É da natureza política o dualismo entre jogos de sombra e arroubos públicos. Neste ocaso do PT no poder, vivemos a combinação dos fatores sob um véu de ironias.
Uma das maiores é a dinâmica entre Lula e Dilma. A história é rica em tensões que deságuam no momento em que o "golem" se volta contra o rabino criador, ou vice-versa. Isso foi insinuado algumas vezes, mas agora a união ganhou conotação fatalista. Se a petista (sic, né?) estava confortável em sua queda com Eduardo Cunha, hoje só tem o padrinho.
A presidente assiste impotente à montagem de alternativas a seu governo, com ela no cargo ou não. O show deste sábado na convenção do PMDB será apenas uma faceta pública do acordão que buscam forças de resto sob a espada da Lava Jato.
Restou o insano plano de trazer Lula para o governo, uma confissão de culpa para o petista, mas talvez o único choque capaz de fazer o cadáver chacoalhar por uns meses. Se o defunto levantaria, parece improvável, mas estamos no Brasil.
A questão maior para o PT é que a Lava Jato avança a passos largos, e nunca esteve tão próxima do centro do poder. Aqueles que gritam por isonomia cega fingem ignorar quem segura a caneta há 13 anos.
E há o fetiche das ruas. Não estamos em 1992, quando havia um clima de vigília pela saída de Collor com grupos menores; nosso mundo de rede sociais privilegia atos esporádicos e números que virem rankings.
Parece tolo, mas a precariedade dos arranjos é tal que todos os olhos estão voltados para o domingo. A crise não irá acabar de uma vez, salvo eventos excepcionais. Já o fetiche será instrumentalizado de lado a lado.
Quase não há ninguém na política e no PIB que não veja um ato estrondoso como senha do desenrolar do novelo; já foi assim em 2015, não custa lembrar. Mas do lado do governo, afora alguma animação militante com o esdrúxulo pedido de prisão de Lula, só restou torcida silenciosa.
13 de março de 2016
Igor Gielow, Folha de São Paulo
Uma das maiores é a dinâmica entre Lula e Dilma. A história é rica em tensões que deságuam no momento em que o "golem" se volta contra o rabino criador, ou vice-versa. Isso foi insinuado algumas vezes, mas agora a união ganhou conotação fatalista. Se a petista (sic, né?) estava confortável em sua queda com Eduardo Cunha, hoje só tem o padrinho.
A presidente assiste impotente à montagem de alternativas a seu governo, com ela no cargo ou não. O show deste sábado na convenção do PMDB será apenas uma faceta pública do acordão que buscam forças de resto sob a espada da Lava Jato.
Restou o insano plano de trazer Lula para o governo, uma confissão de culpa para o petista, mas talvez o único choque capaz de fazer o cadáver chacoalhar por uns meses. Se o defunto levantaria, parece improvável, mas estamos no Brasil.
A questão maior para o PT é que a Lava Jato avança a passos largos, e nunca esteve tão próxima do centro do poder. Aqueles que gritam por isonomia cega fingem ignorar quem segura a caneta há 13 anos.
E há o fetiche das ruas. Não estamos em 1992, quando havia um clima de vigília pela saída de Collor com grupos menores; nosso mundo de rede sociais privilegia atos esporádicos e números que virem rankings.
Parece tolo, mas a precariedade dos arranjos é tal que todos os olhos estão voltados para o domingo. A crise não irá acabar de uma vez, salvo eventos excepcionais. Já o fetiche será instrumentalizado de lado a lado.
Quase não há ninguém na política e no PIB que não veja um ato estrondoso como senha do desenrolar do novelo; já foi assim em 2015, não custa lembrar. Mas do lado do governo, afora alguma animação militante com o esdrúxulo pedido de prisão de Lula, só restou torcida silenciosa.
13 de março de 2016
Igor Gielow, Folha de São Paulo
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