Movimento Revolucionário
Pode ser dito que a associação da derrota de 1964 àquilo que se considerava “erros do PCB”, passou a caracterizar a Nova Esquerda.
A burocracia estatal brasileira, base genética do PT, é tradicionalmente esquerdista, desde o berço, e hoje o PT está acomodado nesse ninho, que encontrou pronto.
O ano de 1961 pode ser considerado como o marco inicial da Nova Esquerda no Brasil. Em fevereiro daquele ano, foi realizado, durante o carnaval, em Jundiaí, São Paulo, o 1º Congresso – Congresso de fundação – da Organização Revolucionária Marxista Política Operária (ORM-POLOP), ou simplesmente POLOP.
Dez anos depois, o ano de 1971, marcaria o início do fim da luta armada. Dez anos de lutas, no qual um punhado de militares e civis, cumprindo a Constituição, impediu que a Pátria fosse transformada em uma democracia popular. A esses, a Pátria deve muito.
Um ano depois, de 1972 a fins de 1974, a tática de guerra popular prolongada, que o Partido Comunista do Brasil (PC do B) buscou implantar na área do Araguaia desde março de 1964, ainda no governo João Goulart, quando o primeiro contingente de militantes foi mandado à China, a fim de receber treinamento na Academia Militar de Pequim, foi também erradicada, não sem sangue, suor e lágrimas. Os que perderam a vida combatendo essa louca empreitada da Nova Esquerda, são credores do respeito do povo brasileiro.
O que mais chama a atenção quando se estuda a Nova Esquerda é a multiplicidade de organizações, partidos e grupos, constituídos após março de 1964, a partir de 5 troncos principais.
O primeiro, formado pela POLOP e pelas organizações constituídas sob sua inspiração ou decorrentes de suas cisões e dissidências: o Comando de Libertação Nacional (COLINA), a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), o Partido Operário Comunista (POC) (resultante da fusão da POLOP com a Dissidência Comunista do Rio Grande do Sul, originária do PCB). Posteriormente, do POC, atingido fortemente pelos Órgãos de Inteligência e por divisões internas, surgiria a Organização de Combate Marxista-Leninista Política Operária (OCML-PO), da qual, pouco tempo depois, surgiriam duas outras organizações: o Grupo Combate e a Fração Bolchevique.
O segundo, a Ação Popular (AP), daria origem ao Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT). Posteriormente, no processo de sua conversão em organização marxista-leninista, a AP perderia muitos militantes e quase desapareceria devido à fundação da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), que logo depois seria absorvida pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B).
O terceiro, o Partido Comunista do Brasil (PC do B), constituído em fevereiro de 1961 a partir da luta política instalada no interior do PCB, constituiu um tronco próprio, do qual surgiriam a Ala Vermelha (AV) e o Partido Comunista Revolucionário (PCR). Da Ala Vermelha, mais tarde, surgiria o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT).
O quarto tronco pode ser atribuído às divergências no seio do PCB, posteriores a 1964, que deram origem às Dissidências e Correntes. As Dissidências gerariam diversas organizações de caráter regional, sendo que as mais significativas foram as do Rio Grande do Sul, que se integraria à POLOP, dando origem ao POC; a de São Paulo, que ingressaria na Ação Libertadora Nacional (ALN); a da Guanabara, que constituiria a Dissidência da Guanabara (DIGB) que, mais tarde, assumiria a denominação de Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR8); e a do Rio de Janeiro, que formou o original MR8, desmantelado no início de 1969 pelos Órgãos de Inteligência, sendo que essa denominação foi logo assumida pela DIGB, quando do seqüestro do embaixador dos EUA no Brasil, em 04 de setembro de 1969.
A Corrente, por sua vez, daria origem ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e à Ação Libertadora Nacional (ALN), da qual surgiria, já nos estertores da subversão, no início dos anos 70, o Movimento de Libertação Popular (MOLIPO) ou Grupo dos 28, constituído, basicamente, por militantes que se achavam em Cuba, recebendo treinamento militar. Desse Grupo, todos os que voltaram ao Brasil e se integraram à luta armada, morreram em confrontos com os Órgãos de Segurança, à exceção de dois Militantes, que voltaram mas não lutaram: José Dirceu (“Cmt Daniel”) e Ana Maria de Cerqueira Cesar Corbisier Matheus (internou-se em um Convento em Salvador/BA.
O quinto e último tronco foi representado pelas inúmeras correntes que reivindicavam o legado teórico de TROSTKY.
