"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 19 de março de 2015

O BRASIL ANDA RUIM? AINDA NÃO... VAI FICAR MUITO PIOR: ANALISE DE INVESTIDORES

Como se trata de material protegido por copyright, ou por direitos exclusivos aos assinantes do serviço, não posso revelar nem a totalidade da análise, nem os dados editoriais do material abaixo, do qual eu selecionei apenas alguns trechos para que as pessoas tenham uma ideia mais fiável do que se anda dizendo sobre o Brasil no exterior.


Sei, por conhecimento direto, que fundos de investimento baseados em Nova York já tomaram a decisão de "desembarcar" do Brasil.
O que significa isto?
Significa vender o que for possível vender com um mínimo de perdas, retirar o dinheiro, enquanto o câmbio ainda não se deteriorou de vez, e não mais investir por aqui pelos próximos cinco anos, pelo menos.

É preciso saber que, à diferença dos verdadeiros especuladores de curto prazo, que atuam sobre ganhos de seis meses, fundos de investimento, que possuem uma carteira de vários bilhões de dólares -- tipicamente, um desses fundos médios, possue uma carteira de 5 a 10 bilhões de dólares apenas para mercados emergentes -- geralmente fazem planejamento de médio prazo (de 5 a 15 anos), com uma expectativa de ganhos de dois dígitos, pelo menos, do contrário não vale a pena correr o risco.

Dois dígitos significa entre 15 e 25% de valorização no ano, e isso pode ser ações, debêntures de empresas privadas, equity participations, e até títulos do governo com taxas atrativas, mas basicamente investimentos reais (tipo infraestrutura, empresas prometedoras, algumas até estatais).

Pois bem, o que acontece quando as coisas chegam ao ponto em que chegaram no Brasil, sem qualquer previsão de ganhos nos próximos dois anos?
Os fundos simplesmente fazem bagagem e vão embora, e deixam o país em questão até dois anos depois que as coisas estiverem estabilizadas e os negócios restabelecidos na perspectiva do crescimento. Ora, isso é impossível de ocorrer no momento.

É por isso que eu disse, no começo, que pode e deve ficar pior, como aliás é confirmado por este report, de que transcrevo estes trechos agora.
O analista que escreveu o relatório diz que se trata da PRIMEIRA VEZ, desde 1929-1931, que o Brasil enfrenta dois anos seguidos de recessão. 

19 de março de 2015
Paulo Roberto de Almeida


How bad can Brazil get? Much, much worse. 
A visit last week for a round of discussions with investors, government officials and scholars confirmed an extraordinary deterioration in Latin America’s biggest economy in just the last six months, one that is nowhere close to playing out.
(...)
The proximate cause was the collapse in the oil price, which suddenly rendered the US$130bn debt of state-owned oil behemoth Petrobras an untenable burden. Unluckily this coincided with the culmination of a scandal in which Petrobras executives and public officials stand accused of collecting millions of dollars in bribes from construction companies in exchange for contracts.
(...)
Petrobras’s implosion is also an economic disaster. The firm accounts for nearly 10% of the nation’s fixed investment, so its recently announced plans to slash capex by 30% this year will lop off 3% from total national capital spending. Its vast supplier relationships are an important part of the economic fabric, and these suppliers have been badly hurt by the firm’s inability to pay its bills: its payment terms have quadrupled from 28 days two years ago to 120 days today.
(...)
Brazil’s resource woes do not stop with Petrobras. Vale, the big mining firm that depends heavily on iron ore exports to China, is struggling because of the end of China’s construction boom, which has driven the iron ore price from an average of US$134 a ton in 2013 to around US$60 today.
(...)
The combined effect of all these negative economic factors, the necessary but painful fiscal tightening, and the lack of any other plausible sources of near-term growth, is that Brazil’s economy will likely contract by -1-2% this year, with another somewhat smaller drop in 2016. This would be the first time since 1929-30 that Brazil’s economy has shrunk for two consecutive years. On top of that, inflation is accelerating, and at 7.7% is at its highest rate since 2005.
(...)
Markets have already reacted, pushing the real down to 3 against the dollar, its lowest rate in a decade and nearly a third below its peak. The Bovespa index is 19% off its August high. But deeper selloffs are in store. Many major Brazilian institutions sold their domestic equity positions months ago, and private wealth is streaming out of the country. A common theme in our talks with investors was perplexity that foreign money continues to flow into Brazilian stocks. Once foreign investors wise up, equity prices and the real will both tumble much further.
(...)
Policy is unlikely to provide much help. Dilma is weak, politically isolated and committed to the PT’s strategy of buying votes through welfare populism. She is terrified of a credit-rating downgrade that would reduce Brazil’s debt to junk status, which is why she authorized Levy to tighten up the budget. Even if Levy succeeds in staving off a downgrade, the government has no strategy for re-igniting growth. And there is no guarantee that Levy will succeed: his austerity measures must pass a Congress that is now paralyzed by the Petrobras scandal, and whose leaders have no incentive to cut hard fiscal deals with a half-hearted Dilma. Levy himself has no political clout and will find it hard to act without strong backing from his boss. There are low but rising odds that he could resign by the end of the year.
(...)
The only good news is that most people seem to think the Petrobras scandal marks a turning point in the treatment of corruption: in a few years Brazil will emerge with a significantly cleaner political system. And the economy is large and diversified enough that it can weather a period of contraction without a severe decline in absolute living standards. For the next year or two, though, there is little reason to expect anything other than more pain.
[end]

UM CONGRESSO DE VIENA PARA O SÉCULO 21?


