"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 1 de dezembro de 2013

PT INVESTE UMA FORTUNA PARA A GUERRA SUJA NA NET


 
 


PT SEPARA DEZ MILHÕES PARA GUERRA SUJA NA INTERNET, DENUNCIAM MÍDIAS

A revista VEJA expõe as entranhas de uma guerra suja que começará a ser travada na internet.O PT reservou DEZ MILHÕES para financiar ataques a adversários ,através da agencia PEPPER.


LEIA MAIS

 http://www.folhapolitica.org/2013/12/pt-separa-r10-milhoes-para-guerra-suja.html?m=1
 
01 de dezembro de 2013
in graça no país das maravilhas

LULA ENROLOU E ABANDONOU JOSÉ DIRCEU. SEGUNDO O PRÓPRIO JOSÉ DIRCEU...


 
Preso em uma cela de seis metros quadrados, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu criticou Luiz Inácio Lula da Silva pela forma como ele administrou até agora a crise do mensalão. A insatisfação com o ex-presidente foi manifestada por Dirceu a pelo menos três amigos que o visitaram, nos últimos dias, no Complexo Penitenciário da Papuda.
 
01 de dezembro de 2013
in graça no país das maravilhas

PORQUE AS COISAS ACONTECEM POR AQUi...




01 de dezembro de 2013

AS IDÉIAS DE JUSTIÇA DO CHE...



01 de dezembro de 2013

UM DOS MOTIVOS DE RACHEL SHEHERAZADE SER ODIADA POR LULA

Rachel Sheherazade mais uma vez se destaca com comentários independentes, sem pressão partidária e do politicamente correto esquerdista, sobre os acontecimentos da política brasileira.

Claro, ela já foi notada pelo ex-presidente Lula. E ele não gostou. Reinaldo Azevedo fez um post sobre isso, transcrevo uma parte:
 
“Na conversa, dedicou-se também a um dos seus esportes favoritos, descer a borduna na imprensa, a qual chamou de despreparada e parcial em relação aos políticos. Contou que recentemente assistia TV e, ao zapear, parou no SBT. Sem dar nomes, diz que viu uma jornalista de “vinte e poucos anos” criticar pesadamente o governo e os políticos. Em sua avaliação, as críticas não tinham embasamento algum.”
 
Pensar diferente da cartilha do partido é errado, é falar besteira, é ser da elite que odeia os pobres. Óbvio que Lula não gosta de jornalistas que discordam das ações esquerdistas de seu partido.
E, claro, que ninguém do PT vai gostar de uma jornalista que fala abertamente que eles defendem os condenados do mensalão com o uso de mentiras, esperando que a repetição as transforme em verdades.
 
Veja o vídeo com o comentário da Rachel sobre a estratégia de vitimização do PT:
 
 
01 de dezembro de 2013
osmar
reaçablog

RACHEL SHEHERAZADE - O CRIME COMPENSA

PAULO MARTINS - OU VOCÊ DÁ O SEU DINHEIRO PARA O ESTADO, OU MORRE

CONSELHEIRO DO MIN JUSTIÇA PEGO EM FRAUDE MILIONÁRIA NA CAMPANHA DO DESARMAMENTO

   

A polícia federal realiza hoje uma operação para combater fraudes no programa do desarmamento em cidades da Bahia e Ceará. O golpe se baseava em alterar o número de armas doadas (inventando doações ou confeccionando armas artesanais) para aumentar o valor recebido pelo governo federal.
 
Clóvis Nunes, coordenador nacional da ONG MovPaz Brasil, seu irmão Carlos Nunes e o coronel da PM Martinho foram presos na operação. Coronel Martinho foi apreendido com armas ilegais.
 
Alguns trechos:
(…)
De acordo com a PF, os irmãos mantinham um esquema no qual fabricavam armas artesanais cadastradas como de fabricação industrial, que eram repassadas à ONG e recebiam em troca a taxa indenizatória. Além disso, eles falsificavam recibos. Com isso, os irmãos recebiam outros valores.
Segundo o delegado Val Gular, coordenador da operação, o esquema envolve a PM e várias ONGs da cidade. O prejuízo aos cofres públicos, de acordo com Gular, é de cerca de R$ 1,3 milhão.
Mais de 8 mil armas artesanais
Durante a investigação, a polícia apurou que, das 8.800 armas de fogo cadastradas e que geraram indenizações, 4 mil não existiam e outras 4.400 eram de fabricação artesanal.
(…)
Além disso, Clóvis Nunes é conselheiro do Ministério da Justiça, como bem exposto no site do Movimento Viva Brasil, ONG que luta pelo direito à legítima defesa. Ele se tornou membro do CONASP, Conselho Nacional de Segurança Pública.
 
 
A notícia da nomeação de Clóvis Nunes para o conselho do Ministério da Justiça pode ser encontrada no próprio site da ONG MovPaz Brasil: 
 
 
Printscreen da página:
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01 de dezembro de 2013
Osmar
in reaçablog

SABEDORIA DAS URNAS

Se presidir um país latino-americano é tarefa espinhosa mesmo nos melhores tempos, o que dizer de Honduras? A pequena nação centro-americana é a segunda mais miserável do continente, logo acima do Haiti. Dois terços da população de 8,5 milhões vivem na linha da pobreza ou abaixo. A taxa de desigualdade é pior hoje do que há duas décadas.

Com instituições fracas, política internacional e ética pública porosas, Honduras é o ecossistema perfeito para o crime transnacional. De cada 100 mil hondurenhos, 80 morrem assassinatos por ano, um recorde mundial. E 70 mil cidadãos vão embora do país anualmente.

No entanto, oito candidatos disputaram a corrida presidencial e quem levou as chaves do Palácio José Cecilio del Valle saiu da peleja de sorriso franco e desafiante. "Não negocio a vitória com ninguém", bradou Juan Orlando Hernandéz, militar reformado, de 45 anos, que presidiu o Congresso. Esqueça o fato de que Hernandéz ganhou apenas 34% dos votos e seu rival mais próximo, a socialista Xiomara Castro, ainda não reconheceu sua vitória.

Chama a atenção, no entanto, o fracasso de outro pretendente na disputa. Nos últimos quatro anos, um fantasma rondava o pequenino país centro-americano e, por tabela, toda a região. Hugo Chávez, o falecido líder venezuelano, trabalhara duro para evangelizar seu o socialismo do século 21 pelas Américas. Em 2009, teve a chance de espetar mais um alfinete no seu mapa-múndi revolucionário. Justamente em Tegucigalpa, onde o presidente Manuel Zelaya ensaiava passos bolivarianos.

Naquele ano, Zelaya chegava ao fim de seu governo, refugou e provocou uma cisma continental. Reza o Artigo 239 da Constituição de Honduras que o mandato presidencial é único, de quatro anos, sem direito a reeleição. Zelaya quis mais e convocou um plebiscito nacional sobre o tema, também vetado pela lei.

Acabou deposto e expulso do país sob mira de fuzil. Voltou na surdina, ao lado de Nicolás Maduro, o então chanceler de Chávez, mas não conseguiu retornar ao palácio. Resolveu lançar sua esposa, Xiomara Castro, sob legenda nova, o Partido Libre, e acessórios velhos, do patenteado chapéu de cowboy ao roteiro chavista.

Assim, ficou demarcada a campanha hondurenha, uma batalha por procuração. Os conservadores e caciques do Partido Nacional enxergaram na candidatura de Xiomara a senha para o retorno de Zelaya pela porto dos fundos. E os zelaystas viram o dedo de Washington na campanha de Hernández, um advogado formado na Universidade de Nova York que quer soldados na rua contra o crime.

