"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

SEM MEDO DE SER FELIZ

Talvez por uma visão distorcida da lealdade ideológica, a militância petista vinha resistindo, obsessivamente, a encarar os fatos. De uma couraça impermeável, preferia acreditar nas palavras de seus dirigentes, na versão fantasiosa de que a Operação Lava-Jato era uma trama golpista impetrada por uma direita ávida em destruir as “conquistas sociais” promovidas pelos governos petistas.

Através de um mecanismo mental difícil de entender, justificava o injustificável. Fechava os olhos diante da realidade para dar sobrevida à sua utopia. Nesse contorcionismo, Delúbio Soares, João Vacari e José Dirceu foram saudados como heróis, como cumpridores de uma missão partidária.

A argamassa dessa (im)postura era a de que tudo fora feito pelo bem de uma causa nobre e generosa, como se isso representasse uma licença para roubar. Em nome do sujeito coletivo, os quadros petistas estavam previamente autorizados a praticar toda sorte de barbaridade.

Registre-se: quem, ao longo do tempo, ousou discordar desse padrão ético simplesmente foi esvurmado, pois, diziam, “não há razão contra o partido”.

Assim a base do PT aceitou pacificamente a tese fantasiosa da cúpula e dos governos petistas, segundo a qual a culpa da roubalheira, do assalto aos cofres públicos, é do modelo político, terceirizando as falcatruas praticadas. A base petista não apenas legitimou as ações de sua cúpula. Foi além. Utilizou esse truque na disputa presidencial e nas redes sociais, agora, com o objetivo de desqualificar a Polícia Federal, o juiz Sérgio Moro e o Ministério Público.

Parodiando o grande Cartola: a queda de José Dirceu, ou melhor, sua segunda prisão, simplesmente triturou, reduziu a pó as ilusões de uma militância que ajudou a cavar o próprio abismo, no qual o PT está em queda livre.

Mais precisamente, deixou o rei nu. Expôs as vísceras do PT e o odor pútrido que delas exala. Muito provavelmente, milhares e milhares de militantes petistas caíram na catatonia, em crise ideológica e de identidade ao sentir que ruiu por terra a cantilena de que tudo foi feito em nome da causa.

Roubou-se sim para o partido e para os aliados. Mas também para os bolsos de muitos, para o enriquecimento pessoal. Certamente José Dirceu não foi o único dirigente petista a se apropriar de recursos públicos para usufruir das delícias da vida burguesa. É o caso mais emblemático, mas não é exceção.

Levará algum tempo para os que escolheram a cegueira absorvam a perda das ilusões, vislumbrem alguma luz e se incorporem ao novo clima que vai contagiando o país de ponta a ponta. Mas esses também virão. Sem medo.

Sim, a operação Lava-Jato está fazendo renascer as esperanças. Está pintando no horizonte um Estado moderno e mais republicano, sem espaço para o patrimonialismo e a impunidade.

Apesar dos pesares, há hoje um astral mais para cima do que o de 15 de março, quando havia uma sombra de incerteza sobre o desempenho das nossas instituições.

As manifestações de 16 de agosto devem ocorrer em um clima de mais confiança, de otimismo, quanto à possibilidade de o Brasil virar a triste página escrita pelo Partido dos Trabalhadores nos últimos doze anos.

05 de agosto de 2015
Hubert Alqueres

TEMER RECONHECE SITUAÇÃO GRAVE E CONCLAMA CONGRESSO A UNIFICAR O PAÍS

VICE VÊ 'CRISE POLÍTICA SE ENSAIANDO' E PEDE AJUDA AO CONGRESSO
VICE VÊ 'CRISE POLÍTICA SE ENSAIANDO' E PEDE AJUDA AO CONGRESSO. FOTO: ROMÉRIO CUNHA


Responsável pela articulação política do Palácio do Planalto, o vice-presidente Michel Temer fez uma declaração à imprensa nesta quarta-feira, 05, conclamando o Congresso Nacional a unificar o País. Diante do agravamento da crise econômica e política, Temer reconheceu que o cenário atual é "grave", mas, em uma fala emocionada, disse que "é preciso pensar no País acima dos partidos, acima do governo" e que não há como "trabalhar separadamente".

Ao longo do dia, Temer manteve uma série de reuniões para tratar da pauta de votações no Congresso Nacional, em um esforço para desarmar uma série de "bombas fiscais" que, caso sejam aprovadas provocam efeitos sobre as contas públicas.

