"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 4 de outubro de 2014

PT EMPURRA AÉCIO PARA CIMA

 



 
O que parecia certo, o segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) na disputa pela Presidência da República, começou a ficar incerto na última semana da eleição.

A estratégia do PT de desconstruir a ex-ministra do Meio Ambiente, com uma campanha eticamente questionável, surtiu resultado. Marina perdeu entre 3 e 5 pontos percentuais em menos de uma semana e ainda não conseguiu estancar o sangramento.

O efeito colateral e calculado da artilharia petista é o renascimento de Aécio Neves (PSDB) na campanha. Enquanto Dilma parece já ter sugado o seu máximo de votos vacilantes de Marina, o tucano continua a galgar uma escalada de última hora, reduzindo sua distância para a segunda colocada. A dúvida do PSDB agora é se até domingo dará tempo para reverter o jogo.

Para o PT, como demonstram todas as projeções de segundo turno, Aécio é um adversário mais fácil de ser batido. Como Marina não apoiaria o tucano e o PSDB é um adversário desgastado nacionalmente, é mais evidente visualizar o triunfo de Dilma. Já Marina, apesar da fragilidade e da falta de reação mostrada no primeiro turno diante da avalanche petista, ainda, sim, é um inimigo mais forte e enigmático.


CHANCES
A ex-ministra do Meio Ambiente, ao contrário de Aécio e de Dilma, encarna um personagem mais próximo ao eleitor mais pobre e, ao mesmo tempo, é apoiada por uma parcela descolada de personalidades atribuindo um ar alternativo a sua candidatura. Caso sobreviva e avance ao segundo turno, mesmo combalida, Marina Silva ainda deixará a eleição em aberto.

Por sua vez, caso Aécio avance, independentemente se ameaçará Dilma – provavelmente, não – ele conseguirá uma importante vitória pessoal e, principalmente, dentro do PSDB. Seu nome continuará gravitando dentro do partido como uma opção para 2018, hipótese descartada se o mineiro naufragar no próximo domingo e amargar um terceiro lugar.


MÁQUINA PÚBLICA
São vergonhosos o uso da estrutura de órgãos estaduais e federais nestas eleições e a falta de punição para essas irregularidades. Em Minas Gerais, o mailing da Cemig foi usado para disparar propaganda de candidatos do PSDB – Pimenta da Veiga e Aécio Neves – para todos os funcionários.

Deputado estadual do PT em Minas, Durval Ângelo também admitiu explicitamente em vídeo divulgado pelo jornal "Estado de S.Paulo" o uso de funcionários e do aparato dos Correios no Estado para impulsionar a campanha da presidente Dilma Rousseff e do candidato do PT ao governo, Fernando Pimentel.

Tão absurdo quanto os atos é o silêncio de parte de eleitores engajados sobre esses escândalos no processo eleitoral e também na Justiça.


(transcrito de O Tempo)
04 de setembro de 2014

Murilo Rocha

AÉCIO APOSTA TUDO NO ANTIPETISMO PARA CHEGAR AO SEGUNDO TURNO

 


 
O debate na TV Globo ontem deixou claro que Aécio aposta tudo no antipetismo para chegar ao segundo turno. O candidato citou as letras PT em praticamente todas as suas intervenções. Isto bate com o mostrado recentemente no horário eleitoral, no qual seu programa clamou abertamente pelo voto útil contra o PT.
 
Ao mesmo tempo o tucano mirou no ponto vulnerável da sua candidatura, a pouca penetração no eleitorado de menor renda, ao reafirmar o compromisso de “rever o fator previdenciário” (criado por FHC e que penaliza os aposentados). Logo depois, o tucano se referiria ao dirigente da Força Sindical, Paulinho, seu aliado, como “companheiro”.
Se em 2002 Lula lançou sua Carta ao Povo Brasileiro para agradar ao mercado, agora Aécio parece esboçar uma Carta ao Trabalhador Brasileiro, para lhe abrir um eleitorado que vem se mantendo distante do PSDB há muito tempo, e sem o qual dificilmente se ganha eleição.