Dom Total, que se intitula a revista mais completa do Brasil (deve ser verdade, senão eles não diriam isso), publicou meu artigo sobre um novo congresso de Viena, com o subtítulo e uma bela ilustração do próprio, ou seja, o congresso de 1815.
Paulo Roberto de Almeida  


Um congresso de Viena para o século 21?

Kissinger e o “sentido da História”



El mundo fue y será una porquería
ya lo se.
En el quinientos seis
y en el dos mil también.
(...)
Pero que el siglo veinte
es un despliegue
de maldad insolente,
ya no hay quien lo niegue.
Tango Cambalache, letra de Enrique Santos Discépolo (1934)

Um dos mais famosos tangos da história musical da Argentina foi escrito em plena “década infame”, quando tem início a decadência daquele país, agravada depois pelo peronismo, que aliás liberou a música, antes proibida, por sua letra ser justamente percebida como uma crítica feroz à situação anterior (para a letra completa, de ácido teor, ver o link: http://www.musica.com/letras.asp?letra=974519). Em todo caso, o que Discépolo pensava do século 20, então recém ingressado em sua quarta década, parece aplicar-se igualmente, e talvez até com mais razão, ao século 21, recém entrado em sua segunda década: até aqui, foi um desabrochar de maldades insolentes, ninguém pode negar; em certos países “resulta que es lo mismo, ser derecho que traidor”. Onde foi parar aquela nova ordem mundial, defendida ou prometida por Bush pai, em 1991?
Estaríamos, por acaso, necessitados, tanto quanto a Europa do final das guerras napoleônicas, de uma réplica do congresso de Viena, apto a reorganizar, num grande concerto de nações, as bases de uma nova ordem mundial? Seria isso possível? Essa pergunta me veio à mente ao ler o mais recente livro de Henry Kissinger, World Order (New York: Penguin Press, 2014), que não coloca exatamente a questão, mas a engloba numa grande reflexão histórica, que começa, na verdade, pelo reordenamento da paz de Westfália. Esta, como ele indica acertadamente, não foi uma única conferência, mas um complexo processo negociador, com acordos separados em duas diferentes cidades.
Todos os estudiosos das relações internacionais e da história diplomática contemporânea sabem que Mister Kissinger estaria em excelente companhia, e ficaria extremamente satisfeito, se pudesse ser tele-transportado numa máquina do tempo para a Viena de 1815, para poder assessorar, ao mesmo tempo, Metternich e Castlereagh. Até mesmo Talleyrand, ministro de Luís XVIII, vindo do Ancien régime aristocrático, convertido em aliado da revolução, ministro do Império, sobrevivente na Restauração e finalmente servidor da monarchie de Juillet, poderia receber seus conselhos de longevo servidor de vários governos, tanto quanto o francês. Talvez seja maldade deste articulista, mas tendo lido a admiração sincera com que Kissinger completou sua tese de doutorado em torno dos dois primeiros estadistas, depois publicada como A World Restored:Metternich, Castlereagh and the Problems of Peace, 1812-22 (1954), dá para imaginar o entusiasmo com o qual ele se movimentaria apressadamente atrás de cada uma das três delegações, para assoprar, aos ouvidos dos seus chefes respectivos, suas sugestões sobre como organizar a melhor balança de poder possível, suscetível de contemplar os interesses das grandes potências daquela época, e apenas os delas.
O mesmo sentido profundo da História transparece nesse seu último livro (no sentido cronológico, apenas), intitulado simplesmente World Order, sem qualquer subtítulo. Poucos autores na categoria das ciências humanas ousariam desafiar as normas editoriais americanas e publicar um volume de 400 páginas, com apenas duas palavras no seu título, o que aliás já tinha sido o caso de On China(2011), seu livro sobre o grande contendor do novo jogo geopolítico mundial. Os dois últimos livros, e o primeiro, nos trazem o melhor Kissinger, o pensador, o historiador, mais do que o estrategista do equilíbrio do terror nuclear, o memorialista dos anos de Casa Branca, ou o consultor caríssimo de governos estrangeiros, o homem que ganhou um prêmio Nobel por razões imerecidas, e que provavelmente merece mais distinções acadêmicas por seu trabalho intelectual do que propriamente pelas suas realizações a serviço de governos.
Kissinger parece o contrário de um Winston Churchill, que ganhou um prêmio Nobel por seu trabalho como historiador (tarefa que ele desempenhou em seu próprio benefício, obviamente), quando merecia o prêmio por ter salvo a civilização ocidental do assalto horrífico dos bárbaros nazifascistas, e ousado resistir, ao custo de “sangue, suor e lágrimas”, quando muitos recomendavam um pacto com o diabo em pessoa (isto é, Hitler). Kissinger talvez merecesse um prêmio literário por sua obra acadêmica, em especial os três livros citados, e mais Diplomacy (1994), uma vez que ele passou o seu tempo de estrategista tentando justamente fazer pactos com os diabos (Brejnev, Mao), como fazem, por sinal, os estadistas das grandes potências quando a ocasião lhes é dada. Talvez nem o júri do Nobel literário concordasse com esse tipo de galardão, uma vez que mesmo seus livros de caráter histórico estão igualmente contaminados por certa visão do mundo – do tipo “eu sei, eu fiz, eu estava lá” – que tende a impregnar as suas sugestões de uma “boa ordem mundial” como a única possível nas circunstâncias dadas (este é um viés a que nem mesmo Churchill escapou, seja em sua história da Segunda Guerra, ou na sua precedente história dos povos de língua inglesa).