Pela manhã, o vice-presidente recebeu líderes da base no Senado no Palácio do Jaburu; depois conversou no Planalto com líderes da base na Câmara; e recebeu, na sequência, os ministros da Fazenda, Joaquim Levy; da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, da Advocacia-Geral da União, Luís Inácio Adams; e da Justiça, José Eduardo Cardozo, em seu gabinete.

"Eu queria fazer uma declaração precisamente em face das várias autoridades do Legislativo e do Executivo que passaram aqui pelo meu gabinete. A declaração que eu quero fazer, na verdade, aos vários setores da sociedade brasileira", iniciou o vice-presidente, destacando que se dirigia particularmente aos partidos políticos e aos "companheiros do Congresso Nacional".

"Na pauta dos valores políticos temos, muitas vezes, a ideia do partido político como valor, do governo como valor e do Brasil como um valor mas nessa pauta de valores, o mais importante é o valor Brasil, o valor País e estamos pleiteando exata e precisamente que todos se dediquem a resolver os problemas do País. Não vamos ignorar que a situação é razoavelmente grave, não tenho dúvidas de que é grave porque há uma crise política se ensaiando, uma crise econômica que está precisando ser ajustada mas, para tanto, é preciso contar com o Congresso Nacional, com os vários setores da nacionalidade brasileira."

Agravamento

Temer disse que a volta do recesso parlamentar vem acompanhada de um agravamento da crise e fez um apelo - com a voz embargada - , em "nome do Brasil, do empresariado, dos trabalhadores".

"É preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos e fazer este apelo e eu estou tomando esta liberdade de fazer este pedido porque, caso contrário, podemos entrar numa crise desagradável para o País. Eu sei que os brasileiros não contam com isso. Os brasileiros querem que o Brasil continue na trilha do desenvolvimento e, por isso que, mais uma vez, reitero que é preciso pensar no País acima dos partidos, acima do governo e acima de toda e qualquer instituição. Se o País for bem, o povo irá bem. É o apelo que eu faço aos brasileiros e às instituições no Congresso Nacional."

Prejuízos

Na avaliação do vice-presidente, é preciso que os Poderes trabalhem junto com "tranquilidade, moderação e harmonia". A fala de Temer ocorre em um momento em que o Palácio do Planalto é alvo de uma nova série de retaliações promovidas pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

"Há uma certa preocupação, não posso negar isso. Daí a razão dessa espécie de convocação no sentido de que todos trabalhemos juntos. Não há como separar, porque a separação envolve prejuízos para o País", destacou.

"Há várias questões que estão sendo levantadas e que preocupam, naturalmente, todos os brasileiros. Temos de ter atuação que repercuta positivamente no exterior. Se não tomarmos cuidado, nossa ação pode repercutir negativamente no exterior", completou.

Questionado por jornalistas sobre quem seria capaz de unificar o País, Temer foi categórico: "O Congresso Nacional." Para o vice-presidente, tanto a pauta de votações da Câmara quanto a do Senado trazem preocupações ao Palácio do Planalto. (AE)


