"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 13 de março de 2016

NOVE HOMENS E NENHUM SEGREDO

Um jantar de nove homens, na quarta, selou a reaproximação das bancadas de PMDB e PSDB no Senado. O assunto à mesa não era segredo: a busca de um acordo para derrubar Dilma Rousseff.

O repasto foi servido no apartamento do senador Tasso Jereissati. Do lado tucano, compareceram os ex-presidenciáveis José Serra e Aécio Neves. Do peemedebista, a estrela foi o senador Renan Calheiros.

Os dois partidos discutiram os cenários que poderiam levar à saída da presidente antes das eleições de 2018. Ainda não há um acordo definitivo porque ninguém quer abrir mão de comandar o novo regime.

O PMDB defende o impeachment, que entregaria a Presidência ao vice Michel Temer. O PSDB sonha com eleições antecipadas. Apesar da divergência nos métodos, os dois partidos se uniram no essencial: a promessa de partilhar o poder futuro.

"Vamos trabalhar juntos para encontrar uma saída para a crise", declarou Tasso após a sobremesa. "Não viemos aqui derrubar o governo Dilma. Viemos buscar uma saída para a crise", emendou o líder do PMDB, Eunício Oliveira. Na primeira frase dele, acredita quem quiser.

O pacto PMDB-PSDB reprisa a velha tradição brasileira da transição conservadora, comandada por poucos. Como sempre, os tradicionais detentores do poder articulam a conciliação para melhor ocupá-lo.

Até aí, não há novidade. Mas o jantar assustou o governo por causa da presença de Renan, que atuava como fiador de Dilma e se recusava a discutir a deposição da presidente.

O presidente do Senado é investigado em nada menos que cinco inquéritos da Lava Jato. Agora virou a noiva cortejada pelo PSDB, que está convocando eleitores para protestar contra a corrupção no domingo.



13 de março de 2016
Bernardo Mello Franco - Folha de São Paulo

O FETICHE DAS RUAS

É da natureza política o dualismo entre jogos de sombra e arroubos públicos. Neste ocaso do PT no poder, vivemos a combinação dos fatores sob um véu de ironias.

Uma das maiores é a dinâmica entre Lula e Dilma. A história é rica em tensões que deságuam no momento em que o "golem" se volta contra o rabino criador, ou vice-versa. Isso foi insinuado algumas vezes, mas agora a união ganhou conotação fatalista. Se a petista (sic, né?) estava confortável em sua queda com Eduardo Cunha, hoje só tem o padrinho.

A presidente assiste impotente à montagem de alternativas a seu governo, com ela no cargo ou não. O show deste sábado na convenção do PMDB será apenas uma faceta pública do acordão que buscam forças de resto sob a espada da Lava Jato.

Restou o insano plano de trazer Lula para o governo, uma confissão de culpa para o petista, mas talvez o único choque capaz de fazer o cadáver chacoalhar por uns meses. Se o defunto levantaria, parece improvável, mas estamos no Brasil.

A questão maior para o PT é que a Lava Jato avança a passos largos, e nunca esteve tão próxima do centro do poder. Aqueles que gritam por isonomia cega fingem ignorar quem segura a caneta há 13 anos.

E há o fetiche das ruas. Não estamos em 1992, quando havia um clima de vigília pela saída de Collor com grupos menores; nosso mundo de rede sociais privilegia atos esporádicos e números que virem rankings.

Parece tolo, mas a precariedade dos arranjos é tal que todos os olhos estão voltados para o domingo. A crise não irá acabar de uma vez, salvo eventos excepcionais. Já o fetiche será instrumentalizado de lado a lado.

Quase não há ninguém na política e no PIB que não veja um ato estrondoso como senha do desenrolar do novelo; já foi assim em 2015, não custa lembrar. Mas do lado do governo, afora alguma animação militante com o esdrúxulo pedido de prisão de Lula, só restou torcida silenciosa.



13 de março de 2016
Igor Gielow, Folha de São Paulo

CHEGOU A HORA DE DIZER: BASTA!!!

A maioria dos brasileiros, conforme atestam há tempos as pesquisas de opinião, exige que a petista Dilma Rousseff deixe a Presidência da República. A oportunidade de expressar concretamente essa demanda e, assim, impulsionar a máquina institucional responsável por destituí-la, conforme prevê a Constituição, será oferecida hoje, nas manifestações populares programadas Brasil afora. Chegou a hora de os brasileiros de bem, exaustos diante de uma presidente que não honra o cargo que ocupa e que hoje é o principal entrave para a recuperação nacional, dizerem em uma só voz, em alto e bom som: basta!

Que as famílias indignadas com a crise moral representada por esse desgoverno não se deixem intimidar pelo rosnar da matilha de petistas e agregados, cujo único interesse na manutenção de Dilma na Presidência é preservar a boquinha à qual se habituaram desde que o PT chegou ao poder.

Essa turma é hoje minoritária, quase marginal, totalmente destituída da força que um dia teve, quando seduzia a parte ingênua da opinião pública nacional com a promessa de um governo de vestais, empenhado apenas em promover a justiça social. Como essa farsa foi desmascarada pelos fatos – o Brasil se viu mergulhado em escândalos inéditos em sua história e o desastre do governo Dilma transformou o sonho do fim da pobreza no pesadelo da década perdida –, restou aos petistas insinuarem que os cidadãos comuns, aqueles que não se organizam em sindicatos ou “movimentos sociais” destinados, por incrível que pareça, a defender privilégios, correm algum risco se forem às ruas.

Já faz tempo que, ao farejar o fim dessa era de privilégios, a tigrada lançou no ar suas ameaças, com a pretensão de se impor pela força, já que pela razão não era mais possível. Em fevereiro de 2015, o chefão petista, Luiz Inácio Lula da Silva, se disse pronto para a “briga” e invocou o “exército do Stédile”, em referência ao raivoso líder do MST. Depois, em agosto, em pleno Palácio do Planalto, sob o olhar cúmplice de Dilma, o presidente da CUT, Vagner Freitas, pediu a seus colegas sindicalistas e assemelhados – essa turma de boas-vidas alimentados pelo trabalho alheio – que saíssem às ruas “entrincheirados, com armas na mão, se tentarem derrubar a presidente”. Agora, encurralado pela Justiça, Lula tornou a arrotar suas ameaças, que encontram eco nos ouvidos de um número cada vez mais reduzido de seguidores, desesperados para ter algo em que se agarrar diante do esboroamento do poder petista.

Já ficou claro, no entanto, que esse punhado de irresponsáveis nada pode contra a maioria dos brasileiros honestos. Suas bravatas destemperadas nada são diante da resolução do povo, agora mais do que nunca convencido de que o País não suporta mais tanta corrupção e tanta incompetência. Já em seu primeiro mandato Dilma havia revelado, para quem quisesse ver, toda a sua incapacidade de governar. Mesmo assim, graças a uma campanha eleitoral baseada no medo e em mentiras de todo tipo, Dilma conseguiu se reeleger – para levar o País a um dos mais calamitosos períodos recessivos de sua história e a uma aguda crise política e moral.

Sem nenhuma vocação nem para a política nem para a administração, Dilma não teve forças para resistir ao sequestro de seu governo por oportunistas de variados naipes. É a eles que o País está entregue hoje e é contra eles todos – Dilma, Lula e os demais condôminos desse indecente edifício construído à base de corrupção e de mentiras nos últimos 13 anos – que os brasileiros erguerão hoje sua voz nas ruas.

Tudo isso poderia ter sido evitado se Dilma tivesse tido a grandeza de renunciar ao cargo. Na undécima hora, ela enfim revelaria algum traço da estadista que Lula prometeu para o País. Esse gesto serviria para evitar o sempre traumático impeachment, agora praticamente inevitável, e aceleraria a urgentíssima transição para um governo munido da legitimidade indispensável para reunificar o País e conduzi-lo para longe da tormenta. Mas já ficou reiteradamente claro que Dilma, Lula e os petistas são incapazes de pensar senão em salvar seus mesquinhos interesses, além da própria pele. Diante disso, resta aos cidadãos brasileiros mostrarem seu poder, proclamando, inequivocamente, que não admitem mais que o lulopetismo, desonesto e incompetente, continue encastelado no governo.



13 de março de 2016
Editorial Estadão

LÁ DAS BANDAS DO SANATÓRIO...


INDA QUE MAL PERGUNTE...
Lula não foi às manifestações de rua neste domingo, por que: 1) por que é pela queda da Dilma, mas não pode se queimar? 2) Lula é a favor que Dilma fique e se queime; 3) foi passear no sítio em Atibaia; 4) foi visitar o triplex no Guarujá, pois considera refazer o negócio; 5) não sabia que era dia de manifestações; 6) ficou em casa descansando, anda pensando em abandonar a política.

MANIFESTAÇÃO PETISTA
Nunca antes na história desse país houve uma manifestação de rua com tamanha, tão expressiva e numerosa adesão do PT. Foram dezenas de dezenas de milhões de petistas que ficaram em casa assistindo TV, brincando com os filhos, fazendo trabalhos manuais, fazendo um churrasquinho de coxinhas de galinha... Que bonito. Até que enfim. PT unido jamais será vencido!

A PROVA
Dados absolutamente científicos comprovam: não houve um só petista infiltrado em nenhuma das manifestações de rua que se espalharam hoje pelo país. Em nenhum momento, em nenhum canto, em nenhum carro de som, em nenhum coletivo urbano se viu ou se teve notícia de um só sanduba de mortadela.

