"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O HUMOR DO ALPINO

 
 
04 de abril de 2014


O PROBLEMA, DOUTOR, É O BOLSO... E COMO DÓI!!!

 
 
04 de abril de 2014


ESTÁ FALTANDO APENAS A FRALDA GERIÁTRICA

Dirceu alega que é idoso e insiste em trabalhar fora do presídio


José Dirceu não desiste. Por meio de seus advogados, o ex-ministro chefe da Casa Civil no governo Lula entregou quarta feira nova petição ao Supremo Tribunal Federal para que seja analisado com prioridade pedido de autorização para trabalhar fora da Papuda.
Ele argumenta que é “cidadão idoso”.
Dirceu tem 68 anos e foi condenado nos autos do processo do mensalão a 10 anos e 10 meses de prisão, em regime semiaberto. Ele está preso em Brasília desde novembro.

Desde que surgiram denúncias de que ele estaria cercado de mordomias e privilégios no presídio, Dirceu não consegue convencer a Justiça a permitir sua saída durante o dia para trabalhar.
Ele tem proposta do advogado José Gerardo Grossi para dar expediente na biblioteca do escritório, pelo salário de R$ 2,1 mil. Dirceu está preso desde novembro.
No dia 19 de dezembro, seus advogados apresentaram pedido de trabalho externo, que obteve parecer favorável da Seção Psicossocial e do Ministério Público do Distrito Federal.Mas a análise do pedido foi suspensa cautelarmente “até a conclusão do apuratório disciplinar”.
Os criminalistas José Luís Oliveira Lima, Rodrigo Dall’Acqua e Camila Torres Cesar, defensores do ex-ministro, sustentam que a investigação concluiu “pela inexistência de falta disciplinar sem que houvesse pedido de diligência complementar por parte do Ministério Público e do juízo de primeiro grau”.

Os advogados destacam, ainda, que nem mesmo a Procuradoria Geral da República “solicitou diligências nem tampouco apresentou argumentos contrários ao pedio de trabalho externo”.

A defesa invoca o artigo 71 da Lei 10741/2003 para pedir urgência na decisão do STF. “Considerando tratar-se de cidadão idoso e preso requer-se prioridade na análise do pedido de trabalho formulado pelo requerente.”

PASADENA A TOQUE DE CAIXA... VAMOS BATER O BUMBO DA VERDADE!

 

 

 


 
Embora o advogado do ex-diretor da Área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, Edson Ribeiro, tenha dito na quarta-feira (2)  que o contrato da operação de compra de metade da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), foi enviado ao Conselho de Administração da estatal com 15 dias de antecedência à reunião na qual o negócio foi aprovado, documentos internos da companhia com dados fundamentais do caso ficaram prontos às vésperas da reunião.

Nove documentos estão anexados à ata dessa reunião, datados entre 27 de janeiro e 2 de fevereiro de 2006. Sua leitura mostra que uma série de alertas foi omitida do resumo executivo apresentado por Cerveró ao conselho. Todo o processo foi feito a toque de caixa.
 
Procurado nessa quinta-feira (3), o advogado de Cerveró informou, por nota, que não falaria. “Eventuais esclarecimentos serão prestados por Cerveró, após seu depoimento, em 16/04, na Câmara dos Deputados”, disse Ribeiro.

O advogado esclareceu, porém, que nas declarações de quarta-feira se referia de forma genérica ao prazo de entrega de documentos ao conselho, e não ao caso específico de Pasadena.

DOCUMENTO INTERNO

A reunião de conselho sobre Pasadena foi dia 3 de fevereiro de 2006. A reunião da diretoria executiva que encaminhou o assunto ocorreu na véspera, dia 2. Da mesma data é o Documento Interno do Sistema Petrobrás (DIP) com detalhes do negócio, apreciado na reunião de diretoria.

Recebido por Cerveró, esse documento, de nove páginas, deveria embasar o resumo executivo de duas páginas e meia que a presidente Dilma Rousseff, em nota ao Estado, chamou de “falho”.

O relatório foi elaborado pelo então gerente executivo de Desenvolvimento de Negócios Internacional, Luis Carlos Moreira. Embora Cerveró tenha carimbado o recebimento do documento em 2 de fevereiro, o resumo executivo foi “originado pelo diretor da área Internacional” em 31 de janeiro, dois dias antes.

Em anexo ao documento assinado por Moreira estão outros pareceres internos, produzidos pelas gerências tributária e jurídica da própria Área Internacional, além de consultoria externa.

PRAZO CURTO

O parecer tributário é datado de 31 de janeiro e chama atenção para o prazo curto em que a análise financeira e contábil foi feita. Já o parecer jurídico, documento feito com maior antecedência, é datado de 27 de janeiro, uma semana antes da reunião do conselho.

A gerência jurídica da Área Internacional não viu problemas, disse que as minutas dos contratos “contemplam cláusulas usuais em transações do gênero”.

Mês passado, ao ser questionada sobre cláusulas polêmicas da operação – como as que previam uma Put Pption (obrigatoriedade de a Petrobrás comprar toda a planta em caso de conflitos) e Marlim – rentabilidade mínima à sócia belga – Dilma disse que o conselho não aprovaria o negócio se soubesse delas.

Análises independentes também foram feitas às vésperas da reunião do conselho. O Citigroup entregou seu laudo de avaliação em 1º de fevereiro. Teve menos de cinco dias para analisar a papelada.

