2016 foi um ano cheio de acontecimentos marcantes. Apesar de duras derrotas, poucos anos foram tão comemoráveis.
Por que a choradeira?
O filósofo francês Paul Ricœur possui uma tese ousada para uma das questões filosóficas mais intrincadas de todos os séculos, que ainda teve uma complicação no século XX com a teoria da relatividade: o tempo. Para Ricœur, a única forma como o homem de fato “percebe” o tempo é pela narrativa. Ou seja, não olhando segundos passando no relógio, mas quando acontecimentos formando algum todo coerente, contando uma história, com alguma versão de começo, meio e fim são apreendidos e captados pela mente.
O filósofo francês Paul Ricœur possui uma tese ousada para uma das questões filosóficas mais intrincadas de todos os séculos, que ainda teve uma complicação no século XX com a teoria da relatividade: o tempo. Para Ricœur, a única forma como o homem de fato “percebe” o tempo é pela narrativa. Ou seja, não olhando segundos passando no relógio, mas quando acontecimentos formando algum todo coerente, contando uma história, com alguma versão de começo, meio e fim são apreendidos e captados pela mente.
Se algo pode confirmar a tese de Ricœur, este algo foi o ano de 2016.
Foi um ano “cheio”, mesmo tendo o mesmo número de dias, horas e segundos de outros anos. Por isso, é um ano marcante, que entra na história, ao contrário de outros anos. Não importa sua posição política, seus gostos, seus interesses: 2016 foi um ano com tantos acontecimentos que será muito mais lembrado do que 2015, 2014, 2013. Sua significância é maior. O que cravou em nossas memórias também.
No tempo público, da política, dos grandes atos que entram para a história, 2016 foi pródigo. Muito mais coisas que decidirão os rumos futuros da história aconteceram em países que variam de relevância entre Tailândia e Estados Unidos da América. Para não falar do Brasil.
Graças a isso, muitos lamentam 2016 como um ano cheio de tragédias, mortes, atentados terroristas e, claro, derrotas políticas para os que queriam os seus queridinhos no poder. Spoiler: se há algo em 2016 que o torna idêntico aos outros anos, foi o tanto de gente morrendo, entre as significativas e as mortes completamente sem sentido. Muitas tristezas, dores e despedidas difíceis ocorreram em 2016, mas em uma medida nada maior do que a habitual.
No cenário mundial, em 2016 o Estado Islâmico perdeu tanto território que, de um conglomerado com poder de mando em um território com o tamanho aproximado do da Grã-Bretanha, se tornou um arquipélago com diversos “vácuos” no meio de seu território.
O ditador russo Vladimir Putin, que combate o Estado Islâmico ao lado de Bashar al-Assad, poderia ter acendido o pavio da Terceira Guerra Mundial caso Hillary Clinton, que combate Bashar al-Assad ao lado dos rebeldes que também formam o Estado Islâmico, ganhasse as eleições. Felizmente, o resultado do pleito americano, lamentado por toda a mídia globalista que nada entende sobre isso, trouxe uma possibilidade de paz tão impensável para o mundo que vimos Putin num bom humor extremo e surreal: agüentou o assassinato de um embaixador na Turquia, o teatrinho de Barack Obama para afirmar que ganhou as eleições e mesmo dois graves acidentes aéreos de gosto duvidoso sem esboçar reação.
Os atentados terroristas são sempre horrendos e causam mortes a serem lamentadas, mas foram em um número e poder de fogo razoavelmente menor do que em 2015. Alguns, como o de Nova York, mostraram que, num cenário otimista, os terroristas islâmicos e sua jihad estão fazendo seu canto de cisne, sabendo que uma única vida ferida para o Ocidente será tratada como uma tragédia, mas sabendo que seu poder de fogo, comparado à França de 2015, ao 7 de julho de 2005 em Londres ou ao 11 de setembro de 2001 na América, é coisa do passado.
Os terroristas muçulmanos, diga-se, continuam chamando seus atentados não de terrorismo, mas de jihad. Em seus vídeos e comunicados, sempre chamam seus adversários de “Cruzados”, palavra nunca traduzida fielmente pela mídia. Antes de um atentado numa feira de Natal em Berlim, os salafistas que promovem tal jihad cuidaram de degolar o padre Jacques Hamel, de 84 anos, na Normandia. O recado não poderia ser mais claro: enquanto a mídia fala em “extremistas” que não têm “nada a ver com a religião islâmica”, o mundo continua numa guerra de civilizações: a shari’ah islâmica e seus combatentes de um lado, a civilização ocidental, que permite religiosidade, laicismo e um certo leque de pensamentos mais abrangentes de outro. Se algo deve ser lamentado em 2016 é a incapacidade das pessoas em afirmarem o óbvio, com medo de serem tachadas de xxxxxistas e @@@@@fóbicos pela mídia.
