Quem não tem um drama ou um caso hilário para contar quando o assunto é família? Nas melhores ou piores, a vida se molda, transforma-se, apoia-se nos alicerces familiares. Para o bem ou para o mal. Afinal, a sociedade começa nas células familiares. O afeto reunia um grupo de seres humanos, criando vínculos fundamentais para a sobrevivência da espécie. De família para bando, de bando para comunidade. Quanto mais indivíduos, mais fortes os laços sociais, mais estruturada a civilização.
No entanto, família significa muitas coisas. Cultura é uma delas. Há famílias tão unidas que coitado daquele que se agregar, seja nora, seja genro. Viajam juntos, frequentam a mesma religião, têm suas manias e rituais, como, por exemplo, a obrigação de almoçar todo domingo na casa do patriarca ou da matriarca.
DE VÁRIOS TIPOS – Organizadas ou bagunceiras, silenciosas ou barulhentas, essas famílias “grudadas” têm vantagens e desvantagens. Empobrecem socialmente, enriquecem na solidez dos laços familiares. Vivem coletivamente, mas sacrificam o individual.
Há famílias briguentas, cheias de rivalidade, em que um não conversa com o outro, e competitivas, muitas vezes por conta de brigas por heranças. São também carentes de afeto, com pais secos ou distantes. Encontros são esporádicos, ocorrendo em velórios ou em casamentos. Gente emburrada, atritos constantes. Famílias doentes e que adoecem. Triste, mas costumam gerar exemplos contrários, e a segunda ou a terceira geração geralmente propõe novas formas, muito mais saudáveis e maduras, de formar família.
DESAGREGAÇÃO – Tem também a família “cada um cuida de si e Deus de todos”. Por falta de um elemento agregador, uma referência forte, costuma gerar um ambiente frio, individualista, em que cada um fica na sua. Cedo, filhos buscam seus destinos, e muito raramente se reúnem; em geral, em ocasiões formais. Normalmente, ligam-se à família de seus parceiros, carentes de um vínculo que sempre é forte e necessário. Isso é muito comum no norte europeu, onde o sistema de bem-estar social cumpre tão bem o papel de proteção que compete com o papel familiar.
Da mesma forma, as famílias de origens italiana, espanhola, portuguesa ou árabe são naturalmente muito apegadas, com fortes vínculos afetivos e muita passionalidade, dramas, ciúmes, brigas e conciliações, respeito aos pais e avós, a ponto de morarem próximo, em vilas ou “tendas”.
Algumas famílias que antes eram grandes, rurais e mexiam com a lavoura se urbanizaram, diminuíram de tamanho. Tornaram-se eletrônicas, são intermediadas por telas, redes sociais. Distantes, menos afetivas, quase não se falam.
NOVA FAMÍLIA – Em crise de identidade, a “nova família” ainda não se identifica. Não cabe no modelo tradicional, após séculos de culturas e normas que hoje nada representam. Valores, moral e ética não são temas discutidos em casa. Exemplos não servem no dia a dia.
Casais separados conflitam não apenas seus egos, ressentimentos mal resolvidos, mas transferem aos filhos os estilhaços de uma munição triste e dolorosa, que é falar mal da metade genética familiar, a qual, inexoravelmente, habitará coração, mente e alma dos filhos de casais separados. E o inevitável: “Igual ao pai (ou mãe ), a mesma praga!”
Enfim, família. Essa célula civilizatória. Aquele ninho onde, creia, se tudo der errado em sua vida, te acolherá, pois, acima dos desamores e das diferenças de personalidades, seremos sempre pais, mães, irmãos, filhos, netos. Abençoemos, perdoemos, agradeçamos por termos uma família!
18 de setembro de 2017
Eduardo Aquino
O Tempo