Já o relatório da consultoria BDO Seidman é de 30 de janeiro, quatro dias antes da reunião. Ele apresenta cerca de 40 ressalvas, comentários ou sugestões, depois de cinco dias analisando o caso.

CONSELHEIROS VOTAM PELA REDUÇÃO PARA 5% DAS COTAS RACIAIS NA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, QUE ERAM DE 20%

 

 

Estudantes e professores lotaram o auditório da reitoria (Lucas Vidigal/Esp. CB/DA Press)
 

O sistema de cotas raciais da Universidade de Brasília será mantido, mas o percentual de reserva de vagas para negros cairá de 20% para 5%. Foi o que decidiu o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) na tarde de quinta-feira.

A votação foi feita em duas partes, na primeira, 32 conselheiros votaram pela manutenção do sistema e 7 contra. Na segunda, 27 optaram pela redução da reserva para 5% e 11 votaram pela manutenção dos 20%. A decisão valerá no próximo vestibular, que ocorre no meio do ano.

A redução do percentual de reserva para 5% foi sugerida pela comissão criada para avaliar o sistema de cotas raciais da universidade após 10 anos de implantação. Além das cotas raciais, a instituição também adota o percentual de 50% das vagas para estudantes de escolas públicas, conforme define lei federal publicada em 2012. A norma inclui a reserva de vagas para candidatos negros e foi um dos principais motivadores da decisão de reduzir o percentual que já era oferecido pela UnB.

Foram mantidas ainda 10 vagas por semestre para candidatos indígenas, totalizando 20 por ano. Após a deliberação, alguns dos presentes protestaram e chamaram de racistas os conselheiros que votaram contra a manutenção do sistema de cotas raciais. Também houve gritos de “DCE racista”.

O sistema de cotas raciais foi implantado na UnB em 2003 e, de acordo com a proposta inicial, deve ser reavaliado a cada 10 anos.

OPOSIÇÃO VAI OBSTRUIR E TRANCAR A PAUTA DA CÂMARA ATÉ INSTALAR A CPMI DA PETROBRAS

 

Partidos de oposição continuam mobilizados para tentar garantir a instalação da comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) destinada a investigar denúncias envolvendo a Petrobras. Na Câmara, o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), antecipou que o partido vai impedir que qualquer matéria seja votada em plenário até que o colegiado seja criado: a ameaça inclui a pauta do esforço concentrado confirmada ontem pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
“Na próxima segunda, dentro do esforço concentrado que tem como primeiros itens as medidas provisórias 628 e 630, vamos obstruir a votação. Vamos fazer obstrução severa e dura porque não podemos permitir que o Legislativo se dedique a outra matéria [enquanto] a apuração das denúncias envolvendo a Petrobras fique no segundo plano”, protestou.

Mendonça Filho disse que o DEM está tentando fechar um acordo com outras legendas da oposição para engrossar o movimento que pode dissolver as expectativas do presidente da Câmara, que quer limpar a pauta de votações. Na lista do esforço concentrado estão 48 matérias, entre projetos de lei e propostas de emenda à Constituição que, segundo Alves, deverão ser votadas todos os dias da semana. Ontem (2), ele lembrou que a pauta ficou trancada desde outubro do ano passado: 30 projetos prioritários esperam na fila.

SÓ NO DIA 15…

A previsão é que a leitura do requerimento para instalar a CPI mista seja feita no próximo dia 15 para que a comissão seja imediatamente criada e composta, já que a oposição já protocolou mais assinaturas de apoio ao pedido que o número mínimo exigido pelo Regimento Interno do Congresso – 27 senadores e 171 deputados. Mesmo com a data definida, o DEM não pretende ceder na nova campanha. “Vamos obstruir até lá”, disse Mendonça Filho.

Além da obstrução, a oposição na Câmara pretende unir forças com o Senado para tentar derrubar o que define como manobras para retardar a instalação das comissões de inquérito. Antes mesmo de decidirem por uma CPI mista, o Senado já tinha um requerimento com o número suficiente de assinaturas para uma comissão exclusiva da Casa com o mesmo objetivo.

04 de abril de 2014
Carolina Gonçalves
Agência Brasil

NOVA PESQUISA SOBRE A SUCESSÃO PRESIDENCIAL DEVE SAIR AMANHÃ

 

Nos bastidores da política e da economia, as apostas divergem. O mercado financeiro vem antecipando e a oposição esperando uma queda dos índices de Dilma com os desgastes do governo e o caso Petrobras. Porém, os levantamentos feitos pelo PT, incluindo pesquisas rápidas via telefone, ainda não apontam variações significativas.

Está sendo aguardada com ansiedade uma nova pesquisa presidencial que o instituto Datafolha colocou em campo nos últimos dias.

Os resultados devem sair neste fim de semana.
A grande curiosidade é sobre eventuais impactos da queda de aprovação ao governo Dilma, já captada pelo Ibope, nas intenções de voto dos eleitores.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Se a aprovação de Dilma Rousseff continuar caindo, o movimento “Volta Lula” se fortalecerá e a candidatura dela ficará novamente a perigo. O PT quer lançar Lula para ter mais chances de vitória, porque as pesquisas indicam que ele conseguiria mais votos do que ela e desta vez poderia vencer a eleição presidencial no primeiro turno, façanha que o PT jamais conseguiu. (C.N.)

