"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 19 de março de 2015

COMEÇA EM MIM A REFORMA POLÍTICA



Povo brasileiro? Há muitos. Quem o evoca talha-o ao gosto de sua conveniência. O governo trabalha por seu povo, a oposição representa o dela, eu imagino um, você vislumbra outro. Curioso mesmo é mencionar um povo externo a nós, aquele que está da porta para fora. E, afinal, qual é o “povo brasileiro” que saiu às ruas no domingo para protestar?
Como o alvo preferencial em questão era o governo Executivo federal, os organizadores das passeatas e os líderes de PSDB, DEM e afins prontificaram-se a dizer que a massa de indignados constituiu a “mais completa tradução” do povo brasileiro. Para os ministros-para-choque da presidente, conforme entrevista concedida à noite, aqueles eram só uma parte do todo. Como também convém traduzi-lo em números, para as PMs, ele tem um tamanho, dito oficial, mas há controvérsias: um lado estica a conta, o outro retrai.
Por cima dessa celeuma quase estéril, mas autointeressada, a pergunta persiste: o povo brasileiro foi às ruas anteontem? A resposta é sim e não. Os 2 milhões (mais ou menos esse valor) têm o mesmo perfil daqueles manifestantes de junho de 2013? Parecem-se mais com os eleitores que garantiram a Dilma um segundo mandato ou com os que se frustraram com a derrota de Aécio? Pesquisadores das humanas foram às ruas também e devem, em breve, publicar um desenho mais preciso de rosto dos manifestantes.
Fato é, contudo, que algumas “bandeiras” saltaram aos ouvidos e aos olhos. O desejo suprassumo é o de extração definitiva da corrupção dos negócios públicos. E a solução para isso, expressa de forma quase uníssona, seria a destituição da atual chefe do poder Executivo federal, eleita democraticamente em outubro último. Outros tantos clamaram, em todos os atos, pela intervenção militar. Logo, esse “povo das ruas” entende que a saída de Dilma e de seu partido, o PT, extinguiria em definitivo a improbidade na administração pública, porquanto corrupção não existiu nos 21 anos de regime militar.
MILITAR PELA REFORMA
Há quem aderiu à marcha só para militar (sem trocadilho) pela reforma política e por mais moralidade e, portanto, discorda de impeachment ou golpe “reloaded”? Decerto, mas diga-me ao lado de quem protestas e eu te direi quem és. O sujeito que divide jornada com golpistas e fascistas de gosto ou autoengano talvez precise repensar se pretende retirar da gaveta, outra vez, a camisa da CBF fedida a naftalina desde os 7 x 1.
Faço meu o chamamento do colunista Luiz Tito, que, também neste espaço, alertou para a responsabilidade de cada cidadão nos desmandos presentes. Claro, o povo é todo mundo, e de nada servirá tirar da cadeira a presidente, que também é povo, se eu não mudar o que sou na relação com meus familiares, meus vizinhos, meus colegas de trabalho, meus concidadãos, enfim. A reforma política começa é na autorreflexão, na busca pelo gesto mais ético e justo com o meu próximo. É por meio desse exercício cotidiano, desse hábito cívico inamovível que nós, povo brasileiro, compreenderemos melhor a nós mesmos, a nossa história e as nossas necessidades.

19 de março de 2015
João Gualberto Jr.

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