As campanhas políticas de 2014 foram marcadas pela palavra “mudança”. Dilma, Aécio e Marina fabricaram slogans com ela: mais mudança, com coragem, mudança de verdade, para valer, ela só começou.

CONTINUIDADE

Na narrativa televisiva de país de Dilma as mudanças começaram em 2002 com a eleição de Lula e precisam ter continuidade. A transformação fundamental (ainda não concluída) foi a de que nos tornamos “um país de classe média”. Que com Lula 35 milhões de brasileiros saíram da pobreza e ingressaram na “nova classe média”, também chamada de “classe C” pelos institutos de consumo, aquela que ganha entre 2 e 5 salários mínimos de renda familiar.

A mudança é a continuidade dessa mudança, na qual agora todos (ou quase todos) os brasileiros podem “andar de avião”, ter acesso a universidades, uma mudança de longo prazo, na verdade permanente. A esta “mudança” deve-se incorporar todos os brasileiros, mas isto não se faz da noite para o dia, pareceu dizer a propaganda dilmista na TV durante a campanha, por isso, mudar é igual a continuar.

MUDANÇA DE MARINA

A mudança de Marina aparenta ser de outra natureza. É fundamentalmente uma mudança na forma de fazer política no país. Daí o mote da candidata da “nova política”. Nova política que parece pertencer ao reino da ética pessoal: o político-cidadão-presidente fazendo as escolhas certas a partir do seu raio de ação.
Se cada indivíduo fizer sua parte, o carro sai da lama. É “nova” no sentido que é uma “política feita pela sociedade”, é “autoral” como disse a candidata. Guarda alguma semelhança com a frase de Ghandi: devemos ser a mudança que queremos ver no mundo. Por esta visão, o nó brasileiro é a política, é via sua regeneração que o país vai melhorar. Nestes termos é preciso mudar tudo, a maneira como o Congresso atua, o modo como os partidos agem, o jeito de o Governo operar politicamente sua administração. Em Marina tudo isso parece encarnar nela, na sua pessoa, símbolo intransferível e síntese da “mudança”.

MUDANÇA DE AÉCIO

Já a mudança de Aécio parece recuperar algo qualquer de um tempo perdido. Mudar é, basicamente, tirar o PT do governo. Não por acaso o candidato se auto-definiu em entrevistas como “especialista em derrotar o PT”. O PT encarna, por esta visão, o mal no Brasil, associado a “quadrilhas” e “corrupção”. Se livrar do PT, enfim, é a grande mudança que o país precisa. O receituário se completa com promessas de cunho liberal: cortar pela metade o número de ministérios, “gastar menos com o governo e mais com as pessoas”, tolerância zero com a inflação. É uma mudança de orientação de governo, não é tanto de forma ou conteúdo. É uma mudança mais imediata, não é de longo prazo (como o PT reivindica) ou  profunda (como vislumbra Marina).

Ao longo da campanha a imprensa alardeou o forte desejo por mudanças por parte do eleitorado. Desejo detectado em pesquisas de opinião que apontam que 73% dos eleitores querem que o próximo presidente atue de maneira diferente do atual. O desejo por mudanças, porém, embute uma brecha para a continuidade. Se pelo Ibope 27% querem que o próximo presidente mude totalmente o governo do país, outros 46% dizem que gostariam que este mudasse muita coisa mas mantivesse “alguns programas”.
Há nuances no “mudancismo”. As pesquisas também mostram que, se insatisfeito no geral com os serviços públicos, o brasileiro está relativamente satisfeito com sua vida privada. A maioria dos eleitores (68%), por exemplo, declarou em levantamento recente que seu poder de compra está igual ou melhor do que há dois anos – e que a situação tende a melhorar no próximo ano.

Seja como for, o eleitor parece querer mudanças, mas em termos vantajosos. Isto significa mudanças e permanências ao mesmo tempo. Os candidatos buscam expressar este mix de sentimentos. O que sairá das urnas no domingo?

