"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A CASA DA CRISE

Na arquibancada, o pessoal sabe apenas que problemas existem, porque eles batem na sua porta e reclamam pedaços cada vez maiores de seus magros rendimentos

Como saiu no jornal, a economia do país começou o ano com os dois pés no freio. Para quem entende disso — o grupo de sábios que dominam essa área cheia de penhascos e precipícios —, o Produto Interno Bruto (ou seja, o conjunto de números que mostram o que o país produziu em bens e serviços) deverá ficar entre uma queda de 0,1% e uma alta de 0,3% no primeiro trimestre de 2014, em relação ao trimestre anterior.

Para a turma da arquibancada entender melhor: é um resultado pior do que tivemos nos últimos meses do ano passado. De quem é a culpa, partindo-se do princípio de que ela não pertence inteiramente aos gurus econômicos do governo?

Os especialistas que não trabalham para ele acusam o governo de cometer um grave erro estratégico: os gurus do Planalto estariam tentando incentivar a demanda — quando a gente está cansada de saber (ou simplesmente alega que está) que as dificuldades moram no lado da oferta. Traduzindo: numa baixa produtividade, que, por sua vez, seria resultado de um erro do governo, que concentrou esforços estimulando a procura de bens, quando o verdadeiro problema estaria na oferta. Segundo o pessoal que entende disso (e não trabalha para o Planalto), a pobre oferta sofre as consequências da baixa produtividade do país. Um problema que, pelo visto, é ignorado pelo pessoal do governo. Portanto, a crise teria nascido mesmo na miopia oficial.

Na já mencionada arquibancada, o pessoal sabe apenas que problemas existem, porque eles batem na sua porta e reclamam pedaços cada vez maiores de seus magros rendimentos. E, na área habitada pelos sábios que entendem de economia e não servem ao Planalto, há espaço para uma dose de perplexidade: com a produção em queda, a inflação costuma baixar — e isso não está acontecendo.

Fora do governo, alguns especialistas afirmam, obviamente, que as coisas podem melhorar se o governo partir, com uma mistura de audácia e bom senso, para uma política de reformas na política econômica. Parece óbvio e sensato — mas é importante não esquecer que essa previsão parte da constatação de que bom senso e audácia ainda não moram no Palácio do Planalto.


02 de junho de 2014
Luiz Garcia, O Globo
 

O IMPÉRIO DAS MENTIRAS - PARTE II: A MENTIRA NOS ALICERCES DA DIREITA ATUAL

Artigos - Globalismo

Para um agente de influência guiar políticos e analistas rumo à direção “correta”, basta que se use corretamente as fraquezas humanas.
A contínua e fracassada tentativa direitista de conter a onda socialista que divide politicamente a própria direita em subgrupos antagonistas é indício do fato de que os agentes foram enviados há muito tempo para essa operação de infiltração ― e eles já cumpriram a missão.

Você talvez já tenha tentando imaginar por qual razão a União Soviética e a Internacional Comunista nunca pensaram em se infiltrar na direita americana. Mas, e se eles já fizeram isso? Com efeito, eles já devem ter feito isso, pois os comunistas sempre se infiltram e pervertem seus inimigos, e a direita americana é o coração do lado capitalista. Sendo assim, é inconcebível que eles não tenham se infiltrado na direita. Isso significa que eles estão aqui e agora no meio de nós (dado que os comunistas nunca foram embora, a despeito do que aconteceu entre 1989 e 1990). Esta última afirmação não deve ser feita em uma sociedade de pessoas melindradas, tendo em vista que poucos estão informados o bastante para saber o quão válida ela é. Noventa e nove por cento das pessoas preferem acreditar que tudo isso seja uma mentira, da mesma forma que um ex-primeiro ministro disse ao alcance dos meus ouvidos: “Reagan e Thatcher salvaram o Ocidente do socialismo”. Mas eis que um russo e ex-coronel da GRU, que sentado próximo a mim, sussurra em meu ouvido: “Mas a América é o paraíso marxista”.

No império da mentiras, o conservadorismo tornou-se uma província distante que foi há muito colonizada pelo inimigo. A prova disso não está longe do nosso alcance. O “conservador” Kissinger foi à China; o “conservador” Nixon foi à China; e o “conservador” Reagan negociou com a China; agora a China destruiu nossas exportações, nossas indústrias e agora nossa moeda. A isso os conservadores deram o nome de “livre comércio”. Citaram Milton Friedman. Mas aqui neste pequeno blog sabemos que a Guerra Fria nunca acabou e que Milton Friedman estava errado. Sabemos que a China adotou uma estratégia a qual Deng Xiaoping disse: “os capitalistas não sabem nada”. Podemos dar o nosso testemunho, se ninguém mais se atrever, e dizer que os “conservadores” ajudaram os comunistas russos e chineses mais do que qualquer outro grupo ou pessoa. E se o mundo pensar que somos loucos ao dizer isso, podemos responder dizendo que o próprio mundo também é louco. Enquanto isso, não vi um único artigo sobre a infiltração comunista na direita. Ninguém se atreveu a falar publicamente sobre esse assunto. É um não-assunto ao qual ressoa um silêncio ensurdecedor.

A quê devemos esse silêncio? A subversão tem sua própria sociologia do conhecimento onde as vítimas da subversão preferem o silêncio. Eles preferem não saber. O silêncio faz sentido neste caso, e homens públicos agarrar-se-ão a ele quando a alternativa for desagradável. Ridículo, você diria? Senso comum, respondo eu. No regime de shopping center ao qual vivemos, a conveniência impera e a subversão é um tópico assaz inconveniente. Todos nós somos diariamente sugestionados a tomar essa posição. O dever de perguntar certas coisas e ir atrás de checar certas afirmações não está mais habitando a nossa vontade. Estamos demasiadamente ocupados se divertindo. Também sabemos que há um risco pessoal se cutucarmos a colmeia com vara curta. O Senador Joseph McCarthy se atreveu e foi condenado.

O inimigo, por outro lado, tem um trabalho bem mais fácil. Tendências recentes indicam um favorecimento à subversão e à corrupção. Para um agente de influência guiar políticos e analistas rumo à direção “correta”, basta que se use corretamente as fraquezas humanas. O staff de elite da KGB já está pronto e tem orientação profissional. Já aqueles que querem combater a subversão simplesmente não têm os recursos ou a vantagem sociológica. A própria direita jamais adivinhará o que está acontecendo, pois continuará a acreditar que só os liberais [N.T.: a esquerda americana] estão suscetíveis a esse tipo de coisa.

Para mostrar o quão ingênua a direita tem se tornado a respeito do que foi abordado acima, o leitor está convidado a pesquisar no Google “communist infiltration of”. A pesquisa, por sinal, trará escritos acerca da infiltração comunista em praticamente tudo, exceto na direita ou em organizações de direita. Não achamos o equivalente de direita de Alger Hiss ou Harry Dexter White  em lugar algum no lado republicano da ilha. Não obstante, o fato de não se ter descoberto ou não ter aparecido um infiltrador neste caso não é prova que a direita está incorrupta. Na verdade, a contínua e fracassada tentativa direitista de conter a onda socialista que divide politicamente a própria direita em  subgrupos antagonistas é indício do fato de que os agentes foram enviados há muito tempo para essa operação de infiltração ― e eles já cumpriram a missão. Hoje pode-se dizer que a direita está sendo enganada da mesma forma que a administração de Roosevelt foi enganada por agentes soviéticos como Harry Hopkins, Alger Hiss e Harry Dexter White. É assim o método comunista, que já infiltrou e ocupou há muito a esquerda. É, portanto, lógico que o comunismo tenha empreendido um projeto para fazer o mesmo com a direita. Na verdade, temos todas as razões para acreditar que ele será espetacularmente bem sucedido na direita, pois ninguém fez um único murmúrio suspeito ainda.

