O JANEIRO BRANCO E O IDOSO
Repentinamente, o idoso ocupa o centro de um cenário social, para o qual até então, gozava de certa invisibilidade.
Pergunto-me sempre, quando algum fato inusitado ganha transparência, e se torna quase matéria obrigatória, que diariamente encontramos em crônicas, artigos de saúde, comentários variados que buscam definir o perfil e os hábitos do idoso, e até mesmo artigos sobre a importância do idoso, no campo econômico, como um nicho que aporta grandes recursos financeiros e econômicos.
O que me intriga é que a esse novo personagem que ganha importância, talvez até um pouco desmedida, pouca voz se lhe dá, para que expresse seus sentimentos e emoções, quanto a esse estágio da existência.
Salvo alguns artigos de psicologia e de psiquiatria, nos quais esse idoso é abordado, sob ângulos que revelam suas relações com familiares, com a sociedade, com as instituições de longa permanência, ou sua solidão, ou sobre seus sentimentos e percepções que naturalmente acompanham esse momento da vida, predomina uma imagem cronológica, da qual decorre o interesse de apurar a identificação de hábitos de saúde, que podem nos levar à longevidade pela ânsia inconsciente de imortalidade.
A campanha de cunho nacional, abrangente em sua preocupação com o bem-estar mental e emocional da sociedade, justifica-se, pois num tempo de profundas mudanças, em que princípios e valores em transição, deixa o ser humano sem o Norte que o guie para portos seguros da razão e da civilidade.
Faço estas reflexões, pois observo que está em andamento a perda da nossa humanidade, a medida que mergulhamos no novo mundo, de uma nova tecnologia, que remodela as relações humanas, criando um novo ambiente de intervalos e vazios no 'papo coloquial' da comunicação, que cria intimidade e afetos.
E aqui assinalo um paradoxo, pois a intensificação das "comunicações tecnólogicas" talvez seja uma das expressões mais acentuadas em toda essa mudança, que assola perceptivelmente o nosso atual 'modus vivendi', mas que provoca um efeito reverso, que empurra para a perda do diálogo, do intimismo do lero-lero, do antigo prazer da "conversa fiada", da cadeira na calçada ou na varanda, que nos humanizava.
A cor branca é a junção de todas as cores de luz e reflete todos os raios luminosos, não absorvendo nenhum.
Aí talvez esteja a metáfora que aproxima a idosidade da luz branca, do JANEIRO BRANCO.
Paisagens, costumes, culturas, hábitos... todo um universo existencial que se torna memória da idosidade, de tempos idos e vividos, e embora acumule tudo isso, não absorve nenhuma lembrança, posto que a sombria perda da memória, ameaçando a saúde mental, bloqueia todo o passado de uma vida.
Por isso, o velho não se lembra, ou não quer se lembrar. Também por isso, a necessidade de acordar a sociedade através de uma campanha pública pela saúde mental, a que acrescento minha maior preocupação com o idoso.
11 de janeiro de 2025
prof.mario moura