Logo após rompermos este ano, parece-me que a nossa atividade econômica começou a fraquejar, esboçando-se uma possível mudança no cenário econômico. Neste primeiro trimestre, apresentamos um crescimento de 0,4% em relação ao último trimestre do ano passado, feitos os ajustes sazonais diante de uma expectativa de 0,3% o que de certa forma, não podemos considerá-lo um crescimento, mas quase uma estabilidade.
No final do ano passado, as projeções iniciais de crescimento para este exercício fixavam-se em torno de 3%. Hoje, admite-se um desempenho inferior a 2%, logicamente que dependente das urnas de outubro, da escolha do futuro Presidente, passando necessariamente por um Congresso consciente e altamente comprometido com as reais necessidades de mudanças que os brasileiros pacientemente vêm aguardando.
No último trimestre do ano passado, a economia brasileira começava a dar sinais de que a retração passaria a fazer parte de um trágico passado que aparentemente conseguimos superar, mas a sociedade ainda se encontra absolutamente abalada e tolerando as suas terríveis consequências. A princípio, diante das últimas projeções divulgadas, ela não está demonstrando a recuperação que foi prevista pelos analistas para 2018.
Como decorrência, o consumo das famílias, que representa 60% do PIB (Produto Interno Bruto), ainda não está reagindo, em virtude do desemprego mais elevado do que se imaginava. A expectativa era de que ele apresentasse um melhor desempenho desde o início do ano, diante do fato concreto de que o endividamento das mesmas caiu durante os últimos trimestres de 2017. Todavia, o endividamento imobiliário continua elevado, o que limita o espaço relativo ao orçamento para que as famílias retomem o consumo com maior voracidade.
O comportamento sistemático da queda da inflação vem realmente refletindo a fragilidade da nossa atividade econômica. Lembro-me de que no começo do ano, a inflação baixa era um claro indicativo de que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) poderia encerrar 2018 variando, outra vez, abaixo da meta estabelecida pelo Banco Central (BC).
Diante da vulnerabilidade configurada na atividade econômica e os aspectos declinantes na trajetória da inflação, as sucessivas flexibilizações monetárias foram tecnicamente perfeitas e indispensáveis. Em função disso, aguardava-se que o Copom (Comitê de Política Monetária) prosseguisse reduzindo os juros. As declarações do presidente do BC e a própria Ata da reunião realizada pelo Comitê em março passado, tranquilamente, apontavam nessa direção.
Por isso mesmo, os analistas do mercado estavam praticamente convictos de que no último encontro do Comitê, realizado há dias atrás, a taxa Selic (taxa básica de juros da economia) seria mais uma vez cortada em 0,25 ponto percentual, o que efetivamente não ocorreu, causando, repentinamente, uma notável inquietação no mercado financeiro, já totalmente digerida por ele e pelos agentes econômicos.
Essa inesperada deliberação do Copom aconteceu quando já estávamos praticamente envoltos num contexto de grandes mudanças no ambiente da economia mundial. A cada dia que passa, as evidências vão se fortalecendo de que o Fed (Banco Central dos EUA) deverá continuar elevando a taxa de juros norte-americana nos próximos trimestres, diante da indiscutível recuperação da economia do país. Em função disso, a remuneração dos títulos do tesouro norte-americano vem sofrendo contínuas altas, provocando um significativo reposicionamento dos investimentos globais.
A consequência disso, nada mais é do que o movimento de depreciação das moedas, o que vem ocasionando o fortalecimento inevitável do dólar no âmbito mundial. O maior impacto, sem dúvida, tem sido sobre as moedas dos países emergentes como o nosso, as quais, nas últimas semanas, vêm registrando acentuadas depreciações. Exatamente por isso é que vários bancos centrais dessas economias subiram suas taxas de juros, na tentativa de refrear a desvalorização das suas respectivas moedas.
Aliado a isso, o preço internacional do petróleo, nos últimos meses, tem avançando consideravelmente. Essa situação deverá impor pressões inflacionárias adicionais na economia internacional, o que fatalmente deverá contribuir ainda mais com o movimento de aperto monetário pelos bancos centrais ao redor do mundo.
