"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 22 de junho de 2014

A PRIMEIRA VÍTIMA

A frase é conhecida: “Na guerra, a primeira vítima é a verdade”. A autoria é controversa, mas a aplicação cabe de maneira inquestionável à reação do PT ante à constatação do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, de que a avaliação negativa sobre o governo não é coisa só da “elite branca”.

Baixou o desconforto no partido após a divulgação da conversa dele com blogueiros amigos, justamente às vésperas da convenção que oficializaria neste sábado a candidatura de Dilma Rousseff com ato de desagravo à presidente devido à agressão verbal sofrida na abertura da Copa.

Se de um lado Carvalho enfraqueceu o estratagema com seu testemunho imune à acusações de “golpismo”, de outro o PT demonstrou que encara essa eleição como uma guerra e não se intimida em fazer da verdade sua primeira vítima. Qualquer coisa serve para construir uma narrativa que sirva para desviar a conversa dos problemas concretos. Da economia que patina, do atendimento de saúde sofrível, da educação vergonhosa, da segurança pública abaixo da crítica, da inflação ameaçadora, do crescimento pífio, do envio da ética às favas, da transformação do Estado em aparelho partidário etc.

Os companheiros de Gil­berto Carvalho acharam que ele deu munição ao adversário ao dizer aos blogueiros, em conversa transmitida pela internet, coisas que os entusiastas do “Volta, Lula” dentro do partido dizem de Dilma Rousseff com palavras muito menos gentis. Algumas não ficando nada a dever às pronunciadas naquela tarde no Itaquerão.

Ora, o primeiro a fornecer munição contra si foi o próprio governo produtor de todos os escândalos, trapalhadas políticas, desacertos administrativos e zigue-zagues na política econômica; e também o partido na aflição de ver Dilma fora da disputa pelo medo de perder a eleição. A oposição, como se sabe, em todo o período teve desempenho pífio.

O “erro” do secretário-geral for ter dito isso no momento em que os petistas acreditaram ter achado uma mina para explorar, fazendo de Dilma a vítima de falta de educação alheia. Já haviam tentado a tática dos fantasmas; ninguém deu bola, as pesquisas continuaram no mesmo diapasão negativo. Veio em seguida a história do ódio que seria vencido pela esperança e, de novo, nada. Por último, deu-se o inusitado: vaia transformada em elogio, em trunfo eleitoral a ser explorado até o osso.

Saiu a primeira pesquisa realizada depois de iniciada a Copa e onde estava registrada aquela solidariedade toda à presidente? Pelos números, ateve-se às manifestações ao terreno da civilidade, nada tendo a ver com política ou eleições. Na realidade, a pesquisa do Ibope mostra que, em termos de decisão de voto do eleitor, as intenções estão temporariamente suspensas, porque os interesses estão voltados para os jogos. Os candidatos, todos eles, variaram pouca coisa, para mais ou para menos. Quadro, portanto, estável.

Essa estabilidade também se repete nos índices negativos de avaliação do governo, cuja desaprovação se mantém superior (33%) à aprovação (31%). Todas as políticas públicas tiveram altas taxas de rejeição, sendo que a saúde atingiu 78%, mesmo com toda a propaganda em torno do programa Mais Médicos. Com Bolsa Família e tudo, a desaprovação para a área de combate à pobreza é de 53%.

Os que não confiam na presidente são 52% dos pesquisados. Ela continua na frente com 39% das intenções de votos, o mesmo patamar de 2010 a essa altura do ano. Com uma diferença: estava em ascensão e representava um governo com avaliação negativa de 4%. Dilma é conhecida por 99% dos que responderam à pesquisa, sendo que 43% dizem que não votam nela de jeito nenhum.

Convenhamos, haja elite branca para dar conta disso tudo. Essa é uma verdade expressa em números que o PT insiste em abater a golpes de invencionices que seriam apenas infantis, não fossem motivadas por boa dose de má-fé.

 
22 de junho de 2014
Dora Kramer, Estadão

'ASSIM ERA, ASSIM É"

 

Um notável empresário costumava dizer que a vantagem de ser idoso é ter visto tudo acontecer, e ter visto o contrário também. Pois é. Quem imaginaria?

1 - Negro mandando brancos ricos e poderosos para a cadeia;
2 - Esquerdistas citando (e com amor) o autor que antes odiavam: Nelson Rodrigues. Diziam que era reacionário. E ele confirmava;
3 - Maluf aliado ao PT mas dizendo que, perto de Lula e Dilma, é comunista;
4 - A elite branca endinheirada comparecendo em massa ao estádio do Corinthians, no elitista bairro de Itaquera;
5 - Eduardo Suplicy fazendo um discurso mais curto que o do candidato de seu partido ao Governo paulista;
6 - Aécio e Serra se elogiando e cumprimentando como velhos amigos;
7 – Brasileiros fascinados por um papa argentino;
8 - Brasileiros fascinados por um craque argentino;
9 - O comunista linha chinesa (da antiga, original) Aldo Rebelo, ministro dos Esportes, o imprimindo e distribuindo A Pátria em chuteiras, de Nelson Rodrigues – porque, ao contrário do que pensa a direita, futebol não é o ópio do povo;
10 - Políticos presos brigando para (argh!) trabalhar;
11 - Marta Suplicy tuitando sua alegria bem na hora do gol-contra do Brasil;
12- Lula desistindo de ir ao estádio que ajudou a construir, para a abertura da Copa que conseguiu trazer para cá. E Dilma, que nem sabe quem é a bola, indo.

Tem Boy na linha

O PR paulista decidiu apoiar o candidato do PT ao Governo, Alexandre Padilha. O PR paulista é controlado diretamente de Brasília, por Boy, Valdemar Costa Neto, condenado no processo do Mensalão, a partir de sua cela na Papuda.

Guerra é sempre guerra

Depois de todos os atritos do processo do Mensalão, houve o incidente em que o advogado de José Genoíno, Luiz Fernando Pacheco, exigiu que o pedido para que seu cliente voltasse à prisão domiciliar fosse julgado pelo plenário e foi retirado do recinto, pelos seguranças, por ordem do ministro Joaquim Barbosa.
A coisa não parou por aí: Barbosa pediu à Procuradoria de Justiça de Brasília que mova ação penal contra o advogado. Não é uma ordem, entretanto; o Ministério Público decide se deve ou não iniciar a ação contra Pacheco.

Hoje, talvez…

Está marcada para hoje a reunião em que o Conselho de Ética da Câmara Federal começa a ouvir testemunhas no processo de quebra de decoro contra o deputado André Vargas, do Paraná, ex-PT, ex-vice-presidente da Casa. Vargas é acusado de ter mentido à Câmara sobre seu relacionamento com Alberto Youssef, apontado pela Polícia Federal como doleiro. O relator do processo, Júlio Delgado, do PSB mineiro, pretende ouvir os parlamentares petistas Cândido Vacarezza, Vicentinho e Rui Falcão, mais Leonardo Meireles e Esdras Ferreira, donos do laboratório Labogen, e Youssef.
Só há um problema: como ontem houve jogo do Brasil, esta é uma semana curta, e não será fácil reunir tantos parlamentares. Ir a Brasília depois de um jogo do Brasil pode ser esforço excessivo.

…talvez quem sabe

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre a Petrobras (aquela em que a oposição deposita suas esperanças de investigação) tem reunião marcada para hoje. Ninguém acredita que haja reunião – sabe como é, jogo do Brasil, semana curta, Copa, campanha – mas o Governo teme que os oposicionistas consigam reunir número suficiente para iniciá-la e criar problemas difíceis de resolver. A ordem é ter no Congresso número suficiente de parlamentares governistas para, caso a CPMI consiga reunir-se, impedir que sejam aprovadas medidas indesejadas, como a quebra de sigilos de gente do Governo na área de petróleo.