Há, entretanto, um problema em identificar quem seriam esses agentes de influência. Como os infiltrados na direita tendem a falar e agir como anti-comunistas ― pelo menos até certo grau ― como poderíamos identificá-los como agentes de influência? Mas ao pensar nisso chegamos neste momento já crítico a outro problema igualmente grande: dado que tantos direitistas falam como se fossem de esquerda e efetivamente dão andamento à agenda esquerdista em tantos aspectos, como distinguir os idiotas úteis dos subversivos conscientes?

Imagino que o infiltrado comunista na direita seria um instigador cuja desorientação sutil não teria precedentes. Não estamos falando de um simples sujeito que chegou sem ser convidado. Estamos falando daqueles que aparentemente são os originadores dos temas e políticas mais danosos. Por exemplo, Henry Kissinger e aqueles que foram seus pupilos e cresceram nas barras dele devem ser tidos como os nossos maiores suspeitos; também precisamos incluir aqueles analistas que atualmente adotam uma linha pró-Moscou, ou que apoiam comércio com a China ou que usam o nome de Joseph McCarthy como se fosse uma adjetivação negativa. Mas neste caso a lista incluiria quase todos da direita e, neste caso, isso mostra até que ponto é verdadeira essa infiltração.

Como as coisas chegaram a esse ponto? Como o Império das Mentiras colonizou a direita americana? A seguir, o leitor terá uma lista explorando quais pontos os estrategistas comunistas podem ter usado para que se efetivasse tal infiltração:

(1) Usar a direita para ajudar a esquerda – A infiltração comunista na direita efetivamente proporciona uma infiltração mais profunda e mais bem sucedida na esquerda, pois suaviza as posições da direita em vários assuntos e faz com que ela, a direita, conceda terreno estratégico.


(2) Comprometer e restringir os capitalistas – Estabelecer relações comerciais com países comunistas, especialmente com a China, para que assim efetivamente sejam neutralizadas as correntes da direita anti-comunista e também sejam comprometidos os meios de arrecadação da direita.


(3) Balcanizar a direita – Agentes de influência, colocados dentro da direita, podem efetivamente dividir a direita em pequenos grupos mutuamente hostis. Em vez de conquistar o consenso por meio da síntese ideológica, cada elemento é encorajado a atacar o outro, impossibilitando assim a unidade entre várias partes constituintes e, principalmente, a unidade do todo.


(4) Explorar os neoconservadores no campo do livre comércio – Neoconservadores são idiotas úteis quando se trata de livre comércio, assunto esse que é um elemento de grande importância na estratégia comunista. É importante notar que a posição neoconservadora em relação ao livre comércio torna o Partido Republicado suscetível à aventuras militares estrangeiras instigadas por provocações terroristas.


(5) Tornar os paleoconservadores idiotas úteis de Moscou – Isolados e desmoralizados pela debandada de todas as facções para uma posição mais progressista e pela crescente imoralidade sexual, os paleoconservadores caem inevitavelmente na cínica retórica moscovita pró-cristã e pró-conservadora.


(6) Aliar-se aos libertários para dividir a direita e atacar o complexo militar-industrial americano – Os libertários são o pior tipo de idiotas úteis quando se trata de negociar com os comunistas, mas diferente dos neocons, eles são defensores dos cortes drásticos de gastos. Em termos de guerra cultural, os libertários não têm problemas com a união homossexual ― assunto que pode ser usado para dividir a direita anti-socialista.


(7) Fundir a direita populista com a esquerda revolucionária – Timothy McVeigh disse que a extrema direita e a extrema esquerda deveriam unir-se, porque, no fim das contas, eles estão combatendo o mesmo inimigo (i.e., o governo americano). Uma elite corporativa opositora do livre comércio que criou milhões de empregos no estrangeiro, a direita populista tem boas razões para apoiar uma reforma dos seus ideais. Mas se fizerem isso, estão fadados a encontrar uma sórdida surpresa esperando por eles.


(8) Usar a direita conspiracionista para desacreditar o anti-comunismo e confundir aqueles que estudam o comunismo e têm nele o nosso atual inimigo – Além de estabelecer uma forma esquizofrênica de anti-comunismo, os teóricos da conspiração estão em constante animosidade com o mesmo inimigo aos quais os comunistas querem destruir, isto é, os próprios capitalistas.


(9) Usar a esquerda para induzir a direita à violência – Conforme cresce cada vez mais a esquerda, e a direita cada vez mais sofre com a incoerência, chegará a hora da grande provocação. Quando chegar essa hora, não há dúvidas sobre qual lado será aniquilado.


(10) Massacrar os macartistas – Não permita que ninguém faça uma investigação que lembre a de McCarthy. Esse tipo de coisa tem de se impedir desde o começo.


(11) Destruir a carreira de qualquer escritor ou político que sair dos propósitos e programas listados acima – Estratégias bem sucedidas sempre buscam limitar as opções dos oponentes. Em termos de guerra de informações, é necessário que também seja limitado o campo de pensamento do inimigo. Não se deve permitir o enraizamento de certas ideias na mente do público; e os escritores devem ser instintivamente condicionados a evitar discutir implicações estratégicas de posições ideológicas.

Os candidatos ideais para infiltrar a direita são aqueles organizadores de esquerda que têm experiência comprovada como escritores, editores, organizadores ou gestores de pessoas. Sendo assim, poderíamos concluir que pessoas que mudaram sua aliança da Esquerda para a Direita seriam, na verdade, suspeitos principais. Com efeito, é lógico que o infiltrador deve começar na esquerda antes de tudo, para que assim ele seja considerado um agente leal. De que outro lugar viria tamanho contingente para ocupar os postos de infiltração?

Evidentemente é sempre possível ganhar agentes por meio de chantagem ou suborno. Há sempre também a possibilidade de recrutamentos de tipo “bandeira falsa” (que têm valor limitado)[1]. Mas para recrutar esses agentes e para empreender chantagens, é necessário que exista uma base de operações, e isso requer, pelo menos em algum grau, o emprego de “ex” esquerdistas infiltrados no campo direito. Eles formarão os alicerces necessários.

Conservadores tendem a assumir que os esquerdistas que desertam para a direita são pessoas honestas que “viram a luz”. Eles também tendem a assumir que poucos mudarão da direita para a esquerda por não existir luz alguma para ver do outro lado, ou seja, acreditam não haver uma razão válida para um direitista virar um esquerdista. Mas pode haver uma explicação mais sinistra sobre o porquê mais esquerdistas mudam de lado do que direitistas. Fato é que as pessoas geralmente não mudam tão facilmente sua ideologia ou religião. Normalmente há um comprometimento para a vida inteira nesses casos. A escassez de deserções da direita para a esquerda sugere que a direita não tem um centro equivalente a Moscou ordenando que agentes da direita mudem suas alianças para a esquerda como parte de uma missão de infiltração. Por uma questão própria da política, a direita não se infiltra. Subversão não está na tradição da direita dos Estados Unidos ou de outros países do Ocidente. Por outro lado, a Rússia e os partidos comunistas ao redor do mundo têm tradição em empreender tais coisas.

A hipótese apresentada aqui é nova. Evidentemente é necessário testá-la para sabermos se há verdade nela. Usando as diretrizes acima expostas, eu desafiaria os pesquisadores a compilarem suas próprias listas de suspeitos e ver o que surgiu dali. Pergunte seriamente a si mesmo: De onde originam os problemas na direita? Qual bagagem carrega seus originadores? Quais escritores de direita estão atacando outros escritores de direita?

Livros que serviram de referência para este ensaio:

Anatoliy Golitsyn – The Prestroika Deception p. 85
Frank A. Capell – Henry Kissinger: Soviet Agent
Diana West – The Rebuttal

[1] N.T.: “bandeira falsa” faz referência a um tipo de operação secreta empreendida com o fim de enganar de tal forma os inimigos que fique parecendo que os perpetradores das ações são parte de um grupo completamente distinto daquele que realmente está agindo. Nesse caso, pode acontecer de os próprios agentes serem enganados pelo alto escalão, para que uma vez descobertos, eles não consigam revelar com exatidão quem eram os verdadeiros mandantes da ação.
 
