Cada dia que passa torna-se mais tenebroso o cenário político brasileiro em virtude das implicações da profunda crise política que atravessamos, com seus iminentes escândalos de corrupção, os quais vêm simultaneamente dificultando a absoluta recuperação da economia brasileira.
Após enfrentarmos dois anos de violenta recessão, alimentávamos uma grande expectativa de que ela atualmente já estivesse apresentando resultados significativos na sua retomada, mas, pelo visto, o que se tem observado é apenas um tímido avanço. A perspectiva econômica ainda é positiva, porém, estamos em risco constante colocado pela instabilidade política.
Sinto que a razão pela qual ainda não aconteceu uma expressiva recuperação deve-se à incerteza que domina boa parte dos brasileiros. Na verdade, foram mais de dois anos de contração econômica cujo recuo foi de aproximadamente 10%, razão pela qual poderíamos denominá-la tranquilamente de “depressão” diante dessa tamanha magnitude.
Grande parte da nossa classe empresarial ainda se encontra com sua capacidade produtiva ociosa, sendo difícil achar alguém que pense em expandir seu negócio, fazer grandes investimentos, em um país no qual não se sabe quem será o presidente até 2018. Logicamente ninguém tem coragem de se comprometer.
Outra grande realidade é que existem algumas perguntas que são feitas pelos empresários e pela sociedade organizada que ainda estão sem resposta, todavia é importante tê-la com certa brevidade: será que o governo vai aumentar os impostos? Os subsídios serão reduzidos ou seus próprios gastos serão cortados? O próximo presidente da República a partir de 2019 vai alterar durante o seu mandato os rumos da nossa economia?
Uma das últimas delações da Operação Lava Jato que apresentou degradantes depoimentos em muitas horas de vídeos dos donos da maior empreiteira do Brasil e seus principais executivos nos diversos veículos de comunicação daqui e do exterior, contando como nas últimas décadas corromperam os políticos e também foram corrompidos por diferentes governos e partidos, sem dúvida, contribuíram para aumentar a decepção que se tornou praticamente generalizada, fomentando ainda mais a incerteza entre nós.
A sociedade brasileira encontra-se estarrecida com esse mega escândalo de corrupção dominante no País e, isso é venenoso, pois abre um espaço estratégico para a penetração de um tipo de populismo que poderá comprometer definitivamente o equilíbrio fiscal exigido pelo nosso orçamento. Uma alternativa desse tipo, sem dúvida, seria mais cruciante para os brasileiros, sendo bem mais acessível enfrentar com comprometimento e determinação os ajustes econômicos que são vitais para num futuro próximo alcançarmos um crescimento sustentável.
O momento é extremamente preocupante, pois demonstra estarmos carentes da visibilidade que é requerida, principalmente envolvendo as eleições majoritárias de 2018. A grande questão, a meu ver, passa essencialmente pela falta de total credibilidade e confiança dos brasileiros na política e, com uma intensidade bem maior, nos políticos da atualidade.
Dias atrás vimos pesquisas serem divulgadas mostrando que a popularidade do presidente Temer desabou após um ano à frente dos destinos da Nação. É um nítido sinal de alerta vigoroso para aqueles interessados no Brasil. Não que essas pesquisas sejam uma “previsão” sobre o futuro, mas porque elas representam fielmente o retrato do vazio político do país, não preenchido e enorme.
A atmosfera política está impraticável, sufocando o governo que vem se empenhando em aprovar reformas impopulares que buscam reduzir o déficit fiscal, cortando benefícios dos aposentados, etc. Desse modo, caso não obtenha o sucesso desejado, será inevitável aumentar impostos, logo agora, quando estamos tentando sair de uma perversa recessão.
Os últimos desgovernos da “iluminada” Dilma conseguiram a grande proeza de escavar o maior buraco já feito no orçamento público brasileiro, um estrago em torno de 7% do PIB (Produto Interno Bruto). A queda de arrecadação representa 25% do nosso déficit orçamentário, proveniente basicamente da recessão, porém com boas chances de vermos retorná-lo em outro momento com certa facilidade.
Segundo alguns analistas dedicados às finanças públicas, quando se desfaz os incentivos fiscais e todos os subsídios, também é possível ajudar, mas será preciso muito mais. Como já sabemos, não é uma tarefa fácil para qualquer governante cortar despesas, pois grande parte do orçamento tem destino certo. Portanto, dá para entender que os impostos terão que ser elevados para impedir o crescimento na relação entre a dívida e o PIB.
Há muito tempo que economistas com larga experiência na administração pública vêm alertando sobre a necessidade imperiosa de o governo conter o crescimento das despesas públicas, mas acontece que ele não optou em realizar isso previamente, então só resta aplicar um tipo de ajuste atrasado que pode requerer, em curto prazo, alguns impostos maiores que, com certeza, trarão mais descontentamento. Para muitos deles, um aumento de impostos nesse momento é um mal menor.
Tenho muito receio da próxima eleição, isto me preocupa bastante. O governo está realizando reformas, mas corre um sério risco de ver sua agenda ser interrompida. Precisamos continuar perseguindo-as, mas o caminho é extenso e trabalhoso. Não basta somente a Previdência, é importante combater outros gastos, questionar a necessidade do aumento dos impostos e discutir uma ampla agenda de produtividade.
Precisamos mais do que nunca continuidade no próximo ano. Não pressinto um risco global relevante e o ambiente atualmente até me parece relativamente interessante para países emergentes. Ao olharmos pelo retrovisor da história, notamos, imediatamente, que o mundo jamais ficará tranqüilo para sempre.
Enquanto não pacificar a crise política, o Brasil não voltará a crescer. A economia vive de expectativas e em nenhum lugar do mundo a economia cresce com crise. Com instabilidade, também não existe país que consiga crescer sua economia, ainda mais, com as instituições se digladiando mutuamente.
04 de maio de 2017
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)