Bala de prata

Inquérito explosivo: um repórter habituado a desvendar segredos, Cláudio Tognolli (https://br.noticias.yahoo.com/blogs/claudio-tognolli/), fala da investigação das ligações entre o governador fluminense Sérgio Cabral, PMDB, com o laboratório Laborvida, que trabalha exclusivamente em parceria com laboratórios da rede pública. Seu acionista majoritário é a Facility Participações, do empresário Arthur César Menezes Soares Filho – a mesma Facility que, desde o início do mandato de Cabral, em 2007, é a maior prestadora de serviços ao Governo fluminense.
Ganhou até (com seu novo nome, de SKS) o Centro de Diagnóstico por Imagem, o Rio Imagem. Todos trabalham em conjunto com o secretário da Saúde, Sérgio Cortês. Quem é Cortês? Dirigiu o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia de 2002 a 2006; auditoria do Ministério da Saúde concluiu que houve desvio e determinou que Cortês devolvesse R$ 3,4 milhões. Em dezembro de 2013, Cortês foi condenado por desviar verba da saúde para aplicar em propaganda do Governo. E, mais interessante, era um dos participantes da Farra do Guardanapo, em que um grupo de políticos com guardanapos na cabeça se divertia em Paris, ao lado de Fernando Cavendish, da empreiteira Delta.
O caso está sendo investigado sigilosamente pelo Ministério Público do Rio

22 de junho de 2014
Carlos Brickmann

'SÓ UM INTERVALO'

 

Um jogo de futebol, mesmo um jogo de abertura de Copa do Mundo e com o time brasileiro em campo, é apenas um jogo de futebol. Para a maioria da população brasileira, as aflições da luta diária e silenciosa pela sobrevivência são bem maiores, na prática, do que qualquer tristeza esportiva; ninguém tem tempo para ficar chorando quando é preciso encarar, logo na madrugada seguinte, três horas de ônibus, metrô e trem para ir até o trabalho.
O ex-presidente Lula pode achar que é uma “babaquice” pensar em transporte público de primeira classe para quem vive na terceira, nesta bendita Copa que inventou de trazer para o Brasil sete anos atrás. Pode achar o que quiser, mas não vai aliviar em um grama a selvageria imposta à população para que ela exerça seu direito constitucional de ir do ponto A ao ponto B – e muitos outros prometidos em troca dos 30 bilhões de reais que custará a Copa mais cara da história, num país onde a classe média começa nos 290 reais de renda por mês. Do mesmo modo, as alegrias da vitória são apenas momentos que brilham, depois de leve oscilam, e se desfazem num prazo médio de 48 horas.

A vitória do Brasil sobre a Croácia por 3 a 1, em sua estreia na mais grandiosa e emocionante disputa esportiva do planeta, foi um desses momentos que valem enquanto duram. Não garante nada, é claro, numa competição de alpinismo em que cada passo rumo ao topo é mais difícil que o passo anterior; garante mais, em todo caso, que uma derrota. Mas para a vida do Brasil e dos brasileiros é apenas um intervalo que não muda nada – justamente numa hora em que é urgente mudar tanto.
É urgente porque o Brasil se encontra, neste mês de junho de 2014, em estado de desgoverno. A questão, a esta altura, não é dizer que o governo da presidente Dilma Rousseff tem tudo para ficar entre os piores que o país jamais teve. Isso muita gente, e cada vez mais gente, já está cansada de saber – segundo a última pesquisa do Pew Institute, organização americana de imparcialidade e competência indiscutíveis, mais de 70% dos brasileiros estão hoje descontentes com o governo; eram 55% em 2013.
Esse nível de frustração, segundo o instituto, “não tem paralelo em anos recentes”. Que mais seria preciso dizer? O problema real, seja qual for o resultado final da Copa, é que o governo federal deixou de existir como autoridade responsável; traiu os eleitores, suprimindo o seu direito de ser governados sob o império da lei, e passou a agir no mundo da treva. Não se sabe se os donos do poder estão sonhando em arrastar o Brasil para uma aventura totalitária. Mas certamente dão a impressão de quererem algo muito parecido com isso.

Lula, Dilma, o PT e as forças postas a seu serviço não aceitam, por tudo o que dizem e sobretudo pelo que fazem, a ideia de perder a eleição presidencial de outubro. Por esse objetivo, mandaram a governança do país para o diabo e empregam 100% de suas energias, sua capacidade de cometer atos ilegais e seu livre acesso ao dinheiro público para impedir que a massa dos insatisfeitos possa eleger para a Presidência qualquer candidato que não se chame Dilma Rousseff. Uma greve ilegal e abusiva dos agentes do metrô de São Paulo, armada na zona escura dos apoios clandestinos ao governo, fez algo inédito: montou piquetes para impedir que os passageiros chegassem aos trens – dentro da estratégia de impor a desordem nos serviços públicos paulistas e, com isso, prejudicar candidatos da oposição.
Um decreto da presidente criou, e quer tornar efetivos, uns “conselhos populares” com poderes e competências acima dos do Congresso Nacional e do Judiciário. Num país com 55 000 assassinatos por ano, o governo nega aos cidadãos o direito fundamental à vida, ao tornar-se cúmplice dos criminosos com sua tolerância máxima ao crime – em quase doze anos de governo, Lula e Dilma não disseram uma única palavra contra esse massacre, e muito menos tomaram a mínima providência a respeito.
Ambos tiveram, ou compraram, o apoio de 70% do Congresso; o que fizeram de útil com essa imensa maioria? Zero. Ela foi usada apenas para impedir investigações sobre seus crimes, como na espetacular sequência de escândalos na Petrobras, por exemplo, e encher o PT e seus aliados com empregos públicos, verbas e oportunidades de negócio. O uso sistemático da mentira tor­nou-se a forma mais praticada de ação política. A presidente da República não fala ao público na abertura da Copa – fica num discurso pré-fabricado de elogio a seu governo.
Um Brasil como esse perde se perder e perde se ganhar.

22 de junho de 2014
J. R. GUZZO, Veja

EM ELEITOR NÃO SE BATE NEM COM FLOR

São Paulo está virando Paris. Na capital francesa, já faz parte dos usos e costumes a depredação anual de centenas de carros nos réveillons. Aqui, segundo a Veja, só nos quatro primeiros meses deste ano, ao menos 227 ônibus foram incendiados no Brasil em 38 cidades. Dá 56 carros por dia. Não temos notícia de um só responsável pelo vandalismo que tenha ficado atrás das grades. Pelo menos doze capitais registraram o mesmo tipo de ocorrência.

No que diz respeito a São Paulo, o número de coletivos queimados nesse período ultrapassa o total de ocorrências registradas durante todo o ano de 2013. Foram 70 e 53, respectivamente. O Estado do Rio de Janeiro aparece como a segunda frota mais afetada – 31 ônibus – e Minas Gerais e Pernambuco surgem na sequência com 15 e 14 veículos atingidos. Apenas na cidade de Caruaru, em Pernambuco, no último dia 7, um incêndio criminoso atingiu uma garagem e destruiu 12 coletivos em uma só noite.

Mês passado, a depredação de ônibus nesta capital acabou da noite para o dia. Foi após descobrir-se a ligação de um vereador do PT com o PCC, o grande responsável pela queima de coletivos. O serviço de vans, que é dominado pelos criminosos, não teve um só veículo queimado nesse tempo todo. Cobram o que querem durante as greves e permanecem incólumes. Se alguém precisa de prova maior do comprometimento dos proprietários de vans, é porque se recusa a aceitar o óbvio.

Ontem foi dia de festa para os bagunceiros em São Paulo. Para não sujar mais o pau de galinheiro em que virou o PT, nenhum ônibus foi incendiado. Mas foram invadidas duas concessionárias de carros importados. Só aí, um prejuízo de 3 milhões de reais. Foram ainda quebrados os vidros de agências bancárias e lojas, e destruídas lixeiras, orelhões e vasos de plantas. A manifestação, que reuniu 1.300 pessoas, pedia fim da tarifa do transporte e bloqueou marginal Pinheiros. Era uma comemoração da gloriosa Revolução de Junho de 1913. Tudo contra o capital e o comércio! Viva 1917!

Segundo a Folha de São Paulo, o protesto, organizado pelo MPL (Movimento Passe Livre, terminou com ao menos cinco agências bancárias, duas lojas de carros de luxo e um veículo de imprensa depredados ontem, na zona oeste de São Paulo. O ato, iniciado na av. Paulista, reuniu 1.300 pessoas. Ou seja, basta algumas centenas de pessoas para paralisar o trânsito das principais vias da cidade e depredar a gosto o que quiser.

Índios munidos de arcos e flechas também participaram do ato e cobraram a demarcação de terras. Tudo isso com total permissão das autoridades. A televisão mostrou batalhões de choque, munidos de ameaçadoras armaduras, escudos e bombas de gás... a 300 metros de onde os arruaceiros quebravam os carros. Mais não se aproximaram. O ano é eleitoral e urge evitar alguém ferido. Ou seja, teremos ainda muito a ver até as eleições.