NADA É PIOR

No auge dos estertores a esgotosfera ainda tenta uma última lavagem cerebral no inconsciente coletivo: "Lembre-se: as alternativas são piores que Dilma". Tentou mal. Todas as alternativas podem ser ruins - de Temer a Cunha, de Cunha a Renan, de Renan a Lewandowski ou a Tiririca e daí até ao Aécio ou a Marina - mas nada, nem nenhuma delas é pior do que Dilma. E olha que a gente nem falou no Lula... É que ele é hours concours. Única alternativa que pode dar razão à esgotosfera.

XI JINPING BRASILEIRO
Michel Temer foi reconduzido à presidência do PMDB com 96% dos votos. Credo, isso até parece eleição na China. O Michel Temer é o Xi Jinping da politiquice brasileira. Traduzindo para o português politicário nacional, Temer o Xi Xipinga do PMDB.

PUNIÇÃO
Se quiserem saber, eu já me dou por satisfeito pelo que a Lava Jato já fez com Lula. Sua pena já começou há bom tempo. Fazer dinheiro para o Lula não foi problema; o problema agora é ele poder desfrutar.

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO
Sei lá, mas tenho a impressão de que, ultimamente, ando percebendo no semblante do Lula e de sua pandilha em certo do ar de quem sente que tudo está perdido. Menos a indignidade.

STATUS DE ENTRAR PARA A HISTÓRIA

Digam lá o que quiserem, pensem o que pensarem, mas apesar daquele estampido que tirou Getúlio da vida e o botou na História; da morte alaranjada de Costa e Silva; daquele desastre aéreo de Castello Branco; daquele passamento castelhano de Jango; do acidente que matou o motorista errado de JK; daquela diverticulite repentina de Tancredo Neves, continuo achando que o Brasil ainda não teve nenhum presidente com status à altura de morrer assassinado.

INFLAÇÃO OTIMISTA
Com que ar de enfado e banalidade o governo Dilma e seus magos da economia olham a inflação que aí está. Para eles, você não pode comprar agora todas aquelas coisas que você não podia comprar antes. É que agora tudo vale muito mais. Para eles, isso conta ponto a seu favor.

VIDA SOCIAL EM BRASILIA

Sempre achei essa Dilma uma chata de galocha. Numa única vez em que estive nos mesmos salões de uma solenidade palaciana em que ela se encontrava, simplesmente fingi que ela não me conhecia...

SEJA MACHO
A literatura poética está cansada de cantar e comprovar que o homem é fascinado por estrelas cadentes. Agora, vá dizer isso para um petista lulático que você vai ver só o que acontece.

DEMOCRACIA CARA

Olhando a gandaia frouxa que corre nessa democracia de gabinete e de gaveteiros que roubam e deixam roubar, já tem gente achando a ditadura o maior barato.

LEALDADE LULODILMÁTICA

E assim é que Lula não abandona Dilma nem mesmo nessa situação terrivelmente embaraçosa e comprometedora... Criada por ela mesma. E vice versa.

POLITICALHA
E então lá se foi a grande convenção do PMDB. Tão boa e imaculada que seus nobres representantes no Congresso, Renan Calheiros - presidente do Senadoe Eduardo Cunha, presidente da Câmara não tugiram nem mugiram. Suas vozes estão soterradas por quilos de graves denúncias de corrupção e outros delitos da mesma espécie. Resultado mais nobre e varonil do encontro: os filiados estão proibidos de aceitar cargos. Mas é só pelos próximos 30 dias. Um mês de honestidade de propósitos. Ué... E agente pensava que o PT é que estava acabando. O que é o PMDB passando um mês nesse país sem pegar uma boca rica?

PERSEGUIÇÃO
Rodrigo Janot pediu a abertura do 7° inquérito contra Renan Calheiros. Sabe como é, fim de semana, nada para fazer, pensa daqui, pensa dali... Em vez de fazer uma visitinha pro compadre, Janot resolveu praticar o seu esporte preferido: cutucar o ilibado antagonista. Pobre Renan, anda quase que tão perseguido quanto o coitado do Lula.

BASTA ENQUADRAR

Ei, você aí que teve o desprazer de ver e de ouvir Dilma Coração Estarrecido baixando a lenha na Polícia federal, no Ministério Público e na Vara do juiz Sérgio Moro,por causa do que ela chama de "absurda e exagerada condução coercitiva" do digníssimo ex-presidente Lula da Silva... Preste atenção nisso aqui. E depois me diga, por que Dilma Coração Desaforado não foi enquadrada na lei por defender um suspeito de ser mafioso? Leggere è la lettura che ti fa bene:


DECRETO Nº 4.081, DE 11 DE JANEIRO DE 2002


Institui o Código de Conduta Ética dos Agentes Públicos em exercício na Presidência e Vice-Presidência da República.


O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, alínea "a", da Constituição...

Art. 6o É vedado ao agente público opinar publicamente:

I - contra a honorabilidade e o desempenho funcional de outro agente público ou empregado público, independentemente da esfera de Poder ou de governo; e

II - a respeito do mérito de questão que lhe será submetida para apreciação ou decisão individual ou em órgão colegiado.




13 de março de 2016
sanatório da notícia

DENÚNCIA COMPARTILHE ESSE VÍDEO

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11 horas atrás - Vídeo enviado por Bola Na Rede
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13 de março de 2016
MOVCC

CORRUPTOS E CORRUPTORES

Na confusão do pedido de prisão preventiva do ex-presidente Lula, que não tem prazo para ser analisado pela juíza encarregada do caso, outra notícia passou quase despercebida pela opinião pública nesta quinta-feira (10).

O STF perdoou o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, que foi beneficiado por um indulto de Dilma no Natal. Apenas dois anos após o fim julgamento do mensalão, Cunha é um homem livre. E vai apenas puxar a fila.

Devem receber o mesmo tratamento do STF os ex-deputados Waldemar Costa Neto, Bispo Rodrigues, Romeu Queiroz, Pedro Henry, Roberto Jefferson e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Sores. O ex-ministro José Dirceu não terá direito ao perdão, porque foi preso novamente, dessa vez por corrupção na Petrobras.

Todos os políticos envolvidos no mensalão foram direto para o regime semiaberto (trabalhar fora e dormir na prisão) por terem sido condenados a menos de 8 anos.
Em cerca de um ano, mudaram para o regime aberto, cuja pena é cumprida na própria residência. Ou seja, sem desprezo pelos problemas em suas vidas particulares, nenhum deles amargou anos na cadeia como acontece com o brasileiro comum.

Na época, foi criticada a diferença entre as penas aplicadas aos políticos e aos empresários ou operadores do mensalão. Exemplos: Marcos Valério foi condenado a 37 anos de prisão e a banqueira Kátia Rabello a 14 anos. Kátia conseguiu o regime semiaberto no fim do ano passado, depois de dois anos trancada na prisão; Valério continua atrás das grades.

Essa desproporção deve ser discutida, mas certamente o rigor da punição aos corruptores do mensalão colabora para as dezenas de delações premiadas do Petrolão. Ninguém quer ser o "novo" Marcos Valério.

Muitos delatores da Lava Jato são alguns dos maiores corruptores da história do Brasil: os empreiteiros. Um dos mais importantes méritos da Lava Jato foi ter atingido esse setor, que esteve envolvido em diversos escândalos e sempre escapou ileso.

Dessa vez, foi diferente. Marcelo Odebrecht, comandante da Odebrecht, foi condenado a mais 19 anos pelo juiz Sérgio Moro e já está atrás das grades há meses. As penas de Léo Pinheiro, da OAS, e de Dalton Avancini, da Camargo Correa, chegaram a 16 anos e 15 anos, respectivamente.

Com exceção de Odebrecht, Avancini, Pinheiro e vários outros estão em prisão domiciliar, com tornozeleira ou não, porque delataram seus parceiros no crime. Não vai demorar para serem considerados totalmente livres.

A Operação Lava Jato devastou seus negócios, mas continuam sendo homens ricos que passarão o resto da vida, na pior das hipóteses, em suas belas mansões e casas de praia.

É preciso reconhecer que, sem as delações premiadas, não seria possível desvendar esse vasto esquema de corrupção e nem chegar aos políticos beneficiados, que estão sendo investigados em Brasília por terem fórum privilegiado. E é aí que mora o perigo.

Com exceção do ex-presidente Lula, que, por enquanto, não tem cargo público, e, por isso, vem sendo pressionado - corretamente ou não - pelos ministérios públicos de Curitiba e São Paulo, nada parece acontecer com a maioria dos políticos envolvidos no caso até agora.

Renan Calheiros, Romero Jucá e outros parlamentares investigados na Lava Jato seguem exercendo seus cargos sem qualquer constrangimento. O processo de Eduardo Cunha caminha, mas ele continua na presidência da Câmara. É preciso lembrar que o mensalão movimentou R$ 56 milhões em propina aos políticos, enquanto o Petrolão já chega a R$ 10 bilhões, incluindo políticos e funcionários de estatais.

Essa história ainda não chegou no fim, mas só vai realmente valer a pena "soltar" os empreiteiros corruptores se os políticos corruptos forem para a cadeia e se a investigação provocar uma limpeza na política brasileira.

Pela experiência do mensalão, as perspectivas não são animadoras.