04 de abril de 2014
Raquel Faria
O Tempo

CANALHAS QUE DEVERIAM ESTAR PRESOS TENTAM IMPEDIR MARIA CORINA MACHADO DE FALAR NO SENADO

BOLSONARO PÕE A BOCA NO TROMBONE (COMO DE HÁBITO...)

RODA VIVA COM ALMINO AFFONSO, MINISTRO DO TRABALHO DO GOVERNO JOÃO GOULART

O entrevistado do programa Roda Viva, transmitido pela TV Cultura, foi Almino Affonso, ministro do Trabalho durante o governo de João Goulart. Ele acaba de lançar um livro sobre os idos de março de 1964, que incursiona pelos bastidores da queda de Jango.

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=VbGcj_Hy_-0&list=UUNVsZnDXOM4PodYIEgM2e4w

04 de abril de 2014

O RODA VIVA COM MILLÔR FERNANDES

A TV Cultura retransmitiu o programa Roda Viva com o jornalista e humorista Millôr Fernandes, apresentado originalmente em 1989.

Confira:

UM VELHO HÓSPEDE DO SANATÓRIO GERAL

Dez das 98 internações de André Vargas mostram que o amigo de doleiro a jato deve esperar o camburão no Sanatório Geral

O caso do jatinho emprestado por um doleiro engaiolado já garantiu a André Vargas a mais longa permanência no Sanatório Geral. O alentado prontuário do cliente informa que a primeira internação ocorreu em 8 de junho de 2010.

De lá para cá, o deputado do PT paranaense  foi recolhido  98 vezes à instituição especializada na localização e captura de gente que não fala coisa com coisa, mitômanos, enganadores compulsivos, portadores de miopia conveniente, bestas quadradas, cretinos fundamentais, bajuladores patológicos, vigaristas de variado calibre e mentirosos em geral.

A pedido da coluna, a junta médica que cuida de Vargas emitiu um curtíssimo parecer sobre o paciente: INCURÁVEL. E anexou ao diagnóstico, para justificá-lo, dez fichas que registram a causa da internação e o comentário dos profissionais do Sanatório:

“O povo não quer um grande debatedor. Quer um Brasil melhor”(Em 4 de agosto de 2010, explicando que o eleitor deveria votar em Dilma Rousseff mesmo sem entender o que dizia a candidata)

“Nós só podemos receber doação de quem tem dinheiro”
(Em 5 de dezembro de 2010, sobre a bolada de R$ 1,5 milhão doada por Daniel Dantas ao diretório nacional do PT, deixando claro que receberá com muita honra eventuais contribuições dos companheiros Fernandinho Beira-Mar e Marcola)


“Os grandes jornais não compreendem o tipo de país que se está construindo”
(Em 11 de dezembro de 2011, informando que só os pequenos pequenos jornais já entenderam que, no tipo de país que a companheirada e a base alugada estão construindo, a imprensa deve elogiar o governo, ensinar aos leitores que pecado é virtude, defender a liberdade dos bandidos de estimação, louvar o patriotismo dos corruptos, fingir que entende o que diz Dilma Rousseff e canonizar São Lula)


“Boa noite. Vou dormir çedo, porque saio çedinho para São Paulo”
(Em 18 de janeiro de 2012, caprichando no uso da cedilha para confirmar, pelo Twitter, que a idiotia está no poder)


“Suçesso total na audiênçia com o ministro!”
(Em 23 de janeiro de 2012, ainda em campanha para tornar-se nacionalmente conhecido como O Açaçino da Çedilha)


“Ministro do Supremo não é para ficar sendo aplaudido em restaurante por decisão contra o PT”
(Em 9 de junho de 2012, apavorado com a notícia de que o julgamento dos mensaleiros começaria em 1° de agosto, admitindo que, no Brasil da corrupção institucionalizada, juízes que cumprem a lei viram heróis nacionais)


“Eu só tenho a lamentar, e muito, a decisão do Supremo”
(Em 31 de agosto de 2012, sobre a condenação de João Paulo Cunha, com cara de quem percebeu tarde demais que a luz no fim do túnel era um trem)


“O partido do presidente Lula, que governou esse país transformando o Brasil de uma nação submissa aos interesses americanos e dos países ricos a um país que tem iniciativa, que tem postura, que melhorou a vida dos brasileiros, diminuiu a pobreza e agora tem continuidade no governo da presidenta Dilma”
(Em 25 de setembro de 2012, ensinando num dialeto ainda não identificado que o presidente Lula proclamou a independência do Brasil, criou a República e inaugurou Dilma Rousseff)


“Quero dar a minha contribuição. As pessoas não podem pagar. Conheço Genoino, Dirceu e Delúbio. São pessoas que têm os bens que foram capazes de adquirir com o suor do trabalho. Nunca puseram um centavo no bolso”
(Em 16 de novembro de 2012, sobre a vaquinha planejada para ajudar os companheiros condenados no processo do mensalão no pagamento das multas impostas pelo STF, reforçando a suspeita de que todo o dinheiro movimentado pelo alto comando da quadrilha foi destinado a creches, asilos e santas casas de misericórdia)


“É cassação sumária”
(Em 5 de fevereiro de 2013, ao criticar a decisão do STF de cassar o mandato dos parlamentares condenados no julgamento do mensalão, ensinando que, enquanto esperam o começo da temporada na cadeia, os companheiros gatunos merecem desfrutar da companhia dos colegas de ofício hospedados num gabinete da Câmara, mais conhecida como Casa dos Horrores)


04 de abril de 2014
No Sanatório, André Vargas se sente em casa. Merece ficar por lá até a chegada do camburão.