Obviamente temos que considerar que as condições econômicas no país são bem diferentes daquelas conferidas a outras economias. Como já foi dito, a economia brasileira segue caminhando lentamente e, em determinados momentos, patinando, mas com a inflação ainda distante da meta prevista. Parece-me que esse quadro, por si só, seria bastante favorável para que a nossa autoridade monetária aprovasse mais um novo corte dos juros.
Porém, no balanço dos riscos examinado pelo Copom, essa agitação externa foi amplamente considerada, vindo a sobressair-se sobre o contexto do ambiente econômico doméstico. Essa avaliação deve-se ao fato de que o Real segue o exemplo recente de outras moedas de economias emergentes que foram igualmente levadas a uma inevitável depreciação.
É importante lembrar que o BC fomentou sucessivos cortes na meta da taxa da Selic desde outubro de 2016, deixando-a no menor patamar histórico desde a implantação do Plano Real, em 1994. Naturalmente, os resultados positivos desses cortes ainda estão por vir e, seguramente, poderão acontecer em maior simetria nos próximos trimestres.
Vale ressaltar, também, que a perigosíssima situação fiscal preterida pelo governo, apesar de ter deixado de ser uma questão eminentemente conjuntural de curto prazo, continuará sendo, no longo prazo, um vultoso problema a ser equacionado. Se por acaso esse tema não está presente no debate atual, certamente ganhará força total num futuro bem próximo.
Por fim, rompe a greve dos caminhoneiros, que foram capazes de tornar reféns o governo e toda a sociedade brasileira, instalando o caos no país, aos gritos de “Fora Temer”. Tudo parou, houve queda aterrorizante nas vendas, a renda foi estancada, o faturamento de todos os setores da economia tornou-se achatado e a arrecadação de impostos também mergulhou no abismo. As medidas apresentadas para tentar por fim ao confronto, como redução de tributos, subsídios e reserva de mercado deverão agravar o rombo nas contas públicas que já vinha sendo insustentável.
Evidentemente tudo isso deixará sequelas na inflação, intensificando sua trajetória de alta já esperada para os próximos meses. Na atividade econômica, o ritmo lento e gradual que vinha se apresentando na sua recuperação pode ter sido interrompido, anunciando o precipício. Em meio à queda na confiança nacional, o medo soma-se às incertezas dos brasileiros. Assim, enquanto o Brasil segue em direção a uma eleição crucial, o “apocalipse da greve” revela o quanto o contrato social da Nação está fragmentado.
31 de maio de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS
No final do ano passado, as projeções iniciais de crescimento para este exercício fixavam-se em torno de 3%. Hoje, admite-se um desempenho inferior a 2%, logicamente que dependente das urnas de outubro, da escolha do futuro Presidente, passando necessariamente por um Congresso consciente e altamente comprometido com as reais necessidades de mudanças que os brasileiros pacientemente vêm aguardando.
No último trimestre do ano passado, a economia brasileira começava a dar sinais de que a retração passaria a fazer parte de um trágico passado que aparentemente conseguimos superar, mas a sociedade ainda se encontra absolutamente abalada e tolerando as suas terríveis consequências. A princípio, diante das últimas projeções divulgadas, ela não está demonstrando a recuperação que foi prevista pelos analistas para 2018.
Como decorrência, o consumo das famílias, que representa 60% do PIB (Produto Interno Bruto), ainda não está reagindo, em virtude do desemprego mais elevado do que se imaginava. A expectativa era de que ele apresentasse um melhor desempenho desde o início do ano, diante do fato concreto de que o endividamento das mesmas caiu durante os últimos trimestres de 2017. Todavia, o endividamento imobiliário continua elevado, o que limita o espaço relativo ao orçamento para que as famílias retomem o consumo com maior voracidade.
O comportamento sistemático da queda da inflação vem realmente refletindo a fragilidade da nossa atividade econômica. Lembro-me de que no começo do ano, a inflação baixa era um claro indicativo de que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) poderia encerrar 2018 variando, outra vez, abaixo da meta estabelecida pelo Banco Central (BC).
Diante da vulnerabilidade configurada na atividade econômica e os aspectos declinantes na trajetória da inflação, as sucessivas flexibilizações monetárias foram tecnicamente perfeitas e indispensáveis. Em função disso, aguardava-se que o Copom (Comitê de Política Monetária) prosseguisse reduzindo os juros. As declarações do presidente do BC e a própria Ata da reunião realizada pelo Comitê em março passado, tranquilamente, apontavam nessa direção.