13 de março de 2016
Raquel Landim, Folha de São Paulo

PERCALÇOS DE UMA ALMA HONESTA

Se quem não deve não teme, Luiz Inácio Lula da Silva deveria estar feliz com a oportunidade que lhe é oferecida pelo Ministério Público (MP) de São Paulo, que o denunciou à Justiça, de acabar de uma vez por todas com a perseguição de que alega ser vítima no caso do tríplex no Guarujá. Bastaria que sua equipe de advogados – privilégio reservado a uma pequena elite de brasileiros – livrasse o ex-presidente da acusação. Caberia aos advogados demolir, no mérito, as suspeitas e acusações, em vez de se dedicarem a manobras protelatórias relativas a preliminares processuais. Não lhes seria trabalhoso apresentar em juízo provas irrefutáveis de que Lula é “a alma mais honesta deste país”.

Nada disso foi feito e o resultado foi a apresentação de denúncia criminal contra Lula e, mais grave que isso, com pedido de prisão preventiva do ex-presidente. Lula temia os rigores da Lava Jato e acabou em maus lençóis por fatos mais corriqueiros, como falsidade ideológica, ficando ao lado de denunciados por estelionato – o célebre 171.

De qualquer modo, e como o seguro morreu de velho, quando a denúncia do MP foi protocolada na Justiça paulista, na quarta-feira, Lula estava em Brasília cumprindo uma intensa agenda de reuniões com políticos e altas autoridades, todos interessados em protegê-lo da “perseguição” que policiais, procuradores e juízes, “cooptados pela direita”, estão promovendo contra ele. Um cidadão prestativo e engenhoso chegou a sugerir que Lula seja nomeado ministro, o que lhe garantiria foro para escapar dos rigores da Justiça de Curitiba.

Essa ideia bizarra – há quem diga que foi de jerico – dá a medida da desorientação e do desespero dos petistas diante da crise política. Um dos maiores entusiastas dela é o ministro Ricardo Berzoini, da Articulação Política, que cederia o posto a Lula: “Quem é que não gostaria de ter um Pelé no time?”. Ninguém parece estar se importando – provavelmente com exceção da própria Dilma – com a situação constrangedora em que estaria colocada a presidente da República ao assinar a nomeação de um ministro que, no interior da máquina governamental, teria mais autoridade do que ela própria – que, aliás, já não tem nenhuma. Mas talvez seja exatamente essa a mirabolante ideia dos jericos: colocar Lula no poder, com gabinete no Palácio do Planalto, enquanto a Dilma seria permitido fingir que continua governando. A ideia foi apresentada a Lula em jantar no Alvorada, na terça-feira, como parte de uma ação mais ampla de recomposição do primeiro escalão do governo. Segundo se apurou, o ex-presidente afirmou que “vai pensar” no assunto.

Como parte do esforço de mobilização política em sua defesa, Lula esteve também na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros, peemedebista que, segundo as mais recentes especulações, tende a se distanciar do Palácio do Planalto. Participaram do encontro vários senadores do PMDB, que foram contemplados por Lula com novas frases de efeito produzidas por seu delírio persecutório. Por exemplo: “Se quisesse, eu poderia incendiar o País. Mas esse não é o meu papel. Sou um homem da paz”.

Renan Calheiros ofereceu a Lula uma cópia da Constituição Federal – que certamente o homenageado nunca leu nem lerá –, num gesto que parecia destinado a sugerir que as investigações da Lava Jato têm atropelado os preceitos constitucionais. Mas há também quem tenha sugerido uma versão mais óbvia do gesto de Renan: chamar a atenção de Lula para o fato de que existe uma Constituição no Brasil.

É compreensível que o chefão do PT esteja aflito para envergar uma armadura política que o preserve de dissabores com a Justiça, mas a dura realidade que o confronta é a de que foram ele próprio e a tigrada que cevou que criaram as evidências contra as quais nenhum argumento se sustenta. O caso do tríplex é emblemático dessa situação. Para começar, Lula jamais deveria ter-se permitido, e à sua família, sequer chegar perto do condomínio Solaris, símbolo da gestão safada da direção de uma cooperativa de bancários que acabou lesando milhares de associados. O empreendimento foi salvo pela intervenção – sugerida sabe-se lá por quem – de uma construtora, a OAS, implicada na Lava Jato, que generosamente gastou R$ 777 mil na reforma de um tríplex no qual dona Marisa Letícia estava comprovadamente interessada. Isso se explica?



13 de março de 2016
Editorial O Estadão

OFERTAS DO GOOGLE

Uma das coisas que admiro nas pessoas que sabem muito é o desapego. Elas não se contentam em saber –espalham generosamente o que sabem, vivem prontas a ensinar e fazem isso de graça, pelo prazer de ajudar. O conhecimento não é para ser guardado a ferros, mas dividido –aliás, a única maneira de multiplicá-lo.

Tive a sorte de trabalhar ou conviver com alguns verdadeiros arquivos vivos, gente capaz de responder na lata sobre muitos assuntos além dos de sua área –entre outros, Otto Maria Carpeaux, R. Magalhães Jr., Franklin de Oliveira, Antonio Moniz Vianna, José Lino Grünewald. Uma pergunta a um deles era a garantia de uma aula. Talvez fossem movidos pela vaidade, mas pode haver vaidade mais benigna?

De 15 anos para cá, o Google se esforça para substituir as sumidades do conhecimento. É o maior banco de dados do mundo e ameaça tornar ociosos os dicionários, enciclopédias e compêndios –já absorvidos por ele, ao alcance de consultas rápidas e, melhor ainda, grátis.

Ou não? Posso estar errado, mas tenho visto que, de algum tempo para cá, ao procurar por qualquer assunto no Google, ele nos cumula de pechinchas comerciais sobre o dito assunto. Se você pesquisar "sorvete", "livro" ou "apartamento", ele aproveitará para apregoar um irritante varejo desses produtos. Mas, se você quer pesquisar um conceito abstrato, obscuro ou mesmo absurdo, ele não se toca, faz igual. Exemplo: "o lulopetismo estrebucha".

Digite isto no Google e ele responderá: "À procura de o lulopetismo estrebucha?"; "Tudo que você precisa saber sobre o lulopetismo estrebucha"; "Encontre as melhores ofertas sobre o lulopetismo estrebucha"; "Preços baixos para o lulopetismo estrebucha"; "Verifique nossa ampla seleção de o lulopetismo estrebucha".



13 de março de 2016
Ruy Castro - Folha de São Paulo

DE PAZ E AMOR A JARARACA

A crise brasileira é tão asfixiante que às vezes preciso de uma pausa, ouvir música, ler algumas páginas de romance. Em síntese, recuperar o fôlego.

As crises assumem ritmos mais rápidos no seu final. A reação de Lula na entrevista coletiva, ao sair da PF, não me pareceu a de um candidato.

Em 2002 foi difícil vencer com o “Lulinha paz e amor”. Em 2018 será impossível vencer como jararaca. Um candidato não se identifica com uma cobra peçonhenta. Nem se considera a alma mais honesta do Brasil. Verdade que seu marqueteiro está na cadeia. Mas onde está a intuição política que sempre lhe atribuem?

Ele perdeu a cabeça e, com ela, a chance de representar a serenidade do inocente. Seu marqueteiro representou. Não evitou a cadeia, mas, pelo menos, era um scriptmais elaborado.

Lula queria ser algemado. O marqueteiro e a mulher, também. Eles colocaram as mãos para trás, incomoda menos que as algemas reais, mas não tem o mesmo efeito. No fundo, um tremendo esforço para se fazer de vítima, conquistar pela emoção a simpatia que os fatos liquidaram.

Na Justiça, a decisão vai trabalhar com os fatos. Se alguém, realmente, quer contestar sua provas, precisa argumentar também com evidências.

Nem sempre as decisões na esfera do crime são bem recebidas. Em muitos pontos do Rio, prisões resultam em protestos, queima de pneus e bloqueios. Alguns líderes religiosos, quando presos, também emocionam seu rebanho.

No campo da política, há sempre o cuidado com os conflitos sociais. Para quem viu conflitos sociais, o que aconteceu na sexta passada foi apenas uma briga de torcidas e, na verdade, mais pacíficas que as de futebol.

Leio num jornal brasileiro que iriam buscar, entre outros, um gesto de solidariedade de Nicolas Sarkozy. Leio num jornal francês que Sarkozy também está às voltas com a polícia. Sujou, bro.

Apesar de seu ritmo, os últimos dias têm trazido uma ponta de otimismo, mesmo nos mercados, que são tão voláteis. Esse otimismo está baseado na queda de Dilma, mas deve ser estendido também a Eduardo Cunha. Os dois são rejeitados pela maioria. Não se trata apenas de festejar uma queda, desfazer-se de uma pedra no caminho. É criar uma chance de, superando o impasse político, recuperar a economia.

O que move as pessoas no domingo não é só a unânime luta contra a corrupção, mas também a clareza sobre as dificuldades cotidianas. Elas podem não ter uma noção clara do que deva ser feito. Mas sabem que algo precisa ser feito. E urgente.

Sempre que foi preciso, a sociedade brasileira manifestou-se claramente. Será assim no domingo e, para dizer a verdade, não acredito em conflitos, como algumas vozes do PT sugerem e Dilma confirma, a seu modo, pedindo paz.

As coisas vão se resolver de forma tranquila e o bicho-papão não tem como amedrontar ninguém. Escaramuças pode haver, mas seriam mais um caso de polícia: mais gente presa e neutralizada.