30 de maio de 2014
Jeffrey Nyquist
Tradução: Leonildo Trombela Junior

A COPA DAS COPAS

Artigos - Governo do PT

copa 2014-DILMAPrefiro nunca mais ver nossa seleção ganhar uma Copa do Mundo a ver o PT ganhando mais uma eleição presidencial.

Faltam 15 dias para a Copa do mundo. A lembrança chega até mim pelo Facebook, já que aqui nos EUA a gente não vê notícia nenhuma sobre o torneio.

Nunca deixei de acompanhar uma Copa. A primeira lembrança que tenho é da copa de 1982, e é uma memória bem vívida do jogo Brasil x Itália. Eu tinha 6 anos de idade e estava em Santa Rosa de Viterbo, interiorzão de São Paulo, na casa de meus tios. Quando o Falcão empatou o jogo pela segunda vez nós saímos correndo para a rua de paralelepípedos, nós e todos os vizinhos, na maior alegria. Todo mundo sabe que essa alegria não durou nem 10 minutos, pois o Paolo Rossi estava inspirado naquela tarde e marcou três num jogo só. Foi o nosso “arrivederci”…
 
Quatro anos depois a família se reuniu em nossa casa, em São Bernardo do Campo. Alguém trouxe um daqueles telões engraçados, que você conectava na TV de tubo e tentava de alguma forma conseguir uma imagem decente através de uma lente gigantesca de acrílico. Seguindo a tendência da imagem, que ficou ruim o tempo todo, o jogo terminou triste, e todos os “especialistas” presentes afirmavam categoricamente que foi um absurdo deixarem o Zico cobrar aquele pênalti sem estar aquecido. Aliás, história que ficaria na boca do povo por mais alguns dias, até que o fiasco fosse finalmente esquecido.
 
Veio mais uma Copa, em 1990. Essa foi difícil de ver – meu pai havia sido transferido por um tempo para os Estados Unidos, e estávamos em uma cidade do interior de Illinois durante o torneio. Conseguimos ver somente as finais, pois a TV americana simplesmente não transmitia os jogos. O fato é que não perdemos muita coisa… O senhor Caniggia carimbou nossa passagem de volta para o Brasil.
 
Finalmente veio 1994. Eu tinha 18 anos de idade, e lembro que a final aconteceu no meio de um retiro espiritual onde eu estava com minha família. Não lembro muita coisa do retiro, mas lembro claramente que estávamos todos, mais de 100 pessoas, no salão principal, acompanhando a cobrança de pênaltis e o presentaço de Roberto Baggio para nós. Ufa! Depois de tantos anos de vida finalmente pude gritar “Brasil Campeão!”
 
Mais quatro anos se passaram e chegou 1998. A primeira e única Copa da época de faculdade. Foi muito legal ver os jogos com os grandes amigos que até hoje fazem parte da minha vida, mas não tão legal ver o chocolate que a França de Zidane deu no Brasil. E dá-lhe teoria da conspiração! Tinha pelo menos umas três que tentavam explicar o que aconteceu com o Ronaldo e a consequente derrota. Acho que até forças alienígenas foram cogitadas em uma delas…
 
E lá vamos nós! 2002 foi uma Copa que eu fiquei ansioso para ver. Sempre gostei do Felipão, e tinha muita esperança que ele faria um bom trabalho. Lembro que vi a final na chácara de meus pais, em São Pedro, ao lado do meu querido pai.
Aliás, foi a última final de Copa que vimos juntos, antes do acidente que lhe tirou a vida. Foi um tremendo de um jogo, e essa eu comemorei muito. Merecida!
 
A Copa de 2006 foi tão ridícula para o Brasil que não dá vontade nem de comentar. A eliminação logo nas quartas de final foi de doer. E nesse caso não tinha teoria conspiratória que conseguisse explicar. Enfim, dessa vez foi “Au revoir!”
 
E chegamos a 2010. Mais uma Copa digna de ser esquecida, num ano que marcou o início do pior governo que o Brasil já teve. Aliás, 2010 foi um dos piores anos da minha vida. A verdadeira urucubaca-mor. E logo nas quartas de final ouviríamos bem alto, vindo dos Holandeses, “Afscheid!”
 
E estamos em 2014, próximos do início daquela que é chamada pela monstra que ocupa a presidência de “A Copa das Copas”. E pela primeira vez na história deste país ela pode estar certa. Esta pode ser “A Copa das Copas”, porque de todas as Copas esta é a que tem a maior possibilidade de influenciar o destino de nosso país.
 
A Copa sempre acontece em junho-julho, e as eleições sempre são em outubro. Desde 1994 elas coincidem com o ano em que é disputada a Copa do Mundo. Muita gente fala que o resultado da Copa influencia o resultado das eleições, mas isso não é verdade.
 
O período entre os dois eventos, de 3 meses, é suficiente para dissipar qualquer empolgação ou desânimo que possa ter sido gerado pelo torneio. Basta olhar para 2002 e 2006: Lula conseguiu se eleger depois de duas Copas totalmente diferentes, e na segunda ele ainda enfrentava as dificuldades com o estouro do Mensalão. A Copa não nos ajudou em nada…
 
Quem nos dera o povo tivesse ficado tão chateado a ponto de enfim enxergar que estava sendo governado por criminosos.
 
Mas por que a Copa deste ano pode ser diferente? Não são os mesmos 3 meses entre eventos? Não é a mesma situação das últimas 5 Copas? Não são os mesmos partidos na disputa? Para mim, e deixo claro que essa é somente minha opinião, não. Nada é igual. Tudo é diferente nesta Copa.
É uma Copa no Brasil, e não fora dele. É uma Copa trazida pelo PT, pelo ex-presidente Lula, e adotada pela atual mandatária. É uma Copa que acontece em meio a protestos, em meio a uma quantidade inédita de críticas ao governo petista, na internet, na mídia impressa e em diversas obras publicadas nos últimos 15 meses, que têm batido recordes de venda a cada semana.
É uma Copa em que se gastou o suficiente para 3 Copas, e cujo resultado não é satisfatório nem para meia. É uma Copa desunida, uma que o povo brasileiro não está querendo para si.
 
Por isso, eu vejo duas possibilidades para essa Copa:
  1. Tudo acontece da melhor forma possível, o povo esquece de todas as lambanças do governo, nenhum protesto atrapalha os jogos, os aeroportos dão conta do movimento, o caos passa longe das cidades-sede, a seleção brasileira joga bem e o povo sai feliz. Será a Copa das Copas para o PT.
  2. A lei de Murphy não dá tréguas e as coisas não acontecem como esperado. As cidades-sede sofrem com a falta de infraestrutura, os jogos são afetados por protestos, muitos lugares experimentam o caos urbano, turistas são assaltados, os sistemas de transporte pedem água, os aeroportos ficam entupidos, e a seleção brasileira joga o que tem jogado, o suficiente para passar das quartas, mas não para ser campeã. Com toda essa conta no bolso, mais a tendência atual de queda de popularidade, e há uma chance de que Dilma Rousseff não se reeleja. Seria a Copa das Copas para o Brasil.
Prefiro nunca mais ver nossa seleção ganhar uma Copa do Mundo a ver o PT ganhando mais uma eleição presidencial. Não escondo de ninguém: não torcerei nesta Copa, não quero que tudo dê certo e não quero que o mundo olhe para o Brasil e diga “nossa, que Copa maravilhosa eles organizaram”.
Quero que essa bandida receba o pior legado possível desse evento, e que seja um ônus tão grande a ponto de lhe tirar a reeleição. Somente assim poderei chamar essa Copa de “A Copa das Copas”, e quem sabe, daqui a alguns anos, colocar em minha lista: 2014 foi a melhor Copa de todas.

