Com uma mãozinha de Lula, a presidente Dilma Rousseff inicia a reforma ministerial priorizando os interesses do PT — e, claro, de seu projeto reeleitoral. Recomeçou o reloteamento do governo, sem preocupação no currículo, ou na folha corrida dos aliados. O que Aloizio Mercadante tem com isso?
Foto: Arquivo
Dilma, Lula e Mercadante durante a campanha de 2010
*Alteramos o título e o subtitulo, acrescentamos foto e legenda à publicação original
Dilma, Lula e Mercadante durante a campanha de 2010
A presidente Dilma Rousseff deu a largada para a reforma ministerial — e começou arrumando a casa por dentro, de olho na eleição. O primeiro contemplado, não poderia ser diferente, foi o PT. Os partidos aliados, que estão se engalfinhando para ampliar sua presença no governo, virão numa segunda leva. A etapa inicial da reforma foi definida por Dilma numa reunião com Lula. na semana passada, no Palácio da Alvorada. Os dois decidiram que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, será o novo chefe da Casa Civil, em substituição a outra petista, Gleisi Hoffmann, que deixará o Planalto para disputar o governo do Paraná. Ex-líder do PT no Senado, Mercadante não conta com a simpatia do grupo que controla a máquina partidária, é tachado de arrogante por governistas e oposicionistas e considerado um trator na convivência pessoal e na discussão de projetos.
Diante de tantas afinidades com a chefe, já é chamado de "O Dilmo da Dilma". Mas, ao contrário da presidente, não desperta admiração em Lula. Essa é uma das explicações para o fato de ele, economista de formação, nunca ter sido nomeado ministro da Fazenda pelo ex-presidente. Com tantos fatores jogando contra, seria natural que Mercadante não alcançasse postos de destaque na hierarquia da República. Mas ele conseguiu driblar as adversidades porque, nas palavras de assessores presidenciais, é estudioso, trabalhador e entrega resultados num governo que tem pouco a mostrar ao eleitorado. Além disso, sua presença no segundo gabinete mais importante do Planalto será crucial na batalha de Dilma por mais quatro anos no poder.
No governo Dilma, Mercadante foi ministro de Ciência e Tecnologia, de onde tocou o programa Ciência sem Fronteiras, que oferece bolsas para brasileiros em universidades no exterior, e se tornou um dos xodós da presidente. Depois, ele assumiu a Educação, onde desatou nós do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), até então motivo recorrente de dor de cabeça para o governo, e acelerou um programa de capacitação técnica de estudantes, o Pronatec.
Também participou da criação do Mais Médicos. Ou seja: ele conhece bem três das principais bandeiras que serão empunhadas por Dilma na corrida eleitoral e, devido a seu estilo pessoal, tem condições de cobrar resultados dos ministros bem no padrão Dilma de tolerância. A experiência política também pesou na escolha. Mercadante se destacou na CPI que investigou o então presidente Fernando Collor de Mello. Em 1994, foi candidato a vice na chapa encabeçada por Lula. Recentemente, mesmo à frente da Educação, passou a comandar negociações com partidos aliados, seja para votações no Congresso, seja para a reforma ministerial.
Com Mercadante no palácio, Dilma terá ao seu lado, durante a campanha, um profissional da política, conhecedor das agruras dos tempos de oposição e das infindáveis benesses do poder. Uma mudança e tanto, sobretudo num governo que conta com neófitos em política em pastas estratégicas. O novo ministro continuará a conversar com os aliados, esvaziando as atribuições de Ideli Salvatti, a atual ministra de Relações Institucionais. A Casa Civil tende a recuperar o status de superministério, como nos tempos de José Dirceu e Antonio Palocci. E Mercadante tende a reviver o sonho de concorrer à Presidência no futuro. Em 2006, ele disputou o governo de São Paulo. Essa empreitada era um degrau importante de seu projeto de chegar ao Planalto. O ministro não só perdeu aquela eleição, como protagonizou o chamado escândalo dos aloprados — petistas a serviço de sua campanha foram presos com 1,7 milhão de reais, dinheiro de origem desconhecida que seria usado para comprar um dossiê fajuto contra adversários.
Mercadante sempre negou o envolvimento na trapaça mal sucedida, e as suspeitas que pesavam contra ele não foram capazes de interromper sua trajetória política. O governo do PT, como se sabe, não vê problemas em nomear políticos condenados e presos ou se aliar a eles. Até por isso, o rigor com meros suspeitos de irregularidades beira zero. Na semana passada, Dilma também convidou o secretário de Saúde de São Bernardo do Campo (SP), Arthur Chioro, para assumir o Ministério da Saúde no lugar de Alexandre Padilha. candidato do PT ao governo de São Paulo.