Globalismo, aliás, é a palavra de 2016: enquanto a mídia insiste a fingir que coisas o Brexit, a eleição de Donald Trump, a renúncia de Matteo Renzi, o repúdio à União Européia, à ONU, às normas do Banco Mundial (que controla a educação global) e mesmo ao FMI sejam uma tendência de “nacionalismo” e “protecionismo” comercial, o que esta tendência de repúdio a instituições burocráticas com poder de mando e sem voto demonstra é que o globalismo, que sempre precisou atuar sem poder ser notado, financiado entidades que variam do Occupy Wall Street ao PSDB, da eleição de Hillary Clinton ao Mídia Ninja, foi percebido. E agora começa a ser nomeado.
Quem percebe o globalismo, e sabe que ele é o inverso da globalização (a super-especialização comercial de cada país, permitindo que cada um, com seu governo independente e suas fronteiras muito bem definidas, comercializem entre si), passa a repudiá-lo. Mesmo sem a mídia dizer um pio, forçando todos a confundir o termo. Como um governo transnacional vai “funcionar”, desde sua base na London School of Economics, se partidos, variando do UKIP ao Alternative für Deutschland, têm sua plataforma mirando e nomeando seu inimigo avistado, mesmo sob uma campanha de desinformação ultrapassando as raias da calúnia da mídia?
O sentimento amargo de 2016 advém todo de uma única coisa: esta mídia, na qual todos nós já confiamos em algum percentual mais elevado antes de 2016, exagerou em sua dose de manipulação e, tentando dar um passo maior do que a perna, acreditou em seu poder de influência total na opinião pública, quando na verdade as pessoas, mesmo sem ter um contra-manual, perceberam seu engodo. Foi assim com Donald Trump. Foi assim com o Brexit. Foi assim com o “acordo de paz” com as FARC. Foi assim com o impeachment. Foi o ano em que a Veja passou a merecer o título de “ex-revista”.
Pessoas normais não têm como não ter um sentimento de luto por um ano em que os formadores de opinião, que uma vez ou outra já nos informaram sobre algo, se provaram um fracasso em um mundo mais complexo – quando não debandaram desabridamente para o lado inimigo. O que 2016 deixa de rastro de lágrimas é justamente tal sentimento, da traição ao desapontamento, de que um mundo que parecia ser mais fácil, de repente, se mostrou de uma complexidade absurda, e aqueles que estavam ao nosso lado estão em trincheiras inimigas, atirando em nós ao lado dos injustos.
E, no Brasil, tivemos o impeachment, um novo marco fundador. A partir deste momento, a narrativa política brasileira sempre tem como binômio básico não mais um discurso de “ricos” contra “pobres” que nunca se sustentou na realidade, mas saber se você estava de verde e amarelo na Paulista ou de preto quebrando coisas.
O impeachment, que parecia algo de somenos importância diante do tamanho da roubalheira do PT (por que não a impugnação de toda a candidatura? por que não a cassação do registro da sigla? por que dar sobrevida ao PT?) se mostrou, até para o mais pessimista, uma força simbólica maior do que qualquer grande realidade. O PT apostou por meses na narrativa de “golpe”, só comprada por ele próprio, para então passar alguns meses pedindo “eleições diretas”. Bastaram as eleições municipais, que escorraçaram o PT da relevância partidária brasileira, para os petistas ficarem completamente sem discurso. Quem pediria eleições diretas quando não se consegue ficar em quinto lugar? O impeachment, como processo jurídico e político, se revelou mais importante do que qualquer derrota apenas jurídica maior ao Partido dos Trabalhadores. Para piorar, opositores de última viagem do PT, como Eduardo Cunha, caíram junto na Lava Jato. Os petistas, ao invés de agradecer, tiveram de lamentar que sua mentira foi exposta ao público.
É graças a todo esse conjunto que este Senso Incomum, não muito mais velho do que 2016, acabou despontando entre o público leitor ávido por algo além da narrativa pronta da grande mídia. Por isso precisamos tanto de seu apoio em 2016, e precisaremos ainda mais em 2017, para continuar explicando o que a mídia desinforma e apresentando pensamentos novos e conteúdo que vá de encontro ao “consenso geral” que se mostra a cada dia atirando para mais longe do alvo.