Imagem: blog do Planalto

30 de maio de 2014
Flavio Quintela é autor do livro “Mentiram (e muito) para mim”

NÓS, OS ORDINÁRIOS

Artigos - Governo do PT

cwO sujeito não pode, na TV, em uma evidente troça, chamar uma mulher de "ordinária" – mas está livre para (a sério, a trabalho) fazê-la rebolar quase nua, na mesma TV, no meio da tarde de domingo, para toda família ver.

Somos nós, brasileiros, um povo sentimental, epidérmico e, por isso mesmo, raso, superficial. (Tanto que o termo “epidérmico”, que em seu sentido derivado primeiro possui as descrições negativas “sem profundidade” e “superficial”, derivou para um uso positivo, sendo ora sinônimo de reação inconformada.)Mas somos gente boa.

Boa até demais, ao ponto de os aproveitadores deitarem e rolarem por aqui, aplicando sobre nossa superficialidade uma engenharia social muito bem calculada.O resultado é um teatro dos absurdos continental.
Na última quarta-feira, 28 de maio de 2014, o Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária (Conar) considerou “desrespeitoso” o uso do termo “ordinária” em uma peça para a televisão. Querem proteger o povo de uma linguagem supostamente ofensiva, mas não foi o povo quem se ofendeu com isso, assim como não é o povo quem defende o aborto, a leniência oficial para com a bandidagem e a injeção de milhões de reais por ano em cursos de pós-graduação sobre a etnografia desconstrutivista pós-hipermoderna das tribos oprimidas do su-sudoeste africano. Mas somos nós, o povo, quem dá condições para que boa parte dos magistrados, legisladores, administradores, reguladores e auto-reguladores imponham sobre nós, o povo, suas concepções distorcidas de mundo.
O circuito é este: a beautiful people (a elite do jornalismo, da publicidade, da academia, do judiciário e da política) decide o que é e o que não é aceitável, impondo suas diretrizes sobre as ações de seus subordinados (a massa do jornalismo, da publicidade, da academia, do judiciário e da política); estes, nas editorias, nos escritórios, nas universidades, nos tribunais e nas casas legislativas e repartições absorvem e divulgam o discurso pré-moldado (não raro, sem nem perceberem), ignorando solenemente o que nós, o povão, pensamos; nós, por fim, seguimos silentes e, por isso, sem representação em nenhuma esfera de poder deste país. Pouco importa, por exemplo, que a ampla maioria dos brasileiros queira ver a bandidagem quebrando pedra em presídio; quem toma as decisões no Brasil decide pelo oposto disso porque leu no jornal ou viu na TV que bandido bom é bandido adulado, acarinhado, massageado.
Por aqui, então, o sujeito não pode, na TV, em uma evidente troça, chamar uma mulher de "ordinária" – mas está livre para (a sério, a trabalho) fazê-la rebolar quase nua, na mesma TV, no meio da tarde de domingo, para toda família ver. Falo do protagonista da propaganda censurada, o Compadre Washington, que, com seu grupo “É o Tchan!”, nos anos 90 invadiu os lares brasileiros com um exército de bundas e muita música ruim. [A culpa não era só do tal Compadre, mas de quem o levava ao ar (entre eles, alguns publicitários que hoje hão de estar no Conar). “Manifestações artísticas” de péssima qualidade sempre existiram, ainda mais por aqui, onde qualquer sacolejar de chocalho é considerado arte. O problema é dar notoriedade a isso.]
Não surpreende. Por aqui, grupos muito mobilizados e engajados regulamentam a educação parental, com a pretensão de impedir que pais deem palmadas em seus filhos para ensiná-los a ter modos e a respeitar os mais velhos. Por outro lado, é possível pleitear, com a ajuda dos mesmos grupos, o assassinato do filho ainda no ventre materno. E nós, o povo, o que pensamos disto? Bem, em geral, somos contra, mas, porque não queremos perder amigos e tempo com discussões, deixamos para lá. Ademais, a palmada é dada a olhos vistos, o que fere nossos sentidos, enquanto o aborto é feito às escondidas, por debaixo dos panos. “O que o coração não vê os olhos não sentem” – deveria ser esta a inscrição da bandeira nacional.
Piada, não; exposição extremada, sim. Palmada, não; morte, sim.
Por aqui, enfim, são atacadas as sensações, as manifestações mais superficiais do comportamento, cujas conseqüências, em verdade, são inócuas; contudo, ações realmente graves são liberadas e, pior, até mesmo estimuladas.
É por isso que choramos de emoção quando uma faxineira devolve uma bolsa com 10 mil reais a seu dono (somos gente boa, lembra?), mas damos de ombros quando o presidente da república, outrora sindicalista humilde, transforma-se num dos homens mais ricos da corte (não vamos perder tempo nem amigos discutindo, lembra?). É por isso que há comoção nacional quando vem a público algum vídeo de algum maluco espancando um animal, mas há indiferença quando sabemos que 50 mil pessoas morrem por ano em função da violência. De fato, somos muito ordinários.

30 de maio de 2014
Colombo Mendes

BRASIL 8243

Artigos - Governo do PT

Lembro-me de Maquiavel afirmando que “quando as coisas mais graves são percebidas pelas pessoas mais simples, já é tarde demais”.

Tendo falhado na tentativa de comprar todo Congresso Nacional com o mensalão, o PT entrou, desde 2013 e até antes, numa nova fase: a do “golpe constitucional”. Trata-se de emitir decretos e mais decretos, medidas provisórias e mais medidas provisórias que vão, aos poucos, mudando todo regime de governo sem que ninguém perceba.

 
Aproxima-se agora, com a Copa do Mundo, um período em que nove entre cada dez brasileiros estarão pensando em futebol. O décimo, talvez, se preocupe com greves e ônibus incendiados mas não haverá um só capaz de se lembrar de acompanhar, no próprio Diário Oficial da Revolução, aquilo que o partido estará encaminhando para votação e aprovando em frente às câmeras de televisão e de todo o país.
 
A mais recente de todas as barbaridades protagonizadas pela Presidência da República chama-se “Decreto 8243”. Não é preciso ser formado em Direito ou Ciência Política para entender do que se trata. O PT simplesmente rasga a Constituição Federal e, com um palavreado digno de uma reunião de Diretório Central de Estudantes, amplia de uma maneira como “nunca antes na história desse país” os mecanismos do chamado “controle social”.
 
Sobre esse último termo melhor seria dizer tratar-se de “controle socialista” do que aceitar goela abaixo a ideia de que a “sociedade civil” encontra-se ali representada já que, sem pudor algum, o próprio partido-religião aceita, no segundo artigo do decreto, a existência de movimentos “não institucionalizados” em sua composição.
 
Não vou descrever todas as barbaridades e consequências que o Decreto 8243 traz. Digo apenas ser necessário deter-se sobre breves menções feitas nele, pelo partido, às democracias representativas, participativas e diretas, pois é na diferença entre elas que está a chave para entender a intenção do PT.
 
Resumidamente, eu diria a vocês que a diferença fundamental entre elas dá-se em relação àquilo que o PT mais urgentemente precisa destruir no Brasil: a institucionalização da sociedade. Desde a representação formal através de deputados e senadores até movimentos que sobem a rampa do Congresso Nacional o que se perde é isso: a institucionalização, a organização formal da sociedade através de pessoas, forças ou movimentos que, possuindo personalidade jurídica, podem tornar-se alvos do devido processo legal, e é isso que o PT, cada vez mais, precisa evitar construindo um mundo das sombras, uma espécie de área livre de sinal de radar onde navio ou avião algum pode ser detectado.
 