04 de outubro de 2014
Rogério Jordão
Yahoo

DATAFOLHA: AÉCIO PASSA MARINA A UM DIA DA ELEIÇÃO. DILMA SEGUE NA LIDERANÇA

 

Dilma (PT) continua com 40% dos votos totais, contra 24% de Aécio (PSDB) e 22% de Marina (PSB)   
Em simulação de segundo turno, Dilma vence tanto Aécio quanto MarinaEduardo Enomoto/28.09.2014/R7
Pesquisa Datafolha para presidente da República, divulgada neste sábado (4), mostra que Aécio Neves (PSDB) passou, numericamente, a candidata do PSB, Marina Silva. O tucano aparece com 24% dos votos totais, contra 22% da adversária.
Com a margem de erro, de dois pontos para mais ou para menos, os dois estão empatados tecnicamente um dia antes da votação. A presidente Dilma Rousseff (PT) manteve a liderança e continua com 40%.

No último levantamente, divulgado na quinta-feira (2), Dilma já aparecia com 40%, enquanto Marina tinha 24% e Aécio, 21%. A pesquisa confirma o cenário de alta do tucano e de queda da ex-senadora. Desde a pesquisa de 29 de agosto, auge da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina caiu de 34% para 22% — 12 pontos percentuais. Já Aécio subiu nove pontos no período, passando de 15% para 24%

Ainda considerando os votos totais, Luciana Genro (PSOL), Everaldo Pereira (PSC) e Eduardo Jorge (PV) têm 1% cada no levantamento divulgado hoje. Rui Costa Pimenta (PCB), Levy Fidelix (PRTB), Mauro Iasi (PCO), Eymael (PSDC) e Zé Maria (PSTU) não chegaram a pontuar, mas, juntos, somam 1%. Enquanto 4% disseram que vão votar branco ou nulo, outros 5% dos entrevistados disseram não saber em quem votar. 

O Datafolha simulou também dois cenários de segundo turno. No primeiro, contra Marina Silva, Dilma tem 49% dos votos totais contra 39% da candidata do PSB.
Já se o adversário for Aécio Neves, a presidente tem 48% das intenções de voto, contra 42% do tucano.
 
O levantamento foi encomendado pelo jornal Folha de S.Paulo e pela TV GLobo. Foram entrevistadas 18.116 pessoas, em 468 municípios, entre sexta-feira (4) e hoje. A pesquisa está registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número BR-01037-2014.

Votos válidos

O Datafolha divulgou também os números de intenção de voto considerando apenas os votos válidos — cenário em que se excluem os votos brandos e nulos e o percentual de eleitores indecisos. Esse recorte pode indicar se a eleição será definida no 1º turno, o que ocorre quando um candidato tem mais de 50% dos votos.

Nesse cenário, Dilma aparece com 44% na preferência do eleitorado, contra 26% de Aécio e 24% de Marina. Genro, Jorge e Everaldo repetem o resultado de 1% cada.
No segundo turno, Dilma vence seus dois adversários com os seguintes percentuais: contra Aécio, 53% a 47% dos votos válidos; contra Marina, 55% a 47%.

04 de setembro de 2014
 

O MEIO VOTO

 

Artigo publicado pelo Correio Braziliense em 4 out° 2014
O grande dia está aí. Todos os eleitores brasileiros vão escolher presidente, governador, senador e deputado. Infelizmente, felicidade perfeita não existe: o voto, por ter caráter compulsório, deixa de ser direito para tornar-se obrigação, o que, convenhamos, tira a graça e estraga a festa.
 
Expat 1
 
Melhor dizer que os eleitores brasileiros serão obrigados a comparecer às urnas amanhã. Para escapar (de graça), só há duas vias: voto nulo ou voto em branco. Ao fim e ao cabo, se o cidadão ficasse em casa, o efeito seria o mesmo. Por que, então, obrigá-lo a declarar pessoalmente, a uma máquina, que não lhe apetece escolher ninguém?
Um dia alguém ainda há de desvendar essa norma bizantina.
 