Resta ainda mencionar o Movimento de Ação Revolucionária (MAR), constituído por militantes (em sua maioria ex-marinheiros) procedentes do PCB, do Movimento Nacional Revolucionário (MNR), da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-PALMARES), e também da POLOP, AP e PCB.
Ao contrário, os Órgãos de Inteligência Militares, a partir de meados dos anos 60, passariam por um processo de acentuada centralização e virtual unificação em suas ações. A centralização mais visível deu-se com a criação, nos âmbitos regionais, dos Destacamentos de Operações e Informações, conhecidos como DOI-CODI.
As múltiplas divisões da Esquerda poderiam ser explicadas por fatores localizados no âmbito político e no terreno da formulação das táticas e estratégias, todas elas causadas pelo impacto de experiências anteriormente ocorridas, com êxito, no exterior: a Revolução Bolchevique, a Revolução Chinesa e a tomada do poder em Cuba por um pequeno grupo apartado das massas.
Considere-se que os partidos, organizações, dirigentes, militantes e linhas políticas existentes antes de 1964 emergiram do impacto da Revolução de Março de 1964 profundamente abalados e, por conseqüência, com reduzida ou nenhuma capacidade de coesão. A partir de então, foi privilegiada “a prática” – entendida como atos e ações que resultassem em feitos imediatos -, em detrimento dos organogramas, direções pesadas, discussões e intermináveis reuniões para formulação das táticas e estratégias. O empirismo favoreceu o surgimento de organizações auto-suficientes, algumas em âmbito regional, pois não havia mais tempo a perder com discussões.
Os slogans cubanos – “o dever do revolucionário é fazer a revolução”, “para fazer a revolução não se precisa pedir licença a ninguém”, “quem não está a favor da revolução, está contra” – formulados por Che Guevara e Regis Debray, martelavam as cabeças da Nova Esquerda, propondo uma única alternativa: a luta armada, desencadeada a partir do Foco Guerrilheiro.
A guerra revolucionária chinesa, formulada nos escritos de Mao-Tsetung, também inspirou a contestação à esquerda tradicional: a luta armada no campo, o cerco das cidades pelos campos, a importância do exército revolucionário popular como fator militar, e a noção de guerra popular prolongada. Todas essas proposições apresentavam-se como alternativa aos partidos e organizações anteriores a 1964 e aos processos tradicionais de pressão política organizada.
Além disso, devem ser acentuadas, no processo de fragmentação orgânica, as lutas internas e a constituição, no interior de cada organização, de microcentros de poder desinteressados dos processos de unificação ou reunificação capazes de pôr em risco suas posições de mando.
A descrença no caminho pacífico, na possibilidade de reformas, a proposição da luta armada para a destruição das instituições burguesas – formas de representação política tradicionais, aparelho judiciário, Forças Armadas – e liquidação dos chamados senhores da terra, dos grandes empresários, tidos como ligados ao capital internacional, e a expropriação completa deste último – eram as tarefas imediatas para o presente visível, o que o PCB, por sua vez, sempre considerou objetivos últimos, para um futuro indefinido.
Pode ser dito que a associação da derrota de 1964 àquilo que se considerava “erros do PCB”, passou a caracterizar a Nova Esquerda. Muitos se perguntaram por que um partido tão débil tinha uma representação política tão expressiva na CGT, nos sindicatos urbanos e rurais e junto ao próprio governo.
O quadro acima descrito completava-se com a inspiração trazida pela luta de libertação nacional travada no Vietnã, uma Nação pequena, mas coesa. Os fatos pareciam indicar que tudo era possível, desde que houvesse disposição de luta, pois o capitalismo agonizava e o mundo parecia marchar para o socialismo.
Também o exemplo da insurreição de Petrogrado não havia sido esquecido e, nesse sentido, a ORM-POLOP continuava reivindicando as lições do “Outubro Vermelho” na Rússia, e os escritos de Rosa de Luxemburgo. Todavia, no conjunto, ante as experiências cubana, chinesa e vietnamita, a história da Revolução Bolchevique passara a um plano secundário.
Por outro lado, o que restava do PCB respondia que a teoria permanecia válida. A aplicação dela à realidade é que fora infeliz, e menos de um ano após março de 1964, seu Comitê Central, lucidamente – deve ser reconhecido -, aprovava uma Resolução Política que orientava os militantes a passar a lutar por três palavras-de-ordem: conquista das liberdades democráticas, uma anistia, e convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, o que foi conseguido cerca de 22 anos depois, durante o governo Sarney.
Em todo esse contexto, finalmente, é importante assinalar o fato de que os estudantes e os intelectuais de classe média – e não as “amplas massas”, que segundo a doutrina científica são o motor da revolução – representaram a grande fonte de militantes e quadros dirigentes de todas as organizações e partidos constituídos após 1964.