05 de agosto de 2015
diário do poder

PLANALTO E PT SE RECOLHEM E DEIXAM ZÉ DIRCDEU SOZINHO



Dirceu e a imagem do que restou de um mito do PT
O Palácio do Planalto e o PT lavaram as mãos após a prisão do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu para tentar evitar a contaminação das próprias vestes. Nem o partido nem o governo defenderão o ex-homem forte petista, preso na 17ª Fase da Operação Lava-Jato. “Não podemos ficar choramingando pelos cantos, precisamos governar”, disse uma fonte graduada palaciana. Já a Executiva do PT reuniu-se por seis horas em Brasília para divulgar uma nota na qual sequer cita o ex-ministro, que foi transferido ontem para Curitiba, onde estão os demais presos da Lava-Jato.
“O PT é um partido diverso, com várias lideranças. Quando fomos procurados no momento da prisão dele, fizemos uma nota para nos defender e deixar claro que não recebemos nenhum tipo de verba ilegal. O Dirceu precisa se defender das acusações que estão sendo feitas contra ele. O ônus da prova é de quem acusa”, esquivou-se o presidente nacional do PT, Rui Falcão.
Lavar as mãos não significa que a prisão de Dirceu não tenha abalado governistas e petistas. Pior. Foi uma bomba que explodiu no momento em que ambos ensaiavam uma reação. Dirceu preso pela segunda vez em menos de dois anos é algo por demais simbólico. E uma nova ameaça está no ar: o início das delações premiadas do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque.
AFUNDANDO O PT
Segundo apurou o Correio, as duas ações, somadas, afundam de vez o PT na crise do petrolão. Não que o partido já não estivesse enlameado o suficiente. Mas, até o momento, as delações e informações contra a legenda partiram dos empresários e lobistas que pagaram as propinas em troca dos contratos com a estatal.
Duque será o primeiro homem organicamente ligado ao PT a fechar uma delação premiada. E, mesmo com o ex-tesoureiro da legenda João Vaccari Neto preso, Dirceu tem uma dimensão de troféu político muito maior. Tanto que chamou a atenção entre os petistas a mudança no patamar das entrevistas dos procuradores de Curitiba. “Dirceu deixou de ser alguém que teria recebido propina para o ‘idealizador’ do esquema”, apontou um integrante da executiva petista.
Antes de o PT decidir se calar, o líder do partido na Câmara, Sibá Machado (AC), esbravejou, na segunda-feira, contra a prisão de Dirceu e a atuação do juiz Sérgio Moro. “É uma perseguição declarada ao PT. O juiz Sérgio Moro trabalha com suposições, vai à imprensa, faz show. E a Polícia Federal acompanhando esse show. Isso está virando uma aberração ao Estado de direito. Está caminhando para um golpe político da caneta. Moro trabalha para institucionalizar um golpe e para prejudicar o PT”, reclamou ele.

05 de agosto de 2015

PT SE DIZ PERSEGUIDO PELAS ELITES, PELA MÍDIA E PELA OPOSIÇÃO



Foto: Lula Marques/ agência PT
Presidente do PT culpa “os suspeitos de sempre”
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, defendeu o combate à corrupção, mas fez críticas à condução das investigações da Operação Lava Jato, afirmando que o partido está sendo prejudicado no processo. “O combate implacável à corrupção deve continuar, mas não de forma seletiva, sem o espetáculo midiático, não com a inversão do ônus da prova, não com prisões preventivas sendo objeto de coação para forçar delação”, disse Falcão.
Em entrevista coletiva à imprensa na sede do partido em Brasília, Falcão explicou que o PT sofre processo de “criminalização” por setores da sociedade. “Prossegue a escalada dirigida por setores conservadores, pela mídia monopolizada, por alguns partidos da oposição, tentando, como sempre, criminalizar nosso partido, de modo a fragilizar o governo da presidenta Dilma e atingir a popularidade do [ex-] presidente Lula.”
As declarações do presidente do PT ocorreram um dia após a prisão de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil e ex-presidente do próprio PT, no âmbito da Lava Jato. Falcão acrescentou que não há culpados até que sejam apresentadas provas.
SÃO INOCENTES
“Não estamos abandonando nenhum companheiro.  Mas, independente disso, não se deve presumir a culpa. Para mim, qualquer pessoa que seja acusada, não só o Zé Dirceu, é inocente até que se prove o contrário.”
As declarações de Falcão vão ao encontro de uma nota divulgada hoje à tarde pelo partido.
“Se o princípio da presunção da inocência é violado, se o espetáculo jurídico-político-midiático se sobrepõe à necessária produção de provas […], se prisões preventivas sem fundamento são feitas e prolongadas para constranger psicologicamente e induzir denúncias […], não é a corrupção que está sendo extirpada. É um estado de exceção sendo gestado em afronta à Constituição e à democracia”, diz um trecho do comunicado.
A nota também faz críticas ao ataque contra o Instituto Lula, atingido por um artefato explosivo arremessado de dentro de um carro contra o local. “[O atentado] merece o repúdio de todos os democratas e exige das autoridades a identificação dos responsáveis e sua punição exemplar”. Na nota, o partido se diz “indignado” pela “conveniência silenciosa de certos meios de comunicação e partidos, que se dizem democráticos, com o atentado de caráter fascista”.