Chioro é investigado pelo Ministério Público. Enquanto era secretário, ele também era sócio de uma consultoria na área de saúde que tinha como clientes prefeituras comandadas pelo PT. Para não perder a pasta, Chioro passou para a mulher suas cotas na empresa. Para o Ministério da Educação, Dilma optou por outro nome de segundo escalão, o atual secretário executivo da pasta, José Henrique Paim. Assim, ela nomeará dois ministros que poderão ser facilmente trocados caso conquiste um novo mandato nas eleições deste ano. O plano é claro: as duas pastas estratégicas (e de orçamentos bilionários) continuam seguras nas mãos do PT.
Enquanto isso, os aliados esperam. A distribuição de postos importantes da máquina servirá de moeda de troca para garantir o apoio de legendas que estrelaram, nos últimos anos, cenas explícitas de fisiologismo e corrupção, como PR, PP e PTB, de cujos quadros saíram condenados no processo do mensalão. Mais uma vez, a reforma ministerial não será usada para melhorar o desempenho dos serviços prestados pelo governo, mas para consolidar a maior coligação eleitoral desde a redemocratização e facilitar a reeleição de Dilma. A presidente só não contemplou ainda os aliados porque queria ajustar primeiro os ponteiros dentro do PT. A engrenagem petista está azeitada. Agora, falta aplacar o apetite dos governistas, comprando no varejo partidário as peças necessárias para dar fôlego à campanha, inclusive as de má reputação — uma tarefa que também contará com a ajuda do escolado Lula.
Na reunião da semana passada, durante cinco horas Dilma e o ex-presidente trataram da montagem dos palanques estaduais e de como atuarão para conquistar o eleitorado. Lula assumirá as negociações com os partidos aliados nos estados, uma exigência dos parceiros do PT, principalmente do PMDB, que alegam que o presidente petista, Rui Falcão, não tem poder suficiente para fechar e honrar acordos. Além disso, os aliados querem que Lula peça voto para todos os integrantes da coligação. Em vários estados, o embate entre PT e PMDB está desenhado. Os peemedebistas querem que os petistas desistam de alguns páreos. Se isso não ocorrer, exigem que Lula e Dilma subam nos dois palanques. Ficou combinado que o ex-presidente viajará pelo Brasil para tentar resolver essas pendências. Nesse giro, também colocará a campanha na rua. Como Dilma ainda não pode pedir votos, Lula se encontrará com empresários, sindicalistas e beneficiários de programas sociais para defender a reeleição da petista. Para driblar a legislação eleitoral, o criador subirá no palanque antes da criatura.
Diante de tantas afinidades com a chefe, já é chamado de "O Dilmo da Dilma". Mas, ao contrário da presidente, não desperta admiração em Lula. Essa é uma das explicações para o fato de ele, economista de formação, nunca ter sido nomeado ministro da Fazenda pelo ex-presidente. Com tantos fatores jogando contra, seria natural que Mercadante não alcançasse postos de destaque na hierarquia da República. Mas ele conseguiu driblar as adversidades porque, nas palavras de assessores presidenciais, é estudioso, trabalhador e entrega resultados num governo que tem pouco a mostrar ao eleitorado. Além disso, sua presença no segundo gabinete mais importante do Planalto será crucial na batalha de Dilma por mais quatro anos no poder.
No governo Dilma, Mercadante foi ministro de Ciência e Tecnologia, de onde tocou o programa Ciência sem Fronteiras, que oferece bolsas para brasileiros em universidades no exterior, e se tornou um dos xodós da presidente. Depois, ele assumiu a Educação, onde desatou nós do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), até então motivo recorrente de dor de cabeça para o governo, e acelerou um programa de capacitação técnica de estudantes, o Pronatec.
Também participou da criação do Mais Médicos. Ou seja: ele conhece bem três das principais bandeiras que serão empunhadas por Dilma na corrida eleitoral e, devido a seu estilo pessoal, tem condições de cobrar resultados dos ministros bem no padrão Dilma de tolerância. A experiência política também pesou na escolha. Mercadante se destacou na CPI que investigou o então presidente Fernando Collor de Mello. Em 1994, foi candidato a vice na chapa encabeçada por Lula. Recentemente, mesmo à frente da Educação, passou a comandar negociações com partidos aliados, seja para votações no Congresso, seja para a reforma ministerial.