É ingênuo supor que as pessoas, dando-se conta de que o País está à deriva, com um governo que se elegeu com grana da Petrobrás, numa enorme crise econômica, vão ficar em casa só porque uns caras de camisa vermelha fazem cara feia ou gestos obscenos com o dedo.

Quando as pessoas denunciam a corrupção estão baseadas em fatos reais, documentados, investigados com rigor. Sabem que a Petrobrás foi saqueada, sabem dos milhões de dólares que foram repatriados. Não adianta cara feia. Se isso fosse uma saída histórica, bastava saquear o País e dizer: não me prendam porque senão vamos para as ruas gritar; não apareçam para protestar porque estou bravo, viro uma jararaca.

Outro dia, o bispo auxiliar de Aparecida recomendou aos seus fiéis pisarem na cabeça da jararaca. E um juiz condenou um adversário do PT a pagar multa de R$ 1,00 por ter criticado o partido. E ironizou que é um partido que tem a pessoa mais honesta de todas.

O bispo via a luta contra a jararaca como a luta entre o bem e o mal. Quem se colocou como cobra venenosa foi o próprio Lula. E o fez num recado para a Justiça. É uma declaração subconsciente de culpa: jararaca eu sou, acontece que vocês não atingiram minhas funções vitais, sigo sendo uma cobra venenosa.

Dilma reclamou de injustiça, mas até hoje não defendeu Lula no mérito. Colaborou na forma: protestou pelo fato de a Lava Jato tê-lo levado a depor debaixo de vara.

Inconscientemente, Lula pediu para ser destruído. O bispo levou-o ao pé da letra. A Lava Jato certamente entendeu de outra forma. E optou pela pesquisa. São os fatos que já existem e os que ainda não foram divulgados que vão definir o destino do governo e de Lula.

Tanto parlamentares como juízes precisam saber claramente o que a sociedade pensa. Não trabalham com pesquisa e, de qualquer forma, não se antecipam nunca. São viciados no único estímulo: um sopro na nuca, de preferência um vento bem forte, 100 km por hora.

Em outras palavras, a manifestação de domingo pode ser o sopro que falta para romper o impasse político. Mas, de qualquer maneira, a vaca já foi pro brejo. Não há horizonte com o governo Dilma, exceto empobrecer mais, enquanto ela luta por se agarrar no cargo.

No domingo há, ainda, a chance de uma aproximação maior de todos os que querem mudança. É fundamental que estejam próximos durante a travessia até 2018. Esta, sim, já me preocupa mais que as bravatas de Lula. Precisa de um mapa do caminho para recomeçar em 2018 com a economia recuperada e um grau de consciência nacional que não deixe jamais o Brasil chegar ao ponto a que chegou.

Essa é minha esperança. Por ela vou às ruas. Não para me expressar, pois isso posso fazê-lo com liberdade na imprensa. Nem para flertar com a política, interesses partidários ou eleitorais. Vou para a rua porque acho que é o lugar onde devem estar todos os que queiram tirar o Brasil do buraco e encerrar este triste episódio histórico.

Vou para a rua porque é onde devem estar todos os que queiram tirar o Brasil do buraco.



13 de março de 2016
Fernando Gabeira, O Estado de S.Paulo

APARELHAMENTO AMEAÇADO

Começaram a aparecer, em 2014, os primeiros sinais de reação – por parte de seus próprios empregados – ao aparelhamento pelo PT das empresas estatais e seus fundos de pensão. São ainda tímidos, consideradas as dimensões da vasta operação, ao mesmo tempo ideológica e fisiológica, montada para sustentar o projeto de poder do lulopetismo. Mas nem por isso menos importantes, até porque os atos de resistência tendem a se multiplicar, estimulados pela grave crise política, econômica e moral que vive o País e mostrou a verdadeira face daquele projeto.

O episódio mais recente foi a vitória, na eleição para representante dos funcionários no Conselho de Administração da Petrobrás, de uma chapa formada por engenheiros – Betânia Coutinho e Daniel Dellamora Bonolo – sem ligações com partidos políticos ou organizações sindicais. Essa é a primeira vez que isso acontece, desde que foi criada em 2012 aquela vaga para os funcionários poderem participar de discussões e decisões sobre os negócios e os rumos da empresa.

Antes, a disputa da vaga ficava restrita a candidatos da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP). Para a primeira, que não esconde a frustração com a derrota, “a categoria petroleira optou por entregar a vaga dos trabalhadores a quem pensa como o mercado”. A verdade, como diz um funcionário que prefere se manter anônimo, é que essa eleição “foi um sinal de que os empregados não aguentam mais a influência dos sindicatos e do PT na Petrobrás”.

Ou, como diz a candidata vencedora, Betânia Coutinho, desde que concorreu pela primeira vez ao cargo, no ano passado, “percebi que os empregados da Petrobrás buscavam uma alternativa de representação que não necessariamente seja vinculada a qualquer grupo político”. Daí porque promete que sua atuação será técnica. Uma mudança radical em relação à forma – viciada pela política e o sindicalismo – de tratar os problemas da empresa, que é um dos componentes da situação desastrosa em que ela se encontra.

Dois outros episódios mostram que a revolta contra o aparelhamento de estatais e fundos de pensão não é de hoje, embora ainda caminhe lentamente por causa da forte resistência dos que neles se encastelaram para ali exercer uma militância regada a bons salários e outros benefícios. Em maio de 2014, surgiu um grupo de oposição à chapa do PT e da CUT na eleição para dois cargos de diretores e seis de conselheiros da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ).

Um dos pontos principais de seu programa era introduzir mudanças na escolha dos dirigentes para que, como dizia Cecília Garcez, integrante daquele grupo, o sistema permitisse que a experiência como dirigente sindical contasse tanto quanto a de ter sido executivo em uma empresa. Esse objetivo modesto – afinal, trata-se de algo elementar – mostra como tem sido difícil desmontar o esquema armado pelo PT.

Mas o avanço nesse sentido no âmbito da Previ foi importante, porque ela é o maior de todos os fundos das estatais e também exerce influência sobre dezenas de empresas das quais é acionista e que vão do petróleo à indústria aeronáutica. É um universo de pelo menos 50 cargos em conselhos de administração e fiscalização.

Ainda em 2014, uma chapa de oposição ao conjunto PT/CUT conquistou cargos importantes na direção do Fundo de Pensão da Caixa Econômica Federal (Funcef), que é o terceiro maior do País.

A faxina até agora lenta dos fundos de pensão e da máquina administrativa das empresas estatais poderá ser acelerada não apenas pela crise, mas também pelos efeitos nefastos do seu aparelhamento político. Má gestão e investimentos feitos sem rigor técnico, quando não por critérios políticos, acarretaram sérios prejuízos e ameaçam as pensões pagas a seus integrantes, que não deixarão de reagir.

Tudo isso junto começa finalmente a colocar em xeque mais essa desastrosa aventura petista.



13 de março de 2016
Editorial O Estado de S.Paulo

O CENÁRIO FALSO DE DILMA

Dilma e Lula prometeram o impossível. Blefaram. O papel de parede e os eletrodomésticos se foram

O sonho de Dilma é deixar explodir na mão de qualquer outro a massa falida em que seu governo transformou o Brasil e sair por aí de bicicleta. Só se fala de Lula. A presidente deve agradecer de joelhos à Justiça atabalhoada brasileira, que tem desviado o foco das denúncias contra seu governo. Dilma tentou ser populista e popular. Não conseguiu ser uma coisa nem outra. O “dilmismo” nunca passou de um cenário provisório e improvisado.

Um cenário falso como o do apartamento do Minha Casa Minha Vida, adquirido pelo casal Eliel e Adriane Silveira, em Caxias do Sul. No início, eles se sentiram num sonho. O casal foi informado de que Dilma, em pessoa, entregaria as chaves de seu apartamento. Os dois vibraram ao ver que seu apartamento estava mobiliado e decorado. Dilma foi filmada com o casal. Depois da visita presidencial, a decoração foi removida. Geladeira, fogão, televisão e máquina de lavar.

“Só não levaram o resto dos móveis porque a gente bateu o pé e não deixou”, disse Adriane. “O tapete, disseram que poderíamos ficar com ele, porque tinha sido muito pisado.” A Arcari Empreendimentos retrucou que ninguém havia prometido doar nada, mas, diante da repercussão negativa, os eletrodomésticos voltaram. “Nos avisaram que a presidente viria e que precisaríamos ambientar um apartamento para a visita”, explicou Francielle Arcari, do departamento jurídico da construtora. “Colocamos até papel de parede, e vamos deixar, mesmo não sabendo quem prometeu.”

A história de Eliel e sua mulher Adriane parece surreal, mas é a melhor metáfora para o governo Dilma. Não o final feliz – no qual ninguém acredita, especialmente a “presidenta” e os pobres. A história ilustra a fantasia populista brasileira. Dilma, Lula e o marqueteiro João Santana “ambientaram” um cenário grandioso na última eleição para inventar um país que só existia na propaganda político-partidária, sem compromisso com o futuro da economia e da população. Blefaram. Prometeram o impossível. Rasgaram depois até o papel de parede, os eletrodomésticos se foram, os empregos também, o país ficou no escuro.

Dilma e Lula juntos no Meu Tríplex Minha Vida, com fim de semana no Meu Sítio Minha Vida, tudo com a cumplicidade e as doações de empreiteiras. As construtoras pagavam palestras, viagens e imóveis do padrinho e, em troca, eram escolhidas para comandar os empreendimentos furados da afilhada. Eram um pouquinho maiores do que a Arcari Empreendimentos, aquela que botou, tirou e recolocou os eletrodomésticos na casa de Eliel e Adriane.