O problema com Mister Kissinger é que ele teria gostado de um mundo mais “vienense” do que o que temos atualmente, já que se trata de uma “ordem mundial” que não é propriamente uma ordem, nem é universal, como ele mesmo reconhece no livro homônimo. O mundo parece se estilhaçar, não em novas conflagrações globais, mas em rivalidades hegemônicas, em proxy wars, com vilões proliferadores protegidos por uma ou outra das grandes potências, com desafios vindos de atores não estatais, alguns até se pretendendo califados expansionistas, ou mesmo com bravatas anti-imperialistas de líderes de pacotilha, num estilo parecido ao de certos fascistas do entre-guerras.
Tudo isso é real, e já está acontecendo, um pouco em vários cantos do planeta, inclusive numa Europa que já reproduziu, em pleno século 20, uma segunda “guerra de trinta anos”, uma repetição, em larga escala, dos terríveis conflitos que deram a partida, no século 17, à ordem westfaliana que ainda constitui o horizonte insuperável de nossa época, e pela qual tem início, justamente, World Order. Na impossibilidade de se chegar a novos acordos westfalianos – que, de resto, já estão incorporados na Carta da ONU – talvez Kissinger sonhe com novo Congresso de Viena, capaz de estabelecer as bases da nova “ordem mundial” que ele deve intimamente desejar. Talvez ele até se dispusesse a assessorar um ou outro soberano dos novos tempos, com conselhos sempre sensatos sobre como melhor organizar uma balança de poder entre as grandes potências, como fizeram os estadistas de dois séculos atrás.
Seria isto possível? Levaria um congresso do mesmo estilo a resultados efetivos e duráveis? Provavelmente não, pois faltaria a tal arranjo fundacional aquilo que existiu em cada reorganização anterior da ordem mundial: uma contestação radical da ordem anterior, com uma alteração fundamental das relações de força entre as grandes potências, e um reordenamento baseado no novo equilíbrio de poder. Westfália veio depois da “guerra de trinta anos”; Viena veio após as guerras napoleônicas; Versalhes e a Liga das Nações sucederam à Grande Guerra; Ialta e Potsdam, em 1945, prepararam São Francisco, que foi quase uma formalidade, depois que certas questões já estavam acertadas em Teerã (1943), em Dumbarton Oaks (1944) e naqueles dois encontros decisivos. Mas não é apenas pela falta de uma grande conflagração global que um novo congresso de Viena – que obviamente não seria em Viena – se revela impossível em nossos dias. O que falta, na verdade, seria uma espécie de entendimento prévio sobre o que discutir e o que se buscar. “Na construção de uma ordem mundial”, diz Kissinger no capítulo final de seu livro, “uma questão chave refere-se inevitavelmente à substância de seus princípios unificadores”, mas, acrescenta ele imediatamente após, “nos quais reside uma distinção fundamental entre as abordagens ocidentais e não ocidentais a essa ordem” (p. 363). A distinção não é obviamente geográfica tão simplesmente, mas fundamentalmente política e de valores.
A dificuldade, portanto, não resulta de um simples problema de agenda, ou seja, da falta de uma ordem do dia consensual, uma lista de questões sobre a base das quais discutir um novo arranjo global num formato similar ou equivalente àquele de 1815. Mister Kissinger acredita que a carência de uma ordem mundial para o século 21 pode ser explicada por aspectos, ou dimensões, que diferem da ordem precedente. Primeiro, a natureza do estado, em si – a unidade básica da vida internacional – que tem sido submetida à uma variedade de pressões desagregadoras (seja por falta de uma soberania efetiva, como no caso da UE, seja pela sua contestação por novos “senhores da guerra”), quando não se cai na falta de governança tout court, em estados falidos, ou territórios inteiros sem governo. Depois, uma descoordenação entre as organizações econômicas e políticas internacionais, as primeiras acompanhando o processo de globalização, mas as segundas ainda baseadas no estado-nação. Finalmente, a falta de um mecanismo de consulta e cooperação entre as grandes potências “on the most consequential issues” (p. 370). Aqui já estamos em face de cenas explícitas de kissingerianismo geopolítico: todas as instâncias existentes – CSNU, Otan, Apec, G-7 ou G-8, G-20 – lhe parecem carentes de maior foco, pois os chefes de governo ali presentes estão mais preocupados com o seu público interno, e com o comunicado final, do que com problemas concretos.