O surgimento do PTNesse ínterim ocorreu o surgimento do Partido dos Trabalhadores, formado por diversas facções oriundas da luta armada, fato que, inicialmente, transformou o partido em um verdadeiro saco de gatos.
Somente um consistente processo de autocrítica conseguiu, aos poucos, superar o sectarismo interno e externo manifestado nas divisões entre tendências, no corporativismo e na falta de um projeto compatível com a realidade nacional, livrando-se dos anacronismos e dos vícios de sua formação, um processo doloroso que, no entanto, elevou o PT a um patamar de maturidade política. Isso foi reconhecido por José Dirceu, quando presidente do partido, lembrando que o Brasil em que nasceu o PT, não mais existe.
“As disputas internas já ultrapassaram os limites da convivência democrática, da diversidade de idéias e do pluralismo respeitoso, e expressam um sectarismo despolitizado onde a mera disputa por espaços e por projeção de grupos ou de pessoas não está associada a nenhum conteúdo propositivo. A crise do PT é de projetos, de alternativas, de paradigmas. O PT precisa definir um novo contrato ético e programático, interno e para com a sociedade, em torno do qual deve se dar o debate, a definição dos parâmetros de convivência e da praxis política”.
Estas foram as palavras do então deputado federal Jose Genoíno, extraídas do artigo “Nova Crise no PT”, publicado no “Jornal do Brasil” de 9 de dezembro de 1996, falando das intermináveis disputas, de salão e bastidores, que caracterizam o cotidiano partidário. Tais disputas tornaram-se uma refração de outras, pequenas e grandes, pelo poder, ainda quando esse poder fosse, freqüentemente, apenas o de profissionalizar militantes desta ou daquela tendência interna.
A discussão acadêmica sobre a conveniência de ter um “partido de quadros”, de “vanguarda”, ou “de massas”, nunca deixou de embalar os ideólogos do PT, obrigando-os a um discurso e a uma prática não-consentâneas, muitas vezes com as próprias convicções, provocando crises pessoais.
Diz o advogado André Araujo, diretor-executivo do Centro de Estudos da Livre Empresa, em São Paulo, que a função de governo é, por definição, tarefa de elites, no seu verdadeiro sentido. Entregá-lo a primários ou a indivíduos sem qualificação social, educacional, ou sequer profissional, é um ato de suicídio que nenhuma Nação comete impunemente e cita o caso de Portugal, “que quase acabou em 1974”, após a Revolução dos Cravos, quando o PC Português virtualmente apoderou-se do poder, suprimindo as hierarquias e as cadeias de comando sociais, e entronizando os ignorantes e os simplórios em nome de um nivelamento pela base mais medíocre.
A burocracia estatal brasileira, base genética do PT, é tradicionalmente esquerdista, desde o berço, e hoje o PT está acomodado nesse ninho, que encontrou pronto.
Desde seus primórdios, o petismo viu no atiçamento da luta de classes sua maior arma com o objetivo de fixar uma imagem guerreira em favor dos despossuídos. Aproveitando-se da grande massa de migrantes nordestinos, a maioria vivendo em precárias condições na periferia de São Paulo, o PT jogou a responsabilidade da miséria sobre os empresários, e da seca sobre o governo. Essa decisão contou com a imediata colaboração de setores majoritários da Igreja católica, esquerdizada por outro processo, em outro tempo.
Atualmente estamos presenciando uma profunda revolução cultural, de inspiração marxista. Ela acontece em nível mundial, e em nível nacional ela já vai adiantada. Os teóricos da revolução sabem que a revolução cultural começa nas mentes, antes de partir para a política.
A sociedade brasileira foi preparada durante muitos anos para a chegada de um socialista ao poder. Lula, antes de ser eleito, foi colocado como defensor dos direitos dos trabalhadores e da ética na política. Mesmo assim, só chegou ao Poder após disputar quatro eleições presidenciais.
Chegamos então a 2011. O STF aprovou a união gay e as marchas pela liberação da maconha. São exemplos de que estamos numa profunda revolução cultural. E o que virá depois? Provavelmente o socialismo, o comunismo... e sabe-se lá mais o quê.
Muitos católicos e não católicos vivem como se tudo isso fosse normal e não estivesse acontecendo nada. Mas o que não sabem é que existem engenheiros sociais fazendo com que pensemos assim
(http://catolicosconservadores.wordpress.com).
11 de dezembro de 2013
Carlos Azambuja é historiador.