Nem uma coisa, nem outra. Primeiro, o chavismo ficou longe do páreo. Talvez pela crise na Venezuela, onde o presidente Maduro luta para salvar seu acidentado governo da pane econômica e de sua popularidade em declive. Outro companheiro, o presidente nicaraguense, Daniel Ortega, mais oportunista que chavista, surpreendeu a todos ao ser um dos primeiros a congratular Hernández.

Deixaram isolado o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, chefe de torcida internacional, que endossou Xiomara na reta final, na contramão das pesquisas. Já Washington decepcionou no papel de imperialista. Após condenar o golpe de 2009, o governo americano se calou na campanha eleitoral e, até sexta-feira, ainda não tinha parabenizado o presidente eleito.

Novidade. O restante ficou a cargo dos hondurenhos, mais sensatos, que dividiram seus votos de forma equilibrada entre quatro candidatos. É uma boa-nova para o país atolado há quase um século entre dois partidos escleróticos: o Liberal e o Nacional.

No Congresso, nenhuma legenda terá maioria absoluta, muito menos rolo compressor. Para estancar o crime, conduzir o país e introduzir as reformas que Honduras tanto carece, Hernández, queira ou não, terá de negociar. E o zelaysmo, participar. Se isso significa renovação ou paralisia, não se sabe.

 
01 de dezembro de 2013
O Estado de S. Paulo

FÉLIX VENDE SALSICHA FRIBOFE!


E o Zé Dirceu gerente de hotel? Pacote pra Réveillon! Os hóspedes saem sem as malas!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Bafos da semana: Mengão campeão e Zé Dirceu gerente de hotel! E como gritou aquele flamenguista: "Agora são quatro letra: CABÔ!". E o Flamengo é tri, o Vasco é a prova de que o futebol não é uma caixa de surpresas, e o Botafogo? Ah, o Botafogo é um bairro lindo! Rarará.

E o meu São Paulo eliminado pela Ponte Preta! A macaca comeu os bambis. E como disse o FuteboldaDepressão: "Time grande não cai. Despenca da Ponte". Rarará. O São Paulo tem que trocar o Boi Bandido por um Bambi Malvado! Rarará!

E o Zé Dirceu gerente de hotel? Pacote pra Réveillon! Os hóspedes saem sem as malas! E o Brasil quer saber: ele vai trabalhar no lobby ou na lavanderia? NO LOBBY, como sempre. Vai continuar fazendo o que sempre fez!

E o Delúbio vai trabalhar no caixa? E o porteiro vai ser o Genoino, com aquela camisa rosa!

E o Roberto Jefferson vai cantar no hotel? Vai ter show do Roberto Jefferson? Parece o hotel de "O Iluminado"! Rarará!

E já imaginou a situação? A conta veio errada e você pede pra chamar o gerente. E aí aparece o Zé Dirceu! Rarará! E o hotel não tem cofre nem seguro, aventura radical.

O Zé Dirceu vai abrir uma cadeia de hotéis: Papuda Inn!

E adorei a charge do Xalberto com o Alcksiemens rebatendo as denúncias de cartel: "Vamos investigar tudo, doa a quem doer! AAAAAIIIIIIII". Rarará. E notícia de corrupção tucana é sempre "suposto". Supostos tucanos praticaram suposto roubo chamado de suposto cartel no suposto Metrô! O PSDB quer dizer Partido Suposto Do Brasil! Rarará! Até o partido é suposto!

E Zé Dirceu e Genoino, ambos têm problemas de saúde; o Genoino é cardiopata e o Dirceu é psicopata. Rarará. O Genoino é hipertenso e o Dirceu é hiperchato!

E essa: "Condenadas no mensalão tomam banho de sol na Papuda". Virou "Big Brother" agora? E faz mal tomar banho de sol na Papuda!

E como disse o Ciro Botelho: o Félix vai vender salsicha FRIBOFE! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Placa no restaurante Imaculada, no centro do Rio: "Eike Batista nunca esteve aqui". Rarará. Vou botar essa placa aqui na porta de casa: "Eike Batista nunca esteve aqui". Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

RETRATAÇÃO


‘Não tente transferir sua culpa. O desenho é seu. É a minha cara falsificada que está por aí, colada em tudo que é poste da cidade’


Tudo é vaidade.

Tem aquela do cara que invade uma delegacia de polícia e exige falar com o desenhista.

— Com quem?

— Com o desenhista. O que faz retratos falados. Quero falar com ele agora!

— Espera aí. Você não pode entrar aqui assim e...

— Não interessa. Quero falar, imediatamente, com quem fez isto.

E o homem mostra um cartaz em que aparece o desenho de um rosto e escrito, em cima, “Procura-se”. Insiste:

— Se ele não aparecer logo, eu quebro esta joça!

— Calma, cidadão. Calma.

Tantas o homem faz que o desenhista é localizado e trazido à sua presença. O homem mostra o cartaz e pergunta:

— Isto se parece comigo?

— Isto se parece comigo?

— Bom, eu...

— Não. Me diga. Esta cara se parece vagamente com a minha?

— É que eu...

— Olha o meu nariz e olha o nariz do desenho. Desde quando eu tenho um nariz assim? E a boca?

— É que eu me guiei pela descrição da testemunha...

— Não. Não tente transferir sua culpa. O desenho é seu. É a minha cara falsificada que está por aí, colada em tudo que é poste da cidade. E eu exijo retratação. Ou, no caso, rerretratação.

Um policial de plantão interfere:

— Você está preso.

— Eu sei — diz o homem. E, para o desenhista:

— Assim você terá o tempo que quiser para refazer meu retrato, usando o original como modelo.

— Está bem — diz o desenhista.

— Certo, desta vez!

PAPO VOVÔ

Às vezes sou recrutado para o papel de príncipe encantado, nos brinquedos da Lucinda, nossa neta de 5 anos (“e meio”, como ela faz questão de dizer). No outro dia cumpri minha missão e ressuscitei a princesa envenenada com um beijo. Mas não consegui levá-la para o meu castelo, ela preferiu ficar na rua. Agora essa: princesas republicanas.

 
01 de dezembro de 2013
Luís Fernando Veríssimo, O Gloob

ESQUEMAS

Quem não viu 'Blue Jasmine', pare por aqui, ou pule para os parágrafos finais onde provavelmente estarei tratando de alguma outra coisa que não tem nada a ver com isso

O filme de Woody Allen com Cate Blanchett DuBois é bom, como tantos dizem, mas tem uma dramaturgia meio engraçada. Nem Walcyr Carrasco escreveria a cena do encontro entre a Wall Street Blanche e o ex-marido da exageradamente contrastante irmã, na porta da joalheria em que ela vai comprar, ao lado do novo amante que representaria sua redenção, o anel de noivado.

(Escrevo sem o cuidado de ocultar detalhes que revelam o desfecho da trama. É para quem já viu o filme. Quem não viu, pare por aqui, ou pule para os parágrafos finais onde provavelmente estarei tratando de alguma outra coisa que não tem nada a ver com isso.)
O ex-cunhado diz logo tudo o que destruiria o futuro casamento. É certo que ele tinha razões para querer vingança, mas a coincidência (assim como a da irmã que, em Nova York por poucos dias, vê o marido de Blanche Blue Jasmine levar uma amante até a esquina e beijá-la na boca) surge forçada como nas mais descaradas novelas.
Sou um antigo detrator do estilo de Allen. Quando ele era adorado, eu implicava com o que me parecia careta demais em sua visão de mundo. “Mahattan” não tem nem um preto; os punks de “Hanna e suas irmãs” são retratados como aberrações uniformemente fabricadas; há a piada sobre Dylan em “Annie Hall”; Zelig espelha todo tipo de gente, nunca mulheres ou bichas; maconha é anátema; a música popular morreu desde os Beatles, tal como para Paulo Francis ou Ruy Castro; Barcelona e as coisas da Espanha são como “Bananas”. Eu era contracultura tropicalista. Tenho muita saudade de Teresa Aragão — e sofro em dobro por não poder dizer-lhe que hoje amo os filmes de Allen.