Pode ser isso, ou também pode ser que o mundo de Viena já não tem mais condições de existir: ele era a expressão de um arranjo westfaliano entre potências europeias, ou seja cristãs, numa época em que a Europa dominava o mundo, o que ela fez durante praticamente cinco séculos, o último junto com os Estados Unidos, mas já contestados pelas novas potências emergentes. A própria Alemanha tinha desafiado as bases da ordem europeia e internacional no arranjo precedente, por ter chegado tarde, bem depois da Prússia, na mesa de negociações e nas conquistas imperiais subsequentes (ainda que ela se tenha talhado alguns pedaços na Ásia e na África). Foi justamente o seu desejo de redistribuir as cartas do jogo que provocou uma nova guerra de trinta anos e a derrocada definitiva da hegemonia europeia sobre os assuntos do mundo.
A China provavelmente não tem nenhuma pretensão de ser uma nova Alemanha nas condições do século 21, nem a Rússia tem capacidade para aspirar a tal papel, muito embora ela ainda talvez gostasse de poder determinar o que podem e, sobretudo, o que não podem fazer as antigas satrapias do império soviético. O problema, na verdade, não é só de ordem geopolítica, mas também de valores e de concepções do mundo. Não se pode ser um Metternich – como talvez gostasse Kissinger – se não se tem do outro lado, como interlocutores afinados nesse tipo de jogo, estadistas como Castlereagh ou mesmo Talleyrand. Aparentemente, nem Xi Jin-ping nem Putin se dispõem a amoldar-se em papeis equivalentes aos de Hardenberg ou de Nesselrode, os representantes respectivos da Prússia e da Rússia imperiais em Viena. O que se buscava, na capital do Império dos Habsburgos, era um arranjo europeu, no máximo alcançando a periferia mais próxima, a do Império Otomano e suas dependências balcânicas. Os arranjos que se fizeram com os impérios ibéricos e suas possessões coloniais o foram por causa da herança napoleônica, não porque as grandes potências estivessem tentando traçar um esquema equivalente a Tordesilhas, ou seja, uma primeira divisão do mundo que só seria tentada novamente em Ialta, quase cinco séculos mais tarde.
Kissinger talvez gostasse que Estados Unidos e China chegassem a um acordo básico sobre as relações recíprocas, e foi em grande medida em vista desse objetivo que ele escreveu On China, uma obra particularmente compreensiva e leniente para com as lideranças chinesas. Da Guerra Fria política dos tempos de Stalin à nova Guerra Fria econômica dos nossos dias, o mundo mudou perceptivelmente em termos de atores e de interesses nacionais projetados internacionalmente. Viena-1815 nunca foi um encontro filosófico entre potências cristãs interessadas primariamente no bem estar de seus respectivos povos: o que estava em jogo ali era apenas o equilíbrio de poderes para evitar uma nova conflagração global. Westfália se revelou mais durável porque tratou basicamente de procedimentos, não de substância, como ele diz em outra parte do livro.
Esse objetivo, hoje em dia, está na prática assegurado pela detenção dos arsenais atômicos, o que restringe a subida aos extremos por parte de qualquer uma das grandes potências nucleares. Mas uma Viena do século 21 não poderia mais eludir os avanços registrados em matéria de direito internacional, de democracia e de direitos humanos. Tais dimensões, aparentemente, só seriam hoje defendidos pelos Estados Unidos, e se dependesse de Mister Kissinger talvez nem isso. Tais critérios certamente não fariam parte da agenda das outras grandes potências. Ah, sim, ainda tem a Europa, se ela é verdadeiramente um membro dessa pequena tribo, na vertente democrática; Kissinger, nos seus velhos tempos de guardião da paz no mundo, se perguntava: “se eu quiser falar com a Europa, eu telefono para quem?” Parece que o problema continua o mesmo.
O que dizer, então, das chamadas “potências emergentes”? A julgar pelas tomadas de posição de algumas delas, em suas próprias esferas regionais, talvez não se possa contar tampouco com elas para algum arranjo nouvelle manière, seja no formato Viena 2.0, seja uma reforma do sistema onusiano, esse dinossauro que também ostenta um cérebro totalmente desproporcional em relação ao seu imenso corpo. Em resumo, vamos esquecer essa história de um novo arranjo diplomático para a tal “ordem mundial do século 21”, e nos concentrarmos em tarefas mais prosaicas de administração da governança econômica e da defesa dos direitos humanos e da democracia onde isso for possível. O mundo ainda é bem mais hobbesiano do que grociano, e certos dirigentes atuais estão bem mais para Átila ou Gengis-Khan do que para Locke ou Montesquieu.
O progresso pode até ser uma fatalidade, como queria Mário de Andrade, alguns anos antes do milonguero argentino desconfiar de qualquer avanço, mas talvez seja porque a história parece andar a um ritmo similar ao dos carros de bois de antigamente. Quando alguns mais apressadinhos tentaram forçar a passagem em marcha acelerada, não deixaram de ocorrer acidentes de percurso, como descobriu, para sua infelicidade, o último xá da Pérsia. O próprio Kissinger confessa, ao final do seu livro (p. 374), que perdeu sua esperança de juventude de descobrir o “sentido da História”. Provavelmente, ele não existe, pelo menos não no sentido hegeliano-marxista. Quanto ao seu ritmo, talvez caiba se contentar com o de certas partituras: vivace, ma non troppo! Em todo caso, poderíamos repetir com Discépolo: “Todo es igual, nada es mejor…”.