Seja como for, é melhor que nada. Considerando que metade da humanidade não goza do direito de designar dirigentes nem representantes, não podemos nos queixar. E é bom ter juízo ao escolher. Depois, não vale reclamar com o bispo.
 
Muita gente desconfia daquela engenhoca eletrônica que aposentou e substituiu a boa e velha urna. Prática, ela é. Mas por que será que nenhum outro país sucumbiu a seus encantos nem ao avanço revolucionário que ela garante?
Tão prática, segura e rápida, mas… ninguém quer saber dela. Sei não. Fico meio cismado com essa singularidade nacional.
Chega de divagar – vamos aos fatos. Nossa Constituição reza que o Legislativo, o Executivo e o Judiciário são Poderes da União, independentes e harmônicos. Diz ainda que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos.
 
Expat 2
 
A lei exige a escolha, por sufrágio universal e direto, do chefe do Executivo e dos membros do Legislativo. Características específicas do Poder Judiciário fazem que seus dignitários sejam designados por concurso ou por nomeação. Então, regozijemo-nos! Todos os eleitores brasileiros estão prestes a escolher os protagonistas do Executivo e do Legislativo. Correto?
Não, a verdade é outra.
Todos os brasileiros não são iguais perante a urna. Importante franja de cidadãos – maiores, vacinados, civilmente capazes e munidos de título de eleitor – não votará como os demais. Falo dos que residem fora do território nacional, entre os quais me incluo.
 
Expat 3
 
Se a obrigatoriedade do voto já incomoda muito brasileiro domiciliado em terra pátria, nós outros, residentes em outras plagas, vivemos situação ainda mais esquisita. Somos obrigados a votar, pouco importando que centenas de quilômetros possam nos separar da urna mais próxima.
No entanto, nosso voto é cerceado, circunscrito à escolha do chefe do Executivo nacional. Não nos é permitido escolher nosso representante no Legislativo. Temos direito a meio voto. Por que essa bizarria?
 
Porque a lei não prevê representação para os 3 milhões de brasileiros do exterior – população mais numerosa que a do DF ou a de Mato Grosso do Sul! E pensar que somos justamente os que não reivindicam bolsa nenhuma.
Ao contrário, as remessas enviadas pelos compatriotas do estrangeiro revigoram as finanças nacionais. Estima-se que entre 6 e 7 bilhões de dólares sejam por nós injetados, ano sim, outro também, na Economia nacional. Em moeda forte, líquida e certa.
 
Em 1988, quando se fez a Constituição, brasileiros no exterior eram poucos. De lá para cá, o aumento foi exponencial, mas o legislador não se deu conta. Para defender nossos interesses, continuamos a depender da boa vontade de algum parlamentar caridoso.
 
Expat 4
 
A França, que tem apenas um milhão e meio de expatriados, acode seus filhos distantes. A Itália também. Ambas permitem que os não residentes elejam certo número de parlamentares para representá-los. Nós não temos esse direito.
 
Há injustiça e incoerência nessa negação de representação democrática. Se servimos para escolher o presidente, não há razão para que nos soneguem o direito de eleger nossos deputados. Nossos interesses são específicos: transmissão da nacionalidade, serviço militar, casamento misto, registro civil, atos notariais, compra de uma casinha em Xiririca do Brejo, validação de contribuição previdenciária feita no exterior para aposentadoria no Brasil, dupla cidadania, acordos de bitributação. E muito mais.
 
Para esta eleição, já não há mais jeito, que as apostas estão feitas e a roleta está girando. Rien ne va plus! Só nos resta torcer para que algum parlamentar clarividente – escolhido pelo distinto leitor e pela gentil leitora – se apiade de nossa desdita e lance um projeto de emenda constitucional.
Quem sabe, daqui a quatro anos, o brasileiro do exterior já terá deixado de ser o primo pobre da República.
 
04 de outubro de 2014
José Horta Manzano