OLYMPIO MOURÃO FILHO, UM LOBO E SEUS DEMÔNIOS

 

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A conspiração era dele, o golpe foi dele, sem ele tudo estaria perdido ─ a democracia, os generais “que fazem crochet”, a massa ignara, o Brasil. O general Olympio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, em Minas Gerais, achava que tinha arriscado tudo para fazer a revolução. Acabou ficando sem nada, exceto o elevado conceito que fazia de si mesmo e o desprezo ferino por praticamente todos os demais, inclusive companheiros de farda.

Anotou em seu diário no dia 31 de março, terça-feira, às 3h15 da manhã: “Vou partir agora para a luta às cinco horas da manhã, dentro de uma hora e cinquenta minutos, em más condições, portanto, porque serei obrigado a parar no meio do caminho e o Exército inteiro vem contra mim, como aconteceu em São Paulo em 1932. Ninguém me prenderá. Morrerei lutando”. Não morreu e, a rigor, não lutou, mas foi indubitavelmente o pioneiro da rebelião militar lançada de Minas Gerais que, desfechada em atmosfera duvidosa, chegou ao Rio de Janeiro quando a vitória já estava decidida.

No caminho, um telefonema havia mudado tudo. O inimigo que Mourão esperava encontrar era o destacamento avançado do conhecido Regimento Sampaio, sob o comando do coronel Raimundo Ferreira de Souza. Como uma espécie de conspirador sênior (e controlador do espeloteado comandante), o venerando marechal Odílio Denys acompanhava a movimentação de Mourão e foi ele o indicado a falar como o chefe das forças teoricamente adversárias pelo telefone de uma oficina mecânica: conhecia o coronel, que havia sido seu subordinado. “Estou com a tropa e com mineiros para depor o governo e acabar com a ameaça do comunismo”, informou. No fim da conversa, o coronel Ferreira de Souza já tinha mudado de lado: “Eu e toda a minha tropa nos solidarizamos com o movimento revolucionário”.

Enquanto Mourão se imaginava um César triunfante, outros generais mais estrelados se movimentavam nos diversos focos de conspiração. Dois dias depois de sair de Minas contando com a morte, ele chegou ao quartel-general do Exército no Rio, também de madrugada, já antevendo que seria passado para trás. O general Arthur da Costa e Silva havia assumido o comando do Exército e queria outro nome para a posição que Mourão considerava sua de direito, a chefia do I Exército. Mourão foi ao 6º andar, mandou um coronel acordar Costa e Silva, ouviu e acatou a decisão de ter outro no lugar que desejava. “Aí começou a desgraça do Brasil. Eu tirara a nação de um abismo e empurrara-a para outro. Se eu conhecesse o general Costa e Silva como hoje, o teria expulsado do Quartel-General”, escreveu em suas memórias, entregues no leito de morte ao historiador Hélio Silva, que o considerava um homem “bom, sofredor, pitoresco, capaz de assomos de cólera”.

O temperamento explode em praticamente todas as páginas de suas memórias. Proclamando para si mesmo a “articulação, o desencadeamento e a vitória” da revolução, escreveu: “Porque a verdade é que alguns demônios andaram soltos neste país, enquanto a maioria desta nação estava entocada, apavorada, os chefes militares prontos a se deixarem dominar, contanto que continuassem a viver, viver de qualquer maneira, sem coragem de arriscar as carreiras”. Ele considerava ter tido os olhos abertos para esses “demônios” num jantar em 1961 em que Leonel Brizola, na época governador, e outro general de sua confiança falaram livremente sobre seus planos políticos. “Fui para casa dormir, absolutamente disposto a começar uma contra-conspiração para impedir que uns loucos furiosos transformassem este país numa fogueira.”

Mourão não fez outra coisa, cultivando a reputação de lobo solitário ─ alguns achavam que um bobo solitário, que falava demais, agia com impulsividade e cultivava o próprio ego a ponto de denominar de Operação Popeye os planos para sair de Juiz de Fora e, em marcha forçada, chegar ao Rio a tempo de “prender no Palácio Laranjeiras o presidente, o comandante do I Exército e quantas autoridades mais fosse possível”. Por que Popeye? Porque ele fumava cachimbo. “Manobra de louco? Não importa. Era minha manobra”, disse sobre a operação que nunca executou. Em sua própria e famosa definição, “em matéria de política eu sou uma vaca fardada. Se de acordo com minha consciência estou certo, os outros que me sigam”. Tantos o seguiram. Depois, muitos o abandonaram.

04 de abril de 2014
Especial VEJA
Colaboradores: André Petry, Augusto Nunes, Carlos Graieb, Diogo Schelp, Duda Teixeira, Eurípedes Alcântara, Fábio Altman, Giuliano Guandalini, Jerônimo Teixeira, Juliana Linhares, Leslie Lestão, Otávio Cabral, Pedro Dias, Rinaldo Gama, Thaís Oyama e Vilma Gryzinski.

O PAÍS DOS ESTUPRADORES INVENTADO PELO IPEA NÃO EXISTE!

ERA TUDO UM ERRO. QUEM SABE, AGORA, O INSTITUTO RESOLVA PENSAR O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL!