Na verdade, mesmo à época eu tinha consciência de alimentar uma implicância. Afinal, eu próprio gosto da música do período pré-Beatles com o mesmo entusiasmo que o diretor; detesto maconha ou qualquer droga que mude minha percepção; considero Nova York cidade minha, o lugar onde eu poderia viver fora do Brasil (se aguentasse os invernos).

Comecei a gostar em “Radio days”, que, no entanto, eu caracterizava, com alguma razão, como uma miniatura de “Amarcord”. Justo um filme que os antigos amantes de Allen não curtiram muito: era já o começo do desencanto do público americano com seu gênio. Hoje gosto de quase tudo de Allen na TV. E, ao contrário de muitos amigos meus de Nova York, sou apaixonado por “Meia-noite em Paris”.
Adoro “Tiros na Broadway” e já vi “Tudo pode dar certo” umas cinco vezes sem que em nenhuma delas pudesse conter as lágrimas ao ouvir a frase final dita por Larry David (ele diz, olhando para o espectador — isto é: para a câmera —, ser o único que vê a imagem inteira, na verdade “todo o filme”, já que “picture” também significa filme, sendo ali claramente frisada essa acepção da expressão inglesa corrente “see the whole picture”). E revejo com prazer qualquer uma das comédias que fazia questão de desprezar décadas atrás.

Os dramas são mais difíceis de engolir. Allen ele próprio diz que seu melhor trabalho é “Match point”. Que me parece uma refilmagem de “Crimes and misdemeanors”, um cinedrama de ideias, ou de tese, em que, como disse Pauline Kael, ele quer “nos ensinar não apenas o que já sabemos mas também o que já rejeitamos”.

E com todas aquelas alusões a “Crime e castigo”. “Interiores” parece um congresso de antílopes, com todos sempre de bege. Mas, vamos lá, não são ruins de todo. E neste agora Cate Blanchet é tão bonita e tão naturalmente inteligente que quase tudo ganha profundidade. Mas eu fui um espectador incômodo, rindo em momentos sem intenção de comédia. É que o esquematismo é uma licença do cômico: no drama, pode bater forte demais em nossa credulidade.
De todo modo, não atribuo exclusivamente a Cate os méritos citados: o diretor ama as mulheres e sabe filmá-las de modo a revelar-lhes os mais intensos encantos. Sérgio Mallandro, que também ama as mulheres, reconheceu o esquematismo do filme, mas o redimiu à sua maneira dizendo que ele traz a mensagem “O caguete tem que se foder”. “Ela”, Jasmine, “estava toda feliz naquela vida de rica. Foi dedurar o marido, terminou falando sozinha no banco da praça”.

O GLOBO botou que o ministro Gilmar Mendes contou casos judiciais de biografias vs privacidade na Alemanha, mas não transcreveu nenhum. Qualquer complexificação do tema causa alergia em jornalistas e editores. Tudo tem de ser mais forçado que as viradas de Allen.

Bem, ele é o mais oscarizado dos roteiristas. A biografia de Hal e a história das biografias no Brasil são tratadas com mão pesada. Sou um ser estranho. Gosto da imprensa livre do Brasil e dos filmes de Allen. Mesmo não podendo conter o riso diante do que é inconvincente.

DEMOCRACIA E FALSEABILIDADE

SÃO PAULO - Num gesto temerário, comento hoje a interpretação que um físico --David Deutsch-- faz das ideias políticas de um filósofo da ciência --Karl Popper.

Em "The Beginning of Infinity", Deutsch retoma alguns dos paradoxos matemáticos que assombram a democracia desde os tempos de George Washington e os "Founding Fathers" dos EUA, que jamais conseguiram encontrar uma fórmula justa para estabelecer a representação de cada Estado na Câmara de acordo com o total de habitantes. Em algumas situações, um Estado cuja população crescia mais acabava perdendo cadeiras. Hoje, graças ao teorema de Balinski e Young, de 1975, sabemos que a tarefa é mesmo impossível.

Deutsch, porém, vai mais longe e, valendo-se de outra prova matemática, o Teorema da Impossibilidade de Arrow, segundo o qual a soma das racionalidades individuais não produz uma racionalidade coletiva, coloca em dúvida a legitimidade da noção de escolhas sociais --o que tem profundas e pouco alvissareiras implicações para a democracia.

Para Deutsch, a resposta para o problema está em Popper. Em sua visão, a democracia é boa não porque represente a vontade do povo, mas porque é o sistema que mais facilita a remoção de políticas equivocadas e permite mudar governos sem violência. Se quisermos, é a aplicação, na política, das teses popperianas sobre a falseabilidade que fizeram tanto sucesso na epistemologia.

"A essência do processo decisório democrático não é a escolha feita pelo sistema eleitoral, mas as ideias que se criam entre as eleições (...) Os eleitores não são uma fonte de sabedoria da qual as políticas corretas podem ser empiricamente derivadas'. Eles estão tentando, e de forma falível, explicar o mundo e, neste processo, melhorá-lo", escreve Deutsch.

Se isso é verdade, progredimos mais quando despachamos governantes para casa do que quando os elegemos. E isso em todos os níveis.

UUUUUUUU...


Vovó, você se lembra da sua

primeira vez?

- Primeira vez o que, minha filha?

- Que fez sexo.

- Uuuuuuuu...

- Faz tanto tempo assim?

- Espera que eu ainda não terminei. Uuuuuuuuuu...

- Foi com quem?

- Um cadete. Ele ia ser mandado para o front no dia seguinte e disse que queria levar com ele a lembrança da nossa última noite juntos. Não pude recusar. Dali a duas semanas recebi a notícia de que ele tinha morrido.

- Que front era esse, vovó?

- O front. Da guerra. Não me lembro qual delas. Fiquei chocada com a notícia e me internei num convento, onde fiquei pelo resto da vida.

- Vovó, você viveu num convento?

- Não vivi? Espera um pouquinho. Acho que estou misturando as coisas. Isso foi um romance que eu li. Ó cabeça.

- Então, quem foi o primeiro?

- O primeiro o quê?

- Com quem você fez sexo, vovó.

- Uuuuuuuuu... Deixa ver. Como era o nome dele... Gilbert qualquer coisa. Gilbert Roland!

- Acho que esse era um ator.

- Não, não, não. Era nosso vizinho. Nos encontrávamos no fundo do quintal, sob a goiabeira. Até hoje não posso sentir cheiro de goiaba que me lembro do Gilbert Roland. Foi o primeiro e o único. Nunca mais amei ninguém.

- Vovó. Você casou com o vovô. Teve cinco filhos com o vovô. Você amava o vovô.

- Tudo fingimento.

- E há quanto tempo você não faz sexo?

- Uuuuuuuuuuu...

- Com quem foi a última vez?

- Eu já era viúva. Um dia bateram na porta. Era o Juan Carlos da Espanha. Na época ele ainda era príncipe. Tinha errado de porta, estava procurando não sei quem. Mandei entrar e começamos a conversar. Assuntos gerais. Ele pediu para ver o meu quarto... E aconteceu. Nunca mais nos vimos. Mas ele não deixa de me escrever.

- Vovó, você tem cartas do rei Juan Carlos da Espanha?

- Estão por aí, em algum lugar.

- E são cartas amorosas?

- Uuuuuuuuuuuu...

 
01 de dezembro de 2013
Luís Fernando Veríssimo, O Estado de S Paulo

DE PÉS DESCALÇOS


Para quem vive em locais quentes e com praia, andar de pés descalços não é nenhuma novidade. Já para nós, gaúchos, que passamos a metade do ano usando botas e sapatos fechados, a chegada do verão resgata o prazer de receber diretamente do solo a energia vital que circula pelo corpo todo. Posso estar dando uma importância excessiva ao fato, mas é que andar de pés descalços me remete ao menino das selvas que habitou minhas fantasias da infância, o Mogli. Sapatinhos de cristal sempre me pareceram afetados e apertados demais.