O populismo é a ideologia da ignorância. Confunde esquerda e direita, mistura promessas na mesma sopa. O populismo se sustenta em líderes carismáticos e se alimenta da manipulação da massa. A História tem exemplos com resultados dramáticos. O programa Sem fronteiras, da GloboNews, analisou ciclos de populismo no mundo e abordou alguns fenômenos atuais de ascensão e queda. Qual a diferença entre ser populista e popular? A quem serve o populismo, cuja retórica costuma ser o “nós contra eles”?

Donald Trump, o pré-candidato republicano nos Estados Unidos, é o mais exorbitante populista no momento. Quanto mais esbraveja, mais conquista a audiência e eleitores. Mesmo que seja com palavrões. Já viram algo parecido? Trump é uma celebridade, com seus livros, hotéis e cassinos, que fica “confortável diante das câmeras, fala como demagogo contra imigrantes ilegais, especialmente mexicanos”, e faz parecer simples combater o Estado Islâmico e os terroristas. A definição é de Michael Kazin, professor de História da Universidade de Georgetown, para o Sem fronteiras. Como muitos populistas, diz Kazin, “Trump gosta de reduzir a política a um conjunto simples de polarizações” porque o “populismo é um dispositivo para mobilizar o povo contra as elites”.

Na França, a populista mais popular é Marine Le Pen, com discurso social e nacionalista de direita, contra a imigração. Na América Latina de populistas de esquerda como Juan Perón e Getúlio Vargas, o movimento tem caído em desgraça – na Venezuela, no Equador, na Argentina, na Bolívia e no Brasil.

“O populismo, quando surge, permite acentuar o que a democracia tem de positivo e de negativo. Se o populismo se consolida, é um sintoma de que havia gente que não se sentia representada. Pode criar, assim, fenômenos de inclusão social importantes”, disse ao jornalista Silio Boccanera, da GloboNews, o uruguaio Francisco Panizza, professor de política da London School of Economics e autor do livro Populismo e o espelho da democracia.

“Mas também há populismos extremamente destrutivos que levam a uma completa polarização social e a um conflito social muito difícil de resolver.” É, no mínimo, um alerta para este domingo 13.



13 de março de 2016
Ruth de Aquino, Revista Época

DILMA ESTÁ PENDURADA NO SUPREMO

Não é fácil desmontar um presépio de pobres coitados que têm um cheque especial do tamanho da Petrobras

O Brasil sentiu falta do pronunciamento de Dilma Rousseff no Dia Internacional da Mulher. Essa era uma das poucas garantias de um governo que chama sua chefe de presidenta, ou sua presidente de chefa. Agora a brincadeira acabou. O homem que inventou essa mulher entrou na mira da polícia. O homem que escrevia o que ela falava foi preso. O mito da mãe coragem foi construído com dinheiro roubado do contribuinte, apontou a Lava Jato. Sobrou um fantoche que não fala, uma mulher que tem medo de panela.

Por incrível que pareça, Dilma só não foi mandada embora para casa ainda por ser uma mulher ungida por um pobre. A Lava Jato está investigando o enriquecimento desse pobre, mas isso não parece suficiente para desmontar o presépio. Não é política, é religião. Mesmo que esse pobre milionário possa ter roubado o povo, boa parte dos fiéis permanece saudando-o com seus cânticos melancólicos – e eventualmente alugados. Toda igreja monta sua base financeira, mas essa tesouraria não tem paralelo: seus cofres contêm o dinheiro de uma nação. Não é fácil desmontar um presépio de pobres coitados que têm um cheque especial do tamanho da Petrobras.

Por um capricho do destino, a tesouraria da igreja petista foi parar na cadeia. Primeiro, João Vaccari, o rei mago dos pixulecos, e, quando parecia que seria só botar novos picaretas no lugar dos presos – como na queda de Delúbio, Valério e grande elenco mensaleiro –, os financiadores do credo começaram a cair também. Com a condenação de Marcelo Odebrecht a 19 anos de prisão, dá para sentenciar: a mulher sapiens está só.

Pendurada na fachada do presépio apodrecido, virtualmente abandonada até pelo PMDB, a presidente da República se agarra a uma única e última mão: a do Supremo Tribunal Federal.

Cruel ironia: no momento em que Sergio Moro e a força-tarefa da Lava Jato – a Operação Mãos Limpas brasileira – elevam a Justiça ao papel de resistência quase solitária ao massacre populista, a mais alta Corte dessa Justiça permanece como o bastião de resistência do populismo. Até a Câmara dos Deputados, que não é flor que se cheire e está sob a presidência de um réu, permanece permeável ao ir e vir da democracia. Essa instituição legislativa desacreditada e carcomida deu andamento a um sólido pedido de impeachment apresentado por respeitáveis juristas – e impecavelmente fundamentado para apontar os crimes de responsabilidade de Dilma Rousseff nas pedaladas fiscais e no escândalo do petrolão.

Onde esse pedido republicano e democrático atola? No Supremo Tribunal Federal.

É de lá que vêm as manobras para barrar a investigação formal e direta da presidente que foge das panelas, e foi de lá que vieram as manobras para atropelar o funcionamento democrático da depauperada Câmara dos Deputados na partida do processo de impeachment. A técnica, quem diria, virou travesti da política.

Os crimes de responsabilidade cometidos pela presidente são flagrantes, basta ler a Constituição. Mas, assim como o PT inventou a contabilidade criativa, o STF inventou a leitura criativa da Constituição. Nos três meses desde que o pedido de impeachment foi aceito pela Câmara, as evidências da Lava Jato praticamente dobraram – especialmente quanto à negligência da presidente da República na responsabilização de seus subalternos claramente envolvidos no esquema de corrupção. Isso é crime. Mas as revelações de Delcídio do Amaral não deixam dúvidas: Dilma e seu estado-maior (do qual Delcídio fazia parte) trabalhavam para usar os Tribunais Superiores na obstrução das investigações do petrolão.

Quando o filho de Nestor Cerveró gravou o líder do governo afirmando que conversaria com os ministros do Supremo sobre a liberação do criminoso, suas excelências mandaram prender o senador com brados em defesa da justiça contra o crime, “não passarão” etc. Em seguida, livres da berlinda, meteram o bisturi no Poder Legislativo travando o rito do impeachment.

Até prova em contrário, o Congresso Nacional é mais confiável que o Supremo Tribunal Federal – justamente por ser muito menos qualificado. Ou seja: uma tragédia. Mas quem pode tirar o país da tragédia maior são os parlamentares – se as ruas mandarem. Treze de março, Dia Internacional da Mulher Sapiens.



13 de março de 2016
Guilherme Fiuza, Revista Época

ÀS RUAS PELA DEMOCRACIA

O mote da grande manifestação nacional deste domingo (13) é direto: "Ou você vai ou ela fica". É evidente a evolução de um processo de indignação popular que começou heterogêneo e que hoje, alavancado por uma crise econômica e pelo avanço da Lava Jato, atinge sua maturidade para uma única proposta: o impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff.

Uma vez iniciado o processo, falta apenas um elemento para que a presidente deixe o cargo: a pressão popular sobre o Congresso Nacional, sem nenhuma autonomia para liderar esse momento. Melhor assim. É preciso ser guiado pela voz das ruas, pela força da mobilização social, pelo grito insistente de milhões de brasileiros que devem exigir, como faremos amanhã, com que a Câmara dos Deputados respeite sua função como casa do povo.

Por outro lado, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que julga a cassação da chapa presidencial por ter sido financiada com dinheiro do petrolão, também precisa entender a urgência em avançar com uma resolução para esse imbróglio. As provas são irrefutáveis. Que respeitem as prerrogativas democráticas.

Com 191 mil empresas fechadas e a perda de 1,5 milhão de empregos, em 2015, não há um brasileiro que não conheça um pequeno comerciante que quebrou, um familiar que perdeu o trabalho, um jovem que não consegue encontrar sua primeira ocupação. O sentimento une a todos. Por mais que tentem dividir a população e atacar as instituições democráticas, como se fossem a Justiça, o Ministério Público, a Polícia Federal, a imprensa e a oposição os responsáveis pela crise sem precedentes, a urgência para a mudança da condução política do país é desejada por ampla maioria.

O Brasil enfrenta hoje uma grande ameaça à sua democracia. O líder maior da organização que está sendo desmontada na Lava Jato tem apelado para promover um clima de instabilidade civil, convocando a militância a agir pela desordem.

Mais grave do que Lula desdenhar do Poder Judiciário e das instituições, só mesmo o gesto de Dilma de se deslocar à custa do erário para manifestar apoio a um investigado da Justiça.

Jamais uma presidente da República, na liturgia do cargo de chefe de Estado, deve prestar solidariedade a um presidiário em potencial que questiona atributos de um poder autônomo e independente. O Executivo não pode interferir no andamento do Poder Judiciário nem validar qualquer comportamento nesse sentido.

O resultado foi sentido nesta semana: o "exército de Stédile" já está nas ruas.