19 de março de 2015

Recomendação de leitura: 
Peter W. Dickson: Kissinger and the Meaning of History (Cambridge University Press, 1978). [Nota: o autor é um acadêmico formado em filosofia que trabalhou para a CIA, o que revela quão eclética é essa agência de inteligência.]

 Paulo Roberto de Almeida é doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas (1984). Diplomata de carreira desde 1977, exerceu diversos cargos na Secretaria de Estado das Relações Exteriores e em embaixadas e delegações do Brasil no exterior. Trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Autor de vários trabalhos sobre relações internacionais e política externa do Brasil.

DILMA FICA OU CAI FORA, MAS O BRASIL NÃO ACABA



As ruas é que vão decretar o destino de Dilma

No final, as ruas é que devem decidir o destino político de Dilma Rousseff. Se fica ou cai fora, dependendo do banho-maria ou de uma explosão. A “classe” política vai avaliar e seguir seu instinto de sobrevivência. E dar o veredicto à presidente.

Dilma agora está acuada por delações que levam dinheiro roubado da Petrobras à sua campanha eleitoral. Na terça, saiu da boca da própria presidente, de forma inacreditável, a palavra impeachment. Ela agora também coloca essa carta sobre a mesa.

O PT vai se arrebentando sozinho no meio do caminho e sairá dessa crise como um partido esquálido. De embusteiros que vendiam uma alternativa ao que está aí.

O saldo será positivo. O Brasil poderá deixar para trás e enterrar, em uma só tacada, ideias políticas e econômicas de esquerda atrasadas. Sem falar no terror entre empresários desonestos ainda soltos ao pensar nos seus pares presos que se imiscuíram com o Estado. Vão pensar oito vezes antes de se meter com isso daqui em diante.

VAI DOER POR UM TEMPO

Já o futuro econômico parece selado. Vai doer por um tempo, até o ajuste. A boa notícia é que possivelmente voltaremos, após um grande tranco, a uma ortodoxia saudável e muito provavelmente definitiva. Sem espaço para experimentos exóticos em um país hoje aberto financeiramente para o mundo, curioso e grande.

Um experiente empresário diz que só o setor de panelas vai crescer neste ano. Mas sairemos melhor disso


19 de março de 2015
Fernando Canzian
Folha

PRESIDENTE SITIADA




O PT perdeu o controle das ruas, não tem mais o monopólio da mobilização das massas

Superou todas as expectativas: cerca de dois milhões de brasileiros foram às ruas em várias cidades do país para protestar contra o governo Dilma e o PT. São Paulo liderou, com metade deste montante. Em todo lugar, foi um ambiente de muita revolta e indignação, mas pacífico e familiar. Em Copacabana, levei minha filha e vi várias crianças e adolescentes. Os mascarados infiltrados não tiveram vez.

O contraste fica evidente: na sexta-feira 13, pelegos da CUT e “soldados” do “exército de Stédile” colocaram alguns gatos pingados nas ruas, a maioria em troca de mortadela e R$ 35. Havia ali até imigrantes que nem falam português. Foram apenas pelo dinheiro. Um “protesto” chapa-branca esquizofrênico, contra o governo, mas a favor de Dilma.

O PT perdeu o controle das ruas, não tem mais o monopólio da mobilização das massas. Fala em nome dos trabalhadores, mas os esfola com a inflação elevada e os impostos crescentes. Precisa pagar para reunir algumas pessoas em defesa da presidente, e faz isso em dia de semana, pois os “trabalhadores” ali presentes não trabalham: querem somente esmolas estatais.

Já no domingo os verdadeiros trabalhadores trocaram o dia de descanso pelo dever cívico de se manifestar contra um governo mentiroso, incompetente e corrupto. Sem organização partidária, foi um protesto totalmente espontâneo da parcela da população que não aguenta mais tanta roubalheira e cinismo. Essas pessoas querem um país melhor, desejam resgatar o direito de sonhar com o futuro, manter a esperança usurpada pelo governo.

A reação do PT e de seus militantes virtuais foi a pior possível, o que só joga mais lenha na fogueira. Primeiro, acusaram os manifestantes de “golpistas da elite”, como se fosse algum golpe gritar “fora Dilma” nas ruas, e como se fosse apenas a elite por trás dessa manifestação. Mesmo o impeachment, que era parte da agenda de alguns manifestantes, é um instrumento constitucional que foi usado contra Collor pelos próprios petistas. E naquele tempo não era “golpismo”.

Depois, quando viram o tamanho da coisa, resolveram repetir que só tinha eleitor do Aécio nas ruas, e que o governo Dilma é muito democrático e tolerante. Dilma escalou dois ministros para dar seu recado, mas o tiro saiu pela culatra. Cardozo, ministro da Justiça, insistiu na abertura ao diálogo do governo, o que todos sabem ser um mito. E ainda posou de grande defensor da democracia, um sujeito que já palestrou no Foro de São Paulo a favor de Cuba e Venezuela. É como Suzane von Richthofen enaltecendo o amor aos pais!

Para piorar a situação, Cardozo puxou da cartola a “reforma política”, que o PT tem tratado como panaceia para o problema da corrupção. Repetiu a importância de se adotar o financiamento público de campanha, como se a culpa do petrolão fosse das empreiteiras apenas, e não dos corruptos do PT. Não cola.

Essa não era a pauta das manifestações. A voz das ruas não pede reforma política; deseja mudança de governo!

Enquanto os ministros defendiam o governo Dilma, novo “panelaço” ecoou pelo país. O governo continua negando a realidade, tratando os brasileiros como uma cambada de idiotas. Dilma sequer teve a coragem de falar diretamente com a população. A presidente já não pode circular pelas ruas do Brasil, pois sabe que será alvo de vaias. Agora não consegue nem se dirigir aos telespectadores pela TV. É uma presidente acuada, sitiada. E ainda faltam 45 meses de segundo mandato!

O que vai ser daqui para frente ninguém sabe ao certo. A situação de Dilma parece insustentável. O escancarado estelionato eleitoral em curso retirou qualquer legitimidade da presidente. A tentativa de jogar a culpa sempre para ombros alheios e a incapacidade de admitir erros fizeram de Dilma uma governante fraca, pois uma estadista jamais agiria assim. O PMDB, da base aliada, está cada vez mais afastado e rebelde. A governabilidade não existe mais.