05 de agosto de 2015
Deu na Agência Brasil

A CAUSA DE DIRCEU ERA APENAS A CAUSA PRÓPRIA




Nos últimos anos, José Dirceu ainda era tratado como herói por muitos políticos e militantes do PT. Até ser preso, continuou a aparecer nos encontros do partido, onde posava para fotos e ouvia o grito de “guerreiro do povo brasileiro”.
Sua inocência era defendida até por petistas que admitiam a existência do mensalão. Para eles, o ex-ministro teria sido condenado por agir “em nome da causa”. Seria injusto compará-lo a um corrupto clássico, desses que desviam dinheiro público para passear de Lamborghini.
O mito do heroísmo foi estimulado pelo próprio Dirceu, que investiu na confusão entre o julgamento na democracia e a perseguição na ditadura. Essa narrativa ficou insustentável com as revelações da Lava Jato.
O ex-guerrilheiro não voltou à cadeia por negociar votos no Congresso com métodos heterodoxos. Ele agora é acusado de receber “pixulecos” de empreiteiros e lobistas que participaram do saque à Petrobras.
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
Além de colaborar com a montagem do esquema de corrupção, Dirceu “se beneficiou dele”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. O juiz Sergio Moro enumerou ocasiões em que os desvios da estatal teriam ajudado a enriquecê-lo.
Condenado por chefiar o mensalão, Dirceu recebia um “mensalinho” de R$ 80 mil a R$ 90 mil, disse o lobista Milton Pascowitch. Ele também contou que pagou despesas pessoais do ex-ministro, como a reforma de uma casa de campo (R$ 1,3 milhão), a reforma de um apartamento em São Paulo (R$ 1 milhão) e a compra do imóvel de uma filha (R$ 500 mil).
Antes que se questione o delator, a decisão de Moro ressalta que ele apresentou provas do que disse.
A Lava Jato já havia revelado que Dirceu recebeu R$ 39 milhões após deixar o governo. Mesmo assim, ele pediu doações a militantes petistas para pagar a multa do mensalão.
Agora que o ex-ministro voltou à cadeia, alguns participantes da vaquinha podem concluir que a sua causa, na verdade, era a causa própria.
05 de agosto de 2015
Bernardo Mello FrancoFolha

PT FORA DAS CPIS: PACOTE DE MALDADES DE CUNHA


Eduardo Cunha acertou a exclusão do PT dos postos de comando de duas CPIs que têm grande potencial de desgaste para o governo: a que vai investigar supostas irregularidades no BNDES (que será presidida pelo DEM) e a dos fundos de pensão (PMDB). Isso só foi possível graças à adesão de PR e PSD, cujos deputados têm manifestado nos bastidores insatisfação com o Planalto. Eles estão aliados formalmente ao PT, mas fecharam com Cunha nessa questão. 

Dos 27 integrantes titulares de cada CPI, 11 são indicados pelo bloco liderado pelo PMDB. O bloco do PT tem direito a escolher 8 nomes, mas desse grupo fazem parte o PR e o PSD, que ficaram ao lado de Cunha. Os presidentes das CPIs são eleitos por seus integrantes. Estes são indicados pelos líderes partidários, em número proporcional à bancada. 

Porém, as principais legendas acertam antecipadamente quem irão apoiar. Eleito, o presidente indica o relator. O PT promete resistir e tenta negociar um acordo com Cunha. O presidente da Câmara declarou oposição ao governo, no mês passado, sob o argumento de que há uma dobradinha entre Planalto e Ministério Público para incriminá-lo na Lava Jato. Cunha é apontado por dois delatores como destinatário de propina do esquema de corrupção na Petrobras. Seu nome aparece também em requerimentos que, segundo os delatores, foram usados na Câmara para achacar fornecedores da estatal.

05 de agosto de 2015
in coroneLeaks

DELAÇÃO DE DUQUE ATINGE EM CHEIO AOS POLÍTICOS



(Estadão) A Polícia Federal avalia que se o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque – preso desde março por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro-, confirmar acordo de delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava Jato, suas revelações ‘vão ter repercussões na área política’. Duque e um outro ex-diretor da estatal, Nestor Cerveró (Internacional), também prisioneiro da Lava Jato e já condenado a cinco anos de cadeia, estão negociando colaboração com o Ministério Público Federal.

Nesta segunda-feira, 3, os criminalistas Alexandre Lopes, Renato de Morais e João Baltazar renunciaram em todos os processos em que defendiam Duque. “Em razão de princípios nossos, não advogamos para aquele que resolve realizar delação premiada. O advogado do delator passa a ser, em verdade, o Ministério Público. Delação, em nossa visão, não se coaduna com defesa criminal”, afirmou Alexandre Lopes.

Duque é apontado como elo do PT no esquema de pagamento de propinas na estatal petrolífera. Ele teria sido indicado ao cargo pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (Governo Lula).“Os que estão presos hoje, se vierem a fazer acordo com certeza vão ter repercussões na área política”, disse o delegado da PF Igor Romário de Paula, que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato. O delegado incluiu outros eventuais colaboradores. “Renato Duque, (Nestor) Cerveró, (Fernando) Baiano, enfim”, disse Igor Romário de Paula.

