É de conhecimento geral o episódio da greve da Rede Mineira em que os pressurosos assessores do então governador Milton Campos, de Minas Gerais, insistiam na repressão policial e militar para a contenção do movimento, que eclodiu na prisca era de 1949, a exigir o pagamento dos salários atrasados.
Diante de propostas que mais ofendiam os empregados do que aliviavam o governo, surge a manifestação ímpar de Milton Campos, que, como de costume, bastante, lógica e serena dirige aos áulicos: não seria melhor se mandássemos o trem pagador?
Muitos dos governadores não possuem a sensibilidade social e a estatura humanística de Milton, exemplo secular de civismo e coerência. Cuidaram de preencher o noticiário com cenas de calamidade e não se dignaram colocar como de primeira necessidade a liquidação da folha de pessoal, pois, todos com salários defasados, a gratificação natalina deixou de ser gratificação há longo tempo, como também não supre mais a festa natalina, assumindo o caráter respeitável e sagrado de prestação de alimentos, e, por isto mesmo, se encontra no nível doutrinário que qualifica e exige integral cumprimento a seu tempo. Não há, em toda a extensão da administração, obrigação estatal mais pura e nobre do que a submissão a esta responsabilidade, já que a saúde, que por ela poderia concorrer em preferência, não tem precedência sobre a obediência ao salário, responsável este pela subsistência humana, nossa preocupação primeira.
A par desta natureza, o Estado faz coincidir a alegada calamidade financeira com despesas afrontosas e absolutamente desnecessárias para o povo, porém indescartáveis pelos governadores, tal qual é a verba (sempre caudalosa) destinada e empregada para exaltar a figura pessoal de cada um deles em ações supostamente administrativas e supostamente em execução. É o que se observa neste nosso quotidiano surrealista e kafkiano, em que mostras exibicionistas de fantásticas (por vezes delirantes) realizações procuram exaltar o governante eleito, como prova do acerto na escolha popular. A par, a calamidade financeira !
Assim, quanta saudade se apossa de nós quando sabíamos, principalmente os servidores públicos, que, à frente de todos, se encontrava um verdadeiro líder, que consentia em ser o protetor de seu pequeno exército civil, coroando suas preocupações em gestos que claramente os apontava como pai. Exemplo recente de convicção social que lhe infundia o cargo e seu exercício foi dada pelo também saudoso Itamar Franco, homem de posições firmes, sempre atento ao bem estar do povo, como fez provas sucessivas no exercício da presidência e, depois, ao governar Minas. Itamar era abundante em iniciativas de engrandecimento e conforto do povo e dos servidores, à medida que extremava atitudes em favor daqueles menos desamparados e em benefício do verdadeiro interesse público.
Diante dessa Minas do passado, não se apodera de nós outro sentimento senão o nostálgico pesar de que tais cônsules não surgem mais.
12 de dezembro de 2016
José Maria Couto Moreira é advogado.
Diante de propostas que mais ofendiam os empregados do que aliviavam o governo, surge a manifestação ímpar de Milton Campos, que, como de costume, bastante, lógica e serena dirige aos áulicos: não seria melhor se mandássemos o trem pagador?
Muitos dos governadores não possuem a sensibilidade social e a estatura humanística de Milton, exemplo secular de civismo e coerência. Cuidaram de preencher o noticiário com cenas de calamidade e não se dignaram colocar como de primeira necessidade a liquidação da folha de pessoal, pois, todos com salários defasados, a gratificação natalina deixou de ser gratificação há longo tempo, como também não supre mais a festa natalina, assumindo o caráter respeitável e sagrado de prestação de alimentos, e, por isto mesmo, se encontra no nível doutrinário que qualifica e exige integral cumprimento a seu tempo. Não há, em toda a extensão da administração, obrigação estatal mais pura e nobre do que a submissão a esta responsabilidade, já que a saúde, que por ela poderia concorrer em preferência, não tem precedência sobre a obediência ao salário, responsável este pela subsistência humana, nossa preocupação primeira.
A par desta natureza, o Estado faz coincidir a alegada calamidade financeira com despesas afrontosas e absolutamente desnecessárias para o povo, porém indescartáveis pelos governadores, tal qual é a verba (sempre caudalosa) destinada e empregada para exaltar a figura pessoal de cada um deles em ações supostamente administrativas e supostamente em execução. É o que se observa neste nosso quotidiano surrealista e kafkiano, em que mostras exibicionistas de fantásticas (por vezes delirantes) realizações procuram exaltar o governante eleito, como prova do acerto na escolha popular. A par, a calamidade financeira !
Assim, quanta saudade se apossa de nós quando sabíamos, principalmente os servidores públicos, que, à frente de todos, se encontrava um verdadeiro líder, que consentia em ser o protetor de seu pequeno exército civil, coroando suas preocupações em gestos que claramente os apontava como pai. Exemplo recente de convicção social que lhe infundia o cargo e seu exercício foi dada pelo também saudoso Itamar Franco, homem de posições firmes, sempre atento ao bem estar do povo, como fez provas sucessivas no exercício da presidência e, depois, ao governar Minas. Itamar era abundante em iniciativas de engrandecimento e conforto do povo e dos servidores, à medida que extremava atitudes em favor daqueles menos desamparados e em benefício do verdadeiro interesse público.
Diante dessa Minas do passado, não se apodera de nós outro sentimento senão o nostálgico pesar de que tais cônsules não surgem mais.
12 de dezembro de 2016
José Maria Couto Moreira é advogado.
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