Curiosamente, a imprensa absolve os ativistas do MPL e atribui a baderna aos tais de black block que, coincidentemente, sempre estão juntos com os primeiros. O MPL se exime dos quebra-quebras. "Não escolhemos quem participa dos nossos atos. Não foi o MPL que começou a destruição e não conseguimos sequer terminar o nosso ato, pois quando chegamos perto do largo da Batata fomos atingidos por bombas da polícia."

Até pode ser. Mas as manifestações pacíficas do movimento sempre terminam com carros e lojas incendiadas e milhões de reais de prejuízo. Quando alguém é preso – ou apreendido, este gentil eufemismo que a imprensa endossou quando o arruaceiro é menor de idade – tem seu nome registrado na polícia e é logo liberado, sem precisar sequer de advogado.

Segundo Denis Cicuto, diretor do Grupo Caltabiano, dono das duas lojas de carros depredadas, que foram abertas nove dias atrás: "Isso aqui não é terra de ninguém", Tem razão. É terra dos que se julgam no sagrado direito de destruir propriedades alheias. Com apoio das mais altas autoridades do país.

Alguém ainda lembra de Dona Dilma, quando, em junho do ano passado, saudava os vândalos como a nova força da naçãoo? Se alguém já não lembra, eu lembro. Segundo a presidente, depredar ônibus, carros e bancos eram manifestações pacíficas próprias da democracia.

“O Brasil hoje acordou mais forte. A grandeza das manifestações de ontem comprovam (o plural é dela) a energia da nossa democracia, a força da voz das ruas e o civismo da nossa população. É bom ver tantos jovens e adultos, o neto, o pais, o avô juntos com a bandeira do Brasil cantando o hino nacional, dizendo com orgulho ‘eu sou brasileiro’ e defendendo um país melhor. O Brasil tem orgulho deles”, disse então a presidente.

O Brasil se orgulhava de seus baderneiros. Fernando Henrique Cardoso, que de seu glorioso climatério assistia de camarote os distúrbios de rua, perdeu uma ocasião única de ficar calado. Desqualificar os protestos dos jovens em São Paulo e outras capitais "como se fossem ação de baderneiros" constituía, na avaliação do ex-presidente, "um grave erro".

Para ele, "dizer que essas manifestações são violentas é parcial e não resolve. É melhor entendê-las, perceber que essas manifestações decorrem da carestia, da má qualidade dos serviços públicos, das injustiças, da corrupção". Geraldo Alckmin, que iniciou classificando os manifestantes como "vândalos" e "baderneiros", logo acudiu com panos quentes: "Queria fazer um elogio às lideranças do movimento e também à segurança pública e à Polícia Militar”. Para o governador, a primeira reunião com os utópicos desvairados do Movimento Passe Livre (MPL) foi positiva. "Foi uma reunião muito madura, muito proveitosa."

O resultado é o que vimos ontem, antes de ontem e desde há um ano. Não bastasse isto, o Crakgarten inaugurado por Haddad continua conquistando território. Os viciados na droga (perdão, leitor! Viciado é quem fuma cigarros. Quem fuma crack é usuário) ergueram nova favela no centro da cidade, entre a alameda Cleveland e a rua Helvétia, região mais degradada da Luz, centro de São Paulo, a uns 15 minutos de caminhada aqui de casa. E olhe que meu bairro é tido como nobre!

Trata-se do mesmo terreno onde foi erguida uma pequena favela removida no mês passado pela prefeitura ao lançar o programa "de Braços Abertos”, que consistiu em retirar os barracos e alojar seus moradores em quatro hotéis da região em troca de salário e emprego. Na época, com estes subsídios aos – como direi? – usuários, o preço do crack subiu em flecha no pedaço. A nova favela nem é para residência. Segundo um dos proprietários dos "imóveis", servem para ganhar algum dinheirinho: são alugadas para consumo do crack e relações sexuais. Leio no IG:
“Pode passar! Se você andar pelo canto da calçada, ninguém mexe”. O conselho é de um agente da Guarda Civil Metropolitana (GCM), que às 15h da última quinta-feira (20) acompanhava do carro a movimentação de pelo menos uma centena de dependentes de crack concentrados na região.

“Eles começaram a voltar faz umas duas semanas”, estimou ao iG um dos seguranças particulares que montam guarda na região, mas que pediu sigilo sobre sua identidade. Ao todo, cinco vigilantes observam o tumulto munidos de escuta e rádio. “Sem nenhuma autoridade ninguém anda aqui.”

Aos mais desavisados, a surpresa começa no largo Coração de Jesus, entre as alamedas Glete e Dino Bueno. O lixo pela rua, o comércio fechado e as discussões em voz alta impedem o avanço de quem precisa atravessar a via. A única garantia de segurança é uma viatura da CGM estacionada na metade do caminho.

A surpresa se transforma em susto ao se aproximar da esquina da Helvétia com a Cleveland. No entroncamento, dezenas de usuários de crack andam de um lado para o outro. Alguns consomem a droga, outros trocam socos, enquanto há quem prefira atendimento médico em uma tenda montada no terreno, mas ninguém ultrapassa o perímetro, delimitado por duas viaturas, duas motos e um micro ônibus da CGM.
A polícia está lá para proteger os – como direi? – utentes do crack, não o cidadão que paga seus tributos. Ou alguém já viu duas viaturas, duas motos e um micro ônibus da polícia protegendo alguém que não os crackeiros.

São Paulo é refém da democracia. Em ano eleitoral, em baderneiro não se bate nem com flor.


22 de junho de 2014
janer cristaldo

A DOUTRINA DE ALEKSANDR DUGIN

Artigos - Globalismo

dugin"Dentre as doutrinas neopagãs, as opiniões de A. DUGIN ocupam uma posição à parte. Em particular, isto se explica pelo status do autor, chefe do movimento “Eurásia” (pelo fato de ser um dos conhecidos ideólogos do movimento “Rússia”), por sua colaboração ativa com o Comitê Islâmico e por ser um político ambicioso."

A doutrina de Aleksandr DUGIN: Novas associações religiosas da Rússia de caráter destrutivo e oculto: um guia.
Departamento Missionário do Patriarcado de Moscou da Igreja Ortodoxa Russa,
Belgorod, 2002

A doutrina de Aleksandr DUGIN


Dentre as doutrinas neopagãs, as opiniões de A. DUGIN ocupam uma posição à parte. Em particular, isto se explica pelo status do autor, chefe do movimento “Eurásia” (pelo fato de ser um dos conhecidos ideólogos do movimento “Rússia”), por sua colaboração ativa com o Comitê Islâmico e por ser um político ambicioso.

Seus ensinamentos, transformados harmoniosamente na ideologia do movimento Eurásia, não podem ser examinados separados da concepção do mundo de seu mentor espiritual René GUÉNON, em cuja biografia estão contidos alguns dados que nos permitem de maneira mais objetiva avaliar o lado espiritual da doutrina de A. DUGIN.

Além disso, ficam também esclarecidos o papel e a posição da Igreja Ortodoxa, elaborados por A. DUGIN em documentos programáticos e outros escritos relacionados com a organização da OPOD (Movimento Pan-russo Social e Político) Eurásia e com a criação da futura União da Eurásia.

Todos os documentos utilizados para a preparação desta seção foram publicados em órgãos periódicos públicos de informação. As opiniões de A. DUGIN, de seus mentores e de seus seguidores foram tiradas de monografias, almanaques, dos órgãos de informação de massa por ele dirigidos e de outras edições, distribuídas basicamente por empresas comerciais controladas pelo movimento Eurásia e por outras estruturas dependentes do autor.
Sobre o autor da doutrina

Aleksandr Gelevitch DUGIN [1] nasceu em 1962 no distrito de Tcheliabinsk. Seu pai foi um general que trabalhou na administração central do sistema de informações do Estado Maior das Forças Armadas da URSS. O papai general colocou o filho, que não concluíra a Escola de Aviadores de Moscou, no arquivo da KGB. DUGIN conhece cerca de 10 línguas europeias, e domina a língua hebraica. As pretensões de A. DUGIN o tornaram, aos 35 anos, o homem número 2 do Partido Nacional Bolchevique de Eduard LIMONOV. Entusiasmou-se pela maçonaria e pelo fascismo. Foi inimigo do “Império Soviético”. Atualmente, defende opiniões totalmente opostas.

Em 1991 foi publicado seu primeiro livro “Caminho do Absoluto” onde estão expostos os fundamentos de sua orientação religiosa. Em 1992 começa a editar a revista “Elementos”. Em 1993 publica o best-seller “Teoria da Conspiração” que se tornou o equivalente do livro de ação inglês “Caça aos Espiões”. No livro “Teoria da Conspiração” foi desenvolvido o tema das relações secretas entre a CIA e a KGB.

