O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é um político profissional, que já sofreu acusações no passado, quando comandou a Telerj no governo Collor e quando presidiu a Companhia Estadual de Habitação, que tinha status de Secretaria de Estado durante o governo de Anthony Garotinho, no Estado do Rio de Janeiro.
Essas acusações foram superadas. De lá para cá, sua carreira foi lavada a seco e não havia mais manchas. Até que, no ano passado, o agente federal Jaime Careca, que trabalhava para o doleiro Alberto Youssef, deu declaração dizendo ter entregado propina em dinheiro ao deputado fluminense. Acontece, porém, que o endereço indicado por ele não era a casa de Eduardo Cunha, mas a residência do advogado de outro deputado, Jorge Picciani, presidente do PMDB estadual. Em Direito isso se chama erro essencial de pessoa.
Ficou uma mancha leve, que facilmente seria biodegradável, devido à falta de consistência da prova.
OUTRA ACUSAÇÃO
Mas logo depois outro depoimento apontava que Cunha estaria metido em extorsão a uma multinacional, através de um pedido de informações feito pela então deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), muito ligada a ele. Esta mancha era bem maior, mas ainda poder ser lavável, se o procurador-geral Rodrigo Janot não tivesse mandado fazer busca e apreensão na Câmara e no gabinete de Cunha, e a mancha aumentou ainda mais.
O material apreendido foi submetido a perícia, o procurador deu explosiva entrevista dizendo ter comprovação de que Cunha foi o verdadeiro autor do pedido de informações da deputada Solange, porém jamais apresentou essas provas, ficou uma acusação meio esquisita, mas manchou muito a imagem de Eduardo Cunha.
CAMARGO SE LEMBROU…
Recentemente, o delator Júlio Camargo, que já havia prestado uma série de depoimentos, de repente se lembrou de ter dado a Cunha uma propina de US$ 5 milhões, sujando de petrodólares a imagem de Cunha. E agora sua advogada Beatriz Catta Preta, que estava desaparecida, subitamente também entra em cena para se dizer ameaçada, a ponto de abandonar os clientes milionários e a própria profissão, depois de já ter embolsado os honorários, é claro, atribui tudo isso a Cunha, embora admita que nada tem contra ele. E, por fim, assinala que Camargo não havia falado antes, por medo de Cunha.
Como se dizia antigamente, é uma história rocambolesca, com mais furos do que as novelas da Globo, que vivem copiando a criatividade dos roteiros de Hollywood, mas sempre o fazem mal e porcamente e jamais reconhecem que estão plagiando, por achar que ninguém perceberá.
CONTRADIÇÕES
O fato é que as contradições da apresentação da bela Beatriz Catta Preta foram muitas, já até enumeramos aqui na Tribuna da Internet. Agora surgem outras:
1) O delator Camargo tinha medo de Cunha no ano passado, quando o parlamentar não tinha poder algum, e não teve coragem de denunciá-lo. Mas agora, quando Cunha realmente tornou-se poderoso, o delator perdeu o medo e investiu contra ele, sem apresentar provas materiais. É estranho, não há dúvida.
2) Também se deve estranhar o fato de Beatriz Catta Preta ter abandonado os clientes antes de Camargo mudar os depoimentos e acusar Cunha. Irresponsavelmente, deixou o delator sozinho, num momento crucial para ele, e foi curtir férias com as crianças em Miami. Mas que advogada é esta?
3) Na entrevista exclusiva ao Jornal Nacional, a advogada disse estar recebendo “ameaças cifradas” e “intimidações”, mas não soube citar nenhuma delas. Somente se referiu à pressão de deputados da CPI da Petrobras, sem citar nomes, como se fosse possível considerar como grave ameaça uma simples convocação para depor, vejam a que ponto de distorção chegamos. E o pior é que a convocação dela pela CPI se deu antes de o delator Camargo ter mudado sua versão. Ou seja, uma coisa nada tem a ver com a outra.
GRANDE ADVOGADA?
Tudo isso indica que Beatriz Catta Preta não faz jus à fama de grande advogada. Se fosse uma profissional de primeira, saberia que quando uma pessoa recebe graves ameaças, a ponto de fazê-la desistir da profissão, sempre faz as denúncias nestes termos, para que a Polícia possa investigar:
“Recebi várias ligações, dizendo que iam fazer isso ou aquilo”; “Deixaram no escritório três bilhetes ameaçando minha família ”. “Me mandaram e-mails ameaçadores , vindos de uma lan-house” e por aí a fora.
No caso de Beatriz Catta Preta, suas “revelações” sobre ameaça foram tão inconsistentes que o título da reportagem de O Globo foi “Advogada se diz ameaçada por CPI”. Foi o máximo de ilação que os editores do jornal conseguiram, porque nunca existiu outra nenhuma outra “ameaça”.
Catta Preta tornou-se uma personagem à procura de um autor, ao estilo do humor de Pirandello.
01 de agosto de 2015
Carlos Newton