Porém, só fui me dar conta disso, conscientemente, agora, depois de ter feito a viagem pela Tailândia e Camboja que já mencionei na coluna de quarta-feira passada. O que menos levei na bagagem foi algo para calçar. Apenas um chinelo para o dia, uma rasteirinha para a noite e um par de tênis para as aventuras mais radicais – inclusive os tênis ficaram por lá: não sobreviveram às emoções off road vividas de bicicleta em torno do templo de Angkor nesse finalzinho da estação das chuvas cambojanas.

Na Tailândia, o convite para deixar os calçados na porta, antes de entrar nos lugares, é frequente, e isso me fez ter contato direto com a madeira, com o mármore, com pedras rústicas e, principalmente, com a terra: visitando plantações de arroz, andando de barco por aldeias flutuantes, visitando templos e palácios, e mesmo em restaurantes, meus pés reaprenderam a sentir, e não falo de sentir vergonha, ainda que devesse, já que os meus são poucos inspiradores para fetiches. Falo em sentir um grau de pertencimento que o costume e o conforto geralmente impedem.

Se nas vilas e cidades tive o mundo aos meus pés, o que dizer das praias de Krabi, Koh Phi Phi e demais ilhas paradisíacas do sudeste asiático? Pisava na areia de dia e inclusive à noite, jantando a poucos passos do mar, monitorada pela lua. Nem mesmo pés-de-pato coloquei para mergulhar.

Está aí o verão, que nos Estados do norte e nordeste do Brasil não é uma temporada tão diferente do inverno. Nesses casos, os pés descalços já fazem parte da indumentária habitual. Mas para os que têm apenas esses próximos meses para descer do salto, é hora de conceder-se a delícia de sentir o calor e o frio que vem da base. Perceber o seco e o úmido, o macio e o árido, o liso e o áspero – que absorvamos todas as texturas, sem se importar que esse despojamento nos roube a classe e o charme: aliás, rouba nada, a meu ver. Se, em sentido figurado, somos obrigados a manter os pés no chão o ano inteiro, que o façamos agora também literalmente, pelo simples e relaxante exercício de uma liberdade que anda cada vez menos em uso.

GUGU DADÁ


Sabe quando uma criança fica enchendo o saco do pai porque quer porque quer mexer no celular dele, e o pai pega um celular velho e quebrado, dá pro filho e fala: toma, pode brincar? Daí o filho se fecha em seu mundo brincando com o aparelho estragado, mas crente que está falando com o mundo todo? Isso é exatamente o que eu penso que é a tal famigerada Comissão de Direitos Humanos e Minorias presidida pelo deputado, barra pastor, barra polêmico, barra (preencha a lacuna com o que quiser) Marco Feliciano.

Já reparou que tudo o que foi aprovado e decidido por essa importantíssima comissão nunca deu em nada na prática? Não foi adiante e nem gerou nada, além de barulho na mídia. Nunca nem tramitou na Câmara nada do que eles decidiram. Tudo aquilo que foi posto em discussão por eles parou um metro e meio depois.

Eles só se apegam a assuntos de interesses próprios. E têm uma fixação com gays. Meu Deus, tudo são os gays. Eles não podem casar, eles não podem entrar em cultos, eles não podem se beijar, eles não podem, eles não podem, eles não podem... Nunca é uma decisão que os gays possam alguma coisa. É sempre proibindo. Curioso uma comissão que cuida dos direitos humanos ficar impedindo pessoas de serem livres.

Eu acho que, na real, ninguém leva muito a sério o que esse pessoal do CDHM fala, sabia? Eles são meio café com leite, tadinhos... É como se quem tá na Câmara e no Senado fosse os adultos recebendo os amigos em casa e os membros da comissão fossem as crianças brincando no quarto. Fazem barulho, se divertem, convivem no seu próprio mundo de fantasia, mas não representam nada de muito relevante pra ninguém, a não ser entre eles mesmos.

E repare que, como as crianças, eles acreditam de verdade naquilo que estão fazendo. Se dão muita importância, acham que estão vivendo a vida, quando na verdade estão só passando o tempo. A população não dá a mínima pra eles, o governo não dá a mínima pra eles, mas, afinal, quem dá alguma coisa por eles? Eles estão lá, claramente, para ocupar algum buraco.

Pensando nisso, eu sugiro a criação de mais comissões. Comissões para encostarmos uns Sarneys e Malufs da vida. Que tal? Comissão das Decisões Éticas e Corretas, presidida por Anthony Garotinho. Comissão da Importância da População para o Desenvolvimento do Estado, presidida por Roseana Sarney. Comissão da Tolerância e do Respeito, presidida pelo Bolsonaro. Aí fica toda essa corja num canto brincando de achar que decidem alguma coisa, enquanto aquela meia dúzia que presta toma as decisões de verdade.   

ÁGUA DE BEBER


Não, obrigada, só uma garrafinha de água na temperatura ambiente. Sem gelo, sem gás, sem limão, sem glúten, sem lactose, sem graça nenhuma, insípida inodora e incolor


No camarim, de vestido de cauda longa, brincos de família e sapato da sorte, aguardo a hora de ser chamada para fazer uma participação especial em um evento muito legal sobre A ÁGUA BOA.

Sentada em uma poltrona de napa branca, observo as pessoas entrarem e saírem do camarim de alguém que vai trocar de roupa. Ninguém bate na porta, impressionante, a pessoa entra e bate a porta quando sai. O camarim tem duas portas, uma à minha direita, a outra à esquerda. Então entram por uma porta e saem pela outra como se o lugar onde a cantora vai se trocar fosse um corredor. Já estive em camarins com duas portas e precisaria de um caderno inteiro do jornal para contar (o que pudesse ser contado).

Um pouquinho estranho, ao chegar nesse, ver sobre uma mesa de madeira com lindíssimas orquídeas quatro garrafas de água mineral, bem geladas, e só. Tenho exigências simples para o camarim, tipo nozes, mel, frutas da estação, Romanée-Conti para as visitas, um casal de tigres de Bengala, umas mulatas, mas, sobretudo, água natural. Ou seja, água na temperatura ambiente, em Teresina ou em Toronto. É a coisa mais importante de todas para a voz, além do sono.

Entra sem bater um rapaz bonito e dispõe algumas taças de vidro sobre a mesa. Na outra porta alguém enfia a cara e pergunta “tá tudo bem aí?”. “Tranquilo”, digo eu. “Precisa de alguma coisa?”. “Água, natural, se possível…”. ”Água?”. “Por favor”. “Claro, vou buscar”, blam. Uns dez minutos e entra alguém pela esquerda que pergunta “Quer alguma coisa? O que você precisar é só pedir…” Aceito uma água natural por fav…” Com gás?”. “Não, obrigada, só uma garrafinha de água na temperatura ambiente. Sem gelo, sem gás, sem limão, sem glúten, sem lactose, sem graça nenhuma, insípida inodora e incolor…” Alguém enfia a mão na porta da esquerda e instala um pacotão de garrafinhas embaixo da mesa, iguais àquelas quatro primeiras, só que estas estão, agora sim, inteiramente congeladas. Entra pela direita um moço muito gentil que traz numa bandeja uma garrafa de vidro, não de plástico como as outras, com água, na temperatura ambiente. Deposita sobre a mesa. “Obriga…” blam. Levanto devagar até a garrafa, testo com a palma da mão, está perfeita. Ah, mas a garrafa está fechada. Deixa ver… Cadê o abridor? Não tem. Ele esqueceu de abrir a garrafa ou esqueceu de trazer o abridor? Um dos meus meninos aparece e tenta abrir a garrafa na mão, no dente, impossível, mando parar, não estou vestida para estar, daqui a meio minuto, de quatro, com minha cauda de seda e brincos de família debaixo da mesa catando dente de menino nenhum. Não há como abrir a garrafa na porta, aquele velho truque, porque o camarim-corredor é feito de paredes divisórias, sendo por isso que quando alguém bate a porta quando sai, blam, as quatro paredes tremem como se um lobo mau estivesse soprando a pobre casinha. Entra um terceiro moço com um balde de gelo, com quatro garrafas de vidro dentro, geladas, duas sem gás, garrafa transparente, duas com gás, garrafa verde-garrafa. Digo “obrigada. Você, por gentileza, me arranjaria um abridor de garrafas?” “Oi? Um abridor a senhora quer?”. “Sim, as garrafas de plástico estão muito geladas, gostaria de água natural, desta garrafa aqui, mas preciso do abridor, você, que é garçom, não teria algum aí, por acaso?” “Tenho não, senhora…” “Mas não poderia trazer um abridor pra mim, por favor?”. “Claro! Está precisando de mais alguma coisa? Algo especial?”. “O abridor, seria incrível, obrigada”.