Segundo sua própria confissão, A. DUGIN na juventude intitulava-se “um fascista místico” e hoje em dia modificou esta denominação para “fascista ortodoxo”.
A. DUGIN considera o esotérico francês da primeira metade do século vinte René GUÉNON (15.11. 1886 – 07.01. 1951) como seu mestre, como autoridade reconhecida e incontestável, como emissário autêntico da teoria escatológica, considerando-o a figura chave desse período. Escreve: “René GUÉNON é o emissário do supremo centro para a última época, para o período de Kali Yuga, e os princípios da Tradição por ele formulados (o conjunto dos “conhecimentos não humanos transmitidos de uma geração à outra pela casta dos sacerdotes ou por outras instituições semelhantes) servirão de baluarte de salvação para aqueles que terão que, lutar contra “este Mundo” e seu “Príncipe”, fazer renascer a Tradição na sua dimensão autêntica, não humana e “angélical” e, fechando o ciclo, elaborar os fundamentos sagrados da Idade do Ouro que se aproxima.” [2]

Um dos objetos fundamentais das pesquisas de GUÉNON é uma versão da metafísica, na qual as concepções do hinduísmo exerceram uma grande influência.
Na tentativa de justificar GUÉNON (e, por conseguinte, suas próprias concepções sobre cristianismo), A. DUGIN diz que “a particularidade do tradicionalismo de GUÉNON faz às vezes com que os membros conservadores da Igreja considerem erroneamente o esoterismo e a síntese a que ele se refere como ocultismo e sincretismo.”[3]

E, 1912 GUÉNON se converteu ao Islamismo e adotou o nome árabe de Abd-el-Vakhed-Iakhia – Servidor Único.
Mais adiante [4], todavia, DUGIN indica que “GUÉNON recebeu iniciação maçônica do neo-rosacruz Theodor REUSS, que foi amigo, companheiro de armas e responsável pela iniciação de A. CROWLEY”. [5]

Lembremos que GUÉNON constitui uma autoridade incontestável para A. DUGIN.

O Neopaganismo à luz das concepções metafísicas de R. GUÉNON e de A. DUGIN

As primeiras pesquisas religiosas de A. DUGIN datam do início dos anos 90 do século passado e estão ligadas à fundação do almanaque “Anjo Gentil”, em cujas publicações são examinadas as fontes espirituais dos ensinamentos de um novo messias. Eis o que escreve a equipe de redação nesta edição [6]:

“Nossa tarefa fundamental ... constitui a restauração da tradição integral em toda a sua dimensão total ... O almanaque ‘Anjo Gentil’ combate a favor da restauração do espírito medieval, da forma de pensar medieval , da religiosidade medieval e da concepção de estado medieval.” Entretanto, como veremos a seguir, A DUGIN interpreta estes conceitos “medievais” do ponto de vista do neopaganismo.

Dentro dos limites da Tradição mencionada, DUGIN reconhece a primazia do não ser: “qualquer metafísica tradicional de pleno valor reconhece a prioridade do não ser sobre o ser”. [7]
Aqui está uma das posições (respostas) da gnose escatológica de A. DUGIN: “O ser apareceu como prova de que o não ser que o continha antes de sua aparição não é a última instância, e de que, além de seus limites está presente o Outro, que não coincide nem com o ser, nem com o não ser[8].
Do seu ponto de vista o ser “não pode também afirmar sua própria primazia sobre o não ser, pois contradiria a verdade, já que o ser puro não é outra coisa senão a tradução na realidade, sob sua forma lógica, das possibilidade do não ser que o precedeu.”[9]

De maneira generalizada a doutrina espiritual de A. DUGIN está concentrada no almanaque “O Fim do Mundo. Escatologia e Tradição” (Moscou, Ed. Arktogaia, 1998). O próprio A. DUGIN denomina esta publicação de “manual de historia da religião”.
Todavia, os aspectos históricos das várias crenças contidas neste trabalho são apresentados sob seu ponto de vista próprio (e totalmente peculiar). Isto contradiz definição do livro como obra histórica e lhe confere um aspecto dogmático. A mistura de concepções cristãs, runologia, conceitos pagãos, várias teorias da cosmogonia é só uma pequena lista das liberdades de um diletante para com os materiais da coletânea.

Ao inserir na coletânea histórica [10] um capítulo do livro “Caminho do Absoluto”, (”Gnose Escatológica”), A. DUGIN constata assim que sua doutrina religiosa já está formada.
Justificando o surgimento de novas religiões e cultos dentro dos limites da Tradição, A. DUGIN escreve literalmente o seguinte: “As normas e as estruturas esotéricas da Tradição se transformam em conformidade com a situação do ambiente cósmico, e, por conseguinte, aparecem novas religiões e tradições, novas redações do culto e novas práticas.”[11]

Esta afirmação tem consequências de longo alcance. Se o ambiente cósmico constitui o não ser que gera o ser, então o surgimento de novas religiões e cultos (possível somente nos limites do ser) é um fato objetivo (do ponto de vista metafísico) e isto significa que cedo ou tarde uma nova religião nos limites do Estado da Eurásia irá aparecer e além disso será absurdo resistir-lhe.

É de se notar que esta afirmação está inserida na seção do “manual” consagrada à analise dos ensinamentos religiosos de A. CROWLEY.
Desta forma, podemos desde já definir a doutrina religiosa de A. DUGIN como uma interpretação da metafísica do hinduísmo combinada a conceitos do marxismo ortodoxo. Sob o aspecto linguístico, esta doutrina reveste a forma de uma terminologia pseudocientífica, extremamente atraente para diletantes que, como o próprio A. DUGIN, não concluíram um curso universitário e que compartilham dos ideais da ideologia comunista.

A Ortodoxia na interpretação de A. DUGIN

DUGIN faz uma análise da Ortodoxia a partir da posição tradicionalista de GUÉNON, avançando a tese: “A Igreja Cristã ... se seguir uma orientação tradicionalista e conservadora, em regra geral, na melhor das hipóteses, constitui o apoio fundamental para a conservação do aspecto esotérico, ritualístico e dogmático... .
A Igreja ou limita sua atividade não litúrgica por um moralismo simplificado, ou , o que é pior, tenta ocupar-se da apologética baseada em teorias fundamentalmente profanas, contemporâneas e antitradicionalistas, ou ainda, o que é terrível, tende ao sincretismo, ao ecumenismo e mesmo ao neoespiritualismo mais baixo....”. [12]

Nas obras de A. DUGIN manifesta-se claramente o efeito da lei da dicotomia. Por exemplo, a tentativa de pesquisar as crenças pré-cristãs e pré-ortodoxas da Rússia leva A. DUGIN a conclusões paradoxais. Eis uma delas: “O Cristianismo não substituiu, mas elevou e consolidou a fé antiga pré-cristã.” [13

Escreve: “Quando temos diante de nós uma tradição realmente importante e autêntica, podemos quase sempre descobrir nela seu transcendentalismo e seu caráter imanente, sendo que esta última característica constitui sua parte interior e esotérica.”[14], ou seja, para A. DUGIN o paganismo é também uma suposta Ortodoxia, todavia melhor e mais original. “O aspecto imanente” é a concepção mística do mundo de A. DUGIN e de seus seguidores. Esta concepção provém em particular do fato de que basta pensar em uma “conspiração” e a ideia de conspiração já se torna realidade e, na medida, que sou “eu” que penso, então isto é uma realidade bem mais importante do ponto de vista metafísico do que a realidade concreta [15]

O “aspecto imanente” não distingue ideias que tem seu fundamento na vida quotidiana e também as ideias nominais (ou ordinariamente fictícias), e dá preferência às fictícias. A incapacidade da tentativa de associar o “aspecto imanente” ao Cristianismo manifesta-se de maneira particularmente visível na tentativa de interpretação do Credo, tentada por A. DUGIN, onde ele geralmente descamba para uma franca heresia[14].
Assim, ele afirma que o Credo de Niceia é uma profissão de fé com “uma pequena concessão a preconceitos cristãos”. Além disso, A. DUGIN geralmente chama o Credo de “Fórmula da Fé [16]. Ao fazer isto, considera que os primeiros três membros (ou, na terminologia de A. DUGIN, pontos) fornecem uma imagem absoluta e acabada da metafísica [17]

Nas suas “obras” [18] A. DUGIN simplesmente blasfema ao afirmar certo aspecto real (existencial ou ontológico) da Trindade. Ele nega a revelação de que Deus é o criador do mundo e que este sempre transcende qualquer aspecto material.