Eu sinto muita vergonha do Ipea — e não é de hoje. Passei um pouco longe dessa história do estupro e da minissaia — e de toda a sociologice vagabunda, desinformada e rasteira que se erigiu a respeito — porque, sinceramente, há coisas que me aborrecem de tal maneira que, ao escrever sobre elas, sinto-me também algo diminuído.
Agora, o instituto que foi pensado para pensar políticas estratégicas para o país vem a público para dizer que se enganou. Não!, diz a instituição, não são 65,1% os que concordam que uma saia curta justifica ataque às mulheres, mas apenas 26% — que, sei lá, deve ser mais ou menos o índice de suecos ou noruegueses que diriam o mesmo. Por que diabos o Ipea está preocupado com a minissaia e os impulsos libidinosos dos brasileiros, eis uma questão que ainda está para ser esclarecida.
 
Agora, sim, o número parece compatível com outros divulgados. Segundo a pesquisa (tomara que os números estejam certos), 91,4% concordam total (78,1%) ou parcialmente (13,3%) que homem que bate na própria mulher tem de ser preso. Nada menos de 70% discordam total (58,4%) ou parcialmente (11,6%) da tese de que mulher que é agredida e fica com o marido gosta de apanhar. Enormes 81,1% discordam total (69,8%) ou parcialmente (12,3%) da afirmação de que a mulher que apanha deve se calar para preservar os filhos.
 
Ora, esses são os números de um país moralmente civilizado — talvez até mais do que o seja, de fato. Estou entre aqueles que acham que as pessoas mentem um pouquinho quando respondem a uma pesquisa com vergonha do entrevistador; sabem qual é a metafísica influente. Mas não tenho dúvida de que a imensa maioria pensa realmente assim.
 
Ora, por que, então, no caso da minissaia, seria diferente? Para que 65,1% concordassem com aquela boçalidade, seria preciso contar com um expressivo assentimento das mulheres, certo? Dado que certamente não haveria 100% dos homens endossando a frase, milhões de mulheres estariam dizendo: “Sim, nós merecemos ser molestadas quando vestimos uma saia curta…”. Tenham paciência! Nem “as inimiga” de Valesca Popozuda “pensa” isso das “adversária”.
 
E agora? O que hão de fazer com toda a baixa sociologia que se produziu de um extremo a outro do espectro ideológico, a partir de uma informação obviamente errada. Estou furioso porque tinha enviado — achei que tinha — um e-mail a Mauro Paulino, do Datafolha, sugerindo que o instituto fizesse a mesma pesquisa. Por uma dessas fatalidades que impede a gente de passar por profeta (mesmo quando não é…), a coisa ficou no “rascunho”. Ali eu chutava: “Duvido que o resultado seja esse; é incompatível com os outros achados, e boa parcela das mulheres teria de concordar com esse absurdo”.
 
O diretor da Área Social do Ipea pediu exoneração. É pouco! Erro assim não é trivial. Qual foi a sua gênese? Como foi produzido? Não há revisão? Não se faz uma análise para saber se os dados são compatíveis? Não há mecanismos de controle — uma espécie de contraprova — para saber se os pesquisadores não manipulam dados? As outras pesquisas feitas pelo Ipea são conduzidas com o mesmo cuidado?
 
Então o país que, até havia pouco, era composto de uma maioria de potenciais estupradores passou a ser formado por uma maioria que, quando veem uma minissaia, logo pensam em penitência, em ajoelhar no milho e se punem moralmente ao menos por seus pensamentos lúbricos?
 
O pensamento brasileiro, na era das redes sociais, está sendo dominado por uma espécie de ente de razão composto por uma algaravia de ONGs um tanto histéricas. Os dados errados do Ipea vieram a público em meio ao movimento de caça-tarados do metrô. Também nesse caso, com milhões de passageiros sendo transportados todos os dias, alguns casos ganharam a dimensão de uma verdadeira síndrome.
NÃO, EU NÃO ESTOU MINIMIZANDO NADA! QUE EXISTA UM VAGABUNDO OU UM DOENTE, SEI LÁ, QUE FAÇA ISSO, E SE DEVE TOMAR A DEVIDA PROVIDÊNCIA. Ocorre que a maximização de ocorrências esporádicas e a “pesquisa” estúpida do Ipea geraram uma falsa evidência sobre o comportamento dos brasileiros.
CURIOSAMENTE, ESSA FALSA CONSCIÊNCIA COINCIDE COM OS PRECONCEITOS DE GRUPOS MILITANTES, DE SETORES MILITANTES DA IMPRENSA, DE INTELECTUAIS MILITANTES.
 
Não por acaso, lá foi Dilma, que agora dá “beijinho no ombro” no Facebbok, fazer proselitismo cretino no Twitter. Proliferaram as fotos “Eu não mereço ser estuprada”. No universo da linguagem e da comunicação, o interlocutor, o “outro” dessa declaração, era uma maioria de potenciais estupradores, inclusive… mulheres!!! Andei de metrô na terça-feira. Estava com uma pequena pasta. Cobri a pélvis, mas fazendo certa ginástica para manter o cotovelo num ângulo agudo; com a outra mão, tentava me equilibrar. Os trens estavam relativamente vazios. Fiquei pensando em como deve ser nas horas de pico; pensei no pânico dos inocentes. E me lembrei de uma entrevista de Bernardo Bertolucci à revista BRAVO!, há muitos anos, quando eu lá trabalhava: “O fascismo começa caçando tarados”.
 