Os meninos técnicos começam a chegar para conferir meus fones de ouvido, cabos, microfones, tudo pronto. Rodrigo Pitta me chama para cantarmos juntos, justamente, “Água de beber”, de Tom e Vinicius. Minha garganta está colando, a boca seca, o lábio superior enrolado pra dentro na gengiva, todos os dentes de fora. Rodrigo me chama, cantamos Água de beber, Água de beber, camará, e foi muito divertido. Acabou, vamos embora beber uma água… peraí, o carro? Não? Alô? Não chegou? Alô? Onde está o carro? Ok. Está a caminho. Ok. “Adriana, você espera aí, parada.” Ok. Alô? Ok, ok.

De pé, perto da porta de saída, com três seguranças de terno preto ao meu redor, parecendo anúncio de perfume, paciente espero. Um deles de vez em quando põe o nariz pra fora: “o carro não chegou e ainda tem umas quatro mil pessoas aí fora, melhor a senhora ficar por aqui mesmo”. O que está a meu lado sai. Volta rápido e me alcança um copo de água na temperatura ambiente. Primeiro vou beber a água para logo em seguida beijá-lo na boca. Dou um gole grande, de água na temperatura ambiente… com gás. Já beberam um gole grande de água na temperatura ambiente com gás em dia tórrido? Sorrio agradecendo, com a boca cheia de bolhas quentes, tentando não espumar tudo em cima deles às gargalhadas. Parece que o carro está chegando. Ok? Ok. Chegou? Chegou. Ok? Ok. Por aqui, senhora, por favor. Por aqui. Essas cantoras da MPB, ai, como complicam.

 
01 de dezembro de 2013
Adriana Calcanhotto, O Globo

O JOGO DOS CONTRÁRIOS

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Uma coisa que nunca deixa de me incomodar, por mais banalizada e onipresente que esteja a expressão hoje em dia, é esse negócio de “políticas públicas”.
 
Que política haveria de não ser pública, especialmente em se tratando de governos?
Enfim, é um desses vícios de linguagem que nascem em tribos bem identificadas e acabam por se transformar numa espécie de distintivo delas.
No caso, trata-se da militância do PT. A expressão “políticas públicas”, sobretudo quando dita entre “cicios”, identifica um militante do PT com mais precisão que a estrela vermelha pespegada ao peito.
 
Mas aí comecei a dar-me conta de que uma grande parte das políticas do PT de fato não são políticas voltadas para o bem público, são políticas de aparelhamento de instrumentos e de próprios do Estado para colocá-los a serviço do projeto de poder do partido, quase sempre em detrimento do interesse público.
 
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Ocorreu-me, então, que a expressão pode ter tido origem em figuras admiradas por seus imitadores de hoje que enxergavam com toda a clareza a distinção entre essas duas formas de operar que os mais ingênuos não vêm, e que a tropa simplesmente a repete agora possivelmente sem ter muita consciência do seu sentido original.
 
A hipótese se encaixa perfeitamente numa tradição de que as atuais gerações estão distantes mas que marcou indelevelmente a minha.
 
Hoje eles já são pacificamente tidos como “heróis da democracia” neste país que honra Antonio Granmsci. Mas nos anos 60, 70 e 80 quando ainda se afirmavam clara e orgulhosamente como “ditaduras do proletariado” e fuzilavam sumariamente quem discordasse delas esse pessoal já tinha consciência de que o peso desses crimes acabaria por se voltar contra eles.
 
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Assim é que, embora na ação fossem explícitos e inequívocos na afirmação da sua obsessão pelo controle “total” dos pensamentos, palavras e obras alheias (daí o “totalitário”) assim como da sua absoluta intolerância para com qualquer forma de dissidência, por tênue e pacífica que fosse, eles passaram a se especializar num meticuloso trabalho de subversão conceitual e linguística que George Orwell, no seu clássico “1984”, imortalizou como a “novilíngua”.
 
Conscientes de que democracia já era, desde pelo menos o fim da 2a Guerra Mundial, um valor universalmente aceito e adotado como o objetivo a ser conquistado pela maior parte da humanidade, mesmo a parcela dela que não sabia então e continua não sabendo até hoje exatamente como defini-la, esses inimigos jurados da democracia passaram a trabalhar para se apropriar das expressões que historicamente a definiam.
 
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Tudo, então, passou a ser designado como o contrário do que era. Enquanto as verdadeiras democracias, que eles qualificavam naquela altura de “burguesas” e tentavam matar a tiros e explosões, chamavam-se, anodinamente, “Estados Unidos da América”, “Japão” ou “Canadá”, as mais sanguinárias ditaduras, às vezes instaladas em países cercados por muralhas, controlados por elites que não apeavam nunca do poder, em que qualquer expressão de dissidência resultava no fuzilamento sumário com um tiro na nuca aplicado em um porão, a perseguição e o confinamento de toda a descendência do condenado e até o apagamento de todos os traços de sua passagem pela Terra inclusive em fotografias, eram todas batizadas de “Republicas Populares Democráticas”.
 
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Havia a da Alemanha (Oriental), cercada de muros com ninhos de metralhadoras apontadas não para a porta de entrada, que vivia às moscas, mas para a de saída, que era disputada mesmo à custa de sangue, havia a do Campuchea (Cambodja), onde um terço da população foi exterminada, havia as “Repúblicas Socialistas Soviéticas“, “unidas” por implacáveis exércitos de ocupação estrangeiros que enfrentavam passeatas com tanques de guerra, e por aí a coisa ia com milhões de pessoas assassinadas e de prisioneiros submetidos à fome e ao trabalho escravo em intermináveis “arquipélagos” de campos de concentração.
 
Não eram repúblicas, não eram populares e não eram democráticas. Fuzilavam todo e qualquer homem, mulher ou criança que agisse como se estivesse em uma, sempre sob os aplausos entusiasmados dos “guerrilheiros” que lutavam explicitamente, com armas e com bombas, para por o Brasil sob esse mesmo tipo de regime. Mas faziam questão absoluta de ser chamados assim…
 
Para os nativos do Terceiro Milênio tudo isso parece distante como a Idade Média. Mas aconteceu, foi “ontem” e eu estava lá, como tanta gente que mora hoje em nossos palácios…

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Esse negócio de “políticas públicas” não passa de um restolho temporão desse culto à subversão semântica e conceitual que tão bem caracterizou aqueles anos.
 
