para o PMDB. A escolha, que aproxima o governo do setor ruralista, foi muito comemorada. "As duas filiações mais importantes foram as da Kátia e do Josué", destacou o presidente interino do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), referindo-se também ao empresário mineiro Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente José Alencar.
 
A Câmara tem 513 parlamentares e o Senado, 81.

06 de outubro de 2013
 

O PRESENTE DE GREGO DE SÉRGIO 'GUARDANAPO' CABRAL PARA EDUARDO PAES

 
Governador ajudou a afundar a popularidade do prefeito com a ação da PM na repressão à greve dos professores. Impasse vira munição para adversários

 
Eduardo Paes, prefeito do Rio
Eduardo Paes, prefeito do Rio (Eliária Andrade/Agência o Globo)

Quatro meses depois do início dos protestos de rua no Brasil, e quando a situação finalmente parecia se acalmar no Rio de Janeiro, o resumo da semana é o seguinte: os professores municipais da capital e os estaduais estão em greve há 50 dias; uma CPI dos transportes está emperrada na Câmara, aguardando uma decisão da Justiça; e às acusações que pesam sobre a Polícia Militar está, agora, a de agredir professores – apesar de o confronto propriamente dito ter ocorrido majoritariamente em um embate com black blocs convocados, como de costume, para inflamar a manifestação. O fato novo é a saída do governador Sérgio Cabral do foco principal da revolta, que passa a ter o prefeito Eduardo Paes na incômoda posição de inimigo número 1 dos manifestantes.
 
Paes, que vinha administrando a crise de forma bem mais habilidosa que seu padrinho político, com entrevistas, aparições públicas e declarações em tempo real sobre a situação, recebeu de Cabral um presente de grego. Afinal, partiu do Palácio Guanabara a determinação para que a Polícia Militar entrasse no Palácio Pedro Ernesto no último sábado, ocupado por grevistas. O governador atendeu a um pedido do presidente da Casa, Jorge Felippe (PMDB), para que os professores, em sua maioria mulheres, fossem retirados do plenário. As cenas do lado de fora criaram para o público a pior imagem possível: a polícia bate em professor.
 
Um aliado próximo do prefeito reconhece o estrago. “A partir daquele momento uma parte da opinião pública que não estava dando atenção ao assunto passou a se posicionar. E a ter na cabeça essa imagem, de que a PM espanca professor em greve. Foi péssimo para a imagem do prefeito”, avalia.


O uso político da greve não demorou a aparecer. O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe) é controlado por quadros ligados ao PSOL e ao PSTU. O sindicato afirma que a greve atingiu 80% da rede municipal no Rio. A Secretaria Municipal de Educação assegura que, no auge da adesão, houve cerca de 18% de paralisação, e que na última semana essa proporção ficou em torno de 13%.
 
A intransigência é a marca da greve. Atas da prefeitura mostram que houve dez reuniões com os grevistas, três delas com o prefeito Eduardo Paes. Mas na véspera da votação do Plano de Cargos e Salários os sindicalistas diziam não ter informações sobre o projeto. O sindicato, em entrevista ao site de VEJA, admitiu não ter calculado como ficariam os salários com base no que foi apresentado pela prefeitura; tampouco calculou com base nos próprios parâmetros. Ficou claro que o sindicato estava interessado em mobilizar a massa e criar um protesto de grande visibilidade, mais do que discutir salários.
 
Pré-candidato do PT ao governo do estado, o senador Lindbergh Farias, que apoiou em 2011 a greve dos bombeiros, posicionou-se em solidariedade aos professores. “Quero manifestar meu repúdio ao episódio registrado na noite do último sábado, quando a Polícia Militar retirou, de forma truculenta, os professores e funcionários que ocupavam o prédio da Câmara dos Vereadores. (...) Acredito que, mesmo diante das dificuldades, os profissionais da educação precisam se manter firmes para garantir seus direitos”, escreveu, estimulando a manutenção da paralisação.
 