De 2013 até agora, a Presidência da República, por decreto, trouxe ao Brasil os escravos e agentes cubanos, abriu as portas do país para polícias estrangeiras durante a Copa, igualou as profissões da saúde no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, e agora – através da Política Nacional de Participação Social (PNPS) e do chamado Sistema Nacional de Participação Social (SNPS) – praticamente cria um governo paralelo no Brasil através de mecanismos de controle que vão entregar toda máquina administrativa nas mãos do partido.
 
Pergunto-me quanto tempo vai levar para que a nação entenda o que escrevi. Lembro-me, pois, de Maquiavel afirmando que “quando as coisas mais graves são percebidas pelas pessoas mais simples, já é tarde demais” e que um brasileiro médio não seria capaz de reconhecer um regime comunista nem que nevasse em Manaus, nem que ele fosse obrigado a beber vodca ou ter outras pessoas dormindo em sua casa.
 
Meus amigos, na madrugada do dia 8 de março de 2014, o voo MH370 da Malaysia Airlines desapareceu do radar e até hoje não há explicação alguma sobre o que aconteceu. Afirmo a vocês que coisa semelhante vai acontecer com o que resta de democracia no Brasil depois do último decreto de Dilma Rousseff. Nossa liberdade embarcou num Boeing pilotado pelo PT. Nosso voo é o Brasil... Brasil 8243.

(Dedicado à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)..Vocês serão as “entidades médicas” amanhã.)

Porto Alegre , 30 de maio de 2014.  

Milton Simon Pires é médico.
30 de maio de 2014

UM TUMOR INSERIDO POR DECRETO

Artigos - Governo do PT

Serão os grupos organizados, quase todos em consonância ideológica com o atual grupo no poder, quando não submetidos diretamente a ele, que definirão os rumos
da administração federal
.

A disputa pelo poder não é brincadeira de crianças. Os personagens que se envolvem nela querem, a todo custo, alcançar seus objetivos de domínio e, para isso, não medem esforços e não se limitam por qualquer rigor ético na consecução de seus planos.

Os outros, aqueles que apenas observam tudo de fora, ingênuos que são, analisam as coisas apenas pela formalidade da lei ou pelos objetivos declarados pelos políticos. Dessa forma, não conseguem perceber a movimentação sorrateira que acontece, normalmente sem pressa, com o intuito de tomar as mais altas instâncias da nação de assalto. Quando esses objetivos ficam claros, muitas vezes já é tarde e resta apenas o lamento e a murmuração.

É preciso sempre considerar que quando há grupos encrustados nos escalões do poder de um país que, sabidamente, pretendem implantar uma ditadura, todo cuidado é pouco, até mesmo com as linhas normativas que pareçam mais irrelevantes, das leis que aparentam ser as mais desimportantes.

Pois foi assim que, em uma lei que trata meramente de organização de ministérios, foi traçado o caminho para, mais tarde, quando parecesse propício para os grupos ideológicos envolvidos no governo, usá-la para desferir sobre a nação um golpe dos mais sujos e malignos que se tem notícia na história das nações democráticas.

Na Lei Federal 10.683 de 2003 fora dada à Secretaria-Geral da Presidência da República a incumbência de articular as relações entre a sociedade civil e o gabinete do governo federal. Nada de mais, em princípio. Porém, quando a sede pelo domínio é grande, qualquer brecha pode ser vista como uma chance e implementar os sonhos totalitários mais alucinantes. E foi assim que a Presidente da República fez ao promulgar o Decreto 8.243/14. Lançando mão de uma sutil abertura, dada por uma lei de mais de 10 anos antes, tenta impor sobre o país uma forma de governo que, se colocada em prática, apesar de se apresentar com a desculpa de ampliar as instâncias democráticas, na verdade as solapará de vez.

Por este decreto, a presidente criou um sistema de participação civil nos órgãos e entidades da administração pública federal que coloca nas mãos das ONG’s e representantes das minorias organizadas os rumos a serem dados a todas as esferas da administração federal. Isso significa, nada menos, que serão os grupos organizados, quase todos em consonância ideológica com o atual grupo no poder, quando não submetidos diretamente a ele, que definirão os rumos da administração federal. Melhor dizendo, serão os grupos organizados de orientação esquerdista que passarão a mandar na máquina pública brasileira.

Alguém ainda tem dúvida disso? Veja como o próprio decreto se refere aos grupos representantes da sociedade: movimentos sociais (alcunha típica de comunista), redes e organizações. Ora, são esses os representantes da sociedade civil? São esses grupos, por acaso, que representam o cidadão ordinário (ops! essa palavra também está proibida no Brasil), aquele que trabalha todo dia e não tem tempo para ficar fungando no cangote do governo? O homem comum não participa de movimento social algum, pois não tem sequer tempo para isso. “Movimentos sociais” não são nada menos que os “sovietes” da velha URSS, e existem simplesmente para facilitar a implementação do socialismo no país.

Serão, sim, esses grupos, que há anos ficam babando em volta das delícias da mesa do Planalto, que, na prática, terão domínio efetivo sobre as instituições. Isso porque o cidadão comum, por seu lado preocupado com os problemas imediatos do seu cotidiano, sem organização e sem financiadores, simplesmente ficará observando os representantes das minorias forjadas mandarem e desmandarem em todos os níveis da administração federal.

Analisando bem, esse decreto, além de uma monstruosidade ética, é também uma aberração jurídica!
Para quem não sabe, um decreto existe ou para a execução atos específicos, como uma desapropriação, por exemplo, ou para regulamentar leis. No caso presente, ele vem com a desculpa que está regulamentando uma lei, porém, de fato, apenas a usa como pretexto para obrigar o país a engolir uma forma de governo que apenas obedece aos desejos de uma turma que sonha com um Brasil cada vez mais vermelho.
Diante disso, fica evidente que o decreto citado é uma mentira, pois a lei 10.683/03 não requer regulamentação. Ela apenas afirma que a Secretaria-Geral tem como atribuição “costurar” as relações entre a sociedade civil e o governo. O decreto, por seu lado, cria a forma de participação da sociedade civil no governo, o que extrapola em muito o que está na lei. Apenas por isso, ele já pode ser considerado ilegal.

Mas ele contém outro problema jurídico sério: mesmo sendo um decreto, que tem como principal função regulamentar, não faz isso de maneira satisfatória, pois, apesar de prever a participação dos grupos representativos da sociedade civil, não determina quem são esses grupos, como serão eleitos, como serão conduzidos à participação e o que farão exatamente. Nada disso o decreto prevê, tornando-o, portanto, como norma regulamentadora, inútil. Isso significa que esse decreto, na verdade, precisaria de outras regulamentações que explicassem melhor como essas situações seriam resolvidas. Então, uma nova forma de ato administrativo seria necessário ser criada: o decreto do decreto – a regulamentação de um ato regulamentador.

Porém, permanecendo como está, se não for derrubado como ato ilegal, o decreto abrirá as portas para que os movimentos organizados invadam o governo federal a seu bel-prazer, sem regras, sem barreiras, mas conforme o conluio com os governantes lhes permitir.

Na verdade, esse ato da Presidência da República é um cancro, um tumor inserido no seio da nação, com o objetivo único de destruir suas células já enfraquecidas, levando-a até a morte. O que virá depois disso, eles sabem muito bem e desejam com todas suas forças.
 
30 de maio de 2014
Fábio Blanco, advogado e teólogo, dirige o NEC – Núcleo de Estudos Cristãos

TODO PODER AOS SOVIETES PETISTAS

Artigos - Governo do PT

 Mais um mandato presidencial para o PT e esse país estará irreconhecível em 2018.

Esse país de vocês ganhou um decreto realmente peculiar semana passada, o de nº 8243. Ele institui a “Política Nacional de Participação Social – PNPS” que tem como objetivo “consolidar a participação social como método de governo”.

 
A linguagem sinuosa e dissimulada do decreto é proposital, mas vamos traduzir: se você é um militante ou é um membro do Agitprop petista aboletado em algum agrupamento apelidado de “movimento social”, você passará a ter, oficialmente, poder político acima do cidadão comum e poderá influenciar diretamente, sem intermediários, (leia-se Congresso Nacional, por exemplo) a gestão do país.
 
