Jonas Lopes alega estar sofrendo uma “retaliação”
O ex-diretor de Contratos da Odebrecht Leandro Azevedo cita em acordo de delação premiada Jonas Lopes, o atual presidente do TCE-RJ – órgão encarregado de fiscalizar os gastos do governo do Estado do Rio. Segundo o executivo da Odebrecht, Lopes pediu dinheiro para aprovar o edital de concessão do estádio do Maracanã e o relatório de contas da linha 4 do metrô do Rio.
Em um dos trechos do acordo assinado com o Ministério Público Federal, Leandro Azevedo diz que, em 2013, Wilson Carlos, então secretário de Governo de Sérgio Cabral mandou um recado à empreiteira dizendo que o edital de concessão do estádio do Maracanã já tinha sido enviado ao Tribunal de Contas do Estado e que a empresa deveria procurar o presidente do TCE, Jonas Lopes.
Leandro Azevedo conta que procurou Jonas Lopes e acertou o pagamento de R$ 4 milhões em quatro parcelas de R$ 1 milhão, que seriam pagas de seis em seis meses. Ele diz que quando esteve com Jonas Lopes, o presidente do TCE já sabia qual era o valor que tinha sido acertado.
EDITAL APROVADO – O ex-diretor da Odebrecht afirma que a “contrapartida era absolutamente clara”. Em troca do pagamento, o TCE aprovaria o edital da concessão do Maracanã.
A primeira parcela, segundo o executivo, foi paga em 10 de fevereiro de 2014. Mas, segundo ele, os outros pagamentos não foram feitos em razão da Operação Lava Jato, deflagrada em março daquele ano.
Leandro Azevedo afirma que o valor de R$ 1 milhão foi entregue ao filho de Jonas Lopes, Jonas Lopes de Carvalho Neto, no escritório de advocacia dele, no Centro do Rio.
Ele diz que em dezembro de 2014 foi chamado ao gabinete do presidente do TCE e que Jonas Lopes cobrou o atraso no pagamento. Ele conta que no gabinete, sobre a mesa, havia um jornal com uma manchete sobre a Operação Lava Jato e que, em resposta à cobrança, disse ao presidente do TCE: “Vou ao toalete, o senhor dê uma olhada no Globo”, se referindo ao jornal. Jonas Lopes então pediu desculpas e disse que estava sendo pressionado por outros conselheiros. A conversa foi encerrada.
TAMBÉM O METRÔ – Segundo o acordo de delação, este não foi o único episódio envolvendo o presidente do TCE do Rio. Leandro Azevedo conta que, no início de 2014, Jonas Lopes procurou executivos de empreiteiras para pedir propina em troca da aprovação das contas das obras da linha 4 do Metrô do Rio.
Leandro Azevedo diz que Jonas Lopes pediu propina a executivos das três empreiteiras do consórcio responsável pela linha: Queiroz Galvão, Odebrecht e Carioca Engenharia. De acordo com ele, o presidente do TCE argumentou que o contrato do metrô era muito complexo e que se quisessem aprová-lo teriam que pagar 1% do seu valor.
Leandro Azevedo relata que ficou surpreso com a exigência de um valor tão alto, aproximadamente R$ 60 milhões, e disse que teria que consultar os sócios.
COBRANÇA OSTENSIVA – Ele conta que algum tempo depois foi convocado por Jonas Lopes para uma reunião com a presença dos executivos da Queiroz Galvão e da Carioca Engenharia e que, durante essa reunião, “a cobrança foi ostensivamente feita”. Ainda segundo Leandro Azevedo, ele e os representantes das outras duas empresas não se manifestaram, e a Odebrecht não fez o pagamento.
No acordo de delação, Leandro Azevedo também cita o governador do Rio Luiz Fernando Pezão, o prefeito Eduardo Paes, ambos do PMDB, o senador Lindbergh Farias, do PT, e os ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho, os dois do PR. O ex-executivo afirma que a Odebrecht abasteceu o caixa 2 da campanha dos políticos.
Todos negam as acusações e afirmam que receberam doações de forma legal e declarada à Justiça Eleitoral.
JONAS SE DEFENDE – O presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Jonas Lopes, disse que repudia com veemência as afirmações do executivo da Odebrecht e as atribui a uma atitude de retaliação por causa de decisões tomadas pelo TCE, que penalizaram duramente as empreiteiras. Jonas Lopes disse ainda que, no caso da obra no Maracanã, o TCE determinou o bloqueio de R$ 198 milhões que o estado teria que pagar às empreiteiras.
Quanto à obra da linha 4 do metrô, o bloqueio foi de R$ 1,4 bilhão. A auditoria do TCE constatou irregularidades nas duas obras, inclusive sobrepreço. O presidente do TCE disse também que as empresas recorreram à Justiça contra os bloqueios e perderam.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como se vê, estava tudo dominado e o TCE só passou a agir na forma da lei quando a Odebrecht foi apanhada pela Lava Jato e parou de pagar as propinas. (C.N.)
12 de dezembro de 2016
Por G1 e “Fantástico”