Motor do PIB na última década, o consumo das famílias demonstrou seu esgotamento no resultado do primeiro trimestre, anunciado nesta sexta-feira (30): caiu 0,1% em relação a igual período de 2013, pior resultado desde o terceiro trimestre de 2011. Tolhido por inflação em alta e menor vigor no mercado de trabalho, o consumo foi afetado ainda pelo crédito mais caro e restrito.
Os juros mais altos, que ajudaram a retrair as compras, também afetaram os investimentos das empresas. A queda foi de 2,1% tanto na comparação com o quarto trimestre quanto em relação aos três primeiros meses de 2013 --resultado mais fraco em dois anos.
Como resultado, o PIB --uma medida de crescimento da economia nacional-- se expandiu 0,2% de janeiro a março --em linha com as previsões médias do mercado. Sobre o primeiro trimestre de 2013, o avanço foi de 1,9%. O cenário à frente não é animador: a confiança de empresários e consumidores está nos níveis mais baixos desde a crise global de 2009.
Após o resultado, analistas revisaram projeções para baixo. Creem agora numa expansão mais perto de 1% do que de 2%.
A FGV estima algo próximo de 1,5%. "O PIB neste ano manterá o padrão de voo de galinha, mas numa decolagem ainda mais baixa", diz Vinícius Botelho, da FGV. Trata-se de um baixo crescimento para um país ainda em desenvolvimento, que precisa aumentar a renda per capita de sua população. No primeiro trimestre, dentre 29 países que já divulgaram dados, o Brasil ficou em 21º. Até o Japão, estagnado há mais de uma década, cresceu mais.
INVESTIMENTOS
A queda dos investimentos é um dos fatores que indicam um vigor menor da economia nos próximos trimestres, porque é por meio deles que as empresas ampliam sua capacidade produtiva e que o país expande sua infraestrutura. A deterioração revelada no primeiro trimestre deste ano decorre do tombo da construção civil --o setor apresentou a maior retração desde o primeiro trimestre de 2009, auge da crise global.
Inserido na indústria, o segmento ajudou o desempenho do setor a descer ladeira abaixo e acumular três trimestres de contração, o que pode ser considerado uma recessão. "A indústria vive um momento trágico, e as expectativas são ainda piores", disse o economista Sérgio Vale, da consultoria MB Associados.
Para Rebecca Palis, gerente do IBGE, a queda da construção veio em resposta à perda de ritmo de obras de infraestrutura, que caíram apesar das novas concessões públicas (rodovias, portos, aeroportos) e da Copa --cujo pico dos projetos de estádios e melhorias no entorno ficou para trás, em 2013.
Além da construção, a compra de máquinas e equipamentos pela indústria (que integra também o investimento) se enfraqueceu --um sinal de que empresários não esperam mais consumo para seus produtos nem uma retomada breve da produção.
(Folha de São Paulo)
01 de junho de 2014
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