05 de agosto de 2015
in coroneLeaks

A OTIMILDA DO ALVORADA



Dilma tenta vender uma esperança que não existe
Na campanha, a presidente Dilma Rousseff dizia que as críticas à política econômica eram coisa de Pessimildo. Agora que os fatos deram razão a seus ex-adversários, ela tenta ressurgir como a Otimilda do Alvorada.
No longo discurso aos governadores, Dilma tentou indicar uma luz no fim do túnel que especialistas e eleitores não conseguem ver. A caminho do maior tombo do PIB desde a era Collor, repetiu a ladainha de que a economia brasileira é “bem mais sólida” do que “alguns anos atrás”.
A presidente sugeriu que o fim da era de vacas magras está logo ali: basta dobrar a esquina. “Eu não nego as dificuldades, mas eu afirmo que nós todos aqui, e o governo federal em particular, tem (sic) condições de superar essas dificuldades de enfrentar os desafios e, num prazo bem mais curto do que alguns pensam, voltar a ter, assistir à retomada do crescimento da economia brasileira”, prometeu, em dilmês castiço.
O otimismo presidencial não parece combinar com a realidade. Na quinta-feira, ficamos sabendo que o governo acumulou um déficit fiscal inédito de R$ 1,6 bilhão no primeiro semestre. Pouco depois, divulgou-se um novo corte de R$ 1 bilhão na Educação. Alguém imagina crescer tirando verba de escolas e universidades?
FALTA DE CARISMA
Todo governante tenta vender esperança em tempos de crise. No caso de Dilma, a falta de carisma dificulta a tarefa. Sem empatia, ela evitava encarar os governadores enquanto falava. No fim, o descompasso entre o texto lido e a imagem da TV sugeria que ela não acreditava muito nas próprias palavras. “Não nos falta energia e determinação para vencer esses problemas”, disse, em tom monocórdio e olhando para baixo.
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PS –
 Os métodos de Eduardo Cunha estão mudando o significado da sigla CPI. Antes, as três letras eram sinônimo de Comissão Parlamentar de Inquérito. Agora, estão mais para Conluio de Proteção ao Investigado.


05 de agosto de 2015
Bernardo Mello Franco

O HUMOR DO ALPINO...

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05 de agosto de 2015

DIRCEU VAI CONTAR QUE LULA MANDOU MONTAR O ESQUEMA DE CORRUPÇÃO




Segunda-feira, em Curitiba, na entrevista coletiva sobre a prisão de José Dirceu, com participação do delegado federa l Márcio Adriano Ancelmo, que descobriu a corrupção da Petrobras e está desde o início no caso, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato, afirmou que a corrupção na Petrobras foi sistematizada durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Já não há mais dúvida a esse respeito. “O que nossos colaboradores apontam é que houve uma sistematização da corrupção no governo do PT, como compra de apoio parlamentar”, afirmou Lima, citando como fonte o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco Filho.
Na condição de ministro-chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula, José Dirceu é apontado pela força-tarefa da Lava Jato como o artífice do esquema na Petrobras. Segundo as investigações, ele foi responsável, em 2003, pela indicação do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque (que desviou milhões em propina, de acordo com o Ministério Público), e assim Dirceu “repetiu na Petrobras o esquema do mensalão”.
DELAÇÃO PREMIADA
Traído por Lula, que no início do ano se recusou a encontrar com ele para traçar um esquema de defesa mais sólidos, e preso em Curitiba , onde fica afastado da filha e da mulher, Dirceu está fragilizado e furioso. Vai completar 70 anos e sabe que vai ser condenado a mais 15 anos de prisão, pelo menos, porque desta vez o Supremo não vai absolvê-lo da formação de quadrilha.
A única alternativa par ter um resto de vida ao lado da família é fazer a delação premiada, com a qual já até ameaçou Lula e Dilma, no dia 4 de junho, quando mandou vazar aos jornalistas a explosiva frase “eu, Lula e Dilma estamos no mesmo saco”.
Quando chegar a hora, Dirceu vai contar como aconteceu a formação dos diversos esquemas para a eternização do PT no poder e para financiar também a manutenção da base aliada, através do suborno direto dos 300 picaretas alardeados por Lula desde os tempos da Constituinte. Como se dizia antigamente, quem viver verá.
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PS – O advogado do ex-ministro José Dirceu, Roberto Podval, descarta a possibilidade de o petista fazer um acordo de delação premiada. “É mais fácil matarem Dirceu do que ele fazer uma delação premiada”, disse Podval à Folha. Bem, como se dizia antigamente, o advogado está mais por fora do que umbigo de vedete. 