A distribuição maciça de benesses e pequenas esmolas eleitorais; a oferta de homens vestidos de branco mas sem diploma quando faltam médicos; as desonerações pontuais em setores da produção com repercussão rápida nos sonhos de consumo das classes mais resistentes ao partido; o controle do preço de insumos básicos para melhorar estatísticas ou a distribuição de mão em mão de “remédios” que viciam a título de cura da miséria são, todos eles, expedientes que, segundo o jargão do militante, constituem as tais “políticas públicas” do PT.
Mas o que se pretende obter com elas, evidentemente, não é reforçar o regime representativo, nem melhorar a saúde pública, nem aumentar a competitividade da indústria nacional, nem acabar definitivamente com a miséria.
Segue com tudo o velho jogo dos contrários…

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01 de dezembro de 2013
vespeiro

SOBRE JUSTIÇA, HOTELARIA E JORNALISMO

 

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Meu avô não admitia essa expressão e a mera decomposição silábica dela dispensa maiores conhecimentos etimológicos para explicar o porque. Outros tempos… Mas não ha outra que defina tão precisamente o que está acontecendo.

Assim é com um pedido de desculpas por alguma sensibilidade que ainda resista por aí e possa ser ferida que registro que a resposta do companheiro “Vé Dirfeu” à confirmação da sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal abre a etapa final do processo de esculhambação geral da democracia brasileira.
Dá medo o país que vem vindo aí…
 
Entre o chorão José Genoíno e o José Dirceu que “não perde nunca”, o segundo é, com certeza, muito mais venenoso.
 
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Quer dizer então que o articulador do Mensalão, que ele tramou principalmente de dentro de quartos de hotéis em vésperas de eleições, vai “pagar a pena” pelo “atentado à democracia” que perpetrou passando a véspera da próxima eleição na “gerência” de outro hotel que o “empregou” por 20 mil reais/mês (!) para confirma-lo no direito ao regime semiaberto de prisão reservado apenas a quem trabalha para viver!
Não poderia ser mais inequívoco!
 
O Hotel St. Peters, que oferecerá as mesmas conveniências para 2014 que os hotéis anteriormente usados para o mesmo fim pelo hoje “prisioneiro” ofereceram para a urdidura das “costuras” e “bordados” que levaram ao sucesso do PT em eleições anteriores, pertence a um daqueles híbridos de político e dono de rede de comunicações que vivem nas fronteiras da ilegalidade pondo ora um pé dentro ora um pé fora dela.
 
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Paulo Abreu tem uma rede com mais de 10 rádios transmitindo ilegalmente para São Paulo. Os Abreu têm agentes dentro e fora do “Sistema” agindo coordenadamente para o mesmo fim, como os ex-deputados José e Dorival de Abreu, que conseguem concessões de rádio para Paulo em cidades próximas à capital de São Paulo.
 
Este, assim que as recebe, planta suas antenas na Avenida Paulista e passa a transmitir por cima das frequências das rádios legalizadas sob as vistas grossas de autoridades como, por exemplo, o amigo “Dirfeu” que, se já não era passa agora a ser um íntimo, e um íntimo com uma dívida de gratidão para com seu benfeitor.
 
É o momento que Paulo Abreu esperava para dar o bote com que sonha há anos, de ressuscitar a TV Excelsior, cujos direitos ele passou a deter pelos mesmos métodos que conquista suas rádios.
 
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Uma bofetada direta na cara do ministro Joaquim Barbosa não teria efeito maior para desmoralizar o pouco que ainda não está desmoralizado no Supremo Tribunal Federal do que o mais notório entre os condenados por essa corte pelo Mensalão  “cumprir sua pena” reincidindo acintosamente nos crimes pelos quais foi proibido de circular pelas ruas a bem do serviço e da segurança públicas.
Mas é exatamente isso que está pintando.
 
O que estamos assistindo, portanto, é  a outra metade do Brasil passando a ser governada de dentro das penitenciárias, com o que o “Sistema” passa a ser um todo mais orgânico.
 
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A primeira há tempos que já está nas mãos do PCC que manda e desmanda no que de mais espetacularmente pior é perpetrado aqui fora, apesar da polícia saber de antemão todas as barbaridades que eles ordenam.
 
Você já se acostumou a ver na Rede Globo – sempre depois que o irremediável acontece – aquelas gravações “sem cara” mas com letreiros pra que não fique dúvida sobre se você ouviu direito a barbaridade da hora – com a turma do PCC mandando comprar e vender drogas e armas, matar concorrentes, policiais, juízes e até govenadores; acionando os “seus deputados” no Congresso Nacional para “aliviar” aqui e ali; mandando “bondes” infiltrar as manifestações de griffe (aquelas feitas para abafar as de junho) e “botar pra quebrar” pra expulsar das ruas os não profissionais que, por alguns momentos, puseram o “Sistema” em sinuca…
 
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Eles deitam e  rolam, enfim, mas os celulares continuam funcionando nas celas dos presídios de segurança máxima na proporção de um por prisioneiro, segundo a ultima medição feita pelos arapongas, e a polícia continua ouvindo o que eles dizem só por esporte, já que não age antecipadamente em função disso.
 
Isto tudo se dá enquanto se desenrola a emocionante novela do “cartel da Alstom” que equipara vivos  e mortos entre os poucos que ainda resistem ao PT a personagens de novelas da Globo, tais são as perfídias de que são acusados.
 
Eu não acredito em santos mas tudo tem um limite. Esse enredo passa, todos os dias, por uma reviravolta, sempre na mesma direção, que torna o caso cada vez mais irresistível para os atuais escrevinhadores de manchetes.
 
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Primeiro o O Estado de S. Paulo publica, durante dois dias, matérias informando que na mesma denuncia contra seus opositores havia provas da mesma “formação de cartel” contra o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT), órgão do governo acusador, que controla as obras de metrô em quatro capitais da Republica, mas este “pormenor, que as televisões nem chegam a mencionar, é logo esquecido também pelos jornais, inclusive O Estado de S. Paulo.
 
Depois o “executivo da Siemens” a quem a denuncia inicial foi atribuída em pessoa consegue furar a barreira de silêncio e afirmar, passados já meses de intenso tiroteio, que não disse nada do que puseram em sua boca.
 
Sem problemas! A denúncia imediatamente “passa a ter partido” do Cade, órgão a quem caberia saber das coisas em matéria de cartéis mas levou quase 20 anos para se tocar que era isto que ele tinha em mãos ao longo destas duas décadas.

 
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Vira daqui, vira dali, e o país é avisado de que quem comanda o Cade é o sobrinho do ministro-chefe da Casa Civil da presidenta Dilma que vai concorrer em 2014 contra os principais acusados e que, na cadeia de informantes que ele usou para fazer tudo chegar à imprensa há até comandantes da campanha eleitoral de sua excelência.
 
Sem problemas, de novo! A imprensa continua não desconfiando de nada como o personagem de Antônio Fagundes na novela atual. A denúncia passa, então, a “ter partido” do mesmo Ministro da Justiça do governo do PT que, desde o primeiro dia do imbroglio nega-se a autorizar o envio de uma cópia dela aos próprios acusados, que finalmente confessa que apesar de ter recebido “um documento apócrifo”, mandou-o, ele em pessoa, para a Polícia Federal que, então, assume a sua divulgação para a imprensa.
Mas ainda não é o fim!
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Nem 48 horas tinham transcorrido desde que o ministro da Justiça assumiu a autoria da façanha em rede nacional de TV e surge a prova material de que a tradução do documento em inglês contendo a versão original das denúncias do tal empresário foi grosseiramente falsificada na tradução para o português para incluir os nomes e partidos dos “acusados” que convém ao PT acusar, que “nunca tinham sido mencionados nos originais”.
 
Mas mais uma vez não importa! Os jornais e TVs a quem vem sendo dado “acesso” a cada capítulo dessa novela não se fazem de rogados. Seguem mais preocupados em festejar os seus “furos”, mesmo aqueles que os “furos” seguintes comprovam falsos, e o ventilador segue espalhando a lama apenas sobre quem os autores do folhetim querem que seja atingido.
 