A mistura de PMs e black bocs pode produzir muitas cenas de violência. Mas invariavelmente é o governante que sai mais machucado. O protesto que terminou em pancadaria nos dias 30 de setembro e 1º de outubro terá uma reedição na próxima segunda-feira, para o qual já há 60.000 confirmações de presença pelo Facebook. Na sexta-feira, em uma assembleia com 5.000 professores, foi aprovada por unanimidade a manutenção da greve. Os manifestantes também passaram a pedir a saída da secretária de Educação, Claudia Costin, considerada uma das maiores autoridades em gestão da educação no país. Até o momento, não há sinal de que representantes do município e dos grevistas possam se sentar novamente à mesa para negociar.

06 de outubro de 2013
Cecília Ritto e João Marcello Erthal - Veja

CAIADO, O NOVO SONHÁTICO, DIZ QUE NÃO O MENOR CONSTRANGIMENTO EM SUBIR NO PALANQUE COM MARINA. A RECÍPROCA NÃO É VERDADEIRA


A matéria acima (clique sobre ela para ampliar e ler) foi publicada hoje, no O Popular, jornal mais importante do Goiás. Traz declarações de Ronaldo Caiado, deputado federal pelo DEM, que já havia fechado aliança com o PSB para as próximas eleições, seja para sair como senador ou como governador. Toda a política é local. Caiado está vendo os próprios interesses eleitorais. Mas não dá para reescrever a História. É um discurso de conveniência, que não convence. Abaixo, alguns momentos da "aliança" entre Caiado e Marina Silva:
 
Marina Silva, em 16 de maio passado, no Recife, queixando-se do PT:
“Por que uma pessoa como eu, que defendo o meio ambiente, a justiça social, os mesmo princípios que defendeu junto com Lula e Chico Mendes agora é inimiga desse partido? Esse partido que está junto com (deputado federal Ronado) Caiado (DEM), com (senador) Collor, (Paulo) Maluf, (senador) Jader Barbalho no Pará, o Amazonino Mendes (PDT)”?
 
Marina Silva, no mesmo dia, atacando Caiado por ser um dos apoiadores do projeto do PT que retirava tempo de TV de novos partidos:
 
“Eu vi o Caiado andando esse Brasil inteiro arrecadando fundos pra combater Lula, saltando mentiras e calúnias contra ele”
 
Caiado pode até sonhar em subir no palanque com Marina Silva. Sonhar. Marina Silva jamais subirá em um palanque com ele. Marina Silva ainda tem um pingo de coerência, a mesma que falta ao principal deputado ruralista, do setor mais demonizado e caluniado pela nova aliada.
 
06 de outubro de 2013
in coroneLeaks

MEMÓRIAS DE 64: QUANDO OS DÓLARES FALAM MAIS ALTO

Engana-se quem pensa que já se conhecem todos os fatos relacionados com o golpe civil militar de 1964 que derrubou o Presidente constitucional João Goulart. Nos últimos meses, graças ao trabalho das Comissões da Verdade, sejam estaduais ou a Nacional, muito fato novo vem sendo divulgado.

Mas um fato desta semana, protagonizado por João Vicente Goulart, ao ouvir uma denúncia do então Major do Exército Erimá Pinheiro Moreira, poderá mudar o entendimento de muita gente sobre a ocorrência mais negativa da história recente brasileira. O alerta tem endereço certo, ou seja, aqueles que ainda imaginam terem os golpistas civis e militares agido por idealismo ou algo do gênero.

O Major farmacêutico em questão, hoje anistiado como Coronel, servia em São Paulo em 31 de março de 1964 sob as ordens do então comandante II Exército, General Amaury Kruel (foto). Na manhã daquele dia, Kruel dizia em alto e bom som que resistiria aos golpistas, mas em pouco tempo mudou de posição. E qual foi o motivo de o general, que era amigo do Presidente Jango Goulart, ter mudado de posição assim tão de repente, não mais que de repente?

Mineiro de Alvinópolis, Erimá Moreira, hoje com 94 anos, e há muito com o fato ocorrido naquele dia trágico atravessado na garganta, decidiu contar em detalhes o que aconteceu. O militar, que era também proprietário de um laboratório farmacêutico e posteriormente convidado a assumir a direção de um hospital, foi procurado por Kruel no hospital. Naquele encontro, o general garantiu ao major que Jango não seria derrubado e que o II Exército garantiria a vida do Presidente da República.