Quem sabe o Ipea volte a se preocupar com questões relevantes para o desenvolvimento do Brasil! Aí aquele que adora ler o que não está escrito pergunta: “Essa questão não é relevante?”. É, sim. Para tanto, existem a Secretaria da Mulher, a de Direitos Humanos, o Ministério da Justiça — no limite, até o Ministério dos Transportes. O Ipea se ocupar disso é uma evidência óbvia de desvirtuamento e de falta de foco — justo no momento em que o comando da instituição se orgulha de ter criado a metafísica das “polícias sociais focadas”… Que nojinho eu tenho dessa conversa que tem uma patinha no neoliberalismo de manual e outra no neo-social-intervencionismo!!!
Em homenagem ao Ipea, um trecho da peça “Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?”, do genial Edward Albee, em que a Martha, a bêbada sensata, alterca com Nick, o “cientista” babaca:
 
MARTHA – Ora, mocinho, você vive curvado em cima daquele seu microfone. . .
NICK - Microscópio.
MARTHA – É. . . E não vê coisa nenhuma, não é? Analisa tudo menos a maldita mente humana. Enxerga manchinhas e pontinhos, mas não sabe o que é que está acontecendo ao redor, não é verdade?
 
O certo seria pôr na rua a direção inteira da instituição. Por ofensa ao povo brasileiro!
Cambada de burros e irresponsáveis!
 
04 de abril de 2014
Reinaldo Azevedo

JOSÉ NÊUMANE PINTO COMENTA A VISITA AO BRASIL DA DEPUTADA VENEZUELANA MARIA CORINA

 
Em sua coluna Direto ao Assunto, veiculada pela Rádio Jovem Pan, o jornalista José Nêumanne Pinto comenta a visita da deputada venezuelana Maria Corina Machado ao Senado e o discurso em que comparou o Brasil de 1964 à Venezuela chavista.
Confira:



A PERSISTÊNCIA DOS VENDILHÕES

DEPOIS DE ASSASSINAR A CPI DA PETROBRAS, RENAN ESTÁ CONDENADO A OUVIR O QUE  UM BRASILEIRO DECENTE DISSE A AGNELO QUEIROZ

https://www.youtube.com/watch?v=q9UHvv2gozQ&feature=player_embedded

IMPEDIR A INSTAURAÇÃO DE QUALQUER CPI É UMA AFRONTA A DEMOCRACIA

 

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) é um instrumento constitucional (art. 58) de respeito às minorias. Para isto serve nos parlamentos que o utilizam.

E se formos além? CPI: arma de que se vale o POVO para saber/investigar/apurar denúncias apresentadas ao Congresso. Portanto, afrontar esse instrumento constitucional é um atentado contra a democracia.

Para a minoria, não há forma de atuar tão importante quanto aquela que permite que 1/3 dos congressistas do Senado ou da Câmara possa agir de acordo com os mandatos outorgados por nós.

Quem seria contra este instrumento que derrubou um presidente, desmascarou os anões do orçamento e ajudou a encarcerar um bando de quadrilheiros?

Obviamente quem tem razões para isto. Quem tem medo ou vontade de ocultar falcatruas, além do instinto ditatorial que gostaria de impedir a existência de oposições.

A Petrobras derrete. Perdeu 50% de seu valor como empresa. Um ex-diretor garante que a presidente da República sabia do negócio que nos deu um prejuízo de 1,2 bilhão de dólares. Graça Foster não explica como uma refinaria em construção já gastou 18 BILHÕES de reais (e não está sequer na metade do cronograma) embora tenha sido planejada para custar 2 bilhões.

Não há dúvida de que existem respostas a ser dadas. Mas o medo é maior que a lógica. Ao invés de explicações, há um movimento dos culpados para colocar no mesmo saco falcatruas ainda por comprovar. Que seja assim! Como diz Augusto Nunes, “não temos bandidos de estimação!”

Que venham mais CPIS! Sobre o Mais Médicos, para explicar a contratação da “sociedade mercantil”. Sobre o cartel do metrô de São Paulo, sobre os contratos secretos com ditaduras africanas e com Cuba. Como diria Darcy Ribeiro: “Vamos passar o Brasil a limpo?”.

Mas que não se esconda o desastre da Petrobras. Somente os renans calheiros para tentar impedir, cinicamente, a implantação deste instrumento popular e democrático.

Um dia talvez tenhamos uma CPI com objeto definido: a trajetória de Renan Calheiros. Começaria antes da parceria com Fernando Collor e se estenderia ao governo Dilma.

04 de abril de 2014
REYNALDO ROCHA

LIÇÕES DE BOEMIA





Lições de boemia

O álcool e os bares nos cadernos de Paulo Mendes Campos
por ELVIA BEZERRA
 

"Por que bebemos tanto assim?”, quis saber Paulo Mendes Campos na crônica que incluiria em Homenzinho na Ventania,de 1962, seu segundo livro no gênero. Estava com 40 anos de idade quando escreveu, e tinha a resposta: “Bebemos para empatar com o mundo. O mundo está sempre a ganhar da gente, de 1 a 0, 2 a 0... bebe-se na esperança de igualar o marcador.” Até chegar a essa conclusão, fizera um percurso respeitável pelas mesas do planeta – declarava-se conhecedor de botequins de Minas Gerais à China e à Rússia. Como homem viajado, anotara suas preferências de bares em Xangai e Leningrado, cidades que visitou em 1957, passando pela alemã Göttingen até a mineira Sabará, entre dezenas de outras. Além de ter se dedicado ao tema em crônicas, voltou a tratá-lo na poesia e mesmo nas escolhas que fez para a sua produção de tradutor.
 