A idéia é antiga e remonta ao paleolítico do comunismo. Desde a Primeira Internacional e da Comuna de Paris, em meados do séc. XIX, os comunistas desdenham do sistema republicano, com representantes eleitos, a tal democracia burguesa. As idéias de separação de poder de Montesquieu e da democracia representativa sempre foram consideradas empecilhos para a “democracia direta” ou plebiscitária, uma excrescência jacobina que sempre termina em barbárie.
 
A Atenas do séc. IV a.C. tentou uma forma de democracia direta, em que os julgamentos eram realizados por 500 “juízes” sorteados entre os seis mil cidadãos com plenos direitos políticos, que decidiam por maioria simples os casos do dia-a-dia. O resultado era uma cidade em que todos acusavam todos pelos motivos mais banais, com julgamentos realizados de maneira açodada e emocional, com vereditos diretamente influenciados mais pela eloquencia do orador do que pelo mérito da questão. A experiência ateniense e seus resultados desastrosos já deveriam ser suficientes para enterrar de vez a idéia jacobina de governar por plebiscitos. Mesmo o atual regime suíço, que muitos consideram um tipo de democracia direta, é uma experiência totalmente distinta e com diversas salvaguardas para que leis não sejam aprovadas no calor das emoções (e estamos falando de suíços, não necessariamente o povo mais emotivo do mundo).
A experiência mais emblemática desse tipo de grupamento não-eleito com poderes políticos são os “sovietes” ou conselhos operários, que ajudaram a criar as condições para a revolução russa em 1917. Instituídos em 1905 e festejados por Lênin como “expressão da criação do povo”, os sovietes chegaram a criar uma corrente do comunismo chamada “conselhismo”, uma oposição ao comunismo de estado, que acreditava serem os conselhos operários formas superiores de participação popular na política.

 
Com a revolução de 1917, os bolcheviques lançaram o lema “Todo poder aos Sovietes” e até a dissolução da URSS os sovietes eram considerados pilares essenciais do regime comunista.
Não se enganem, esse pessoal sabe o que está fazendo. Mais um mandato presidencial para o PT e esse país estará irreconhecível em 2018, podem anotar.

- Decreto nº 8242: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Decreto/D8243.htm

 
Publicado na Reaçonaria
30 de maio de 2014
Alexandre Borges é diretor do Instituto Liberal.

O PETISMO É O MALUFISMO PÓS-ROMÂNTICO

 

Sempre que príncipes do pensamento — e da gramática! — como Emir Sader saúdam o caráter “progressista” do PT, eu e ele pomos a mão na carteira, por motivos diferentes.
 
O petismo, obviamente, não é e nunca foi, digamos, “progressista”. A turma é autoritária, aí sim, e isso, obviamente, é outra coisa. O petismo é hoje um meio de vida. A turma se apoderou do estado e não quer largar o osso de jeito nenhum. E aí vale tudo.
 
E, se vale tudo, vale também uma aliança com Paulo Maluf não apenas por motivos pragmáticos. Ao contrário. Eles têm é orgulho mesmo. O petismo é a profissionalização do malufismo. O petismo é malufismo transformado num sistema. O petismo é o malufismo pós-romântico, entendem? O malufismo ainda era aquela coisa que dependia do talento individual para certas práticas, como Butch Cassidy e Sundance Kid. Notem: há uma certa inocência perversa em Maluf, como alguém que não consegue fugir à sua natureza. O PT é a racionalização da voracidade malufista.
 
A foto em que Lula e Fernando Haddad posam — Emir Sader escreveria “pousam” — ao lado de Paulo Maluf nos Jardins da Babilônia da mansão do notório político já fez história. Alexandre Padilha deve achar que o chefão do PP em São Paulo é uma espécie de talismã. E foi também ele em busca da sorte. Vejam as duas imagens, publicadas pela Folha.
 
PT E MALUF
 
É isso aí. Em 2010, Marilena Chaui tentou explicar a aliança do PT com Maluf. Segundo essa grande pensadora, Maluf não é de direita porque “sempre se apresentou como engenheiro”. Para Marilena, quando o sujeito é engenheiro, não é de direita; quando é de direita, não é engenheiro.
Entenderam onde foi parar o petismo? Dá pra descer mais? Sempre dá.
 
30 de maio de 2014
Reinaldo Azevedo

JOAQUIM BARBOSA TEM MUNICAÇÃO DE SOBRA PARA AJUDAR A IMPEDIR QUE O BRASIL SE SUBORDINE DE VEZ À CONFEDERAÇÃO DOS FORA DA LEI


Para azar da seita que venera corruptos, Joaquim Barbosa é um homem honesto, reiterou o título do post aqui publicado em 7 de julho de 2013. O texto tratou de mais uma sórdida ofensiva movida por blogueiros de aluguel, mobilizados por sacerdotes decaídos que o ministro do Supremo Tribunal Federal enfrentou com altivez e bravura. A infâmia da vez sibilava que não havia diferenças entre uma viagem do relator do mensalão, que nada teve de ilegal ou imoral, e a farra aérea protagonizada por gente como Lula, Rose Noronha, Sérgio Cabral, Garibaldi Alves, Renan Calheiros ou Henrique Alves.

Mais uma vez, o bando a serviço de celebrantes de missas negras foi desmoralizado pelos fatos ─ e obrigado a recuar para o pântano na selva da internet sem levar como troféu o escalpo do homem que conduziu exemplarmente o julgamento mais importante da história do STF. O episódio confirmou que, para desgraça do grande clube dos cafajestes (e para sorte do país que presta), a desonestidade nunca figurou entre os defeitos que inclui, por exemplo, o pavio curtíssimo e a baixa disposição para o convívio dos contrários.

Os bucaneiros lulopetistas souberam desde sempre que lidavam com um jurista honrado ─ e por isso mesmo o mantiveram permanentemente na alça de mira. Barbosa não foi transformado em alvo preferencial por reincidir em escorregões populistas ou surtos de intolerância, mas por ter provado que existem no Brasil juízes sem medo. Num Supremo ameaçado de virar sucursal do Executivo pela ampliação da bancada composta por ministros da defesa de culpados, Barbosa vai fazer muita falta. Aos 59 anos, contudo, ele só se aposentou do serviço público.

É improvável que pretenda  aposentar-se da vida pública. Se quiser, dificilmente conseguirá. A decisão de antecipar a saída foi lastimada pelo país decente e festejada com um carnaval temporão pela turma da Papuda. A reação contrastante é mais que um ponto luminoso na trajetória de Joaquim Barbosa. É outro poderoso motivo para que não capitule, e siga cumprindo seu dever. A partir de julho, estará liberado para agir também politicamente. Sobra-lhe munição para ajudar a impedir que o Brasil se subordine de vez à confederação dos fora da lei.

30 de maio de 2014
Augusto Nunes

ESTADO PSICOPATA

Ele atuam enquanto você vê a copa na tevê. Mais um Decreto do Planalto, publicado no Diário Oficial de 5 de Maio, amplia a lista para  a contratação dentro do programa “Mais” - que já nos brindou com os médicos cubanos. Doravante, sem a necessidade de revalidação do diploma, a portaria, ignorando as leis vigentes no Brasil, aceita a decisão 7/12 do Mercosul.
 
As portas estão abertas para mais médicos, farmacêuticos, bioquímicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas e fonoaudiólogos, bastando apresentar o diploma de alguma universidade de qualquer país  do Mercosul. Tudo aproveitando que todas as atenções estão voltadas para a copa de futebol da FIFA.
 
Há anos passados os dentistas brasileiros que trabalhavam em Portugal, enfrentaram a reação dos nossos primeiros colonizadores. Como não sou dentista, apenas fiquei com a impressão negativa sobre a recepção de brasileiros em Portugal, que depois que virou Europa parece ter esquecido um monte.
 