05 de agosto de 2015
Carlos Newton

O DNA DA CORRUPÇÃO



A aguardada (até por ele mesmo) prisão de José Dirceu ganhou maior densidade política devido à linha do tempo traçada pelo Procurador Carlos Fernando Lima, determinando que o início do esquema foi o mesmo do mensalão, quando José Dirceu era o todo poderoso ministro Chefe do Gabinete Civil do governo Lula, que o chamava de “capitão do time”.

Se o DNA dos dois escândalos, mensalão e petrolão, é o mesmo, como definiu o ministro do STF Gilmar Mendes e confirmou a Operação Lava-Jato, e a finalidade a mesma, financiar as atividades políticas do PT e seus aliados, estaremos em breve diante do mesmo dilema que os investigadores do mensalão enfrentaram há 10 anos: a cadeia de comando parava em Dirceu, ou o presidente Lula era o verdadeiro capo de tutti capi?

A presidente Dilma, que na ocasião era ministra das Minas e Energia e presidia o Conselho da Petrobras, fica em posição frágil diante da definição de quando o esquema do petrolão começou. Será possível que Dirceu nomeasse diretores da Petrobras sem que Dilma soubesse por que estavam sendo escolhidos, e com que missão?

Naquela altura do mensalão, havia o receio de que indiciar Lula como seu grande mentor poderia desencadear uma ação dos tais movimentos sociais a que o ex-presidente sempre recorria como ameaça. Para que o processo tivesse prosseguimento sem transtornos políticos, o Procurador-Geral da época, Antonio Fernando de Souza (que, aliás, hoje é advogado de defesa do presidente da Câmara Eduardo Cunha) preferiu parar em Dirceu, considerando-o o grande chefe do que classificou de “quadrilha”, denominação que afinal o STF derrubou.

Hoje, a situação política é outra, embora ainda restem receios quanto a Lula. Sua aura de grande liderança popular persiste, mas já está arranhada a ponto de permitir uma investigação sobre tráfico de influência a favor da Odebrecht pelo Ministério Público de Brasília. Lula não teve condições, embora tentasse, de parar a investigação.

Ontem, na entrevista coletiva sobre a fase “Pixuleco” da Operação Lava-Jato, o Procurador Carlos Fernando Lima citou diversas vezes o ex-presidente Lula, para deixar claro que o escândalo da Petrobras começou ainda no seu primeiro governo.  Perguntado se considerava Dirceu a liderança mais importante para o esquema de corrupção na Petrobras, o Procurador fez questão de afirmar que Dirceu “é um dos principais, mas não o único”.

Indagado se o ex-presidente Lula será investigado, Carlos Fernando Lima disse, escolhendo as palavras, que “neste momento não existe nenhum indicativo de necessidade de prisão de quem quer que seja que não esteja preso”. Mas deixou claro que “nenhuma pessoa num regime republicano está isenta de ser investigada”.

Ainda deu-se ao trabalho de explicar que “apenas pessoas com foro privilegiado devem ser investigadas em foro competente. Um ex-presidente pode ser investigado em primeiro grau”.

A questão central é que a chegada do PT ao Poder fez com que a corrupção se tornasse “endêmica e disseminada, como metástase”, na definição de outro Procurador. Ou, na definição de Carlos Fernando Lima: "(...) Houve uma sistematização da corrupção no governo do PT, como compra de apoio parlamentar". De maneira enigmática, ele deixou um recado direto a bom entendedor como Lula: "Temos uma ideia boa e clara de onde podemos chegar, mas isso é fato sigiloso".

É certo que ainda existe certo temor reverencial quando se fala de Lula a nível institucional, pois a nível popular esse medo já se desfez. O próprio ex-presidente Fernando Henrique fica cheio de dedos quando o assunto é uma possível prisão de Lula. Ora diz que sua prisão “dividiria o país” e que Lula é um líder popular e “não se deve quebrar esse símbolo”.

Mais tarde, em uma nota com o objetivo de esclarecer declarações a uma revista alemã, disse que se Lula merecer ser preso “é de lamentar, porque terá jogado fora (coisa que vem fazendo aos poucos) sua história.”.