2016 conteve algumas vitórias extremamente importantes, apesar de um rol de derrotas que foi o comum para os outros anos. É por isso que nós estranhamente estamos otimistas e agradecemos a todos pela companhia neste último ano, fiéis de que podemos, juntos, influenciar positivamente a mentalidade coletiva ainda mais em 2017.
01 de janeiro de 2017
senso incomum
Foi um ano “cheio”, mesmo tendo o mesmo número de dias, horas e segundos de outros anos. Por isso, é um ano marcante, que entra na história, ao contrário de outros anos. Não importa sua posição política, seus gostos, seus interesses: 2016 foi um ano com tantos acontecimentos que será muito mais lembrado do que 2015, 2014, 2013. Sua significância é maior. O que cravou em nossas memórias também.
No tempo público, da política, dos grandes atos que entram para a história, 2016 foi pródigo. Muito mais coisas que decidirão os rumos futuros da história aconteceram em países que variam de relevância entre Tailândia e Estados Unidos da América. Para não falar do Brasil.
Graças a isso, muitos lamentam 2016 como um ano cheio de tragédias, mortes, atentados terroristas e, claro, derrotas políticas para os que queriam os seus queridinhos no poder. Spoiler: se há algo em 2016 que o torna idêntico aos outros anos, foi o tanto de gente morrendo, entre as significativas e as mortes completamente sem sentido. Muitas tristezas, dores e despedidas difíceis ocorreram em 2016, mas em uma medida nada maior do que a habitual.
No cenário mundial, em 2016 o Estado Islâmico perdeu tanto território que, de um conglomerado com poder de mando em um território com o tamanho aproximado do da Grã-Bretanha, se tornou um arquipélago com diversos “vácuos” no meio de seu território.
O ditador russo Vladimir Putin, que combate o Estado Islâmico ao lado de Bashar al-Assad, poderia ter acendido o pavio da Terceira Guerra Mundial caso Hillary Clinton, que combate Bashar al-Assad ao lado dos rebeldes que também formam o Estado Islâmico, ganhasse as eleições. Felizmente, o resultado do pleito americano, lamentado por toda a mídia globalista que nada entende sobre isso, trouxe uma possibilidade de paz tão impensável para o mundo que vimos Putin num bom humor extremo e surreal: agüentou o assassinato de um embaixador na Turquia, o teatrinho de Barack Obama para afirmar que ganhou as eleições e mesmo dois graves acidentes aéreos de gosto duvidoso sem esboçar reação.
Os atentados terroristas são sempre horrendos e causam mortes a serem lamentadas, mas foram em um número e poder de fogo razoavelmente menor do que em 2015. Alguns, como o de Nova York, mostraram que, num cenário otimista, os terroristas islâmicos e sua jihad estão fazendo seu canto de cisne, sabendo que uma única vida ferida para o Ocidente será tratada como uma tragédia, mas sabendo que seu poder de fogo, comparado à França de 2015, ao 7 de julho de 2005 em Londres ou ao 11 de setembro de 2001 na América, é coisa do passado.
Os terroristas muçulmanos, diga-se, continuam chamando seus atentados não de terrorismo, mas de jihad. Em seus vídeos e comunicados, sempre chamam seus adversários de “Cruzados”, palavra nunca traduzida fielmente pela mídia. Antes de um atentado numa feira de Natal em Berlim, os salafistas que promovem tal jihad cuidaram de degolar o padre Jacques Hamel, de 84 anos, na Normandia. O recado não poderia ser mais claro: enquanto a mídia fala em “extremistas” que não têm “nada a ver com a religião islâmica”, o mundo continua numa guerra de civilizações: a shari’ah islâmica e seus combatentes de um lado, a civilização ocidental, que permite religiosidade, laicismo e um certo leque de pensamentos mais abrangentes de outro. Se algo deve ser lamentado em 2016 é a incapacidade das pessoas em afirmarem o óbvio, com medo de serem tachadas de xxxxxistas e @@@@@fóbicos pela mídia.