São as consequências do governo mundial, impondo leis em toda parte, sem o mínimo respeito à história dos povos. Está se tornando uma coisa rotineira esta coisa de decretar, decidir, impor comportamentos com fundamento em leis da ONU ou do Mercosul, enquanto as leis geradas aqui são atiradas ao lixo.
 
Na educação nem é preciso falar. Está tudo dentro do esquema do internacionalismo, tudo atrelado a Fundações do hemisfério norte, todo o conteúdo, desde a escola básica até ensino superior é conhecimento transmitido para formar mentes atreladas à ideologia da esquerda, sem espaço para a comparação, sem espaço para a reflexão, sem espaço para criticar o Estado.
 
O que implica no esvaziamento da independência que possa caracterizar o Brasil no relacionamento internacional. Nem mesmo resta a possibilidade de equidistância ou prática de relações exteriores não alinhadas entre os três blocos que aparecem como gigantes no cenário da nova guerra fria: Ocidente, Rússia e China, Mundo Islâmico. Cada um almeja o posto de maior domínio sobre as nações no futuro. Embora nossa história e cultura tenha fundamentos ocidentais, querem que  nossa cabeça, que nossa mente seja preenchida com o lixo que nem a Rússia nem a China adotam mais.
 
Se não se pode dizer que estas são políticas incoerentes, incongruentes, malucas, inconsistentes, pode-se pelo menos constatar que são as menos improdutivas, as que nos distanciam cada vez mais da construção de uma identidade nacional orientada por políticos capazes, honestos, que no mínimo possam administrar planejando com os mais capazes, para banir do cenário político as falcatruas e práticas corruptas dos criminosos que se apossaram do poder.
 
Que seguramente vamos conhecer dias de muita agitação e violência é o que se configura em todos os cenários. Com as portas abertas, cada dia mais estarão entre nós os infiltrados entre os profissionais absorvidos para atuar nos programa “Mais”. Como este aí que apareceu em Caraguatatuba: (vídeo no Youtube)
 
 
... E ainda os que aparecem nas manifestações, nas páginas dos jornais, nos programas de televisão, nos filmes... Todos em defesa do Estado Psicopata, defensor dos mais violentos e sangrentos ditadores. E aliado desta nova ordem nazifascista mundial.
 
30 de maio de 2014
viver de novo

PSDB E PT TÊM MAIORES ÍNDICES DE HOMICÍDIOS DA HISTÓRIA

 
Em 2012 chegamos à maior taxa de homicídios de toda nossa história (devidamente contabilizada): 29 assassinatos para cada 100 mil pessoas (veja Mapa da Violência, em O Globo 27/5/14, p. 4).
 
Em 1980 a taxa era de 11,7 para cada 100 mil. O Governo de Fernando Henrique entregou (em 2002) o índice de 28,5; o governo do PT começou com 28,9 (2003) e, agora, bateu o recorde de 29 homicídios para cada 100 mil (2012).
 
A peste da violência persegue todos os governos brasileiros. Aliás, nos persegue desde a descoberta, em 1500. No campo da prevenção da violência o Brasil é um desastre.
Nenhum governo (de esquerda ou de direita, conservador ou liberal) jamais conseguiu domar o bacilo dessa peste. Ao contrário, todos se caracterizam por serem (também) gestores de mortes (assim como executores de grande parte delas).
Das 50 cidades mais violentas do planeta, o Brasil conta com 16. Campeão do mundo nesse item e isso representa um aparente paradoxo quando olhamos outros índices nacionais, que melhoraram.
 
Nunca nossa renda per capita foi tão alta: superior a US$ 12 mil em 2013 (veja Valor Econômico de 23, 24 e 25/5/14, Suplemento, p. 5). De qualquer modo, estamos muito longe da elite paradisíaca mundial, cuja renda per capita gira em torno de US$ 50 mil.
 
O Brasil ainda ocupa a vergonhosa posição 79 em termos de renda per capita (segundo o Fundo Monetário Internacional). De qualquer modo, não há dúvida que nos distanciamos muito da média dos países africanos, dos quais nos aproximávamos até 1980.
Nas últimas décadas foi impressionante o aumento de alunos nas escolas (hoje mais de 7 milhões estão frequentando cursos superiores; o dobro de dez anos atrás).
 
A taxa de analfabetismo completo diminuiu para 9% da população com mais de 15 anos de idade (já não estamos na casa dos dois dígitos), mas ainda somos o 8º país do mundo com mais analfabetos. Quando consideramos os analfabetos funcionais (quem sabe ler e escrever rudimentarmente, mas não consegue entender o conteúdo de um texto ou fazer operações matemáticas básicas), a tragédia é muito grande: ¾ da população brasileira são analfabetos funcionais (segundo o Inaf). Melhorou nossa escolaridade; aumentou nossa renda per capita, mas continuamos muito primitivos e violentos.
 
A estabilização econômica de 1994 (governo PSDB) e a política social do governo PT melhoraram o país em muitos itens, menos no que diz respeito à peste da violência.
É que a violência está intimamente ligada à intensa igualdade material da população.
Dentre os melhores países do mundo temos: PIB per capita de USD 50.084, Gini de 0,301 (pouca desigualdade e, ao mesmo tempo, pouca concentração da riqueza nas mãos de pouquíssimas pessoas), 1,1 homicídios por 100 mil habitantes, 5,8 mortos no trânsito por 100 mil pessoas, 18.552 presos (na média) e 98 encarcerados para cada 100 mil pessoas. A exceção nesse grupo fica por conta dos EUA: 5 assassinatos para cada 100 mil pessoas.
 
O Brasil aparece na tabela abaixo com 27 mortes para cada 100 mil pessoas. Em 2012, a taxa pulou para 29.
Todo país que planta errado colhe frutos amargos. É o nosso caso. Enquanto não promovermos mais igualdade material em grande volume, o sangue continuará correndo pelas ruas e calçadas do país. Vejamos:
 
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30 de maio de 2014
Luiz Flávio Gomes
in visão panorâmica

DÊEM-NOS ALGO POR QUE VALHA A PENA LUTAR!

                  

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O programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes, de domingo passado apresentou um dos personagens mais interessantes da História do Brasil de que tomei conhecimento ultimamente.
 
Luis Gama, hoje quase esquecido como quase todos os personagens mais interessantes da História do Brasil, era negro, foi escravo, autodidata, jornalista e poeta e teve um papel brilhante no Movimento Abolicionista, outra história que é muito mal contada como quase toda a história do Brasil que se conta nas escolas deste país.
 
Esse momento é, seguramente, um dos mais brilhantes da nacionalidade. Foi um movimento de raiz, vindo de baixo para cima e, por essa qualidade quase único em nossa trajetória como Nação, bem ao contrário do que diz a versão mais conhecida de que a libertação dos escravos foi uma benesse outorgada magnanimamente pela Princesa Isabel.
 
O Movimento Abolicionista foi um subproduto da Guerra do Paraguai que, pela primeira vez em nossa história, mobilizou brasileiros de todos os cantos de um país que, naquele tempo, mal conhecia a si mesmo e não se pensava como um país, e que envolveu todas as raças e camadas sociais espargidas pelo seu vasto território.
 
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Foi a primeira vez na História do Brasil que brancos, negros e mestiços de diferentes classes sociais viram-se postos, ombro a ombro, na perseguição de um objetivo comum.
E o efeito que isso produziu foi em tudo semelhante ao produzido nos Estados Unidos do norte pela Guerra da Secessão, não apenas em termos de consolidação de um sentido de nacionalidade mas, sobretudo, pela experiência da convivência concreta com a diversidade em situações extremas onde todos dependem de todos e peles de todas as cores e tonalidades rompem-se a toda hora para mostrar o quanto somos iguais por dentro.
 