Enfim, é assim que funciona a “imprensa de CEO” cujos diretores de redação com rarefeita experiência em jornalismo têm de provar todos os meses, com números, a Conselhos de Administração sem nenhuma noção de jornalismo, que têm se desempenhado a contento.
E como das poucas coisas redutíveis a números no seu metier é a comparação entre o numero de “furos” a que ele “teve acesso” em relação ao número de “furos” a que “teve acesso” o seu concorrente, o Brasil vai em marcha batida para o despenhadeiro.
 
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Novelas como a descrita acima só se tornam possíveis porque, de par com a “profissionalização da política” e a “profissionalização do crime”, uma coisa sempre andando nas vizinhanças da outra, também a imprensa mudou de mãos de um tipo de profissional regido por um determinado código de ética para outro tipo de profissional regido por outro tipo de código de ética, tornando-se tão impossível sobreviver o jornalismo responsável e com coragem para avaliar situações e agir em função de todos os componentes e nuances que, para além das palavras, determinam o significado dos fatos em vez de seguir manuais e metas de fábricas de salsicha, quanto se tornou impossível um estadista sobreviver num ambiente político onde as regras do jogo e os destinos da Nação são decididos em celas de penitenciárias e em quartos de hotéis entre pacotes de dinheiro enfiados sofregamente em meias e cuecas.
 
E por essas e outras, a imprensa já não conduz nem a si mesmo segundo os velhos cânones que fizeram dela uma instituição auxiliar das democracias. Passou a ser passivamente conduzida pelas “fontes”, o que a transformou numa perigosa bateria de canhões que atira a esmo todo e qualquer petardo que se lhe enfie na culatra.
 
O Brasil está, portanto, diante da tempestade perfeita de modo que amarrem tudo no convés porque não vai ser mole meeeesmo.

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01 de dezembro de 2913
vespeiro

CASAMENTO POR CONVENIÊNCIA


O costume de comprar alianças é a certeza de que o governo, mais cedo do que poderia tardar, será refém do próprio casamento.  Corre sempre o perigo de ser traído quando menos gostaria de fazer o papel de corno manso. Nem é perigo; é prenúncio permanente de que o parceiro vai pular a cerca.

Mas isso já não conta, nem vale absolutamente nada para quem faz da moral uma moeda de troca; para quem sabe muito bem com quem está casando, com quem está trocando alianças. Com quem se junta por conveniência.

Desde 1985, quando Sarney foi o primeiro ungido a dar início à redemocratização do País, que os governos brasileiros foram do namoro para o noivado sem o menor cuidado com a pressuposta lealdade que se consagra entre os nubentes diante dos altares dessa vida.

A democracia brasileira passou por mãos e espíritos despreparados para uma união duradoura e virtuosa. Tudo tem sido um troca-troca desenfreado, uma suruba constante, um swing desarvorado, uma farra em que um não nada, dois são muito pouco e três, ou quatro, ou dez não passam de ménage governamental desavergonhado.

Na política brasileira, de Sarney pra cá, quem casou com quem? Parece mentira, mas dos donos do poder que sacanearam o Palácio do Planalto, o que menos casou e descasou foi Fernandinho Beira-Collor que, até por isso mesmo, acabou só e isolado e saiu pela porta dos fundos.

Itamar Franco, não teve topete nem tempo para tanto; Fernando Henrique Cardoso trocou alianças com patifes de alto coturno; Lula casou com todo mundo na política e até em voos mais elevados em céus de brigadeiro pelo mundo afora. Pior do que isso, Lula destrambelhou, dessacralizou o casamento e oficializou o toma-lá e dá-cá com a vizinha do lado ou com a torcida corintiana.

Implantou o que chamou e chama de "estratégia da coalizão pela governabilidade" em que tudo é só uma questão de preço e onde quando vale tudo. Esse procedimento tem a alma e o espírito de porco que o vulgo passou a conhecer pelo codinome de Mensalão. Tudo é mensalão nesse país.

O pagamento pode ser em trinta dinheiros, como era no caso da turma de Zé Dirceu, mas também se dá em concessão de ministérios, como foi o episódio de Marta Suplicy que, depois de levar um chute no traseiro, exigiu a pasta da Cultura para gastar sola de sapato com Fernando HaHaHaddad.

Dilma não deixou por menos. Fez alianças com Deus e o diabo na terra do sol. Já foi mineira de nascença e gaúcha de coração, mas ama de paixão a pauliceia que tem um mundaréu de votos. Já foi descrente, mas virou crédula, crente, sincrônico-religiosa e até vai à missa das dez nas igrejas católicas todo domingo que pode, ou onde quer que o púlpito esteja perto de uma urna.

Agora mesmo, anda se queixando de que seu governo está sob chantagem. É que o PDT para manter o Ministério do Trabalho, grande arapuca eleitoreira e lugar de reconhecidas falcatruas e fraudes na criação de sindicatos, está dizendo que vai apoiar a oposição. E então, tudo volta a ser apenas uma questão de preço.

E o Brasil dos brasileiros vai vivendo esse Brasil Dilma da Silva cujos governos jamais são enganados, a não ser pelo fato de que se enganam a si mesmos.

E são assim, sem o menor resquício de vergonha, sem o menor pudor, sem o menor prurido por serem cornos mansos de si mesmos; são chifrudos por opção. Não têm dó nem piedade por sua moral e agem costumeira e abertamente com o espírito cruel, marca registrada daqueles que sabem o quanto é fácil enganar as pessoas de bem.


01 de dezembro de 2013
sanatório da notícia

JOAQUIM BARBOSA RESPONDE ÀS CRÍTICAS

 

Através de sua assessoria, o presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, esclarece aspectos da execução penal dos réus do mensalão que foram objeto de críticas, de instituições (como OAB e AMB) e de juristas, citadas na coluna de terça-feira, que avaliou-as como desgastantes para prestígio auferido pelo ministro no julgamento da ação penal 470. São três os pontos que ele contesta.

1. Sobre a troca do juiz Ademar Vasconcelos, titular da Vara de Execuções Penais (VEP), pelo juiz Bruno Ribeiro, Barbosa assegura não ter pedido o afastamento do primeiro, “até porque não teria prerrogativas para isso”. Nota do presidente do TJDF esclareceu que qualquer um dos cinco juízes da VEP pode atuar no caso. Ademar atuou no início e não agradou. Desde então, só Bruno vem atuando. Mas, pelo esclarecido, outros três poderão coexecutar as penas.

2. Muitas foram as críticas à transferência dos réus para Brasilia, no feriado do dia 15 de Novembro. O ministro assegura que todos os réus julgados pelo STF têm necessariamente que começar a cumprir a pena na capital federa. Só depois, podem pleitear transferência para outras cidades, buscando proximidade com o domicílio. O procurador-geral Rodrigo Janot já opinou favoravelmente às transferências de Simone Vasconcelos e Katia Rabelo para Belo Horizonte.

3. Contestou ainda o ministro, através de sua assessoria, que os réus destinados ao regime semiaberto tenham ficado no regime fechado nos primeiros três dias, conduta que foi qualificada como ilegal até pelo ministro da Justiça de um governo silencioso em relação ao caso. “Os réus não foram encaminhados a regime fechado nos “primeiros três dias”. Como é próprio do regime semiaberto, os condenados permaneceram na prisão no final de semana”, disse a assessoria em mensagem à coluna.