A boemia nunca impediu Paulo Mendes Campos de trabalhar, e muito, em quase todos os periódicos do Rio de Janeiro a partir de meados da década de 40, época em que eram abundantes. Somou às rodadas de chope e à produção jornalística uma disciplina incomum: é o que revelam os 55 cadernos de notas que deixou em seu arquivo de 5 520 documentos, sob a guarda do Instituto Moreira Salles desde abril de 2011.[1] Não sem motivo, muitos dos seus pares o consideravam o mais preparado dos “quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse”, expressão que Otto Lara Resende criou para denominar o quarteto completado por ele mesmo, Fernando Sabino e o psicanalista Hélio Pellegrino. Todos nascidos em Minas Gerais na década de 20, o que levou Mário de Andrade a nomeá-los “os vintanistas”.
 
Quando atingiu 60 anos e já tinha feito história nas boates Vogue, Maxim’s e Sacha’s, na Copacabana do final da década de 40, início de 1950, Mendes Campos disse em entrevista ao colega Joel Silveira: “Hoje me defino como um erudito sem erudição. [...] Tenho uma facilidade danada para guardar coisas, relacionar coisas, e tal. Daria um grande arquivista da onu, talvez pudesse ser um grande historiador, qualquer coisa assim. Mas não desenvolvi essa qualidade de guardar as coisas, e isso principalmente porque na minha vida eu sempre preferia mais o Vogue, o Sacha’s do que a Biblioteca Nacional.”
 
Em carta a Otto de 1o de dezembro de 1945, quando sofria de saudades dos amigos que tinham ficado em Belo Horizonte, ele confessava: “Assim como, sem o Hélio, somos um hospício sem loucos, sem o Fernando somos um parque de diversões sem roda-gigante. E, sem mim, sem mim vocês são um compêndio sem prolegômenos e sem erratas.” Anos depois, em entrevista à revista O Prelo, reafirmava seu “gosto paciente pela procura, pela comparação, pela classificação, pela pequena vitória e pelo fracasso instrutivo”.
 
Seus manuscritos dão testemunho de muitas horas destinadas a leituras e reflexões sobre a solidão e a morte – há um caderno para cada um desses nós da existência –, assim como à bebida e ao álcool. Ao título “Bares do meu caminho”, no topo de um dos seus cadernos, segue-se uma relação dos quase vinte textos que publicou sobre o tema. Às vezes anotava parágrafos ou aforismos, dando a impressão de que a frase lhe saltara inesperada e precisava registrá-la imediatamente. É assim que, em meio a considerações sobre música, lê-se: “Aviso aos jovens abstêmios: a velhice é uma ressaca diária. E sem cura.” Ou ainda: “Sabedoria... seria anoitecer como um bêbado e amanhecer como um abstêmio.”
 
Salpicou muitos desses aforismos no seu repertório de cronista, que admite desde o texto curto, convencional, passando por parágrafos extensos e independentes, até coletâneas de frases, poemas em prosa, de modo a oferecer, também na forma, uma “peculiar paleta literária”, nas palavras do jornalista Flávio Pinheiro, superintendente-executivo do ims e organizador da reedição[2] das obras do autor.
 
Ao estudar o álcool, Paulo Mendes Campos preparou em um de seus cadernos uma “Galeria de bêbados famosos”. Listava nela os bons de bico por nacionalidade. Começando pela Grécia, com Anacreonte, passando pela China, com o poeta Li Po (ou Li Bai), até o Brasil, com Vinicius de Moraes e Lima Barreto, sem levar em conta o nível de relação de cada um com o álcool. Bêbados, apenas. “Dá-me mais vinho, porque a vida é nada” concluiu Fernando Pessoa, um dos incluídos na galeria, no poema em que considera os inelutáveis sofrimentos humanos. Pessoa morreu de uma crise hepática, e Edgar Allan Poe se foi depois de cinco dias de internação com um episódio de delirium tremens. Não precisaram de justificativa para beber. Bêbados, apenas. Para Mendes Campos o pior bêbado é o que tem razão para beber. De olho no assunto, ele transcreveu notícia publicada na imprensa americana: dos seis americanos que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura, quatro (Eugene O’Neil, Sinclair Lewis, William Faulkner e Ernest Hemingway) eram alcoólatras, e um quinto (John Steinbeck) bebia pra valer.
 
Paulo Mendes Campos podia utilizar os cadernos igualmente para rascunhar uma crônica, como fez com “Réquiem para os bares mortos”, publicada em O Anjo Bêbado, de 1969. No esboço lê-se: “Prosa para os bares mortos: as tardes lentas da Brahma.” A partir disso, pode-se constatar o processo de depuração por que passou o texto. Processo que restringe, neste caso, a linhagem dos inimigos dos bares. Em vez de escrever “lugares detestados por mães, esposas, filhos dos filhos, maridos e pais”, como no rascunho, o cronista optou por: “Antros de perdição – é verdade –, os bares são odiados por mães, esposas, filhos.” Maridos, pais e netos foram poupados na versão final.
 