O PT definha, em pânico. Lula, o responsável por isso tudo, ainda vai conseguir destruir o partido que ajudou a criar. Os brasileiros que têm olhos para enxergar já sabem que o único projeto do lulopetismo é se agarrar ao poder para sempre. Inspiram-se nos chavistas. Nunca ligaram para os pobres. Gostam mesmo é da pobreza e da ignorância, pois garantem um mercado cativo para seu populismo.

O Brasil vive uma subversão de valores. Banalizaram e institucionalizaram a corrupção. A ética foi jogada no lixo. Lula achou que era possível comprar todos. Não é. Está chegando a hora do acerto de contas com quem se recusou a se vender por migalhas estatais.

19 de março de 2015
Rodrigo Constantino é Economista e presidente do Instituto Liberal.

POBRE DEMOCRACIA



“Na ética companheira o mais importante não é fazer errado, é não ser flagrado. Falar com a língua presa não é nada, o problema é ter preso o rabo.” Nelson Motta, compositor e multimídia


A democracia é uma puta, aliás, uma puta velha. Na Grécia, só os cidadãos tinham opinião, os escravos não; tampouco os garotinhos que acompanhavam os que opinavam na fina flor da homossexualidade.

Na antiga Alemanha Oriental, apelidada “república democrática”,  a polícia secreta perseguia os adversários, a censura era completa, como também a polícia matava com toda tranquilidade os opositores. Quando caiu o muro de Berlim, os habitantes da “república democrática” foram em direção ao Ocidente, deixando a chave dos seus carros nos ramos das árvores e fugindo a pé.

Em Cuba, a “democracia” dos Castros matava os opositores nas prisões de um metro quadrado, jogando o arroz aos prisioneiros, misturado-os às fezes. O crime deles era pensar em ultrapassar no futuro o regime paradisíaco da ilha, coitadinha, oprimida pelo embargo norte-americano...

A democracia da Dilma é uma puta. Ela lutou pela democracia contra a ditadura militar. E com ela todo o PT. São todos democratas, torturados. Nossa democracia é engraçadinha. O PT não tem mais jeito, entregue ao PMDB, à direita patrimonialista, sofrendo, porque não pode ainda implantar o socialismo bolivariano do Foro de São Paulo. E nós temos os Temer, Calheiros, Cunhas, Malufs, Sarneys e todo o séquito que domina mesmo o Brasil, desde Tomé de Souza...

A democracia petista é uma puta e quer dissolver nossas Forças Armadas. E os militares cagões assistem a tudo, chupando o dedo.

A democracia é stalinista, com Stédile construindo o seu exército e marchando pelas estradas, à revelia do Exército brasileiro, essa massa amorfa fazendo ordem unida nos quartéis, às sete da manhã...

Após o pronunciamento do povo, no dia 15 de março, a puta democracia petista quer “diálogo”. O diálogo petista é engraçado: desde que vocês aceitam nossos termos, afinal Dilma venceu a eleição com mais de 3 milhões de votos – mais que um Uruguai – e vocês tem que nos engolir. Nossa corrupção é para o bem do país. Roubamos bastante pelo bem da Pátria, porque os pobres precisam sobreviver. Se não fizermos isso, como irão sobreviver nossos desdentados, cracudos e bandidos?

Amantes, cartões corporativos, renda no exterior, caixa dois, mal feitos, delações premiadas, operadores ocultos, contas na Suíça e em outros paraísos fiscais, socialismo de mercado, propinas nas estatais, contabilidades criativas e lavagem de dinheiro – tudo é válido para redimir nossos pobres e desvalidos. Tiramos o povinho da miséria, mas tudo tem um preço. E precisamos substituir a elite branca por nossa zelite...

Mas fizeram uma maldade conosco. O cheiro do nosso rabo, coitado, foi descoberto pela Nação. E ela, sem querer, começou a achar, meu Deus, quanta maldade!, que era otária, que estava sendo enganada. E saíram às ruas, coitadas, são alienadas...

Nós, petistas, somos putos democratas. Queremos o bem do povo. Mas é claro que o filho do Lula, a Elenice, a amante do Lula e o filho do Mercadante têm o direito de sobreviver...

Nossos amigos do PMDB devem nos encobrir para que possamos trabalhar com tranquilidade. Companheiros de viagem. Lamentamos que alguns juízes não gostem de propinas e estão atrapalhando o nosso trabalho pelo bem do país.

A democracia é uma puta. Pena que está cobrando um preço alto, que está nos atrapalhando. Como toda puta, tem taxímetro...

Vamos ter que aumentar o tamanho de nossas cuecas e tentar passar no raio X dos aeroportos... Afinal, somos PT!!!

19 de março de 2015
Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta, já meio velho mas ainda não é cagão...

EDUARDO CUNHA DESFAZ O GOLPE DO FALSO PACOTE ANTICORRUPÇÃO



Cunha vai respeitar os projetos anteriores, de autoria dos deputados

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pretende agregar ao pacote anticorrupção apresentado pela presidenta Dilma Rousseff as propostas de parlamentares que tratam do mesmo tema e já estavam em tramitação na Casa.