01 de dezembro de 2013
Tereza Cruvinel
(Correio Braziliense)

IBGE: CRESCE O NÚMERO DE JOVENS DE 25 A 34 ANOS QUE VIVEM COM OS PAIS

 


UMA SOLUÇÃO INTELIGENTE

 


Enfim, uma palavra ética, inteligente e necessária, na semana que passou: Marina Silva propôs que o Partido Socialista elabore primeiro um programa de governo para depois sair em busca de alianças com outros partidos em torno da provável candidatura de  Eduardo Campos.

Provável, no caso, porque a ex-ministra e senadora ainda permanece no páreo. Apenas em março o PSB definirá o candidato. O governador de Pernambuco ocupa a pole-position, mas garantir, ninguém garante.

A lúcida intervenção de Marina Silva repõe no leito normal ao menos uma das correntes dispostas a disputar o palácio do Planalto, ano que vem. Primeiro é necessário saber o que pretendem os candidatos e seus partidos.  Depois, saber quem se acopla às suas proposições.

Quanto ao restante, vale aguardar. O PSB  nada tem demonstrado de socialismo, nos últimos anos. Nenhuma sugestão para ampliar direitos sociais marcou os discursos de suas bancadas no Congresso. Muito menos seus governadores implementaram projetos voltados para a distribuição de renda.
No máximo, imitaram os dois governos do PT, partindo para o assistencialismo como doutrina. Pode ser essa a meta dos companheiros,  da socialdemocracia, dos partidos de  centro, da direita e outros, se existirem.  Jamais, porém, de acordo com o bom-senso, a ideologia de quem se diz socialista.

Sair atrás de empresários, prometendo-lhes maiores e melhores lucros não é programa de governo socialista. Muito menos  pregar a ampliação das privatizações e da submissão ao capital estrangeiro.

Vamos esperar  as definições de Marina Silva. Caso elas venham a bater de frente com os planos de Eduardo Campos,  como parece evidente, terá chegado a hora da verdade: quem disporá de estruturas maiores para ganhar uma convenção, mantendo uma unidade hoje cada vez mais distante?

UM PELO OUTRO

É cedo para conclusões, mas existem indicações de que a aliança PT-PMDB enfrenta dois obstáculos: Rio e São Paulo. Na antiga capital, caem as ações de Luís Fernando Pesão como candidato do PMDB, crescem as chances de Lindbergh Farias, do PT. Isso, é claro, se conseguirem superar os números do senador Marcelo Crivella.
Em São Paulo, vai ficando claro que  a disputa se dará entre o governador Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre Padilha.
O PMDB ficaria de fora por falta de um candidato de peso, mas entregar os dois maiores estados do país aos companheiros exigirá razoável compensação para o ainda maior partido nacional. Michel Temer que dê asas à imaginação.

01 de dezembro de 2013
Carlos Chagas

NO IRAQUE, O FUTURO PRÓXIMO É TERRÍVEL, DIZ LÍDER RELIGIOSO XIITA

O futuro do Iraque como país uno e independente está ameaçado pela hostilidade sectária que separa xiitas e sunitas, disse Muqtada al-Sadr, o líder religioso xiita cujas milícias – Exército Mahdi – combateram contra as tropas dos  EUA e a Grã-Bretanha, e que ainda é figura poderosa na política iraquiana. Al-Sadr alerta para o perigo de que “o povo iraquiano seja desintegrado, o governo seja desintegrado, o que tornará mais fácil que potências estrangeiras controlem o país.”

Em entrevista ao jornal The Independent, na cidade santa de Najaf, cerca de 160 quilômetros a sudoeste de Bagdá – a primeira entrevista direta que dá a jornal ocidental em mais de dez anos – al-Sadr mostrou-se pessimista: “O futuro próximo do Iraque é terrível”.

O que mais o preocupa é o sectarismo que já afeta os iraquianos. “Se o sectarismo se disseminar entre o povo, será difícil combatê-lo”, disse, acrescentando acreditar que a posição que assumiu, contra o sectarismo, já o fez perder apoios entre seus seguidores.

A posição moderada de al-Sadr é importantíssima nesse momento, quando aumentam os confrontos sectários no Iraque – cerca de 200 xiitas foram mortos, só na última semana.
Há 40 anos, Muqtada al-Sadr e líderes religiosos de sua família vêm demarcando as tendências políticas dentro da comunidade xiita no Iraque. A longa resistência contra o governo de Saddam Hussein e, depois dela, a resistência também contra a ocupação pelos EUA, tiveram impacto crucial.

FORÇA ELEITORAL

Nos últimos cinco anos, Muqtada al-Sadr reconstruiu seu movimento, como um dos principais atores na política do Iraque, com plataforma que é uma mistura de religião xiita, populismo e nacionalismo iraquiano.
Depois de exibir força significativa nas eleições gerais de 2010, o partido passou a integrar o atual governo, com seis ministros no Gabinete.
Mas Muqtada al-Sadr é extremamente crítico contra o desempenho do primeiro-ministro Nouri al-Maliki nos seus dois mandatos; acusa o governo de ser sectário, corrupto e incompetente.

Muqtada al-Sadr  disSe que ele e outros líderes iraquianos já tentaram substituir Maliki no governo, mas ele permaneceu no cargo, por causa do apoio que recebe dos EUA e do Irã. “O mais surpreendente é que EUA e Irã decidam sobre o primeiro-ministro do Iraque” – diz ele. – “Maliki é forte porque é sustentado pelos EUA, Grã-Bretanha e Irã.”

Para al-Sadr, o problema no Iraque é que os iraquianos, como um todo, estão traumatizados por quase meio século ao longo do qual viveram “um ciclo constante de violência: Saddam, a ocupação norte-americana, a 1ª Guerra do Golfo, a 2ª Guerra do Golfo, depois a guerra da ocupação, depois a resistência – isso levou a uma mudança na psicologia dos iraquianos.”

Explicou que os iraquianos cometeram o erro de tentar resolver um problema, criando outro pior, como ter contado com os EUA para derrubar Saddam Hussein, o que gerou o problema da ocupação norte-americana.

Um dos principais temas da abordagem de al-Sadr é promover o Iraque como estado-nação independente, capaz de tomar decisões que visem aos seus próprios interesses.  Dada a hostilidade crescente contra a ocupação por EUA e Grã-Bretanha, que os ocupantes sejam responsabilizados por muitos dos atuais tormentos do Iraque.

Até que isso seja feito, nem ele nem ninguém de seu movimento se reunirão com funcionários norte-americanos ou britânicos. Mas al-Sadr também é hostil à intervenção pelo Irã, nos negócios iraquianos.
Diz ele: “Recusamos todos os tipos de intervenção de forças externas, sejam contra ou a favor de interesses do Iraque. O destino dos iraquianos deve ser decidido exclusivamente pelos iraquianos.”

CORRUPÇÃO

Por que tantos membros do governo do Iraque são tão ineficazes e corruptos? Para al-Sadr, “porque competem entre eles para pôr as mãos na maior fatia do bolo, em vez de competirem para mais bem servir ao povo.”

Perguntado sobre por que o Governo Regional do Curdistão foi mais bem-sucedido em termos de segurança e de desenvolvimento econômico que o resto do Iraque, al-Sadr entende que houve menos roubo e corrupção entre os curdos; e talvez “porque eles amam a própria etnicidade e a região onde vivem.” Se o governo tentasse marginalizá-los, talvez exigissem a própria independência: “Massoud Barzani [presidente do Governo Regional do Curdistão] disse-me que se Maliki nos pressionar demais, exigiremos a independência.”

Ao final, Muqtada al-Sadr perguntou-me se não tinha medo de entrevistá-lo; e se a entrevista levasse o governo britânico a considerar-me terrorista? Perguntou se o governo britânico ainda supunha que tivesse ‘libertado’ o povo iraquiano. E comentou que talvez devesse processar o governo, pelas mortes causadas pela ocupação britânica.

01 de dezembro de 2013
Patrick Cockburn
The Independent, UK

(artigo enviado por Sergio Caldieri)