DUGIN introduz uma inovação na doutrina da imortalidade da alma. Escreve em particular: “A Alma, uma forma sutil, tecida de substâncias da atmosfera, sobrevive ao corpo no qual ela passou sua vida terrena e pode viver de modo independente mesmo depois da morte corporal ... Mas o caminho para o céu do espírito ... é impossível para a alma individual, pois, este mundo, por definição não admite em si seres revestidos de forma”.[19]
Entretanto, de acordo com a doutrina ortodoxa, Deus cria a alma pelo seu sopro criador [20].

DUGIN em um sentido puramente teosófico insiste na “descoberta dentro da personalidade humana” de uma substância radicalmente diferente do velho “eu” habitual do indivíduo. Afirma que esta descoberta se passa durante o batismo [21].
E nisso A. DUGIN vê uma saída para a “salvação” do ser humano.

Tal afirmação contradiz diametralmente a definição de João Damasceno: “a alma é uma substância viva, simples e incorpórea, por natureza invisível aos olhos humanos, imortal, dotada de entendimento e inteligência e não possui uma imagem (forma) determinada”.
Ela age com auxílio do corpo orgânico e comunica-lhe vida, crescimento, sentimento e força de geração. A inteligência ou o espírito pertence à alma não como algo diverso, separado dela, mas como sua mais pura parte. O que são os olhos para o corpo, assim é a inteligência para a alma. A alma é um ser livre, dotado de capacidade de vontade e ação. Ela é “suscetível de mudança por parte da vontade”. [22]

As concepções e declarações errôneas e por vezes francamente heréticas de A. DUGIN são complementadas pela runologia, pela doutrina sobre o caráter cíclico das fases cósmicas e pelas demais crenças pagãs.

De acordo com a mencionada lei da dicotomia, utilizada por A. DUGIN largamente para elaborar os seus trabalhos, chega à conclusão inevitável de que existem dois tipos de hinduísmo segundo GUÉNON – um bom e um mau.
O “mau” é o ocidental e o “bom”, o oriental, supostamente ortodoxo. A. DUGIN vê “um futuro brilhante” para a ortodoxia com a combinação do princípio esotérico da Igreja (isto é, com a organização eclesiástica) com a gnose esotérica pagã. Esta abordagem, como ele descreve, abre “possibilidades ilimitadas para uma compreensão profunda e inesperada da ortodoxia russa”[23].
Assim, A. DUGIN afirma que na pessoa dos “heréticos gnósticos” já existe um fundo de ortodoxia, faltando somente o aparato metafísico. Por isso, o único caminho consiste em adotar a religião tradicional e, em seguida, tentar, no âmbito desta religião, penetrar pela prática espiritual, ritual e intelectual nos seus aspectos esotéricos interiores, nos seus mistérios” [24].
A. DUGIN aconselha que, “para que os gnósticos não se submetam à influência das ideias cristãs, estes devem aspirar a minimizar a dimensão humana, terrena e secular da Igreja ..., é indispensável a despeito de tudo insistir na totalidade mística e na perfeição da Igreja, destacando seu aspecto atemporal, benéfico e transformador”[25].
Além disso, pensa que: “ a tarefa fundamental para se aplicar os princípios do tradicionalismo integral ao cristianismo e, em particular, para a ortodoxia, pressupõe tornar-se um seguidor imediato e ortodoxo de GUÉNON” [26].

Isto nada mais é que um apelo à criação dentro da ortodoxia de uma nova tendência (seita), isto é, uma tentativa de um simples cisma.
A. DUGIN evidentemente desconhece que a mantenedora da verdadeira tradição – a Igreja – se protege e se protegerá com antecedência contra sociedades secretas no seu seio. Ele apresenta a situação de tal forma que pelo seu desejo pode juntar à Igreja suas convicções pagãs.

Segundo a opinião audaz de A. DUGIN, “Se nós fomos resgatados pelo Cristo, então, em princípio em nós não há pecado, e é necessário ir corajosamente para o mundo da deificação e não contar meticulosamente suas imperfeições” [27].
Pela mesma razão coloca-se em dúvida um lado fundamental da vida espiritual como o arrependimento, como a confissão, em outras palavras, o leitor é de fato conclamado a uma recusa voluntária de participar nos mistérios mais importantes da Igreja, que constituem uma parte obrigatória da vida ortodoxa.

“A revolução religiosa é vista por DUGIN como a preservação de todos os aspectos dogmáticos, rituais, doutrinários e simbólicos da fé ortodoxa. Esta revolução, porém, destrói aquelas contribuições intelectuais, de caráter nobre e protestante ou de soviético conformista, e mais frequentemente de fundo liberal, que erroneamente são assimilados hoje em dia com a Igreja e que afastam dela muitas pessoas dignas, fortes e nobres de tendência revolucionária” [28].

Por seus objetivos, A. DUGIN aproxima-se dos chamados modernistas, adeptos de Kotchetkov, de Men, de Borisov e de Jeludkov - e semelhantes. Ele tenta de modo persistente “assimilar” a ortodoxia ao paganismo, e os modernistas acima citados vão ao seu encontro, expondo a ortodoxia dentro deles, e também no espírito e na alma de seus adeptos. “Este homem se colocou fora da Divindade e da lei humana, escolheu para si um ponto de vista fora do bem e do mal, acima da lei e da felicidade” [29].
E se os representantes das correntes renovadoras acima enumeradas seguem o caminho de uma suposta simplificação, DUGIN, ao contrário, com todas as suas forças esforça-se para tornar o evidente incompreensível e ambíguo, utilizando para tanto o aparato conceptual e linguístico da metafísica.

Podemos supor que as doutrinas religiosas de A. DUGIN constituem uma compilação de crenças ocidentais (protestantes) e orientais (hindus). Não possuem nenhum fundamento espiritual da ortodoxia e não podem ser consideradas uma doutrina religiosa completa no sentido atribuído a este conceito pelos homens de ciência – teólogos e filósofos.

Posição de A. DUGIN com relação ao Islamismo

Uma das primeiras medidas oficiais tomadas pelo movimento “Eurásia” foi uma conferência sobre o Islamismo “Ameaça do Islã e ameaça para o Islã”. A conferência realizou-se no dia 29 de junho de 2001 no prédio do “Hotel-Presidente” sob a presidência do porta-voz da Câmara de Deputados, G. Seleznev, do grão mufti da Rússia Talgat Tadjuddin e de A. Dugin (nesta época ele tinha-se tornado conselheiro de Seleznev para questões de geopolítica).
Um número especial da “Revista da Eurásia” foi consagrado às relações do Movimento com o Islã. A Divisão de relações exteriores da igreja ortodoxa do Patriarcado de Moscou publicou nas páginas desta edição um artigo do padre Vsevolod (Tchaplin), artigo este que ocupa apenas um pouco mais de 5% do volume total da revista.

Cabe notar que em todos os artigos sobre o Islã não há qualquer referência às numerosas manifestações extremistas dos pseudomuçulmanos. Além disso, no artigo [31] do autor permanente do jornal, Khoj-Akhed Nukhaev, propõe-se a criação “no território da Chechênia meridional uma casa comum da Eurásia, uma organização construída segundo os princípios da doutrina dos cãs tártaros (reunião dos muçulmanos, cristãos e judeus e todos os homens de boa vontade, prontos para submeter-se a esta organização em torno de uma missão comum de revitalização da Terra e cura da alma da humanidade contemporânea).
As ideias de Kh-A. Nukhaev estão bem próximas das de DUGIN. Por exemplo, ele propõe construir o Estado da Eurásia em duas etapas:

Na primeira etapa será fundada a CUEA – Confederação Unificada dos Estados Autoritários.
Na segunda, ela se transformará na Casa Comum da Eurásia.