Convocado por Lula e legitimado por Dilma, realizou invasões aos órgãos de imprensa, estatais, empresas privadas, agrediu populares, depredou espaços públicos. A CUT e outras massas de manobra do PT ameaçam entrar em confronto com a população que pede o impeachment. Apostam na tese da convulsão social validados pelo olhar seletivo do governo. Mas o Ministério da Justiça está devidamente notificado por um ofício de minha autoria para garantir a segurança dos manifestantes. Será inadmissível que um evento marcado há 90 dias seja desestabilizado porque a Lava Jato chegou a Lula.

Por isso, afirmo à nação: vá às ruas, exerça o seu dever, lute pelo seu país. Como bem disse o então bispo-auxiliar da Arquidiocese de Aparecida, dom Darci José Nicioli, depois promovido pelo papa Francisco: "Peça, meu irmão e minha irmã, a graça de pisar a cabeça da serpente. De todas as víboras que existem e persistem em nossas vidas. Daqueles que se autodenominam jararacas. Pisar a cabeça da serpente. Vencer o mal pelo bem".



13 de março de 2016
Ronaldo Caiado - Folha de São Paulo

O SINAL DAS RUAS

A importância dos protestos de rua para o fim de um mandato. Em seu clássico estudo “Repensando o presidencialismo: contestações e quedas presidenciais na América do Sul”, a professora Kathryn Hochstetler, hoje na Universidade de Waterloo, aponta três razões para um presidente não terminar seu mandato na América do Sul: ausência de maioria parlamentar de apoio ao presidente; envolvimento pessoal do chefe de governo com escândalos de corrupção; e mobilização popular.

Temos no país uma situação exemplar desse tipo estudado pela professora americana, e é por isso que as manifestações de hoje a favor do impeachment são estimadas como as maiores já realizadas nessa impressionante série que começou em 2013. 

A presença ou a ausência de grandes manifestações populares, exigindo sua deposição, mostra-se crucial para determinar os destinos dos governos em xeque, segundo ela.

Desde 1978, os desafios mais sérios vieram “de atores civis, no Legislativo e nas ruas, ou em ambos.” 

A presidente Dilma se escudava no fato de que nada havia contra ela pessoalmente, e seus defensores passaram a alegar que, como ela não participara dos escândalos, não poderia ser impedida. 
Embora o impeachment não seja uma ação apenas contra a corrupção, mas um instrumento das democracias para retirar do poder um presidente que, como Dilma, cometer crimes de responsabilidade, a característica eminentemente técnica das pedaladas fiscais serviam de biombo para sua defesa.

Mas agora, com a delação premiada de Delcídio Amaral mostrando que ela, além de ter sido ajudada por esquemas corruptos de arrecadação financeira para as duas campanhas em 2010 e 2014, tentou obstruir a ação da Justiça na investigação do petrolão, cooptando um ministro do Superior Tribunal de Justiça para que soltasse os presidentes das empreiteiras Andrade Gutierrez e Odebrecht, justamente as duas que mais dinheiro oriundo da corrupção colocaram em suas campanhas presidenciais, ficou exposta a atuação direta da presidente no esquema de corrupção.

Perdida a maioria parlamentar com o desembarque do PMDB programado ontem na sua convenção nacional, e registrada a participação direta de Dilma no esquema de corrupção, a mobilização popular provavelmente ganhará impulso hoje nas ruas.

Uma observação “crucial” sobre esses casos, destaca o estudo da professora Kathryn, “é a de que deles todos resultaram novos presidentes civis num curto prazo. Em outras palavras, as quedas presidenciais são mudanças dentro do regime. Não são rupturas de regime, que pressupõem uma transição para um regime civil. De maneira uniforme, os vice-presidentes e os líderes legislativos assumiram mandatos constitucionais na qualidade de presidentes após as quedas presidenciais.”

Ela mostra que presidentes com minoria no Congresso são alvo mais comum de contestações. 

“De modo geral, os presidentes, cujos partidos tinham minoria no Congresso, apresentavam uma tendência maior tanto para serem contestados por atores civis, quanto para caírem.”

Os protestos de rua “são decisivos nos estágios finais de um processo contra um presidente.” Ela lembra que os protestos contra Collor tiveram até um milhão de pessoas, e os índices de popularidade dele caíram abaixo dos 10% no seu último ano, exatamente o que acontece hoje com a presidente Dilma. A professora Kathryn diz que a importância central do protesto das massas populares nas quedas presidenciais “sugere a necessidade de maior reflexão sobre o papel do público no presidencialismo.”

Para ela, as discussões sobre o presidencialismo deixaram de examinar “as formas pelas quais a população pode evidentemente retirar o mandato que concede, um fenômeno que se está tornando mais comum no cronograma da consolidação democrática.” 

Kathryn diz que em muitos casos “os legisladores pareciam calcular se as populações tinham maior tendência a puni-los por ação ou inação contra presidentes.”

Os protestos de rua em larga escala, “clamando pela saída do presidente, convenceram os legisladores a se inclinarem a agir contra eles.” Os protestos têm também a capacidade de “transferir antigos partidários do presidente para a oposição, mesmo contra seus colegas de partido.” Exatamente o que acontece hoje no país, como o PMDB e grande parte da antiga base aliada do governo aguardando o parâmetro que as ruas lhes darão.



13 de março de 2016
Merval Pereira, O Globo

SEIVA VIVA

Os recortes de jornal à minha frente já têm mais de 50 anos. Alguns, 54, porque são de 1962. Estão perfeitos, sem manchas, com a cor e a maciez originais do papel em que foram impressos – como se a seiva contida na pasta com que foi fabricado ainda estivesse viva. São recortes, mais de 200, do "Correio da Manhã", com a coluna "Da Arte de Falar Mal", de Carlos Heitor Cony. As colunas também estão vivas.

Cony escreveu "Da Arte de Falar Mal" no "Correio" de 1962 a 1965, às quartas, sextas e domingos, revezando com o grave e insípido Otavio de Faria, que saía às terças, quintas e sábados –os matutinos não circulavam às segundas. A diferença entre Cony e os outros cronistas, mesmo Rubem Braga, refulgia: era o único que escrevia para valer na primeira pessoa.

Pela coluna, sabíamos que, além de jornalista, era escritor, romancista, na linha de Alberto Moravia, Cesare Pavese e outros italianos da época. Que fora seminarista, era desquitado, tinha duas filhas, morava em Copacabana, torcia pelo Fluminense e não pecava contra a castidade –pecava a favor. Que não acreditava em nada, ou quase nada, e não se levava, nem a ninguém, muito a sério. Não havia assunto a que não aplicasse sua visão cética, sardônica, independente –sem prejuízo de escapadas líricas em que se revelava o homem só, triste e autossuficiente que ele talvez fosse.

Para certo garoto de 14 anos em 1962, a leitura dessas crônicas foi uma epifania.

Era possível ser daquele jeito –cético, sardônico, independente– e seguir em frente. O garoto era eu. Em 1964, o próprio Cony nos ensinaria que, às vezes, era preciso acreditar em alguma coisa, tomar partido e pagar por isso, para conservar a independência.

Cony está fazendo 90 anos. Sua seiva continua viva e ele ainda me faz a cabeça.



13 de março de 2016
Ruy Castro, Folha de São Paulo

OS POLÍTICOS SAEM DA SOMBRA


O mundo político está ansioso com o tamanho das manifestações de hoje. Os discursos já estão prontos. Se a rua encher, quem é contra Dilma Rousseff sairá repetindo que seu governo acabou. Se esvaziar, quem é a favor da presidente dirá que o impeachment perdeu força.

A turma do Fora PT terá reforços. As passeatas ganharam apoio aberto de entidades patronais, comandadas pela Fiesp, e de partidos de oposição, liderados pelo PSDB. Formou-se um bloco de profissionais para emparedar o governo, embora os jovens do Facebook ainda se apresentem como líderes do movimento.

O fim do mito das manifestações apartidárias deve trazer outra novidade: a presença de políticos no palanque. Em março de 2015, na maior onda de protestos que Dilma enfrentou até agora, não foi bem assim.

A avenida Paulista vaiou o deputado Paulinho da Força, veterano em escândalos de corrupção. O senador Aloysio Nunes, anunciado no carro de som, foi impedido de discursar. O senador Aécio Neves ficou em seu apartamento na praia de Ipanema. Limitou-se a aparecer na janela com uma camisa da seleção.

Agora Aécio promete ir à rua com o governador Geraldo Alckmin. Os dois são pré-candidatos a presidente e querem aproveitar a irritação geral com o petismo para assumir o leme dos protestos. Se der certo, os atos podem se transformar em comícios extemporâneos do PSDB.

Na quarta-feira, Alckmin se reuniu com deputados da oposição e representantes dos movimentos que se diziam "sem partido". O pretexto era discutir o esquema de segurança na Paulista. Hoje a polícia do governador divulgará a estimativa oficial de público na avenida. Mas quem ainda acredita nas contas da PM?
*
A convenção do PMDB juntou Eduardo Cunha, Renan Calheiros e cartazes de apoio à Lava Jato. Isso é um partido profissional, os outros todos são amadores.



13 de março de 2016
Bernardo Mello Franco, Folha de S Paulo

OS DOIS GUMES DA LÂMINA


“O passado é uma terra estrangeira: eles lá fazem as coisas de modo diferente”, escreveu Hartley (em O Mensageiro, 1953). O tempo do verbo é instigante: fazem, não faziam ou fizeram. Afinal, a terra estrangeira do passado pode ser visitada, no presente, por viajantes interessados em saber como eles fazem por lá. E por que viajam? Porque cada geração visita, aprende, interpreta e por vezes reescreve o passado, à luz de exigências interrogativas impostas pelo presente e de sonhos, desejos - e temores - sobre o futuro. Há encruzilhadas-chave desse infindável diálogo.