A convivência com a diversidade, num mundo em que uns viviam na Casa Grande e outros na senzala e em que a todos, do palácio real à sarjeta, eram impostas as mesmas crenças e as mesmas "verdades" e vedado qualquer desvio dessa linha estreita "por pensamentos, palavras ou obras", é a matéria prima da ideia de tolerância que se consubstancia institucionalmente na ideia de democracia.
 
Foi exatamente assim e foi exatamente por isso que ela começou a nascer na Inglaterra de Henrique VIII quando ele baniu a intolerância católica e abriu o país a todas as crenças perseguidas da Europa; foi exatamente assim e foi exatamente por isso que ela saltou das teorias dos fundadores para o real governo do povo, pelo povo e para o povo que só se estabeleceu com as reformas da Progressive Era que começaram a se esboçar a partir do final da Guerra de Secessão.
 
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Assim também foi praticamente aí que a ideia de Nação saiu dos textos dos teóricos e dos idealistas e se materializou nas ruas e nas selvas da vastidão brasileira.
Luis Gama,  que mais de uma vez usou as páginas do jornal A Província de S. Paulo, precursor de O Estado de S. Paulo, como sua tribuna, ao lado de Julio Mesquita, filho de pai analfabeto ha pouco chegado ao Brasil quase tão pobre quanto aquele ex-escravo, e outros brasileiros que, como esses dois, se tinham "feito" sozinhos longe dos latifúndios escravocratas e das benesses do imperador, representando a esmagadora maioria dos brasileiros de sua época e os meios dos quais tiravam a sua subsistência, ao contrário do quadro falso pintado pela historiografia marxista da dicotomia senhor-escravo que ainda é a única vendida em nossas escolas, foi uma figura de proa desse momento brilhante da consolidação da nacionalidade brasileira numa campanha que mobilizou o país inteiro. (Leia mais sobre esse Brasil dos empreendedores neste link).
 
A entrevistada do Canal Livre, Ligia Fonseca Pereira, autora de Com a Palavra Luis Gama (), uma coletânea de seus textos sem interferências da curadora "pois que ninguém pode explicar melhor o que ele foi do que ele próprio", como ela ressaltou sabiamente, mostrou-se mais uma da grei dos intelectuais sérios que este país, apesar de tudo, tem produzido, especialmente no campo da pesquisa histórica onde se vem colhendo uma safra cada vez melhor de produtos.
 
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É essa revisão da verdadeira História do Brasil que, pouco a pouco, vai desintoxicar o inconsciente coletivo nacional fazendo o país passar pela necessária seção de psicanálise que fará com que a nacionalidade entenda, finalmente, como foi que se tornou aquilo que é, passo sem o qual nunca conseguirá tomar as rédeas do seu próprio destino.
 
É este o processo que, no final, vai nos redimir do estado patológico e da crise de identidade em que nos precipitou um século inteiro da empulhação interpretativa pseudo científica vendida em nossas escolas à guisa de História do Brasil, mas que não passa de manipulação ideológica barata, esta mesma que saltando das universidades para as ruas, chegou ao paroxismo com a vulgata lulista que já não se contenta com manipular apenas os fatos do passado, sente-se à vontade para fazer isso também com os do presente bem diante dos olhos de quem acabou de vive-los.
 
Luis Gama, como a nata dos abolicionistas de São Paulo e de outros estados brasileiros (as revoluções pernambucanas são fruto do mesmo fenômeno) pertenceu à Loja Maçônica América, fundada por brasileiros que estiveram nos Estados Unidos, frequentaram a mesma loja maçônica de George Washington e outros dos grandes fundadores da democracia americana, e se encantaram com as promessas encerradas no movimento revolucionário que nascia ali com o propósito de fundar uma sociedade de iguais onde o esforço individual e o merecimento substituiriam a cumplicidade com o último criminoso a conquistar a coroa pela força que tinha prevalecido nos últimos dois milênios e na qual continuamos chafurdando até hoje, como única fonte de legitimação da conquista de poder e de dinheiro.
 
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A Loja Maçônica América expressava desde o nome com que foi batizada a esperança do melhor material humano que o Brasil tinha produzido até então, de chegar um dia ao mesmo sucesso a que já tinham chegado os revolucionários do norte.
 
Como Ligia Fonseca explicou de forma brilhante, Luis Gama e os outros abolicionistas que se congregavam nas lojas maçônicas brasileiras ligadas às suas congêneres espalhadas por todo o mundo de então eram “homens de rede” no sentido moderno da palavra, pois que trocavam ideias e conspiravam através do primeiro protótipo de “rede mundial” criada com o propósito explícito de facilitar a livre troca de ideias e informações que a humanidade constituiu: exatamente as lojas maçônicas.
 
Sua admiração pela revolução americana era tanta que foi de Luis Gama que saiu a sugestão de batizar o país que surgiria da nossa revolução republicana de Republica dos Estados Unidos do Brasil, nome que o Brasil de fato adotou dos albores da República até o início do regime militar.
Foi a esta altura da entrevista, porém, que um dos jornalistas presentes fez a seguinte intervenção:
 
É curioso que um negro como Luis Gama não tenha reagido ao (ou “percebido o”, não me lembro quais foram as palavras exatas) fundamento racista que marcava e seguiu marcando a sociedade norte-americana”.
 
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Lígia Fonseca Pereira, negra ela também, ficou tão desconcertada e perplexa quanto eu ao ouvi-la.
Superadas a surpresa e a dúvida ela gentilmente tartamudeou algumas palavras hesitantes enquanto na minha cabeça bombava a pergunta: "E precisava um negro ex-escravo no último país ainda escravocrata das Américas, olhar para os Estados Unidos para encontrar racismo?!!! Seria necessário esse turismo intelectual para experimentá-lo ainda hoje?"
 
Eis aí nu, pelado, com a mão no bolso o drama brasileiro!
 
O  jornalista autor desse comentário -- ninguém me disse, eu mesmo sou testemunha -- é das pessoas intelectualmente mais íntegras e cultivadas que conheci na profissão.
O que teria sido aquilo, então?
 
Não é possível viver no ambiente contaminado do debate intelectual brasileiro, do primeiro ano de escola ao último ano de vida, impunemente, é a resposta. Esse antiamericanismo resiliente, quase orgânico, subliminar, involuntário até, como suspeito que tenha sido o caso desta vez, é uma das manifestações da força que isto tem.
A própria Lígia Fonseca Pereira, cabe registrar, viveu os últimos anos de sua atividade acadêmica no exterior e foi a partir de lá, respirando ares mais livres dos eflúvios do Segundo Milênio que ainda predominam por aqui, que ela encontrou a paz necessária para fazer a sua pesquisa.
 
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Luis Gama – foi o que ela passou o programa inteiro explicando – viu nos Estados Unidos aquilo para o que a imprensa brasileira insiste em fechar os olhos até hoje: a superioridade moral da utopia e, mais especialmente, o conjunto genial de meios para realizá-la desenhados pelo que de melhor a humanidade produziu no seu melhor momento, que foi o Iluminismo, pelos quais a metade boa daquele país lutou até a morte contra a metade ruim, ombro a ombro com os escravos desta – e cinco milhões de pessoas perderam a vida nessa luta fratricida! – coisa que a metade boa da população brasileira não consegue encontrar motivos suficientes para fazer exatamente porque tem-lhe sido sonegada uma referência pela qual valha a pena lutar.
É exatamente isto que continua pendurado no ar nesta eleição.
 
É disso que estão à procura os 70% de eleitores que "querem mudanças profundas"  mas não encontram quem as formule e proponha. Era exatamente isto que perambulava pelas ruas de todo o país às cegas em junho de 2013: a ausência de uma referência decente pela qual valha a pena lutar que, entretanto, está onde sempre esteve mas a inteligentsia e a imprensa brasileiras ainda se recusam a por onde nós estamos.
 
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30 de maio de 2014
vespeir