Eduardo Paes, prefeito do Rio (Eliária Andrade/Agência o Globo)
Quatro meses depois do início dos protestos de rua no Brasil, e quando a situação finalmente parecia se acalmar no Rio de Janeiro, o resumo da semana é o seguinte: os professores municipais da capital e os estaduais estão em greve há 50 dias; uma CPI dos transportes está emperrada na Câmara, aguardando uma decisão da Justiça; e às acusações que pesam sobre a Polícia Militar está, agora, a de agredir professores – apesar de o confronto propriamente dito ter ocorrido majoritariamente em um embate com black blocs convocados, como de costume, para inflamar a manifestação. O fato novo é a saída do governador Sérgio Cabral do foco principal da revolta, que passa a ter o prefeito Eduardo Paes na incômoda posição de inimigo número 1 dos manifestantes.
Paes, que vinha administrando a crise de forma bem mais habilidosa que seu padrinho político, com entrevistas, aparições públicas e declarações em tempo real sobre a situação, recebeu de Cabral um presente de grego. Afinal, partiu do Palácio Guanabara a determinação para que a Polícia Militar entrasse no Palácio Pedro Ernesto no último sábado, ocupado por grevistas. O governador atendeu a um pedido do presidente da Casa, Jorge Felippe (PMDB), para que os professores, em sua maioria mulheres, fossem retirados do plenário. As cenas do lado de fora criaram para o público a pior imagem possível: a polícia bate em professor.
Um aliado próximo do prefeito reconhece o estrago. “A partir daquele momento uma parte da opinião pública que não estava dando atenção ao assunto passou a se posicionar. E a ter na cabeça essa imagem, de que a PM espanca professor em greve. Foi péssimo para a imagem do prefeito”, avalia.
Manifestação de professores contra a votação do plano de cargos e salários termina em confusão, na Cinelândia - Pedro Kirillos / Agência O Globo
O uso político da greve não demorou a aparecer. O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe) é controlado por quadros ligados ao PSOL e ao PSTU. O sindicato afirma que a greve atingiu 80% da rede municipal no Rio. A Secretaria Municipal de Educação assegura que, no auge da adesão, houve cerca de 18% de paralisação, e que na última semana essa proporção ficou em torno de 13%.
A intransigência é a marca da greve. Atas da prefeitura mostram que houve dez reuniões com os grevistas, três delas com o prefeito Eduardo Paes. Mas na véspera da votação do Plano de Cargos e Salários os sindicalistas diziam não ter informações sobre o projeto. O sindicato, em entrevista ao site de VEJA, admitiu não ter calculado como ficariam os salários com base no que foi apresentado pela prefeitura; tampouco calculou com base nos próprios parâmetros. Ficou claro que o sindicato estava interessado em mobilizar a massa e criar um protesto de grande visibilidade, mais do que discutir salários.
Pré-candidato do PT ao governo do estado, o senador Lindbergh Farias, que apoiou em 2011 a greve dos bombeiros, posicionou-se em solidariedade aos professores. “Quero manifestar meu repúdio ao episódio registrado na noite do último sábado, quando a Polícia Militar retirou, de forma truculenta, os professores e funcionários que ocupavam o prédio da Câmara dos Vereadores. (...) Acredito que, mesmo diante das dificuldades, os profissionais da educação precisam se manter firmes para garantir seus direitos”, escreveu, estimulando a manutenção da paralisação.
A mistura de PMs e black bocs pode produzir muitas cenas de violência. Mas invariavelmente é o governante que sai mais machucado. O protesto que terminou em pancadaria nos dias 30 de setembro e 1º de outubro terá uma reedição na próxima segunda-feira, para o qual já há 60.000 confirmações de presença pelo Facebook. Na sexta-feira, em uma assembleia com 5.000 professores, foi aprovada por unanimidade a manutenção da greve. Os manifestantes também passaram a pedir a saída da secretária de Educação, Claudia Costin, considerada uma das maiores autoridades em gestão da educação no país. Até o momento, não há sinal de que representantes do município e dos grevistas possam se sentar novamente à mesa para negociar.
06 de outubro de 2013
Cecília Ritto e João Marcello Erthal - Veja
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