Por isso mesmo, os analistas do mercado estavam praticamente convictos de que no último encontro do Comitê, realizado há dias atrás, a taxa Selic (taxa básica de juros da economia) seria mais uma vez cortada em 0,25 ponto percentual, o que efetivamente não ocorreu, causando, repentinamente, uma notável inquietação no mercado financeiro, já totalmente digerida por ele e pelos agentes econômicos.
Essa inesperada deliberação do Copom aconteceu quando já estávamos praticamente envoltos num contexto de grandes mudanças no ambiente da economia mundial. A cada dia que passa, as evidências vão se fortalecendo de que o Fed (Banco Central dos EUA) deverá continuar elevando a taxa de juros norte-americana nos próximos trimestres, diante da indiscutível recuperação da economia do país. Em função disso, a remuneração dos títulos do tesouro norte-americano vem sofrendo contínuas altas, provocando um significativo reposicionamento dos investimentos globais.
A consequência disso, nada mais é do que o movimento de depreciação das moedas, o que vem ocasionando o fortalecimento inevitável do dólar no âmbito mundial. O maior impacto, sem dúvida, tem sido sobre as moedas dos países emergentes como o nosso, as quais, nas últimas semanas, vêm registrando acentuadas depreciações. Exatamente por isso é que vários bancos centrais dessas economias subiram suas taxas de juros, na tentativa de refrear a desvalorização das suas respectivas moedas.
Aliado a isso, o preço internacional do petróleo, nos últimos meses, tem avançando consideravelmente. Essa situação deverá impor pressões inflacionárias adicionais na economia internacional, o que fatalmente deverá contribuir ainda mais com o movimento de aperto monetário pelos bancos centrais ao redor do mundo.
Obviamente temos que considerar que as condições econômicas no país são bem diferentes daquelas conferidas a outras economias. Como já foi dito, a economia brasileira segue caminhando lentamente e, em determinados momentos, patinando, mas com a inflação ainda distante da meta prevista. Parece-me que esse quadro, por si só, seria bastante favorável para que a nossa autoridade monetária aprovasse mais um novo corte dos juros.
Porém, no balanço dos riscos examinado pelo Copom, essa agitação externa foi amplamente considerada, vindo a sobressair-se sobre o contexto do ambiente econômico doméstico. Essa avaliação deve-se ao fato de que o Real segue o exemplo recente de outras moedas de economias emergentes que foram igualmente levadas a uma inevitável depreciação.
É importante lembrar que o BC fomentou sucessivos cortes na meta da taxa da Selic desde outubro de 2016, deixando-a no menor patamar histórico desde a implantação do Plano Real, em 1994. Naturalmente, os resultados positivos desses cortes ainda estão por vir e, seguramente, poderão acontecer em maior simetria nos próximos trimestres.
Vale ressaltar, também, que a perigosíssima situação fiscal preterida pelo governo, apesar de ter deixado de ser uma questão eminentemente conjuntural de curto prazo, continuará sendo, no longo prazo, um vultoso problema a ser equacionado. Se por acaso esse tema não está presente no debate atual, certamente ganhará força total num futuro bem próximo.
Por fim, rompe a greve dos caminhoneiros, que foram capazes de tornar reféns o governo e toda a sociedade brasileira, instalando o caos no país, aos gritos de “Fora Temer”. Tudo parou, houve queda aterrorizante nas vendas, a renda foi estancada, o faturamento de todos os setores da economia tornou-se achatado e a arrecadação de impostos também mergulhou no abismo. As medidas apresentadas para tentar por fim ao confronto, como redução de tributos, subsídios e reserva de mercado deverão agravar o rombo nas contas públicas que já vinha sendo insustentável.
Evidentemente tudo isso deixará sequelas na inflação, intensificando sua trajetória de alta já esperada para os próximos meses. Na atividade econômica, o ritmo lento e gradual que vinha se apresentando na sua recuperação pode ter sido interrompido, anunciando o precipício. Em meio à queda na confiança nacional, o medo soma-se às incertezas dos brasileiros. Assim, enquanto o Brasil segue em direção a uma eleição crucial, o “apocalipse da greve” revela o quanto o contrato social da Nação está fragmentado.
31 de maio de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS