Vestido em pele de cordeiro, mas com uma faca afiada na ponta dos dentes, e outra na bainha, amarrada à cintura, o ex-presidente Lula desembarcou em Salvador na quinta-feira (22). Escala estratégica na sua mais nova andança pelo Nordeste. Na terra em que diz ter nascido em outra encarnação e onde proclama sentir-se sempre "à vontade”, chegou desta vez para "passar dois ou três dias”, com toda pinta de eminência parda do governo.
A tiracolo (física ou virtualmente), Lula carrega o "galego” Jaques Wagner, um dos donos do poder local (as chaves do Palácio de Ondina nas mãos amigas e obedientes do governador Rui Costa), novo ministro-chefe da Casa Civil do governo, que ele plantou no lugar de Aloízio Mercadante, quase na porta do gabinete de Dilma Rousseff, a mandatária no Palácio do Planalto.
Os petistas locais e seus acólitos, em alvoroço, anunciam que duas "agendas” trazem o ex-presidente, fundador do PT, à Bahia. A primeira marcadamente política: discutir a "conjuntura nacional”, com a participação de seleto grupo de "mangangões” petistas (na melhor expressão soteropolitana para definir poderosos da vez) e seus mais fiéis aliados e linhas auxiliares. Tarefa cumprida já na terça-feira de intensa movimentação nas dependências do Hotel Sheraton - Salvador, localizado na histórica e simbólica Praça do Campo Grande, dos feitos do 2 de Julho, e do cerco rompido pelo bravo Ulysses Guimarães no tempo da ditadura, no centro da capital.
Adianta a Tribuna da Bahia: o ex-presidente Lula está viajando no Nordeste em uma missão que busca resgatar a sua imagem popularesca e alavancar o governo petista que se encontra imerso em uma onda de elementos negativos”. É significativo, mas pouco para expressar os palpos de aranha em que – desde o Mensalão, mas principalmente a partir da Lava Jato, andam imersos o PT e alguns de seus nomes referenciais, o governo Dilma Rousseff, e o próprio presidente Lula e alguns de seus entes mais próximos, nos âmbitos público e privado. Na segunda "agenda”, na sexta-feira (23) e hoje (24), consta a reunião-debate com "educadores e dirigentes de organizações sociais” (petistas e aliados, evidentemente), sobre o Plano Nacional de Educação (PN E) e o futuro errante do programa Pátria Educadora, invenção marqueteira e improvisada do segundo mandato do governo Dilma. Pano de fundo, mal disfarçado, para tentar acordar a combalida e desmotivada militância para "uma nova posição de guerra e combates”. "Uma luta política, uma luta ideológica, que é a disputa pela opinião pública”, resumem em conjunto o deputado Afonso Florence e o veterano sociólogo da UFBA, Joviniano Neto, na Tribuna da Bahia.
Acompanho a uma distância segura a movimentação. Sinto a estranha sensação de que está em preparo (no âmbito da política local, nacional e do PT) uma daquelas paneladas de caranguejos cozidos, à moda da casa tão frequentada pelo ex-presidente. Nos moldes antigos e ritos semelhantes aos que empregava minha saudosa tia Silô, eximia cozinheira em Terra Nova (na época distrito de Santo Amaro da Purificação), na incrível panelada que ela costumava preparar e servia nos fins de semana, quando eu era garoto e estudava no Recôncavo.
Ritual de extremos, que mistura perversidade e prazer.
Vejo o vai e vem nervoso e eufórico, ao mesmo tempo, dos petistas nas horas que antecedem a "panelada” com o "chef”. Macaco velho de outros eventos do tipo, percebo a grande preocupação dos organizadores em afastar das imediações do Sheraton - Bahia elementos indesejados: repórteres interessados em fuçar informações de bastidores, curiosos desconhecidos e, principalmente, a possibilidade do Pixuleco - incômodo boneco inflável de Lula vestido de presidiário e o carimbo infamante 13-171 pregado no peito -, surgir outra vez de surpresa nos céus de Salvador, a exemplo de acontecido na véspera, na passagem por Teresina e Natal.
Recordo então de quando era tirado da cama bem cedinho, em Terra Nova, para acompanhar minha tia na caminhada até o braço de mar santamarense, em área de manguezal. Íamos comprar as cordas de "gordos guaiamuns, vivinhos. Retirados da lama na hora, pelas marisqueiras do lugar. Mais tarde, em casa, na grande panela de água fervente, no fogão, os caranguejos eram jogados dentro, se estrebuchando de dor e sofrimento até o suspiro final, se é que esta expressão dos humanos cabe neste caso.
Uma cena inesquecível aos olhos do menino perto de completar 10 anos de idade, que precedia as delícias do baticum à mesa, na hora de saborear a bem temperada e deliciosa caranguejada de dona Tarsila, a tia Silô.
Na caldeirada" servida neste fim de semana, em Salvador, há quem jure ter visto boiando na panela fervente de Lula, no Sheraton, os cariocas ministro da Fazenda, Joaquim Levy e Eduardo Cunha, presidente da Câmara, além dos baianos ACM Neto, do DEM (prefeito de Salvador em disparada na preferência popular para a reeleição ano que vem, pedra no sapato petista), o deputado Lúcio Vieira Lima e seu irmão Geddel (ex-ministro de Lula), incômodos (para o PT) condutores do PMDB no estado. Há quem tenha visto na fervura da panela, também, a presidente Dilma, mas isso pode ter sido mera ilusão de ótica. A conferir.
25 de outubro de 2015
Vitor Hugo Soares
A tiracolo (física ou virtualmente), Lula carrega o "galego” Jaques Wagner, um dos donos do poder local (as chaves do Palácio de Ondina nas mãos amigas e obedientes do governador Rui Costa), novo ministro-chefe da Casa Civil do governo, que ele plantou no lugar de Aloízio Mercadante, quase na porta do gabinete de Dilma Rousseff, a mandatária no Palácio do Planalto.
Os petistas locais e seus acólitos, em alvoroço, anunciam que duas "agendas” trazem o ex-presidente, fundador do PT, à Bahia. A primeira marcadamente política: discutir a "conjuntura nacional”, com a participação de seleto grupo de "mangangões” petistas (na melhor expressão soteropolitana para definir poderosos da vez) e seus mais fiéis aliados e linhas auxiliares. Tarefa cumprida já na terça-feira de intensa movimentação nas dependências do Hotel Sheraton - Salvador, localizado na histórica e simbólica Praça do Campo Grande, dos feitos do 2 de Julho, e do cerco rompido pelo bravo Ulysses Guimarães no tempo da ditadura, no centro da capital.
Adianta a Tribuna da Bahia: o ex-presidente Lula está viajando no Nordeste em uma missão que busca resgatar a sua imagem popularesca e alavancar o governo petista que se encontra imerso em uma onda de elementos negativos”. É significativo, mas pouco para expressar os palpos de aranha em que – desde o Mensalão, mas principalmente a partir da Lava Jato, andam imersos o PT e alguns de seus nomes referenciais, o governo Dilma Rousseff, e o próprio presidente Lula e alguns de seus entes mais próximos, nos âmbitos público e privado. Na segunda "agenda”, na sexta-feira (23) e hoje (24), consta a reunião-debate com "educadores e dirigentes de organizações sociais” (petistas e aliados, evidentemente), sobre o Plano Nacional de Educação (PN E) e o futuro errante do programa Pátria Educadora, invenção marqueteira e improvisada do segundo mandato do governo Dilma. Pano de fundo, mal disfarçado, para tentar acordar a combalida e desmotivada militância para "uma nova posição de guerra e combates”. "Uma luta política, uma luta ideológica, que é a disputa pela opinião pública”, resumem em conjunto o deputado Afonso Florence e o veterano sociólogo da UFBA, Joviniano Neto, na Tribuna da Bahia.
Acompanho a uma distância segura a movimentação. Sinto a estranha sensação de que está em preparo (no âmbito da política local, nacional e do PT) uma daquelas paneladas de caranguejos cozidos, à moda da casa tão frequentada pelo ex-presidente. Nos moldes antigos e ritos semelhantes aos que empregava minha saudosa tia Silô, eximia cozinheira em Terra Nova (na época distrito de Santo Amaro da Purificação), na incrível panelada que ela costumava preparar e servia nos fins de semana, quando eu era garoto e estudava no Recôncavo.
Ritual de extremos, que mistura perversidade e prazer.
Vejo o vai e vem nervoso e eufórico, ao mesmo tempo, dos petistas nas horas que antecedem a "panelada” com o "chef”. Macaco velho de outros eventos do tipo, percebo a grande preocupação dos organizadores em afastar das imediações do Sheraton - Bahia elementos indesejados: repórteres interessados em fuçar informações de bastidores, curiosos desconhecidos e, principalmente, a possibilidade do Pixuleco - incômodo boneco inflável de Lula vestido de presidiário e o carimbo infamante 13-171 pregado no peito -, surgir outra vez de surpresa nos céus de Salvador, a exemplo de acontecido na véspera, na passagem por Teresina e Natal.
Recordo então de quando era tirado da cama bem cedinho, em Terra Nova, para acompanhar minha tia na caminhada até o braço de mar santamarense, em área de manguezal. Íamos comprar as cordas de "gordos guaiamuns, vivinhos. Retirados da lama na hora, pelas marisqueiras do lugar. Mais tarde, em casa, na grande panela de água fervente, no fogão, os caranguejos eram jogados dentro, se estrebuchando de dor e sofrimento até o suspiro final, se é que esta expressão dos humanos cabe neste caso.
Uma cena inesquecível aos olhos do menino perto de completar 10 anos de idade, que precedia as delícias do baticum à mesa, na hora de saborear a bem temperada e deliciosa caranguejada de dona Tarsila, a tia Silô.
Na caldeirada" servida neste fim de semana, em Salvador, há quem jure ter visto boiando na panela fervente de Lula, no Sheraton, os cariocas ministro da Fazenda, Joaquim Levy e Eduardo Cunha, presidente da Câmara, além dos baianos ACM Neto, do DEM (prefeito de Salvador em disparada na preferência popular para a reeleição ano que vem, pedra no sapato petista), o deputado Lúcio Vieira Lima e seu irmão Geddel (ex-ministro de Lula), incômodos (para o PT) condutores do PMDB no estado. Há quem tenha visto na fervura da panela, também, a presidente Dilma, mas isso pode ter sido mera ilusão de ótica. A conferir.
25 de outubro de 2015
Vitor Hugo Soares