“Há vários projetos de lei aqui que também serão recuperados. Votaremos propostas que o governo está mandando e também propostas de iniciativa da Casa”, disse Cunha, sobre o pacote anticorrupção enviado pelo governo ao Congresso Nacional, lançado oficialmente na quarta-feira, que prevê a tipificação do crime de caixa 2 e a elaboração de um projeto de lei que institui a obrigatoriedade de ficha limpa para todos os servidores públicos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Promessa de campanha de Dilma e entregue ontem (17) ao presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), pelos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria de Relações Institucionais, Pepe Vargas, o pacote contém ainda uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para possibilitar o confisco de bens oriundos de atividade criminosa, improbidade e enriquecimento ilícito.

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NOTA DA REDAÇÃO – Eduardo portou-se educadamente, em relação ao tal pacote do Planalto, mas se manteve firme na defesa dos direitos dos parlamentares que há anos apresentaram projetos semelhantes, sem conseguirem aprovação por falta de interesse da bancada governista. Agora, não mais que de repente, como dizia Vinicius de Moraes, o governo decide ressuscitar esses projetos que desprezara. E o que é pior: por sugestão do marqueteiro João Santana, o governo tenta assumir a autoria dessas importantes propostas, que desprezou durante anos. Ah, Ataulfo Alves, o cinismo desta gente é uma arte… (C.N.)


19 de março de 2015
Luciano Nascimento
Agência Brasil

NÃO SE FAZ POLÍTICA SEM RESPEITAR O ESTADO



Muitas das críticas à política externa dos governos Dilma insistem em deixar claro que a falta de brilho de que essa política pode ser acusada deve-se ao pouco interesse da presidente da República por esse tema – “política externa”. Os recentes incidentes envolvendo a Diplomacia – que tiveram por base o não atendimento do apelo da presidente em favor de um traficante condenado à morte  pelo Governo de Jacarta – permitem que se avance na interpretação e que se chegue a afirmar, por absurdo que nos pareça, que a presidente Dilma Rousseff  a um tempo considera-se um novo Luis XIV – “o Estado sou eu” – e despreza o Estado, pouco se incomodando com o juízo que se faça do Brasil em virtude da pouca consideração que seu Governo dá às formas.

O cuidado com as formas, respeitando-as, sem dúvida é uma questão formal. É o cuidado com questões formais, não de conteúdo. A diplomacia que se consolidou ao longo dos séculos sempre cuidou delas, partindo do princípio de que quem não as respeita deixa claro que não se importa com o juízo de terceiros – o que terceiros possam pensar a respeito de quem se considere acima dessas questões.

Estados que se respeitam preocupam-se com a opinião dos demais. Governos que se respeitam e respeitam o Estado que representam timbram em respeitar as formas inclusive no momento em que as guerras as põem por terra. Grandes Estados, ao declarar guerra, mesmo que a pequenos Estados, empenham-se em que seus embaixadores comuniquem essa decisão às chancelarias enquanto o ministro das Relações Exteriores informa o embaixador do presumível inimigo que há um estado de guerra e lhe entrega o salvo-conduto para que possam, ele, sua família e seus funcionários, deixar o território nacional. Em Agosto de 1914, o Império Austro-húngaro não tinha embaixador na Sérvia, mas, para iniciar as hostilidades, comunicou por telegrama internacional ao governo sérvio que havia um estado de guerra entre os dois países.

A coerência se vê entre as formas que exigem respeito. Coerência com o poder de que o Estado dispõe e em função do qual é julgado pela comunidade internacional: uma potência média ou grande deve ter um comportamento compatível com o poder que lhe é reconhecido. O ingresso do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, na qualidade de membro permanente com poder de veto ou não, é o resultado de uma reflexão profunda sobre as posições e o comportamento do Brasil na análise das grandes questões de política externa que chegam a esse Conselho. Ao risco de ser apressado na conclusão, diria que muito do esforço feito pelo Brasil para ser admitido no Conselho de Segurança perdeu-se, não porque os grandes desconfiam das posições que o Brasil poderá assumir, mas porque não têm certeza de que o delegado brasileiro estará presente para votar “sim” ou “não” e, assim, dar quórum para validar uma decisão qualquer.

A dúvida sobre a presença do Brasil por ocasião das grandes decisões vem da análise do comportamento do chanceler brasileiro na reunião extra-conselho em que os chanceleres dos “grandes”, que haviam convocado o encontro, examinariam a questão do Oriente Médio. Para eventualmente propor uma solução. Convidado, o ministro brasileiro não compareceu, enviando seu secretário-geral para encontrar-se e discutir com os chanceleres dos “grandes”. E as formalidades…

O tratamento dispensado ao embaixador da Indonésia fecha o círculo de análises que as chancelarias estrangeiras estão, por certo, fazendo – por dever de ofício – das razões fundantes de nossa política externa. Além do que podem pensar do apoio discreto ao governo venezuelano, das restrições que não se fazem ao comportamento desse governo… para não dizer da sugestão de diálogo com o Estado Islâmico.

A ser correta a conclusão da análise – Dilma despreza o Estado e não dá importância à política externa que é do Estado e não do presidente da República – ela poderá ser estendida às questões internas. Apenas o desprezo por esta associação abrangente e coativa que chamamos de Estado permitirá compreender o comportamento da presidente da República com os “chefes de fila” da classe política, ameaçando todo o processo democrático. Sem dúvida, por isto ou aquilo, o presidente do Senado lançou o lenço no clássico desafio para um duelo a espada, sabre ou florete – para não dizer pistola que tem atuais sabor e som militares. Nesse duelo não estarão em jogo a honra e o prestígio dos disputantes, mas a sorte das instituições.

