O inferno político da presidente Dilma Rousseff tem camadas sobrepostas que se abrem a cada dia. Ontem, com apenas 77 dias no cargo, ela foi obrigada a demitir o ministro da Educação, Cid Gomes, que reafirmou, no plenário da Câmara, as acusações feitas há duas semanas de que existem integrantes da base aliada que votam contra o governo para achacar o Planalto. O PMDB pediu a cabeça de Cid em uma bandeja. Fragilizado, o Planalto teve que entregá-la.
Para piorar, quem comunicou a decisão ao país foi o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apontado por Cid como um dos achacadores. O governo temia que Cunha se vingasse na votação sobre as novas regras de correção do salário mínimo, que acabou adiada para a semana que vem.
O atual secretário executivo do Ministério da Educação, Luiz Cláudio Costa, assume interinamente a pasta. Abre-se, então, a bolsa de apostas pela sucessão. O PT defende que Dilma desloque o ainda protegido Aloizio Mercadante, mas desgastado no papel de articulador político, para o MEC e nomeie Jaques Wagner para a Casa Civil. A outra saída seria entregar para o PMDB um dos maiores orçamentos da Esplanada. Nesse caso, dois nomes aparecem como possibilidades. Gastão Vieira, ex-ministro do Turismo e ligado ao ex-senador José Sarney, e o deputado Saraiva Felipe (PMDB-MG), presidente da comissão de Educação e ex-ministro da Saúde durante o governo Lula.
DESFECHO TRÁGICO
O Planalto temia o desfecho trágico havia dias. Já pedira a Cid, titular da pasta com o mote do segundo mandato presidencial — “Brasil, pátria educadora” —, que recuasse das declarações dadas durante palestra para estudantes na Universidade Federal do Pará de que existiriam de 300 a 400 achacadores no Congresso. Ele não recuou.
“Alguns querem criar dificuldades para conseguir mais um ministério. Eu estarei mentindo, se assim o disser? Por exemplo, tinha um que só tinha cinco. Criou dificuldades, criou empecilhos e conquistou o sexto. Agora, quer o sétimo. Vai querer o oitavo. Vai querer a Presidência da República, e isso é disputa de poder até certo ponto”, disse ele, referindo-se ao PMDB.
“Quem é da situação deve votar com a situação. Desculpe-me a oposição, que exerce o seu papel. Mas eu não posso chegar aqui e dizer que eu não disse o que eu disse”. Ele levou uma claque composta por deputados estaduais, vereadores, líderes comunitários e comissionados do MEC, que foi expulsa do plenário por Cunha. Cid ainda apontou o dedo para o presidente da Casa. “Disseram que eu era mal-educado. É melhor ser chamado de mal-educado do que de achacador, como o senhor.”
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NOTA DA REDAÇÃO - A presidente imediatamente ligou para Eduardo Cunha e anunciou que iria demitir Cid Gomes, que estava a caminho do Planalto. Antes que ela dissesse qualquer coisa, o próprio Cid se demitiu. E lá vai o Brasil, descendo a ladeira… (C.N.)
19 de março de 2015
Deu no Correio Braziliense
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