"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

O CALCANHAR DE AQUILES DA DEMOCRACIA



Hamilton

Oito capítulos adiante da última visita (https://wordpress.com/post/vespeiro.com/28968) volto ao “Alexander Hamilton” de Ron Chernow, já em outros Estados Unidos: o da primeira disputa pelo poder na nova república democrática, periclitante ainda e tateando no escuro.

Nestes a condição humana volta a impor-se, feroz como sempre, sobre aquele hiato de suspensão revolucionária quase milagroso que, no frescor da juventude, deslocou os gênios complementares de Alexander Hamilton e James Madison, na flor dos seus 20 e poucos anos, suficientemente para fora da curva para fazer com que, pondo sob rigorosa quarentena as vaidades e ambições de poder dos convencionais reunidos na Filadélfia, conseguissem fazer nascer, sob o compromisso solene de segredo das contribuições de cada um ao projeto que deveria ser de autoria anônima, a 1a constituição democrática da história das sociedades humanas.

George Washington fora eleito presidente. Alexander Hamilton, seu braço direito na Guerra de Independência, nomeado secretário do Tesouro. Thomas Jefferson, o autor da Declaração de Independência, depois de longa estadia em Paris, recebera o cargo de secretário de Estado (ministro do Exterior). James Madison, ex-colega, amigo de Hamilton e co-autor dos Artigos Federalistas, era o líder do governo no Congresso.

E então, a única ofensa insuportável começa a cobrar seu preço…

Jefferson

O cargo de Jefferson, naquele momento, é pouco mais que decorativo. Onde tudo está por fazer é na seara de Hamilton. E ele tem de sobra a capacidade e o talento que se requer para tanto. É preciso criar um sistema tributário para financiar o governo central. Estruturar um Banco Central para consolidar a divida dos estados e gerir a divida externa acumulada na Guerra de Independência. E, ainda, lançar uma estratégia nacional para ancorar a economia de um país cada vez mais urbano (no Norte) nas manufaturas e não mais apenas na produção agrícola escravocrata (do Sul).

Hamilton é o centro de tudo. E isso arranca de sua toca o que Caetano Veloso chamaria, séculos depois, “o monstro verde do ciúme”.

A Inglaterra é, então, o centro do mundo. Tinha inventado os fundamentos básicos da economia moderna (privada). A força dos contratos. Ensaiava a revolução industrial. Hamilton vai beber onde há água. Lê Adam Smith. Como todo sujeito inteligente, adota os fundamentos provados. Financia e organiza a espionagem sistemática e a cópia dos segredos das manufaturas têxteis inglesas. Os Estados Unidos de então – como as chinas de hoje – decolam … e Hamilton ganha o ódio eterno de Thomas Jefferson.

Para unir os estados e o congresso em torno das leis que precisa para sua obra, Hamilton patrocina a criação da Gazette of the United States, quase um diário oficial onde publica os documentos das instituições que quer criar e argumenta em sua defesa. Mas com o financiamento do governo pela emissão de títulos nasce também a especulação com esses títulos. E estas e outras importações da Inglaterra dão o pretexto que Jefferson precisava para atacar o rival: “É um monarquista enrustido! Quer acabar com a república”.
 
Madison

O foco de Jefferson é intrigar Madison contra Hamilton. Bloquear suas ações no congresso. Washington resiste. Tenta a todo custo apaziguar as partes. Diz a Jefferson que “não há, no país inteiro, 10 pessoas dignas de ter sua opinião levada em consideração que acreditam no ‘golpe monarquista’ de Hamilton”. Jefferson contrata então o sub-literato francês Philipe Freneau como “tradutor” do Departamento de Estado com salário de US$ 250 por ano. E logo ele lança a National Gazette para falar por seu patrono.

E a guerra midiática se instala, desenfreada.

“Esses jornais eram curtos nos fatos e longos na opinião. Difamatórios e imprecisos … Não havia nenhum código de conduta para circunscrever o comportamento da imprensa (que só surgiria na virada do século 19 para o 20). A própria verdade se torna suspeita quando publicada nesses veículos poluídos …”

Hamilton resiste o quanto pode mas o bombardeio incessante acaba por arrastá-lo. O factóide se torna fato. “Agora algo compulsivo e incontrolável pautava o seu comportamento público. Tornou-se um cativo de suas emoções. Tinha de responder aos ataques. E o fazia com todo o seu formidável arsenal de armas retóricas…”

É dessa briga que vai nascer o bi-partidarismo americano – os Federalistas, futuros democratas, com Hamilton, e os republicanos com Jefferson e Madison, terceiro e quarto presidentes dos Estados Unidos (Hamilton morreria nesse meio tempo).
 
Washington

Atravessar, ontem à noite, as minúcias dessa mixórdia que Ron Chernow reconstitui com a impiedosa competência de sempre, tendo partido de três personagens da estatura de Alexandre Hamilton, Thomas Jefferson e James Madison foi uma experiência triste e carregada de ambiguidades. De repente lá estava o Brasil do lulismo e do bolsonarismo, com sua imprensa doente, senão no ponto de partida, no ponto de chegada.

Não estaria afinal, a democracia, mesmo acima da realidade da condição humana? O espaço para a competição permanente pelo poder e para as disputas de vaidade que ela abre e a imprensa preenche desde o 1º dia de sua criação não seriam o calcanhar de Aquiles a condenar irremediavelmente o novo sistema?

Sem duvida são. E como num jogo de xadrez, a arte de enlouquecer as vítimas dessas guerras se vem sofisticando com a cientifização da “guerra psicológica adversa” dos soviéticos ou a elevação do cinismo ao estado da arte com Antonio Gramsci…

Mas então ocorreu-me que as alternativas, como lembrou Winston Churchill, são todas muito piores.

E para não ficar com o surrado “o preço da liberdade é a eterna vigilância“, meti, então, a cabeça no travesseiro bem caseiro, com o nosso bom Guimarães Rosa: “Viver é mesmo muito perigoso”.




23 de abril de 2021
vespeiro

FINALMENTE! ELES ENCONTRARAM UM CANDIDATO CAPAZ DE DERROTAR BOLSONARO

 

ESTAMOS NUMA GUERRA DE INFORMAÇÕES!!

 

VAMOS FECHAR TUDO! (IRONIA)

 

MEU DEUS! ACONTECEU!! MUDANÇA NA LEI DE PROTEÇÃO DE INFECÇÃO!

 

MEU DEUS... ALEMANHA INDO AO COLAPSO!!

 

AGORA! LULA FOGE ÀS PRESSAS. PT ACABADO. BRASIL EM FESTA. FIM DA FARRA DOS PETISTAS!

 

GENERAL VAZA AÇÃO 142 DO EXÉRCITO CONTRA ABUSOS DO STF! ACABOU A PACIÊNCIA! A HORA CHEGOU!

 

BOLSONARO ABORDA 'FUGA' DE INFILTRADOS EM MEIO A MÉDICOS CUBANOS E DETONA: "ESSE É O PT!"

 

AUGUSTO NUNES: LEWANDOWSKI NÃO VOTOU, ELE TENTOU JUSTIFICAR A CORRUPÇÃO