MALAS DE DÓLARES

Pois bem, as 2 da tarde Erimá foi procurado por um emissário de Kruel de nome Ascoli de Oliveira dizendo que o general queria se reunir com um pessoal fora das dependências do II Exército. Erimá indicou então o espaço do laboratório localizado na esquina da Avenida Aclimação, local que hoje é a sede de uma escola particular de São Paulo. Pouco tempo depois apareceu o próprio comandante do II Exército, que antes de se dirigir a uma sala onde receberia os visitantes pediu ao então major que aguardasse a chegada do grupo.

Erimá Moreira ficou aguardando até que apareceram quatro pessoas, um deles o presidente interino da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), de nome Raphael de Souza Noschese, este já conhecido do major. Três dos visitantes carregavam duas maletas grandes cada um. Erimá, por questão de segurança, porque temia que pudessem estar carregando explosivos ou armas, mandou abrir as maletas e viu uma grande quantidade de notas de dólares. Terminada a reunião foi pedida que a equipe do major levasse as maletas até o porta-malas do carro de Amaury Kruel, o que foi feito.

De manhã cedo, por volta das 6,30 da manhã, Erimá Moreira conta que mais ou menos uma hora e meia depois da chegada no laboratório ligou o rádio de pilha para ouvir o discurso do comandante do II Exército. Moreira disse que levou um susto quando ouviu Kruel dizer que se “o Presidente da República não demitisse os comunistas do governo ficaria ao lado da “revolução”.

Erimá Moreira então associou o que tinha acontecido no dia anterior com a mudança de postura do Kruel e falou para si mesmo: “pelo amor de Deus será que ajudei o Kruel a derrubar o Presidente da República?”

Ainda ouvindo o discurso de Kruel, conta Erimá, chegaram uns praças para avisar que tinha uma reunião marcada com o general no QG do II Exército.

Na reunião, vários militares, alguns comandantes de unidades, eram perguntados se apoiavam Kruel. “Eu não aceitei e pedi para ser transferido”.

CASSAÇÃO

Indignado, Erimá Moreira dirigiu-se a um coronel do staff do comandante do II Exército para perguntar se o general Kruel não tinha recebido todo aquele dinheiro para garantir a vida do Presidente. “Me transfiram daqui, que com o Kruel no comando eu não fico”.
Aí então – prossegue Erimá Moreira – me colocaram de férias para eu esfriar a cabeça. Na volta das férias, depois de um mês, fiquei sabendo pelo jornal que o Kruel havia me cassado”.
A partir de então o Major e a família passaram maus momentos com os vizinhos dizendo à minha mulher que era casada com um comunista. “Naquela época, quem fosse preso ou cassado era considerado comunista”.

Algum tempo depois contei esta história que estou contando agora ao General Carlos Luis Guedes, meu amigo desde quando servimos em unidades militares em São João del Rey. Fiz um relatório por escrito e com firma reconhecida. O General Guedes tirou xerox e levou o relato para a mesa do Kruel. Em menos de 24 horas o Kruel pediu para ira para a Reserva. Fiquei sabendo que com o milhão de dólares que recebeu do governo dos Estados Unidos comprou duas fazendas na Bahia”.

Ao finalizar o relato, o hoje Coronel Erimá Moreira mostrou-se aliviado e ao ser perguntado se autorizava a divulgação desse depoimento, ele respondeu que “não tinha problema nenhum”.

Nesse sentido, sugerimos aos editores de todas as mídias que procurem o Coronel Erimá Pinheiro Moreira para ouvir dele próprio o que foi contado neste espaço. Sugerimos em especial aos editores de O Globo, periódico que recentemente fez uma autocrítica por ter apoiado o golpe de 64, que elaborem matéria com o militar que reside em São Paulo.

06 de outubro de 2013
Mário Augusto Jacobskind
Instituto João Goulart

FREIO DE ARRUMAÇÃO NO PMDB


A presidente Dilma decidiu encarar o PMDB, rejeitando a imediata nomeação do senador Vital do Rego para o lugar de Fernando Bezerra, que renunciou ao ministério da Integração Nacional depois de o  PSB haver desembarcado do governo. 

A decisão foi comunicada ao vice-presidente Michel Temer, que não abandonou a pretensão e  alertou  as bancadas do partido para conterem qualquer reação.  A designação do secretário-geral do ministério, um técnico mas também filiado ao PSB , irritou deputados e senadores do maior partido nacional, que contavam ocupar esse novo  espaço na administração federal.
 
O movimento feito pela presidente no tabuleiro da Esplanada dos Ministérios pode constituir o  prenúncio de polêmicas mudanças. No final do ano ou no máximo em janeiro, deverão ser demitidos  entre 12 e 16 ministros, candidatos às eleições de outubro. Que critérios serão adotados para a escolha de seus substitutos? Dilma continuará privilegiando os partidos de sua base parlamentar? Ou promoverá os secretários-gerais? Aproveitará para compor o ministério de seus sonhos, sem políticos, indicando os técnicos mais habilitados? Mas sendo candidata à reeleição, arriscar-se-á a perder apoio partidário?
 
Muitas variáveis pairam sobre o palácio do Planalto, mas um fator prevalece agora: o PMDB não manda e nem pode tanto no governo quanto seus dirigentes imaginavam. Levou um freio de arrumação.
 
AS MEDALHAS E A FELIZ DISPUTA
 
Poucos  conhecem as historinhas que merecem ser repetidas. Visitava o Brasil a  Rainha Elizabeth II, com o Príncipe Phillip  a tiracolo. Em Brasília, o casal compareceu a uma recepção de gala, no palácio da Alvorada, já que o ministério das Relações Exteriores  ainda não tinha sido inaugurado. Todo mundo de casaca e condecorações.
 
O mal educado consorte, sempre adiantado três ou quatro doses de uísque, foi apresentado ao chefe do Gabinete Militar do presidente Costa e Silva.  De primeiro uniforme, carregado de medalhas, o general Jaime Portella mais parecia uma árvore de natal. Grosso, o inglês indagou maliciosamente: “todas essas medalhas, o senhor ganhou na guerra?” Resposta pronta de Portella: “Ganhei por merecimento. E as suas, o senhor ganhou na cama?”
 
No Rio, a Rainha foi ao estádio do Maracanã. Era um domingo de Fla-Flu, as arquibancadas lotadíssimas. Fazendo as vezes de anfitrião, na tribuna de honra,  o governador Negrão de Lima  ouviu trágica  pergunta da ilustre convidada, que queria saber o significado daquele imenso coro popular iniciado quando o juiz marcou uma falta contra o Flamengo. A velha raposa mineira respondeu na hora:
“É uma saudação do público  ao juiz e aos jogadores. Estão gritando “Feliz Disputa! Feliz Disputa!”

06 de outubro de 2013
Carlos Chagas
 

SERRA JOGA COM O TEMPO E GAROTINHO DISPUTA GOVERNO DO RJ



O ex-governador José Serra, como o Globo, Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo noticiaram com destaque, decidiu permanecer no PSDB e jogar com o passar do tempo para que o partido decida entre Aécio neves e ele no processo de escolha do candidato que vai enfrentar Dilma Rousseff nas urnas de 2014.
 
Não tinha logicamente outro caminho. Se rompesse e ingressasse no PPS de Roberto Freire, não teria a menor possibilidade e, ainda por cima, dividiria, com prejuízo para ambos, a base paulista do eleitorado tucano. Sair para disputar o Senado, por exemplo, não lhe acrescentaria nada que não obtivesse permanecendo na legenda do PSDB
Serra, na verdade, joga com uma eventual queda de Aécio Neves nas pesquisas. Se isso ocorrer, os tucanos não terão outro caminho a não ser escolher Serra, apesar de suas duas tentativas mal sucedidas para presidente e de sua derrota para Fernando Haddad na eleição de 2012 para prefeito da cidade de São Paulo.
 
Mas o fato é que o Partido Social da Democracia Brasileira encontra-se sem quadros alternativos além de Aécio e Serra. Optando por Aécio, sob o impulso da renovação, o ex-ministro da Saúde poderá concorrer ao Senado por São Paulo enfrentando Eduardo Suplicy, cujo mandato de oito anos termina em janeiro de 2014.

Nesse caso, José Serra conta com uma resistência que está se tornando tradicional no PT contra aquele parlamentar. Tanto assim que Dilma Rousseff e Lula escolheram o ministro Alexandre Padilha para se opor à reeleição do governador Geraldo Alckmin e sequer cogitaram de Suplicy. Paralelamente há pouco tempo surgiu um movimento acionado por facção do próprio Partido dos Trabalhadores para que o autor do eterno projeto da renda mínima, que aliás não sai do papel para a realidade concreta, não obtenham legenda para o Senado e passe a ser candidato à Câmara Federal. Não se compreende bem a razão de tal resistência, porém ela existe. Uma questão de ética, talvez.
GAROTINHO
Mas no título deste artigo citei Anthony Garotinho. Pois é. Em carta dos leitores publicada na edição de 2 de outubro de O Globo, respondendo a críticas que recebeu de Nelson Mota, o atual deputado pelo PR afirma ser  pré-candidato a sucessão do governador Sérgio Cabral, cujo índice de aprovação popular é dos piores e provavelmente envolverá seu candidato pessoal, Luiz Fernando Pezão. Na resposta a Nelson Mota, Garotinho lembra ter sido eleito para o governo do Rio de Janeiro e conseguido eleger, Rosinha, sua mulher, no primeiro turno, na eleição de 2002.
Portanto confirma-se mais um candidato ao Palácio Guanabara. Já temos Luiz Fernando Pezão, Lindbergh Farias, cuja candidatura pelo PT foi liberada por Dilma Rousseff, Marcelo Crivella, cujo mandato de senador só termina no final de 2018, e agora aparece Garotinho. Surge ainda o nome do deputado Miro Teixeira, pelo PDT. O desfecho, confirmado o quadro, vai para o segundo turno. Quais serão os dois dos cinco candidatos que irão para o desfecho final? Esta é a questão. Mas não a única.
Estará em jogo também uma vaga para o Senado. Termina no ano que vem o mandato de Francisco Dornelles. Deverá disputar a reeleição. Mas contra quem? O mais provável adversário será Sérgio Cabral que vai renunciar ao governo estadual. O PT seguramente concorrerá com candidato próprio sintonizado com Lindbergh. O quadro eleitoral apresenta-se assim bem movimentado no Rio de Janeiro. Aguarda-se a aventura da temporada de pesquisas pelo Ibope e Datafolha.
 
06 de outubro de 2013
Pedro do Coutto

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA HELIO FERNANDES

1964 começou em 1960 com a eleição de Jânio. Continuou com a fome de poder dele e de Jango. Permaneceu por 21 anos terríveis, de torturas e assassinatos. E algumas respostas esclarecedoras.
 
1964 é muito confuso. Os militares queriam tomar o Poder desde a renúncia de Jânio, que não tinha nada de RENÚNCIA, era a “volta com todos os poderes, patrocinado pelos militares”. E João Goulart participou inteiramente dessa fraude, e iria ser beneficiado. O que quase ia acontecendo.
 
Naquela época, os vice-presidentes eram também eleitos diretamente. As chapas eram registradas com os nomes separados do presidente e do vice. O cidadão votava duas vezes, uma no presidente, a outra no vice. O candidato de Jânio era Milton Campos, o do marechal Lott, João Goulart.
 
Mas Jânio fez campanha ostensiva a favor de Jango, criou o comitê JAN-JAN, ou seja, Jânio e Jango. Qual a razão da preferência? É que nos planos dos militares para “eternizar” Jânio no Poder, estava a OBRIGATORIEDADE do vice não estar no Brasil, quando Jânio “renunciasse”.
 
Quem conhecesse a vida pública brasileira da época, saberia que se Milton Campos se elegesse VICE, Jânio não poderia mandá-lo para Singapura, nem tentaria. Com Jango foi facílimo, ele viajou para Singapura, sabendo que alguma coisa aconteceria, Jango não tinha nada de tolo ou idiota. E aconteceu mesmo.
 
O plano dos generais para manter Jânio com TODOS OS PODERES dependia de muitas variantes. Brasília já era a capital, mas não existia. Lembrem-se: Jânio tomou posse em 31 de janeiro de 1961, Brasília havia nascido há menos de um ano, nada funcionava, ou melhor, nem estava construído.
 
Assim, fora do país Jango era presidente, e o que os generais nem imaginavam: tinha um suporte colossal e nem imaginado, que se chamava Leonel Brizola. Desesperados, os generais jogaram Jânio na lata do lixo, e se voltaram para empossar Jango como “presidente-parlamentarista”.
 
Jango, o mesmo de sempre, aceitou correndo. Brizola, o mesmo de sempre, resistiu e quando Jango falou com ele que ia fazer acordo com os generais, Brizola, irritado, protestou: “Já ganhamos, você toma posse como presidente mesmo, não precisa dos generais”.
 
Cauteloso (ou tão covarde quanto era em 1952, quando aceitou ser derrubado do Ministério do Trabalho por 69 coronéis, e depois muitos deles foram promovidos por Jango a generais) se rendeu aos militares. Acreditava que teria mais Poder do que eles.
 
Foi manobrando nos bastidores parlamentaristas, mas convocou o plebiscito sobre o presidencialismo em 6 de janeiro 1963. Foi a maior farra de dinheiro da História da República. Os recursos vinham de todos os lados. Jango venceu disparado, 10 dias depois tomava posse como presidencialista.
 
1963: GENERAIS, O PRESIDENTE E SEIS GOVERNADORES CONSPIRAVAM
 
Só nesse ano, Jango destrambelhado, desorientado e deslumbrado, pediu duas vezes a intervenção no Estado da Guanabara. Os deputados e senadores, maioria de Jango na Câmara e no Senado, recusaram os pedidos do presidente.
 
Os governadores que conspiravam, apesar de serem todos eles candidatos à sucessão de Jango em 1965:
 
1 – Ademar de Barros, São Paulo.
2 – Magalhães Pinto, Minas Gerais.
3 – Carlos Lacerda, Guanabara.
4 – Mauro Borges, Goiás.
5 – Ney Braga, Paraná.
6 – Miguel Arraes, Pernambuco.

 
Brizola deixara o governo do Rio Grande em 31 de janeiro de 1962, não conspirava, mas foi um dos primeiros a se lançar como presidenciável. Criticado por ser cunhado de Jango, respondeu publicamente: “Cunhado não é parente, Brizola para presidente”.
 
O EX-PRESIDENTE JK NÃO CONSPIRAVA
 
Candidatíssimo a voltar à Presidência, lançou a própria candidatura para 1965, ao passar o governo a Jânio. Não conspirava, não era do seu estilo, mas se mantinha candidatíssimo.
 
Teve conversas diversas, nenhuma com Jango, apesar de ter tentado. Mas o presidente tinha a mesma obsessão de Jânio: não deixar o Planalto, o Alvorada e o Laranjeiras, no Rio, “Brasília ainda ia ser”.
 
MINHA PRISÃO EM 1963, O ÚNICO JORNALISTA JULGADO PELO SUPREMO
 
Eu fazia oposição a Jango, como fiz com todos os presidentes, até mesmo JK, cuja campanha dirigi. (Fiquei ao lado dele quando quiseram impedir sua posse, viajei pelo mundo com ele, como presidente eleito e ainda não empossado). Por que então me prender e me julgar perante o Supremo, no qual tinham maioria?
 
Nem Rui Barbosa foi JULGADO pelo Supremo. Foi processado, constituiu advogado, tudo arquivado. Bastava que o ministro da Guerra respondesse ao presidente do Supremo: “Não tenho nada com a prisão do jornalista, é possível que esteja respondendo a IPM (Inquérito Policial Militar).
 
Pelo contrário, recebeu ordens do Planalto, respondeu ao Supremo: “O jornalista está preso à minha ordem, sou eu o responsável pela sua prisão”. Um ministro só diz isso, a respeito de um jornalista, se receber ordens bem de cima. Diante disso, o Supremo teve que me julgar.
 
