Professor de relações internacionais na Universidade Columbia, especialista em América Latina, Christopher Sabatini, 51, afirma que a crise política, agravada pela investigação do ex-presidente Lula pela Operação Lava Jato, manchou a reputação internacional do Brasil. No curto prazo, ele disse, o país “pode dar adeus” a aspirações como o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. “É uma enorme crise de imagem.”
Como interpreta a ação contra o ex-presidente Lula?
É muito chocante. Alguns dias depois de ele dizer que pode se candidatar a presidente de novo e que não havia ninguém mais honesto no país do que ele, uau… Mesmo que ele não tenha se beneficiado pessoalmente, é muito difícil imaginar que não estivesse, no mínimo, muito ciente [do esquema de desvios].
É muito chocante. Alguns dias depois de ele dizer que pode se candidatar a presidente de novo e que não havia ninguém mais honesto no país do que ele, uau… Mesmo que ele não tenha se beneficiado pessoalmente, é muito difícil imaginar que não estivesse, no mínimo, muito ciente [do esquema de desvios].
Seria positivo submeter a presidente Dilma Rousseff ao processo de impeachment?
Nunca fui dos que defenderam que Dilma deveria renunciar ou sofrer impeachment desde o início, pela mera falta de popularidade e pela corrupção a seu redor. Não achava que seria razoável e abriria um precedente muito perigoso. Mas, a essa altura, torna-se importante para o Brasil começar a agir como um sistema parlamentarista. Se o fosse, o partido do governo convocaria novas eleições, estabeleceria um governo com mais credibilidade e legitimidade. É preciso alguma forma de coalização.
Nunca fui dos que defenderam que Dilma deveria renunciar ou sofrer impeachment desde o início, pela mera falta de popularidade e pela corrupção a seu redor. Não achava que seria razoável e abriria um precedente muito perigoso. Mas, a essa altura, torna-se importante para o Brasil começar a agir como um sistema parlamentarista. Se o fosse, o partido do governo convocaria novas eleições, estabeleceria um governo com mais credibilidade e legitimidade. É preciso alguma forma de coalização.
O senhor falou em parlamentarismo. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também se tornou réu na Operação Lava Jato. Acredita que os três Poderes possam funcionar como deveriam?De fato, ninguém está limpo. Seu vice-presidente [Michel Temer] não está formalmente envolvido em corrupção, mas vem de um partido muito fraco, o PMDB. Eu acho que o Brasil está no meio de uma crise constitucional, que requer uma ação constitucional dramática para que possa governar e isso envolve, claro, o Cunha, a Rousseff e o PT.
O senhor enxerga algum sinal vital na economia?
A economia se contraiu 3,8% no ano passado e parece que sofrerá algo similar neste. Há uma necessidade dramática de mudança, o que requer capital político e apoio popular. Isso é, de muitos pontos de vista, para usar um termo muito repetido, a tempestade perfeita para o Brasil: a combinação de uma recessão econômica terrível e necessidade de reforma, um sistema político profundamente danificado por corrupção e falta de apoio popular.
A economia se contraiu 3,8% no ano passado e parece que sofrerá algo similar neste. Há uma necessidade dramática de mudança, o que requer capital político e apoio popular. Isso é, de muitos pontos de vista, para usar um termo muito repetido, a tempestade perfeita para o Brasil: a combinação de uma recessão econômica terrível e necessidade de reforma, um sistema político profundamente danificado por corrupção e falta de apoio popular.
A imagem internacional do país foi prejudicada?
Sim, eu penso isso. É muito triste, mas a imagem internacional do Brasil foi machucada por essa extensa crise de corrupção. Eu estava em uma conferência recentemente, conversando com um diplomata japonês sênior, que me disse: o Brasil quer que nós, a Alemanha e a Índia consigamos um assento permanente no Conselho de Segurança [da ONU]. E ele disse: dados os problemas políticos e econômicos, não achamos que eles estejam prontos. O Brasil pode dar adeus àquele assento no curto prazo.
Sim, eu penso isso. É muito triste, mas a imagem internacional do Brasil foi machucada por essa extensa crise de corrupção. Eu estava em uma conferência recentemente, conversando com um diplomata japonês sênior, que me disse: o Brasil quer que nós, a Alemanha e a Índia consigamos um assento permanente no Conselho de Segurança [da ONU]. E ele disse: dados os problemas políticos e econômicos, não achamos que eles estejam prontos. O Brasil pode dar adeus àquele assento no curto prazo.
Quanto tempo leva até o país iniciar um novo momento?
O PT, o PSDB e o PMDB precisam se unir e formar alguma coalizão para o país sair disso. Fazer disso uma batalha partidária prejudica o país todo. O risco a longo prazo não é apenas o da economia, mas é a rejeição da classe dominante. O PT deveria estar acima disso, deveria ter trazido novos políticos, um novo jeito de fazer política e agora até isso está corrompido. As pessoas podem rejeitar a classe dominante e querer algo como [o pré-candidato presidencial americano] Donald Trump. E isso não é bom. Como é mesmo o nome do palhaço político no Brasil?
O PT, o PSDB e o PMDB precisam se unir e formar alguma coalizão para o país sair disso. Fazer disso uma batalha partidária prejudica o país todo. O risco a longo prazo não é apenas o da economia, mas é a rejeição da classe dominante. O PT deveria estar acima disso, deveria ter trazido novos políticos, um novo jeito de fazer política e agora até isso está corrompido. As pessoas podem rejeitar a classe dominante e querer algo como [o pré-candidato presidencial americano] Donald Trump. E isso não é bom. Como é mesmo o nome do palhaço político no Brasil?
Tiririca.
Sim, exato. Esse era o melhor momento político para ele. Ele deveria concorrer a presidente agora [risos].
Sim, exato. Esse era o melhor momento político para ele. Ele deveria concorrer a presidente agora [risos].
13 de março de 2016
Thais Bilenky
Folha
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