O Brasil encontra-se hoje - como raras vezes em nossa História - num desses angustiantes momentos definidores de sua trajetória futura. É obvio que não há soluções simples e as que parecem sê-lo estão erradas (na economia como na política). Não haverá uma grande batalha que tudo defina. Não há um dia D. Não há um(a) salvador(a) da pátria (como o Brasil, espero, tenha aprendido ou esteja aprendendo). Mas é imperativo acelerar o processo de ampliação do espaço das convergências possíveis.

Na área econômica, é mais do que chegada a hora de avançar na tentativa de convencer governos (nos três níveis), políticos e eleitores a aceitar a existência de restrições à tendência natural do Estado à expansão de suas incumbências, com frequência por pressão da própria sociedade. Mas o Estado apenas redistribuiu recursos que por ele transitam e que lhe vêm de tributação, do endividamento, da venda de ativos, do imposto inflacionário e/ou do uso sub-reptício de poupanças compulsórias. Tem aumentado, gradualmente, a percepção de que há claros limites para esse processo de expansão, quando o Estado já se sobrecarregou de obrigações. Ao dispersar demais suas atividades, o Estado fica mais suscetível a ceder ainda mais a interesses isolados, a persistir em fazer promessas que não pode cumprir, a criar expectativas de mais direitos por adquirir e a assumir metas e objetivos inalcançáveis - que acabam, com frequência, em retumbantes problemas de dívidas por equacionar.

Como afirmei em artigo neste espaço (12/1/2014) sobre um descabido, primitivo e maniqueísta “debate” sobre o Estado (que não deveria ser nem mínimo nem máximo, apenas mais eficiente naquilo que faz, e se propõe a fazer): “É possível que uma discussão aberta, transparente e não ideologizada mostre situações em que existam incumbências, existentes ou programadas, que poderiam estar além das possibilidades técnicas, humanas, financeiras e fiscais do próprio Estado - e de suas empresas”. Faltou acrescentar: como vem demonstrando cabalmente a nossa experiência ao longo dos últimos anos.

Apenas uma ilustração exemplar, e típica, do dito acima, há cerca de dois anos (21/4/2014) a presidente Dilma declarou o seguinte: “Só em 2014, estão em construção ou contratados para serem construídos aqui no Brasil, 18 plataformas, 28 sondas de perfuração e 43 navios-tanque (...). Graças à política de compras da Petrobrás, iniciada no governo Lula e desenvolvida no meu governo, renasceu uma indústria naval dinâmica e competitiva, que irá disputar o mercado com as maiores indústrias navais do mundo”.

Este é apenas um dentre incontáveis exemplos de voluntarismo explícito em outras áreas, como petróleo e gás, energia elétrica, concessões em infraestrutura (ferrovias, rodovias, saneamento, trens-bala, etc.). Exemplos adicionais podem ser encontrados na memorável, reveladora e imperdível longa entrevista do ex-presidente Lula, no auge da inflação-de-si, ao jornal Valor (17/9/2009).

Essas lembranças me vieram à mente ao reler uma conferência do ex-secretário do Tesouro dos EUA Larry Summers sobre uma discussão específica de política pública no seu país, mas que tem uma aplicação mais geral - e relevante para a necessidade que teremos ao longo dos próximos anos de lidar com consequências de descaminhos do tipo dos mencionados acima.

Disse Summers: “A primeira coisa que você sempre tem que se perguntar ao propor mudanças em uma importante política pública é: bem, esta política foi posta em vigor por alguma razão? Talvez seja uma boa razão e a política deve permanecer; existe sempre alguma presunção a favor do status quo e, portanto, você devia ter razões convincentes para superar tal presunção”. Summers concluiu: “Mas você também pode chegar à conclusão de que não há nada, na história do estabelecimento daquela política, que gere qualquer razão para acreditar que ela seja funcional, numa base continuada, hoje”.

O Brasil precisará aprofundar esta questão, como vem insistindo número crescente de respeitados economistas brasileiros: análises cuidadosas, não ideologizadas, mas baseadas nas melhores evidências e informações disponíveis, que permitam avaliar não conjecturas e opiniões, mas projetos, políticas e programas em execução e/ou em estudo. A experiência mostrará que as grandes diferenças na área de políticas públicas não são sobre os objetivos gerais a serem alcançados, e sim sobre as formas mais eficazes de fazê-lo.

Quero concluir este artigo, nestes dias turbulentos, com espesso nevoeiro à frente e um governo à deriva, com duas observações de dois exemplares “espectadores engajados”. Uma, de Raymond Aron, que escreveu: “A sociedade moderna precisa ser vista sem arroubos de indignação ou de entusiasmo”. A outra, de Eduardo Giannetti, que expressou preocupação semelhante: “A lâmina da serenidade precisa de dois gumes, para eliminar excessos de otimismo e de pessimismo”.

Estamos precisando, agentes políticos, agentes econômicos e espectadores engajados, usar um pouco mais os dois gumes das lâminas de Aron e Giannetti. Porque, não nos iludamos, estaremos “no sereno” por alguns anos mais. O futuro é terra estrangeira.



13 de março de 2016
Pedro Malan, Estadão

É COM ESSA QUE EU VOU


Dilma tem respirado à custa da nossa asfixia. O governo cairá, está podre. Esse era o título de uma coluna em que falava da manifestação de hoje. Os fatos correm tão rapidamente neste capítulo final que sou obrigado a escrever novas versões a cada dia. Dois acontecimentos, entre tantos, representam uma espécie de salto na linha de notícias: a denúncia de Lula, seguida de um pedido de prisão, e os documentos que a Andrade Gutierrez entregou à Justiça sobre doações ilegais à Dilma, em 2014.

A denúncia de Lula se dá no contexto daquela cooperativa Bancoop que lesou três mil famílias e terminou com a cúpula em apartamentos no edifício Solaris, em Guarujá. Ainda não ouvi ninguém defendendo a trajetória da Bancoop, exceto um lacônico depoimento de João Vaccari. Para um partido igualitarista é um movimento mais condenável ainda, salvar a pele enterrando os outros. Ao ler o texto que pede a prisão de Lula, constato que o famoso vídeo feito pela deputada Jandira Feghali foi anexado a ele. No vídeo, Lula aparece ao celular dizendo que quer que enfiem o processo no cu. O vídeo rodou pela internet e parece revelar o oposto do que dizem os defensores de Lula sobre sua boa vontade para atender à Justiça.

Curiosamente, os celulares de Jandira e de Lula só foram possíveis com a quebra do monopólio nas teles, que eles tanto combateram. A antena da Oi em Atibaia mostra como passaram de adversários a intérpretes radicais da privatização das teles. Ela serve apenas ao sítio de Lula, os vizinhos não têm sinal. Se o vídeo foi mesmo usado pelos promotores, voltaremos ao poeta Jorge de Lima: “o mundo começa nos seios de Jandira”. E diremos que o mundo acaba no celular de Jandira. Mas ainda não acabará assim: o pedido de prisão será avaliado por uma juíza e pode ser rejeitado.

Ao longo desses anos, consumi muita energia combatendo os erros do PT e satélites. Uma de minhas expectativas, após o domingo, é de olhar para frente, imaginar que Lula, Dilma e o PT em breve podem sair da agenda. Os adversários definem muito o que somos.

Combater gente mentirosa, cheia de truques, mastigando vulgarmente alguns conceitos marxistas, talvez tivesse sentido no fim do século passado. Hoje, isto me dá uma sensação de perda de tempo, como se tivesse de fazer um giro pelas aldeias chinesas que acham que a ida do homem à lua não aconteceu, foi apenas propaganda mentirosa dos americanos.

Olhar para frente é apenas uma necessidade. Não vislumbro nada de grandioso. Pelo contrário, uma dura fase de transição, em que será preciso ajustar a economia para deter a queda livre do nosso PIB. Se as pessoas que saírem às ruas hoje compreenderem isto, vão querer se manter unidas mesmo depois da queda de Dilma. Não será tão fácil assim: caiu, soltamos fogos e voltamos ao nosso cotidiano.

Estamos diante de desafios que dependem de todos. Impossível reestruturar a economia sem uma base responsável na opinião pública. Impossível combater o mosquito e seus estragos sem uma ponte entre governo e sociedade. Mosquitos e, certamente, ratos multiplicam-se com nossa passividade. Dilma está fora do baralho. Ela vive um único objetivo: o de não cair. E todos, inclusive o PT, sabem que ela não tem experiência política, capacidade de articulação nem habilidade para conduzir a crise.

O PT e alguns delinquentes do PMDB, que estão em busca da quadrilha ideal, usam Dilma apenas para continuar no poder, usufruir os últimos instantes de um projeto que sabem condenado. Eles não se importam com o tamanho do buraco. A experiência recente da Espanha, por exemplo, mostrou como certos processos econômicos são devastadores para a juventude. O alto nível de desemprego impediu que uma geração realizasse seu potencial.

Lá, pelo menos, os jovens compreenderam isso e se revoltaram. Por causa disso também vou à manifestação. Não a limito apenas ao desejo de punir a corrupção, atropelar o cinismo e botar os saqueadores na cadeia. Eu a vejo como um feixe de compromissos. O primeiro deles é com a credibilidade que nos dê a chance de crescer. O segundo, e também importante: como foi possível que o Brasil tenha chegado a esse ponto, onde estávamos todos que não impedimos o país de ser levado ao abismo?

Sinais de incompetência não faltaram. Evidências de desvios tampouco. O país foi incapaz de deter o processo e até hoje há quem pense que os bandidos vão vencer no final: PT e PMDB continuarão nos assaltando pela eternidade. Como foi possível conviver com tanta ladroagem? Como foi possível aceitar versões tão enganadoras? Como foi possível cultuar o cinismo que nos corrói? Ainda agora, surgem as velhas trapaças. O PT ameaça soltar nas ruas barbudos de camisa vermelha, e há garotas fazendo gestos obscenos com o dedo.

Ao PT interessa a hipótese de conflitos. Se as pessoas tiverem medo, não sairão às ruas. E alguns cronistas vão dizer: caiu o ímpeto do impeachment, Dilma respira de novo. Dilma tem respirado à custa da nossa asfixia. O governo cairá, de qualquer maneira, porque está podre. Abundam provas contra ele por ter usado dinheiro roubado nas eleições. A delação de um diretor da Andrade Gutierrez comprova isso, assim como as transferências da Odebrecht para o marqueteiro João Santana.

Lula será preso em algum momento, porque também contra ele avolumam-se os indícios de ser o chefe da quadrilha. Para que Dilma, Lula e o PT prossigam incólumes, é preciso que o Congresso desapareça na podridão, que o Supremo se revele petista, que a própria Polícia Federal e o Ministério Público engulam suas investigações. E que todos fiquem em casa com medo dos homens de barba.



13 de março de 2016
fernando Gabeira, O Globo

UM MOMENTO ESPECIAL NA LUTA CONTRA A IMPUNIDADE


É difícil o combate à corrupção, mas ocorrem avanços, como a decisão do STF de que pena mantida em segunda instância pode começar a ser cumprida

Quando o então poderoso Delúbio Soares, tesoureiro do PT, apostou que o mensalão viraria uma “piada de salão”, foi difícil discordar dele. Não era mesmo norma, numa República que preservava da monarquia castas de fidalgos, punir abastados e gente com poder político. Mas já transcorria um fortalecimento das instituições, e assim Delúbio, além de companheiros de mensalão até mais graduados, como José Dirceu, terminaram na cadeia, condenados no Supremo.

Percebe- se hoje que uma renovação de quadros no Estado, protegidos do aparelhamento empreendido pelo PT, e a mobilização social têm levado a decisivos aperfeiçoamentos legais e jurídicos. Dessa forma, surgiu a Ficha Limpa, em 2010, apelido da lei complementar derivada de um projeto de origem popular, sustentado por aproximadamente 1,6 milhão de assinaturas. Por ela ficou instituído que político condenado em segunda instância fica inelegível.

Neste momento, uma quantidade semelhante de assinaturas sustenta um projeto de dez pontos para melhorar a eficácia da Justiça no combate à corrupção. Ele veio do grupo de procuradores que atuam na Lava- Jato, e portanto são propostas inspiradas nas dificuldades que a força-tarefa da operação tem encontrado numa investigação histórica.

Uma das reivindicações procura acelerar a aplicação das penas, para coibir uma das mais graves distorções da Justiça brasileira, o número excessivo de recursos, razão direta da lentidão do sistema. Neste sentido, há pouco, o Supremo promoveu uma revolução: contra as chicanas protelatórias, estabeleceu que penas confirmadas na segunda instância, ou seja, por colegiado, podem começar a ser executadas logo.

O primeiro efeito, até simbólico, do bem-vindo veredicto, foi, afinal, mandar- se para a penitenciária o empresário Luiz Estevão, ex- senador, condenado em 2006, no caso de corrupção na construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, e até agora mantendo- se longe das grades à força de dezenas de recursos.

Nos últimos dias, houve novos sinais alvissareiros: a condução coercitiva do ex- presidente Lula, para depor na Lava- Jato, reafirmando que não há quem esteja acima da lei no Brasil, e a condenação a 19 anos de prisão, em primeira instância, pelo juiz Sérgio Moro, do maior empreiteiro do país, já preso, Marcelo Odebrecht.

Não há guerra vencida neste terreno. Sempre existem chances de interferência de poderosos. Apesar de tudo, ocorrem vitórias importantes contra a corrupção nas “elites” às quais o lulopetismo se aliou: empreiteiros, operadores financeiros, políticos sem ética etc.

A degradação do padrão moral da vida pública cria uma reação em contrário que já produz ganhos visíveis. Parece surgir uma base com alguma solidez, no Estado, para se limpar de fato a política e sanear seus vínculos com o mundo dos altos negócios. Seja à esquerda ou à direita.



13 de março de 2016
Editorial O Globo

FAÇA SOL OU CHUVA... VEM PRA RUA!


13 de março de 2016

O HUMOR DO SPONHOLZ...



13 de março de 2016

O COFRINHO RECHEADO DE LULA


O chefe da maior quadrilha de assaltantes da galáxia, Lula, é um glutão voraz. Limpou os palácios de Brasília e depositou o espólio em seu cofrinho
No esbulho encontraram um crucifixo feito por Aleijadinho. Não deixa de ser um fato enternecedor ver um ateu filhodumaputa roubar até mesmo Jesus Cristo.

13 de março de 2016 - o dia da grande manifestação contra o esbulho do Brasiil
in Selva Brasilis

OFENSA GRAVÍSSIMA!


“Agora ameaçam Lula de prisão. Se for preso, Lula será tão 

grande como Nelson Mandela, será o Nelson Mandela do 

Brasil”.


Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, insultando Nelson Mandela com a insinuação de que o estadista sul-africano também transformou seu partido em organização criminosa e enriqueceu como camelô de empreiteira.

13 de março de 2016
Augusto Nunes

ENTENDA COMO CINGAPURA CONSEGUIU VENCER A CORRUPÇÃO



Yew deixou lições preciosas para alcançar o desenvolvimento



















O Brasil vive o seu momento mais crítico de teste das instituições e bases do que queremos ser no futuro. Vi um gráfico interessante que comparava a qualidade das instituições com a renda per capita de mais de cem países. A relação é absolutamente linear: quanto maior a qualidade institucional, maior a renda per capita. Simplesmente não há casos de países pobres com boas instituições. Tampouco há países ricos com más instituições.
E, quando falamos de qualidade das instituições, talvez o principal item seja o combate à corrupção, em que Cingapura é um dos exemplos mais notáveis de sucesso. Nos anos 1960, essa cidade-nação era pobre, suja, perigosa e, assim como quase todos os países asiáticos, tomada pela corrupção.
Em seu livro de memórias, Lee Kuan Yew – o líder que levou Cingapura do Terceiro para o Primeiro-Mundo – narra as mudanças institucionais que transformaram um país muito corrupto em uma das nações mais limpas do mundo.
“Corrupção, nepotismo, propinas e suborno são um meio de vida na Ásia, e as pessoas as aceitam abertamente como parte de sua cultura e costumes. (…) A engenhosidade humana é infinita quando se trata de traduzir poder e arbítrio em ganhos pessoais (…) O problema é que um mínimo de poder nas mãos de homens que não conseguem viver do seu salário será sempre um convite à corrupção”, disse Yew.
CHICOTE E CENOURA
O líder acreditava que a única solução possível era combinar políticas do tipo “chicote e cenoura”. Investigações e punições exemplares (o chicote) foram feitas em Cingapura já nos anos 1960, resultando na prisão de centenas de pessoas.
Mas, para manter altos níveis de probidade no setor público, ele achava fundamental fixar remunerações adequadas capazes de atrair os melhores talentos do mercado (a cenoura). Segundo ele, altos funcionários, juízes e políticos mal pagos já haviam arruinado muitos governos. Mas a necessidade de apoio popular faz com que governos eleitos insistam em pagar baixos salários para seus ministros, compensando-os com adicionais menos visíveis como moradias, automóveis, cartões de credito e outros. Para ele, isso estava conceitualmente errado.
Nos anos 1990, Lee propôs uma fórmula de salários públicos altos que seriam vinculados ao crescimento da economia e à arrecadação fiscal e ainda respeitariam uma paridade de dois terços da remuneração equivalente no setor privado.
Com isso, as remunerações poderiam aumentar ou diminuir, dependendo da situação da economia e do mercado de trabalho no setor privado. Ele também instaurou um sistema meritocrático que funciona não só no concurso de admissão como ao longo de toda a carreira do funcionário, incluindo o pagamento de bônus variáveis de até 50% do salário por desempenho. A meritocracia substituiu a isonomia no setor público.
MUITAS CRÍTICAS
Lee foi altamente criticado por pagar elevados salários para os funcionários do governo. Mas hoje Cingapura é bem governada, limpa, verde, segura e tem a terceira maior renda per capita do mundo.
No ano passado, Cingapura recebeu nota 8,5 na lista de 168 países que compõe o índice de “percepção de corrupção” da Transparência Internacional. É de longe o país mais avançado da Ásia nesse quesito e ocupa o 8º lugar do planeta.
O Brasil recebeu nota 3,8 (76º lugar). Hoje temos uma chance histórica de redefinir o que queremos ser nessa área. Em algum momento da história, alguns países mudaram culturas e paradigmas na área institucional e, exatamente por isso, se tornaram os mais ricos do planeta.
(artigo enviado pelo comentarista Wilson Baptista Jr.)

13 de março de 2016
Marcos Sawaya Jank
Folha