A questão que se coloca a partir da premissa de que partiu este artigo é dramaticamente simples: a presidente Dilma está pouco preocupada com a sorte das instituições. Dito de outra maneira, a forma de que se revestirá a democracia – o Estado, melhor dizendo – merece pequena ou nenhuma preocupação. E esse desleixo se deve a que ela sabe que os adversários respeitam a Constituição e o prof. Temer deverá pôr de lado por alguns meses, se é que chegou a sonhar com ela, a perspectiva do impeachment.

Em outras palavras, assim como o desastre da nossa política externa não afeta seus planos pessoais, a disputa com os presidentes do Senado e da Câmara não merece preocupação maior do que aquela que os jornais lhe dedicam.

Há, porém, outro elemento a ser considerado: apesar do desprezo que Dilma possa ter por ele, o Estado brasileiro teima em existir. E a guerra de defesa contra seus credores atuais e futuros exige que as finanças estejam em ordem – pois não se faz boa guerra sem finanças públicas em ordem. A disputa com Renan poderá inviabilizar as Medidas Provisórias como instrumento para salvar as finanças do Estado.

A oposição ao apoiar Renan não se deu conta desse pormenor. Que de menor tem pouca coisa, pois seus efeitos serão os de um terremoto…

19 de março de 2015
Oliveiros S. Ferreira é Jornalista e Cientista Político. Originalmente publicado no site do autor: "Pensar & Repensar" em 13 de março de 2015.

ENTRE A RENÚNCIA E A GUERRA CIVIL



Os assaltantes dos cofres públicos nacionais carregam tudo de forma acintosa, pois entendem que são inalcançáveis pelo Poder Judiciário e estão acima de qualquer norma, força ou poder. Quando o ex-ministro chefe da Casa Civil Zé Dirceu foi condenado no mensalão, chegou ao presídio da Papuda erguendo o braço em saudação socialista e alardeando ter sido sentenciado injustamente, coitado! O seu superior no esquema, Lula da Silva, o Lularápio, ofereceu várias versões sobre o caso.

Primeiro, ele disse numa entrevista “arranjada” em Paris que havia sido traído, sem apontar nome de quem quer que fosse. Lularápio também abraçou a hipótese de Caixa Dois, garantindo que o PT fizera o que todos os demais partidos fazem. Mais tarde, Lularápio passou a negar que o mensalão tivesse existido e afirmou que iria passar a maior parte de seu tempo, depois de sair da Presidência, buscando provas de que o mensalão havia sido uma invenção.

No meio do caminho, quando o julgamento se aproximava, houve o escândalo do encontro do ex-presidente com o ministro (STF), Gilmar Mendes, em que Lularápio tentou chantagear sua excelência para que “afrouxasse” na decisão de condenar os seus cúmplices envolvidos. Quem pior se saiu no julgamento foi o “empresário” mineiro Marcos Valério, transformado em bode expiatório, hoje cumprindo pena de mais de 30 anos, pressionado e molestado na prisão, segundo vaza na imprensa vez por outra.

Agora, no episódio do petrolão, o mesmo esquema criminoso arruinou a estatal brasileira do petróleo, jogando-a literalmente no lixo. A composição do STF mudou, entrando dois novos ministros: Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso. Mas mesmo assim vai ficar difícil livrar a cara dos ladrões do dinheiro público, comandados a partir da Presidência da República, porque a crise alcançou dimensão internacional. Quem não se lembra do então candidato, hoje ministro Luís Roberto Barroso?

No Senado, ao ser sabatinado, ele declarou que o mensalão fora “um ponto fora da curva”, deixando implícito que a condenação dos ladrões do dinheiro público, ação conduzida pelo relator do processo, Joaquim Barbosa, havia sido injusta! Funcionou como espécie de sinal verde para os que estavam assaltando a Petrobras e destruindo seu valor de mercado. Prática criminosa liderada pelo ex-presidente da República Lula da Silva. Vergonha inominável, motivo de chacota mundial.

No acúmulo de toda essa gatunagem, que vem se ampliando há séculos (desde a descoberta do Brasil), mas que alcançou volume inacreditável na gestão petista, o Brasil mergulhou numa crise político-social que espera agora um gesto de nobreza por parte de quem nunca assim se apresentou ou demonstrou possuir, Dilma Roussef. Ela deve renunciar à Presidência da República. Estamos na iminência de ruptura institucional de gravíssimas consequências. A presidente não tem mais condições de governar!

Aliás, governar é o que nunca fez, porque despreparada, semialfabetizada, descoordenada intelectualmente e carente de qualquer recurso ou habilidade para o trato político. Se continuar insistindo em permanecer num cargo que não tem como preencher, Dilma irá empurrar o país para a guerra civil ou será afastada militarmente para que a ordem seja restabelecida. Não que se pregue intervenção militar. Mas as Forças Armadas têm de agir constitucionalmente e já!

O cenário atual expõe o seguinte: a qualquer Cidade que a presidente vá, será vaiada. Quando aparecer na Televisão, começará um panelaço, pois se alcançou inequívoco ponto de saturação. Ela não tem mais como reverter a situação porque o quadro econômico só tende a piorar. A crise é mundial, mas foram as medidas tomadas por Lula e Dilma que precipitaram o caos. Só lhe resta renunciar e deixar-nos em paz.

19 de março de 2015
Márcio Accioly é Jornalista.