Com Mercadante no palácio, Dilma terá ao seu lado, durante a campanha, um profissional da política, conhecedor das agruras dos tempos de oposição e das infindáveis benesses do poder. Uma mudança e tanto, sobretudo num governo que conta com neófitos em política em pastas estratégicas. O novo ministro continuará a conversar com os aliados, esvaziando as atribuições de Ideli Salvatti, a atual ministra de Relações Institucionais. A Casa Civil tende a recuperar o status de superministério, como nos tempos de José Dirceu e Antonio Palocci. E Mercadante tende a reviver o sonho de concorrer à Presidência no futuro. Em 2006, ele disputou o governo de São Paulo. Essa empreitada era um degrau importante de seu projeto de chegar ao Planalto. O ministro não só perdeu aquela eleição, como protagonizou o chamado escândalo dos aloprados — petistas a serviço de sua campanha foram presos com 1,7 milhão de reais, dinheiro de origem desconhecida que seria usado para comprar um dossiê fajuto contra adversários.
Mercadante sempre negou o envolvimento na trapaça mal sucedida, e as suspeitas que pesavam contra ele não foram capazes de interromper sua trajetória política. O governo do PT, como se sabe, não vê problemas em nomear políticos condenados e presos ou se aliar a eles. Até por isso, o rigor com meros suspeitos de irregularidades beira zero. Na semana passada, Dilma também convidou o secretário de Saúde de São Bernardo do Campo (SP), Arthur Chioro, para assumir o Ministério da Saúde no lugar de Alexandre Padilha. candidato do PT ao governo de São Paulo.
Chioro é investigado pelo Ministério Público. Enquanto era secretário, ele também era sócio de uma consultoria na área de saúde que tinha como clientes prefeituras comandadas pelo PT. Para não perder a pasta, Chioro passou para a mulher suas cotas na empresa. Para o Ministério da Educação, Dilma optou por outro nome de segundo escalão, o atual secretário executivo da pasta, José Henrique Paim. Assim, ela nomeará dois ministros que poderão ser facilmente trocados caso conquiste um novo mandato nas eleições deste ano. O plano é claro: as duas pastas estratégicas (e de orçamentos bilionários) continuam seguras nas mãos do PT.
Enquanto isso, os aliados esperam. A distribuição de postos importantes da máquina servirá de moeda de troca para garantir o apoio de legendas que estrelaram, nos últimos anos, cenas explícitas de fisiologismo e corrupção, como PR, PP e PTB, de cujos quadros saíram condenados no processo do mensalão. Mais uma vez, a reforma ministerial não será usada para melhorar o desempenho dos serviços prestados pelo governo, mas para consolidar a maior coligação eleitoral desde a redemocratização e facilitar a reeleição de Dilma. A presidente só não contemplou ainda os aliados porque queria ajustar primeiro os ponteiros dentro do PT. A engrenagem petista está azeitada. Agora, falta aplacar o apetite dos governistas, comprando no varejo partidário as peças necessárias para dar fôlego à campanha, inclusive as de má reputação — uma tarefa que também contará com a ajuda do escolado Lula.
Na reunião da semana passada, durante cinco horas Dilma e o ex-presidente trataram da montagem dos palanques estaduais e de como atuarão para conquistar o eleitorado. Lula assumirá as negociações com os partidos aliados nos estados, uma exigência dos parceiros do PT, principalmente do PMDB, que alegam que o presidente petista, Rui Falcão, não tem poder suficiente para fechar e honrar acordos. Além disso, os aliados querem que Lula peça voto para todos os integrantes da coligação. Em vários estados, o embate entre PT e PMDB está desenhado. Os peemedebistas querem que os petistas desistam de alguns páreos. Se isso não ocorrer, exigem que Lula e Dilma subam nos dois palanques. Ficou combinado que o ex-presidente viajará pelo Brasil para tentar resolver essas pendências. Nesse giro, também colocará a campanha na rua. Como Dilma ainda não pode pedir votos, Lula se encontrará com empresários, sindicalistas e beneficiários de programas sociais para defender a reeleição da petista. Para driblar a legislação eleitoral, o criador subirá no palanque antes da criatura.
07 de fevereiro de 2014
Texto de Daniel Pereira
Fonte: Veja
Fonte: Veja
*Alteramos o título e o subtitulo, acrescentamos foto e legenda à publicação original