Como se vê, já é possível perguntar e discutir se Lula vai ser preso, o que indica que são muitos os indícios que o envolvem com as empreiteiras do petrolão. Agora resta aguardar para ver se nossa democracia já está madura o suficiente para vermos com naturalidade, embora indignados, um ex-presidente da República sendo investigado por corrupção. 

05 de agosto de 2015
Merval Pereira é Jornalista e membro das Academias Brasileira de Letras e de Filosofia. Originalmente publicado em O Globo em 4 de agosto de 2015.

CORAGEM, BRASILEIROS!




Já circula pela Internet um currículo do presidente licenciado da Eletronuclear, almirante da reserva, preso no último dia 28 na nova fase da Operação Lava Jato.

A divulgação, de viés petista desde suas origens, pratica aquilo que se pode chamar de jornalismo temerário, assinalando que não importa saber se ele é culpado ou inocente, mas sim que se trata do “pai do programa nuclear brasileiro”, para depois atacar a justiça e a imprensa.

Sem qualquer preocupação em desmentir as notícias sobre as razões da prisão preventiva, a iniciativa vai além do usual procedimento quadrilheiro de responder acusação com acusação, para sim embaralhar fins e meios que justifiquem a corrupção. O tal do dossiê deveria ter outro nome: “Como o PT enterrou o programa nuclear brasileiro”.

Tem razão o Financial Times em comparar o Brasil a um filme de horror sem fim, pois a corrupção no País é simplesmente de dar medo, na medida em que ela põe tudo a perder: carreiras, famílias, patrimônios, honras e méritos acumulados ao longo de uma vida.

Tomemos como exemplo o depoimento de um diretor da Petrobrás acusado de corrupção que optou pela delação premiada. Logo em sua abertura, ele coloca sua promoção a Diretor da empresa como seu “Generalato”, o qual, segundo ele, dependeria uma indicação política.

O que seria um inconveniente a qualquer meritocracia se revelou, no curso das investigações, uma prática criminosa nas mais altas esferas da República. Não poucos brasileiros podem ter se identificado, pela idade e aspirações profissionais, à carreira do diretor delator na Petrobrás, até uma certa altura.

Cursos exigentes, responsabilidades pesadas, empreitadas difíceis e sucessos de dar orgulho, tudo isso foi jogado no lixo, por conta de sua submissão a um poder político pervertido ao ponto de se arrogar direito de promover, cooptar, corromper e se eximir de qualquer responsabilidade, não necessariamente nessa ordem.

É de dar medo, e é para dar mesmo, ao servidor público que ambiciona o coroamento de sua carreira, ao empresário de sucesso que quer fechar bons contratos com base nas vantagens de sua empresa e produto, ao profissional liberal que encontrou o seu espaço, dentre outros, todos a partir de seu mérito, trabalho  e esforço.

Num ambiente como o que vai se consolidando no Brasil, o quê de imoral, ilegal e amoral lhes será pedido em troca de ascensão ou sucesso? Quando baterão às suas portas para achacá-los com a ameaça de fim de carreira,  negócios ou mero ganha pão?

Esse medo, na verdade, é de todos os brasileiros, não só dos mais bem-sucedidos ou instruídos. É também o medo de que os desvios de recursos paralisem os serviços assistenciais críticos para os mais pobres, de que o derretimento da moeda leve pelo ralo o já combalido poder de compra, e acima de tudo, de que nada aconteça aos responsáveis por tudo isso que já nos acontece, pois resultará na realização dos nossos piores medos.

É aterradora a possibilidade de a nossa diplomacia ter favorecido no exterior empresas nacionais envolvidas em corrupção, que programas de defesa tenham servido a vultosas transferências ilegais de dinheiro e que o tráfico de influência de um ex-mandatário seja uma operação casada, pois uma ou mais dessas possibilidades confirmadas pelas investigações em curso ou vindouras caracterizarão o completo domínio do Estado brasileiro pela quadrilha que está no Poder.

Mas apavorantes mesmo, pois estão praticamente consumados, são o anunciado abraço de afogado da presidente aos governadores levando ao fundo a responsabilidade fiscal e a capitulação do Procurador-Geral da República em pedir o afastamento do investigado que tem poder para impedir investigações e mudar a lei que pode investigá-lo.

Isso representa a neutralização das últimas defesas contra duas ameaças bem reais ao Estado brasileiro: a insolvência das finanças públicas e o colapso do estamento legal. É realmente de dar medo o que pode vir por aí.