A ABSOLVIÇÃO INESPERADA POR DIFERENÇA DE UM VOTO
 
Fui julgado depois de 9 dias, comoção nacional, todos pressentiam o que acontecia ou aconteceria. Apesar da opressão, o julgamento ficou 4 a 4 (como agora, nos julgamentos do ficha-limpa e do mensalão), Ribeiro da Costa desempatou a meu favor, podia desempatar contra.
 
A DEPOSIÇÃO DE JANGO COMEÇOU EM 1963
Não aconteceu em 1º de abril, com o golpe. Começou em 6 de janeiro de 1963, ultrapassou o Natal e o Ano Novo, chegou a março de 1964. 13 de março foi insensato, 28 de março do mesmo 1964, tenebroso. 1º de abril, criminoso, com mortes, assassinatos, torturas e tristezas que duram até hoje.
 
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PS – Você está com a razão, Aquino. Qualquer Junta Militar que se preza, não quer sair. Essa de 3 de outubro de 30 teve que entregar o cargo. Naquela época, tirando Vargas, os homens de mais prestígio eram o civil Osvaldo Aranha e o militar Goes Monteiro.
 
PS2 – Quando Costa e Silva ficou “incapacitado”, assumiu outra Junta Militar (“Os Três Patetas”, ridicularizados por este repórter) para o cargo não ir para Pedro Aleixo.
 
PS3 – Me mandaram logo para Campo Grande (hoje capital do Mato Grosso do Sul), era o meu quarto desterro, sequestro, confinamento, tentaram continuar, não dava, conseguiram algumas dádivas.
 
PS4 – Como eu disse, em 1945 não houve cassação ou inelegibilidade, e sim investigação. Pois que receberam todos os louvores e aplausos.
 
PS5 – Henrique Dodsworth, prefeito do Distrito Federal, de 1937 a 45. Nomeado embaixador em Portugal, professor catedrático de duas cadeiras no Pedro II.
 
PS6 – Osvaldo Aranha, ministro de quase todas as pastas com Vargas, que o admirava, só não queria que fosse presidente depois dele.
 
PS7 – Como já havia sido embaixador do Brasil em Washington, foi embaixador do Brasil na ONU. De grande prestígio e competência, foi secretário-geral do órgão.
 
PS8 – Vargas voltou presidente (eleito diretamente pela primeira vez na vida), na hora do desespero nomeou Osvaldo Aranha ministro da Fazenda. Não dava mais tempo.
 
PS9 – Valdenor de Souza, só os “asilados” necessitam de documentação oficial. E até as pedras das ruas (Rui Barbosa) sabem os nomes dos asilados, nas mais diversas épocas.
 
PS10 – O ex-presidente Washington Luiz em 1930, Bernardes em 1945, o ex-chanceler Otavio Mangabeira, o diretor do “Estado de S. Paulo”, Julio Mesquita Filho, e alguns outros.
 
PS11 – Exilado vai por vontade própria, é impossível contá-los, até mesmo justificá-los. Alguns iam sem motivação, fala-se muito no caviar do “exílio”.
 
PS12 – FHC, um dos que iam a passeio, visitar amigos (principalmente no Chile) e se identificava como cassado. Desculpe usar a “gargalhada gráfica” (pela denominação, royalties para Jaguar): Ha!Ha!Ha!
 
PS13 – Refugiados é uma identificação nobre e positiva, são pessoas que não tinham cargos, não foram asiladas, mas não conseguiram sair do Brasil até por causa da vigilância severíssima.
 
PS14 – O caso de Arraes, único na História da República, ACORDO entre as partes. O governo golpista, não sabia o que fazer com o ex-governador de Pernambuco, o que aconteceria se ficasse no Brasil.
 
Ps15 – Como eu disse, Arraes aceitou o ACORDO assim que foi proposto, por que recusá-lo. Sua possível resistência e sobrevivência pessoal, inteiramente preservadas, aceitar foi positivo e não negativo.
06 de outubro de 2013
Hélio Fernandes