Podemos imaginar que o Islamismo é mais próximo de DUGIN como fundamento espiritual da ideia de Eurásia. São interessantes as reflexões de DUGIN a respeito da “terceira capital” [32]. Ao examinar o papel desempenhado pelas cidades de Kiev, Moscou e São Petersburgo na história da Rússia, ele, notando o fato de que na Rússia moscovita a etnia torna-se particularmente grã-russa, designa este estado, todavia, como turco-eslavo. Do seu ponto de vista, a capital ideal da Eurásia seria Kazan.
Para confirmar suas palavras, escreve: “Ivan o Grande (Terrível) apresenta-se com o legítimo herdeiro da vontade geopolítica da Horda de Ouro, como um tzar especialmente grão-russo, no qual as raízes eslavas se unem com o sangue tártaro sob o estandarte da ortodoxia bizantina”.
Ele considera que “o Tartastan representa o modelo de uma entidade federativa da Eurásia. Graças ao impulso tártaro, turco, os russos se conscientizaram como grão-russos, separando-se para sempre do modelo pequeno-russo de Estado. O elemento tártaro é o fator mais importante tanto para a etno-gênese dos grão-russos como para a forma de governo – para a gênese da própria Rússia – Eurásia”.
E, finalmente, a afirmação mais interessante: ”O Islamismo dos cãs tártaros é valioso para a Eurásia não como “uma forma incompleta de ortodoxia”, mas como a variedade ortodoxa do Islamismo. E, inversamente, para o Islamismo ortodoxo não há tradição mais próxima do que a Igreja Ortodoxa” [33].

A. DUGIN considera que os métodos metafísicos servem não só para o estudo da ortodoxia, mas também para o do Islamismo. Assim, ele cita a coincidência da opinião do conhecido metafísico muçulmano Gueidar Djemal com a sua própria: “O Fim é mais fundamental do que o começo ... A Negação é a mais fundamental de todas as realidades”[34]. É revelador que este artigo de A. DUGIN foi por ele publicado no jornal dos comunistas russos “Amanhã” nº 21 (338) no ano 2000. Ao fazê-lo, A. DUGIN revelou um total desconhecimento com um documento analítico com “Jiad do povo tártaro na Rússia”[35], no qual a “proximidade” agressiva do Islã com a ortodoxia foi refletida em mais de uma acepção.

Se levarmos em conta o apelo de A. DUGIN para a superioridade da união com os estados muçulmanos, e a possível tomada do poder por eles da União Européia, surge então a seguinte pergunta:
Qual mecanismo A. DUGIN propõe utilizar para prevenir a repetição da situação que hoje em dia se formou no Afeganistão (tem-se em vista o julgamento de missionários cristãos pelos talibãs)?

Levando-se em conta que, segundo as palavras do Cheiq-ul-Islam Talgat Tadjuddin, a população muçulmana manifesta seu pleno apoio ao presidente Putin, podemos com segurança considerar que ela também assim procederá para com a A. DUGIN, que abertamente demonstrou uma posição favorável em relação às ações do dirigente do país.

Posição em relação à maçonaria contemporânea

Na concepção de A. DUGIN, a maçonaria é em princípio “um movimento iniciático bom, dividido pela influência de forças exteriores num ramo ruim “egípcio” e num bom, cristão e escocês”[36]. Por esta afirmação, A. DUGIN revela sua total incompreensão da teoria maçônica, que nega qualquer religião como base da existência espiritual da sociedade.

Apesar disso, oferece certo interesse a conversa que teve A. DUGIN (ele neste caso se apresentou como autor do almanaque “Anjo Gentil” – AG) com o chefe do ramo francês da “Ordem dos Templários Orientais” (mais tarde reformada por A. CROWLEY), um tal irmão Marcion (Christophe Bouchet) [37] quando da sua chegada na Rússia.

Examinando a ação dos maçons no decurso de alguns séculos, o irmão Marcion analisa o lado oculto da ação da SS na Alemanha de Hitler, considerando que “a maioria dos trabalhos dedicados à pesquisa do nacional-socialismo são simplificações vulgarizadoras que aspiram a apresentá-lo como o um mal absoluto”. Ele, baseado nas publicações de Savitri Devi Mukherji, esposa do brâmane Mukherji, considera que “no interior no Nacional-socialismo existiu uma evidente tendência messiânica”.

Nesta mesma passagem, o irmão Marcion afirma que “tudo o que se diz ter-se passado nos campos de concentração nazistas (e também nos stalinistas) não passa de um enorme exagero”. (Evidentemente o irmão Marcion desconhece os materiais do julgamento de Nurenberg).

Segundo a confissão do irmão Marcion, seções de lojas maçônicas existem em muitos países da Europa Ocidental, incluindo a Iugoslávia, onde, há alguns anos, o número dos seguidores de Crowley era muito grande. À pergunta relacionada com a fé dos maçons ele responde literalmente assim: “Eles creem no poder e na necessidade de dominar, subjugar e governar a si próprios”.

As teorias de Crowley à luz do enfoque metafísico de A. Dugin

A tentativa mal dissimulada de conciliar a ortodoxia com crenças que lhe são opostas deve-nos por de sobreaviso. Neste sentido, A. DUGIN até tenta demonstrar que A. Crowley não é perigoso para qualquer crença como geralmente é descrito.
O autor produz uma série de citações que justificam Crowley, tentando provar que ele é somente um dos mais importantes pesquisadores (filósofos) dos nossos tempos.
Tal atitude para com o “messias” do satanismo é mais do que reveladora, como também o fato de que, analisando a doutrina de Crowley, ele põe a palavra “satanismo” entre aspas.
Exteriormente tenta tomar a posição de um analista independente das diversas crenças, sobre as quais a coletânea contém informações.

Na base das reflexões de A. DUGIN também se encontram aqui as concepções metafísicas de Guénon, bem conhecidas por ele. Opondo iniciação e contra-iniciação, ele pensa que “as mais terríveis e sérias deturpações e dessacralizações cabem às pessoas com as melhores intenções, convencidas que são ortodoxas e portadoras do bem mais evidente”.
E mais adiante: “Na maioria das vezes os não conformistas religiosos ( “hereges” , “satanistas”) buscam a plenitude da experiência sagrada, que os representantes da ortodoxia não podem lhes oferecer. Não é culpa deles, mas seu infortúnio, e a verdadeira culpa cabe àqueles que permitiram que sua autêntica tradição se transformasse em uma fachada superficial detrás da qual não há simplesmente nada. E talvez precisamente estas forças e grupos suspeitos caminham para a realidade profunda, enquanto que os profanos que permanecem na periferia por todos os meios criam obstáculos” [38].

Por meio de reflexões corriqueiras, A. DUGIN chega mais adiante à conclusão de que o papel “dos satanistas” (ou da Ordem de Seth) na divisão das igrejas ortodoxa, católica e protestante é simplesmente insignificante: pois a formação de A. Crowley se deu no seio da irmandade protestante de Plymouth, cujo propagador foi seu pai.
É interessante a seguinte afirmação de A. DUGIN: “todas as vezes que Crowley acentuava o seu “satanismo”, só expressava uma clara compreensão do valor de sua posição diante do campo metafísico que ele conscientemente abandonara. E nada mais”.
Desta forma, a doutrina espiritual de A. Crowley se reduz somente a uma negação dos dogmas do protestantismo. Por este mesmo raciocínio, deixa entender que desconhece algo de maléfico nos satanistas russos e na atividade de seitas semelhantes em muitos países do mundo. Mais do que isso, propõe considerar A. Crowley como “herege da heresia”, “um Anticristo no seio do anti-cristianismo”, e que é especialmente indispensável levar em conta, ao se avaliar Crowley, seu autêntico significado para a Rússia [39].

Em outras palavras, A. DUGIN culpa o próprio cristianismo pelo aparecimento das concepções anti-cristãs de A. Crowley: a identificação que Crowley faz de si próprio com o “Anticristo” “não era para ele a expressão do caráter destrutivo de sua missão, mas tão somente uma assimilação de denominações e títulos para provocar, no contexto cultural cristão; títulos estes que os profetas cristãos atribuem, no âmbito de seu contexto religioso (a religião de um Deus que morreu e ressuscitou) a “profetas de uma nova era” [40] que lhes são incompreensíveis”.
E de maneira geral, do ponto de vista de A. DUGIN, o próprio A. Crowley de modo “reflexo” e irônico descreve sua magia sexual em termos de Anticristo. Isto é, toda a doutrina de Crowley se reduz a um gracejo! Neste ponto é oportuno lembrar algumas formulações de Crowley em um de seus livros relativo aos sacrifícios humanos: “dependendo dos objetivos místicos devem ser executados esfaqueamentos, espancamentos até a morte, afogamentos, envenenamentos, decapitações, estrangulamentos, autos da fé etc.” [41], ou ainda “O sangue lunar é o melhor, também o é o menstrual, o sangue fresco de uma criança e um fragmento da hóstia sagrada, em seguida, o sangue dos inimigos, depois o de um sacerdote ou de um crente e, em último lugar, o sangue de um animal qualquer” [42].
A. Crowley também recomenda: “O objeto mais conveniente para estes casos é uma criança de sexo masculino, inocente e intelectualmente desenvolvida (“Apontamentos mágicos do irmão “Perturabo” – pseudônimo litúrgico de A. Crowley)”. Dá entender que no período entre 1912 e 1928 ele executou tais sacrifícios numa média de até 150 ao ano [43].