Mas ao falarmos de medo, uma sensação comum a todos nós, é obrigatório tratarmos da única reação possível a esse medo que vai paralisando o País.
E ela pode ser ilustrada com uma estória que os nossos pracinhas trouxeram da guerra, o lugar de todos os medos. Uma companhia de Infantaria da nossa Força Expedicionária tinha dentre os seus integrantes um jovem  mato-grossense chamado Jovino. Homem do interior, pouco afeito às aparências, Jovino era constantemente repreendido por esquecimento ou desajuste de alguma peça de uniforme ou equipamento.

Na linguagem da caserna, Jovino seria o perfeito “mocorongo”, não fosse um detalhe: ele era um combatente excepcional. Voluntário para todas as missões, era comum encontra-lo “fazendo a ponta” do seu grupo de combate, arriscando-se e se safando sempre.

Tantas fez o Jovino que acabou levando um tiro. Ferido, com alguma gravidade, foi evacuado ao longo de sucessivos escalões até um distante hospital de campanha. Semanas mais tarde, o seu Capitão comandante foi avisado de que o Jovino fugira do hospital e que era provável que ele aparecesse na linha de frente à procura de seus companheiros. Não deu outra. Dois dias depois, apareceu o Jovino esfarrapado, sujo e barbado perante o seu comandante.

De nada adiantou explicar-lhe que a guerra não era uma bagunça, que já fora substituído, que não havia armamento para ele, que não deveria ter fugido do hospital, etc. etc. Os olhares que se fixaram  no Capitão encaminharam a solução: brasileiramente, arrumou-se um fuzil e um lugar para o Jovino na guerra e ele ajudou a terminá-la.

Muitos anos mais tarde, o Capitão comandante do Jovino, já Coronel, às vésperas de passar para a reserva, soube que o seu antigo soldado estava internado no Hospital Central do Exército, gravemente enfermo. O Coronel não hesitou e foi visitá-lo.

Lá conversaram, e Jovino, cego, passava as mãos nas medalhas do Coronel, lembrando como eles as haviam conquistado juntos. Em determinada altura, o Coronel, emocionado, disparou a pergunta de muitos anos ao Jovino:  “- Jovino, eu sei que você é um homem muito corajoso, mas você nunca teve medo de morrer?” Ao que Jovino respondeu: “- Ah meu Capitão, não sei se fui corajoso não, eu sei é que eu tinha medo de ter medo”. Na sua simplicidade, Jovino havia alcançado a sublime definição de coragem.

Em janeiro de 1822, os brasileiros se uniram para sustentar aquele que lhes daria a sua Independência e seria seu Imperador. Nove anos mais tarde, cobraram-lhe respeito quando ele o perdeu por eles e o deixaram partir quando ele não o recuperou. Em 1889, viram partir outro Imperador, querido, aderindo ao novo regime quando entenderam que o antigo não servia mais ao País.

Em 1930 derrubaram uma República arrogante e corrupta que pretendia prescindir de sua representação. Quinze anos mais tarde, destronaram o seu libertador que havia se transformado em ditador. Concederam-lhe nova chance nas urnas, consternaram-se com sua fraqueza e choraram sua morte.

Dez anos depois, chamaram seus militares para por fim ao caos que a demagogia, corrupção e subversão haviam instalado no País e vinte anos depois disseram que não os queriam mais na política.

Este nunca foi um país de alguém, de um imperador, de uma oligarquia, de um ditador ou de um projeto. O Brasil nunca viveu de mitos e se houve quem pretendeu encarná-los, logo a nação o despachou ou o viu pelas costas.  

Esta não é uma República de procuradores, como tampouco é uma República sindicalista. Esta é uma República de cidadãos nascidos e acolhidos em um país que não se tornou grande e forte pelo medo. Se assim aconteceu, foi pelo medo de tê-lo, como o Jovino.

Portanto, fora Lula, fora Dilma, fora Renan, fora Cunha! Quem mais?

Que se vão tantos quantos forem necessários para que vivamos sem corrupção e, acima de tudo, sem medo. Afinal, temos muito mais do que já tivemos no passado em situações tão perigosas quanto à de hoje: temos leis e temos instituições.

05 de agosto de 2015
Sérgio Paulo Muniz Costa é Doutor em Ciências Militares e Historiador. Originalmente publicado no Diário do Comércio de São Paulo em 4 de agosto de 2015.