Globalismo, aliás, é a palavra de 2016: enquanto a mídia insiste a fingir que coisas o Brexit, a eleição de Donald Trump, a renúncia de Matteo Renzi, o repúdio à União Européia, à ONU, às normas do Banco Mundial (que controla a educação global) e mesmo ao FMI sejam uma tendência de “nacionalismo” e “protecionismo” comercial, o que esta tendência de repúdio a instituições burocráticas com poder de mando e sem voto demonstra é que o globalismo, que sempre precisou atuar sem poder ser notado, financiado entidades que variam do Occupy Wall Street ao PSDB, da eleição de Hillary Clinton ao Mídia Ninja, foi percebido. E agora começa a ser nomeado.
Quem percebe o globalismo, e sabe que ele é o inverso da globalização (a super-especialização comercial de cada país, permitindo que cada um, com seu governo independente e suas fronteiras muito bem definidas, comercializem entre si), passa a repudiá-lo. Mesmo sem a mídia dizer um pio, forçando todos a confundir o termo. Como um governo transnacional vai “funcionar”, desde sua base na London School of Economics, se partidos, variando do UKIP ao Alternative für Deutschland, têm sua plataforma mirando e nomeando seu inimigo avistado, mesmo sob uma campanha de desinformação ultrapassando as raias da calúnia da mídia?
O sentimento amargo de 2016 advém todo de uma única coisa: esta mídia, na qual todos nós já confiamos em algum percentual mais elevado antes de 2016, exagerou em sua dose de manipulação e, tentando dar um passo maior do que a perna, acreditou em seu poder de influência total na opinião pública, quando na verdade as pessoas, mesmo sem ter um contra-manual, perceberam seu engodo. Foi assim com Donald Trump. Foi assim com o Brexit. Foi assim com o “acordo de paz” com as FARC. Foi assim com o impeachment. Foi o ano em que a Veja passou a merecer o título de “ex-revista”.
Pessoas normais não têm como não ter um sentimento de luto por um ano em que os formadores de opinião, que uma vez ou outra já nos informaram sobre algo, se provaram um fracasso em um mundo mais complexo – quando não debandaram desabridamente para o lado inimigo. O que 2016 deixa de rastro de lágrimas é justamente tal sentimento, da traição ao desapontamento, de que um mundo que parecia ser mais fácil, de repente, se mostrou de uma complexidade absurda, e aqueles que estavam ao nosso lado estão em trincheiras inimigas, atirando em nós ao lado dos injustos.
E, no Brasil, tivemos o impeachment, um novo marco fundador. A partir deste momento, a narrativa política brasileira sempre tem como binômio básico não mais um discurso de “ricos” contra “pobres” que nunca se sustentou na realidade, mas saber se você estava de verde e amarelo na Paulista ou de preto quebrando coisas.
O impeachment, que parecia algo de somenos importância diante do tamanho da roubalheira do PT (por que não a impugnação de toda a candidatura? por que não a cassação do registro da sigla? por que dar sobrevida ao PT?) se mostrou, até para o mais pessimista, uma força simbólica maior do que qualquer grande realidade. O PT apostou por meses na narrativa de “golpe”, só comprada por ele próprio, para então passar alguns meses pedindo “eleições diretas”. Bastaram as eleições municipais, que escorraçaram o PT da relevância partidária brasileira, para os petistas ficarem completamente sem discurso. Quem pediria eleições diretas quando não se consegue ficar em quinto lugar? O impeachment, como processo jurídico e político, se revelou mais importante do que qualquer derrota apenas jurídica maior ao Partido dos Trabalhadores. Para piorar, opositores de última viagem do PT, como Eduardo Cunha, caíram junto na Lava Jato. Os petistas, ao invés de agradecer, tiveram de lamentar que sua mentira foi exposta ao público.
É graças a todo esse conjunto que este Senso Incomum, não muito mais velho do que 2016, acabou despontando entre o público leitor ávido por algo além da narrativa pronta da grande mídia. Por isso precisamos tanto de seu apoio em 2016, e precisaremos ainda mais em 2017, para continuar explicando o que a mídia desinforma e apresentando pensamentos novos e conteúdo que vá de encontro ao “consenso geral” que se mostra a cada dia atirando para mais longe do alvo.
2016 conteve algumas vitórias extremamente importantes, apesar de um rol de derrotas que foi o comum para os outros anos. É por isso que nós estranhamente estamos otimistas e agradecemos a todos pela companhia neste último ano, fiéis de que podemos, juntos, influenciar positivamente a mentalidade coletiva ainda mais em 2017.
Que tenhamos todos um grande ano! Feliz 2017 e continuem conosco! |
01 de janeiro de 2017
senso incomum