E a parte final do artigo. “Impossível excluir a possibilidade de que o seu negativismo mais repulsivo e evidente, sua antinomia e sua “natureza maléfica” estejam mais próximos da verdade e nos ajudem a adquirir orientações espirituais corretas, pois, não é verdade que o caminho do paraíso esta revestido de maus pensamentos”?[44].

Ao que foi dito não é possível acrescentar mais nada. É verdade, ainda, que no livro “O Fim do Mundo” foi integrada totalmente a obra fundamental de A. Crowley “O Livro da Lei”, o que pode ser considerado uma forma de propaganda para os seguidores de A. DUGIN.
Tentemos formular as posições religiosas de A. DUGIN a partir da breve análise dos materiais acima examinados:
  1. Visão do mundo contrária à Ortodoxia, baseadas na primazia do não ser sobre o ser, com emprego do aparato conceptual e linguístico da metafísica.
  2. Presença na sua doutrina de concepções diretamente ligadas à visão do mundo hindu (tantrismo, metafísica indiana), e também com elementos da Teosofia que refletem as opiniões de R. Guénon (iniciado na Maçonaria, supostamente na Ordem reformada dos Templários Orientais – ou Ordo Templi Orientis, a O.T.O.).
  3. Apelos para “uma reforma” da Ortodoxia, em particular por meio da erosão da Ortodoxia como verdadeira crença, da introdução no interior da Igreja de seus inimigos, da liquidação das tradições ortodoxas, da sua submissão ao Islã e, no final das contas, sua destruição pelo emprego do aparelho administrativo da famigerada União da Eurásia. Como etapa intermediária, uma utilização conjuntural da Ortodoxia para atingir seus próprios objetivos políticos no confronto com os partidários da aliança atlântica na marcha para uma real dominação do mundo.
  4. Uma evidente preferência pelo Islã em detrimento das outras crenças religiosas, no seio de uma relação condescendente para com a maçonaria e o satanismo.
  5. A crença religiosa de A. DUGIN ao contrário das outras doutrinas religiosas tradicionais está dirigida para uma classe social de elite. Para sua compreensão exige-se um preparo específico, em particular de natureza filosófica. E isto coloca esta crença na categoria das ideologias ocultistas e místicas em função da critica que faz das posições conceptuais das principais religiões do mundo.
  6. A arbitrariedade na interpretação dos postulados fundamentais do Cristianismo e uma difusão deste tipo de material através de fontes de informação publicamente acessíveis colocam A. DUGIN fora dos muros da Igreja.
O centro de distribuição da doutrina de A. DUGIN é a loja “Transilvânia” (sita em Moscou, à Rua Tverskaia 6/1 5, telefone 229-87-86/33-45, site www.arktogaia.com). Citemos o conteúdo deste site publicado no jornal:
  • Filosofia
  • História das religiões
  • Geopolítica
  • Metafísica
  • Sociologia
  • Economia
  • Culturologia
  • Politologia
  • Oneirologia
  • Psicologia das profundezas
  • Runologia
  • Geografia sagrada
  • Teoria da conspiração
  • Análise dos acontecimentos correntes
  • Versão na rede das publicações periódicas da Eurásia, links para mensagens, fórum.

Nas instalações da “Transilvânia” se encontra também a loja “Artogaia-2”, onde estão expostos praticamente todos os trabalhos de A. DUGIN, bem como obras fundamentais sobre um vasto círculo de problemas de teologia, política e economia (em particular as obras de G. Wirth, A. Crowley e outros apologistas das crenças anticristãs, os documentos programáticos do movimento “Eurásia” e suas publicações periódicas).

 
Tendo-se em conta as posições atuais de A. DUGIN, líder de um movimento social populista, podemos supor que, no futuro próximo, a base e a esfera de difusão de sua doutrina irá ampliar-se pelo uso das possibilidades oferecidas pela Câmara dos Deputados e pelo Conselho da Federação e por meio de suas possibilidades editoriais e gráficas. Sobretudo, deve-se esperar um visível apoio do governo para o conglomerado editorial “Arktogaia”, e o emprego de outros meios de informação de massa que deverão fazer propaganda da doutrina de A. DUGIN.
Já hoje em dia a base gráfica, utilizada para a impressão dos trabalhos do movimento “Eurásia”, é o complexo de produção gráfica “VINITI”, um das mais modernas e poderosas empresas editoriais no sistema de distribuição de informação de caráter técnico-científico e social da Rússia.

Bibliografia:

Referente à seção: “A doutrina de Aleksandr DUGIN”:
  1. Serguei RIUTKIN. “O crítico Dugin”// Internet, www.russ.ru,9.06.98.
  2. “Anjo Gentil” – Moscou. Atogaia, tomo 1, 1991, pag. 10.
  3. Ibidem, pag. 29.
  4. A. Dugin. “O Fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 359.
  5. Ibidem, pag. 47.
  6. Ibidem, pag. 1.
  7. “Anjo Gentil”, Artogaia, Tomo 1, 1991, pag. 23.
  8. A. Dugin. O Fim do mundo. Escatoçogia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag 19.
  9. Ibidem, pag. 19.
  10. Ibidem, pag.17.
  11. Ibidem, pag. 365.
  12. A. Dugin. “O Fim do mundo. Escatologia e tradição”. Seção “O tradicionalismo de Guénon” .
  13. A. Dugin. A Igreja cristã”. Moscou.Artogaia, 1998, pag. 29.
  14. A. Dugin. “O Mistério da Eurásia”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 19.
  15. A. Dugin “O grande problema metafísico e a tradição”. Anjo Gentil. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 23.
  16. R. Verchillo. “Contra o novo paganismo” “Tver ortodoxa”, nº 7-8, 199.
  17. “O esoterismo cristão”. Anjo Gentil. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 67.
  18. A. Dugin. “O Fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 225.
  19. “O esoterismo cristão” Anjo Gentil. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 67.
  20. Ibidem, pag. 68.
  21. A. Dugin. “A metafísica da boa nova”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 12.
  22. Ibidem, pag. 33-34.
  23. Arquimandrita Alípio e arquimandrita Isaías. “Teologia dogmática – ciclo de conferências”. Mosteiro de Troitsko Serguievo, 2000.
  24. A. Dugin. “A metafísica da boa nova”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 148.
  25. A. Dugin. “O mistério da Eurásia”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 55.
  26. Ibidem, pag. 245-246.
  27. A. Dugin. “O fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 29.
  28. Ibidem, pag. 10.
  29. Ibidem, pag. 10.
  30. Roman Verchillo. “Contra o novo paganismo” (“A propósito das obras de A. Dugin”). Tver ortodoxa, nº 7-9, julho-agosto de 1999. (Mensageiro do centro de informações e análise do prelado Mark, bispo de Éfeso (fascículo 13).
  31. Khoj-Akhmed Nukhaev. “Não estamos interessados na derrota da Rússia”. Resenha sobre a Eurásia, fascículo especial, pag. 4.
  32. A. Dugin. “A terceira capital”. Na coletânea: “A doutrina da Eurásia: teoria e prática”. Moscou. Artogaia, 2001, pag. 39.
  33. Ibidem, pag. 44.
  34. A. Dugin. “O grande problema metafísico e a tradição”. Anjo Gentil, tomo 1, Artogaia, 1991, pag. 22.
  35. I. N. Lotfullin e F. G. Islaev. “O jiad do povo tártaro na Rússia”. Kazan, 1998, pag. 156.
  36. A. Dugin. “Teoria da conspiração”. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 48.
  37. Ibidem.
  38. A. Dugin. “O fim do mundo. Escatologia e tradição”. Seção: “Teoria geral da conspiração”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 209.
  39. Ibidem, pag. 366.
  40. A. Dugin. “O fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 362.
  41. Ibidem, pag. 366.
  42. A. Crowley. “A magia – teoria e prática”. Tomo 1. Edições Lokid-Mif, pag. 167-177.
  43. Ibidem, pag. 384 (citação do livro de Crowley: “O livro das leis”, parte 3, versículo 24”.
  44. A. Crowley. “A magia – teoria e prática”. Tomo 1, Edições Lokid-Mif, pag. 17.
 

Original:
Новые религиозные объединения России деструктивного и оккультного характера: справочник.
Русская православная церковь.
Московская патриархия. Миссионерский отдел Миссионерский отдел Московского Патриархата Русской Православной Церкви.
Белгород, 2002.


22 de jumbo de 2014
Tradução: Luiz H. Guimarães

OS TENTÁCULOS JURÍDICOS DA REVOLUÇÃO

Artigos - Direito

Adaptado ao Brasil, o garantismo possibilitou a inserção de uma escancarada inversão de valores ao Direito e à própria Justiça Penal, praticamente transformando o bandido em vítima e imprimindo à vitima o status de vilã.
A incorporação torta do garantismo Penal ao Direito Penal brasileiro acabou transformando tal doutrina em um monstro a serviço do socialismo.

Não tendo triunfado a chamada “luta armada”, pela qual os prepostos do comunismo internacional pretendiam fazer do Brasil uma ditadura-satélite e inscrever o país nos quadros totalitários da história, a revolução migrou para esfera cultural, na qual logrou grande êxito na subversão dissimulada procedida através da estratégia gramsciana, visando o mesmo fim. Na mesma esteira, ocorreu uma vasta infiltração revolucionária no universo jurídico brasileiro, em especial no âmbito do Direito Penal, que acabou por transformar este campo em um terreno fértil para a ação da esquerda radical.


Já na fase inicialmente mencionada (luta armada), quando os militantes praticavam delitos em prol da implantação da tirania comunista, a atuação de muitos penalistas brasileiros já ideologizava-se neste mesmo sentido, sempre muito bem disfarçada de luta democrática. A doutrina passou a refletir muitos posicionamentos supostamente libertários que, munidos de falsos anseios de redemocratização, inseriam o pensamento revolucionário de forma intensa no âmbito do Direito Penal pátrio.
E a revolução cultural tratou de, nas esferas acadêmico-universitárias, formar profissionais jurídicos cada vez mais engajados na referida causa. Assim, pouco a pouco nosso Direito Penal foi sendo perversamente moldado para possibilitar a ampla promoção do modelo de Estado inerentemente antagônico ao Estado Democrático: o Estado totalitário socialista.

No decorrer desta sistemática desvirtuação do Direito Penal brasileiro em prol da revolução comunista, foram sendo incorporados ao mesmo tendências estrangeiras que encaixaram-se perfeitamente ao que desenhava-se. Foi o caso do garantismo penal, conjunto de teorias de Direito Penal e Processo Penal de autoria do jusfilósofo italiano Luigi Ferrajoli.
Em sua concepção original, o garantismo caracterizava-se basicamente pelo compromisso com a legítima garantia das liberdades individuais e direitos fundamentais de todas as pessoas (não tinha, portanto, um aspecto seletivo conforme se pontuará adiante).
No entanto, ao promover uma releitura do caráter retributivo que caracteriza e dá sentido à Justiça Criminal, o garantismo trouxe consigo o germe de sua própria deturpação. Assim, em terras brasileiras, o garantismo foi apropriado indevidamente pelos juristas soi disant progressistas, que trataram de vincular toda leitura da teoria à suas perspectivas amiúde anticientíficas e militantes. A desumanidade e o caos do sistema penitenciário brasileiro facilitaram a difusão do garantismo à moda brasileira, centrado na “superação do retributivismo”.
No fim do processo de assimilação ao Direito Penal brasileiro, o garantismo tornou-se irreconhecível, tornou-se uma aberração.

Adaptado ao Brasil, o garantismo possibilitou a inserção de uma escancarada inversão de valores ao Direito e à própria Justiça Penal, praticamente transformando o bandido em vítima e imprimindo à vitima o status de vilã. Assim, enquanto a Justiça “garante” excessivamente e com um zelo maternal os (devidamente ampliados) direitos do réu, a vítima é esquecida, sem amparo algum. Obviamente, o zelo idealizado pelos garantistas brasileiros – brasileiros, frise-se – não estende-se a cidadãos de bem que, frente a nova legislação violadora dos direitos por excelência (vida, liberdade e propriedade) criada e promovida pelo comando revolucionário, já pensam em pôr em prática a justa desobediência civil, única arma do cidadão oprimido por governos tirânicos. A aplicação das garantias é seletiva, dirige-se apenas à bandidos, sempre úteis ao processo revolucionário; desta forma, é possível afirmar que os que acusam a “seletividade do sistema penal” (que diz que o sistema penal só alcança minorias étnico-raciais, pobres, etc) promovem uma outra modalidade de seletividade. Latrocidas, seqüestradores, estupradores, narcotraficantes, terroristas e todos os tipos de agentes criminosos merecedores de segregação penitenciária passam a ser amparados (e não devidamente punidos) pela Justiça Penal. De outro lado, as vítimas são abandonadas, e cidadãos que, espremidos por um Estado expansivo e proto-totalitário, vêem-se obrigados a violar leis violadoras de direitos elementares, sendo tachados então de criminosos e punidos com máximo rigor. Como o crime é aliado e meio de ação dos comunistas, a lógica garantista brasileira fecha o ciclo: os marginais são heróis e os cidadãos honestos são opressores.

Este processo de adulteração do Direito Penal brasileiro em nome do socialismo produziu um tipo de criminalista “progressista” extremadamente imoral e cuja absurdidade das posições as quais sustenta causa repulsa a qualquer cidadão, vinculado ou não a ofícios jurídicos, que não tenha sido afetado pela perversa manipulação revolucionária. Advogados que utilizam o discurso de luta de classe para promover bandeiras do marxismo cultural, e cumprir os ditames da engenharia social esquerdista, hoje infestam os tribunais e agem como verdadeiros militantes com capacidade postulatória. A magistratura e o parquet também contam com muitos militantes comunistas com salários pagos pelo contribuinte. O cidadão sofre na carne as conseqüências desta militância, dados os níveis estratosféricos de criminalidade que ela acaba justificando e até mesmo impulsionando.

A esquerda revolucionária sempre teve no crime um aliado. Nada mais natural para o que tem o próprio crime como importante meio de ação. Por isso, a incorporação torta do garantismo Penal ao Direito Penal brasileiro acabou transformando tal doutrina em um monstro a serviço do socialismo.

A situação caótica proporcionada por esta deformação do Direito Penal e da Justiça parece ter atingido seu ápice, embora saibamos que o quadro só tenda a aprofundar-se. As polícias judiciária e militar são ostensivamente atacadas pelos pretensos “juristas progressistas”, tendo sua atuação controlada por estes falsos paladinos e toda a rede de amparo com a qual contam. Se a polícia prende o bandido, a Justiça solta, e se a Polícia age de forma enérgica e necessária, a Justiça a pune a Polícia.
Sob a influência desta verdadeira esquerdização do Direito, a Lei Processual Penal torna-se cada vez mais frouxa, garantindo aos bandidos a impunidade que os torna a cada dia mais fortes em sua ação nefasta a sociedade e benéfica à revolução.
Surgem cada vez mais e mais advogados, magistrados e promotores de justiça notoriamente ideologizados, que utilizam o Direito para a promoção da causa revolucionária. Quando algum Juiz assume postura não-submissa aos interesses da cúpula comunista, é devidamente repudiado pela esmagadora maioria dos operadores do Direito Penal, tomados pela nova mentalidade imperante na área. Doutrinadores promovem, com êxito, teorias cada vez mais absurdas e destruidoras, a serem incorporadas ao Direito Penal brasileiro com o passar dos anos. Criminalistas idôneos comprometidos com a justiça, a ordem e o Estado Democrático de Direito são classificados como “retrógrados” e repudiados. E a população, aterrorizada pelos criminosos, sem autodefesa devido ao desarmamento civil e sem amparo na Justiça Penal, torna-se cada vez mais refém da barbárie.

Essa situação social terrível para o povo ordeiro e conveniente para o governo e demais facções revolucionárias, em parte, foi proporcionada pela deturpação pela qual passou o Direito Penal brasileiro. Sendo a revolução comunista beneficiada pelo caos, pelo crime e pela impunidade, cumpre esse novo (e estranho) Direito Penal não um papel civilizador, de mantenedor da ordem e de garantidor dos verdadeiros direitos do cidadão, e sim um papel de instrumento, de tentáculo a serviço desta revolução que anda a passos largos rumo a implantação definitiva do totalitarismo vermelho.
 
22 de junho de 2014
José Fighera Salgado é bacharel em direito, especialista em ciências criminais e músico gaúcho.