Na sua opinião, a mesa de bar, de certa maneira, foi criada nos altares das reli-giões antigas, nos momentos em que o homem se punha em comunicação com o espírito divino. “Ligava céu e terra, transcendia-se”, afirma ele, ainda em “Por que bebemos...”, e arremata: “O homem entra no bar para transcender-se – eis a miserável verdade.” Aos que tendem a simplificar seus argumentos, alerta: “Queira entender-me com um pouco mais de sutileza, se me faz o favor. [...] O uísque não me interessa, o que me interessa é a criatura humana, esta pobre e arrogante criatura, já confrangida por um destino obscuro.”
 
A curiosidade quase científica pela bebida aparece numa espécie de fichamento encontrado em seu arquivo sob o título

“O álcool no meu laboratório de pesquisas”. Resulta da leitura que fez de The
Neutral Spirit: A Portrait of Alcohol
, do jornalista e médico americano Berton Roueché, que escreveu sobre sua área durante cinquenta anos narevista New Yorker. A aprendizagem no livro de Roueché rendeu a Mendes Campos três crônicas para a Manchete, publicadas em março de 1968, em sequência, a primeira delas sob o título “Álcool, amigo e inimigo (1)”.

 
Sobre o livro de Roueché, ele escreve: “Eu o recomendaria a bêbados e abstêmios, e sobretudo aos nossos editores, que deveriam mandar traduzi-lo.” Pare-ce que o apelo foi em vão; não consta que a obra tenha sido traduzida no Brasil.
 
Ao lado do interesse científico, se evidencia o gosto pelo vinho, que mereceu outras tantas páginas de estudo e mais algumas crônicas. Numa delas, sob o título “Bleu, blanc, rouge”, fez vinte caracterizações saborosas de vinhos associadas a nomes de escritores ou artistas: Un Beaujolais fruité/ comme la langueur de Verlaineou Un malvoisie tendre/ comme les enfants de Renoir,[3] para citar duas.
 
Longe de devotar-se à bebida sem pensar no dia seguinte, o escritor anotou, provavelmente traduzindo do inglês, algumas receitas para ressaca. Estão em folhas avulsas e até hoje inéditas de seu arquivo, intituladas “Revivers (levanta-defunto)” ou “Profiláticas”, e rechearam a crônica “A verdadeira receita”, publicada na Mancheteem 22 de fevereiro de 1963 e até hoje não incluída em livro. Depois de fornecer dicas preciosas ao adepto do copinho, o cronista resume: “Enfim, o negócio é o seguinte: da próxima vez, você engula uns tabletinhos de sal, mastigue pílulas de hidrato de alumínio, meta na geladeira aquela mistura de frutose, guarde umas aspirinas no bolso. E vá em frente.”

Receitava com a autoridade de quem queria “empatar com o mundo” desde o tempo de juventude em Belo Horizonte, no Minas Tênis Clube e nos bons botecos da cidade. As horas ritualísticas nos bares do Rio de Janeiro começaram em 1945, no momento em que Paulo Mendes Campos fez as malas e rumou para a então capital do Brasil, a fim de conhecer Pablo Neruda, que visitava a cidade.
Aos 23 anos, o mineiro não ofereceu qualquer resistência ao espontâneo aliciamento que se fez entre os amigos para festejar o poeta chileno. Da casa de Vinicius de Moraes, no Leblon, na época casado com Tati, ao bar Alcazar, na altura do Posto 4, em Copacabana, o grupo dos happy fewque recepcionava Neruda incluía, além de outros, Rubem Braga, Fernando Sabino e o arquiteto e artista plástico Carlos Leão. Na casa de Vinicius todos tomaram muito uísque, conversaram madrugada adentro e ouviram a leitura de “Alturas de Machu Picchu” da boca de seu autor, que depois o incluiria em Canto General, de 1950.

No perfil que escreveu de Paulo Mendes Campos, depois coletado em O Príncipe e o Sabiá e Outros Perfis, Otto Lara Resende se refere à invasão do grupo, em sua maioria abaixo dos 30 anos de idade, à casa do poeta Augusto Frederico Schmidt, na época morador do 10º andar do edifício Alcazar, na avenida Atlântica. O bar homônimo representou a primeira bússola do cronista no Rio, além da casa de Fernando Sabino, que inicialmente hospedou o conterrâneo em seu apartamento na avenida Nossa Senhora de Copacabana, 769: “O Alcazar do Posto 4 era tudo em nossa vida: o bar, o lar, o chope emoliente, a arte, o oceano, a sociedade e principalmente o amor eterno/casual” – escreveria Mendes Campos na crônica “Copacabana-ipanemaleblon”. Ao recém-chegado, as uiscadas em torno de Neruda não foram mais que um aperitivo para as numerosas e mesmo contínuas noitadas que ele teria no Rio, onde morou até que a morte o apanhasse em sua casa, aos 69 anos, em 1º de julho de 1991. A causada morte foi um ataque cardíaco.
 
Naquela segunda metade da década de 40, a tradição dos bons boêmios se mantinha no Centro da cidade, onde a Casa Pardellas era das mais prestigiadas. O bar, no fundo da loja, era protegido pelas frutas, biscoitos e doces que se projetavam bem na frente, disfarçando as altas funções etílicas do local. Imagino que usavam o feminino, aPardellas, os que- ali buscavam a quitanda. O masculino ficava para os frequentadores do fundo, além dos produtos alimentícios. Do Pardellas, que tinha em Mendes Campos um freguês diário, pulava-se para as cadeiras de palha do Vermelhinho, em frente ao edifício da Associação Brasileira de Imprensa (a ABI), ou deste para aquele, sem medo de ferir a hierarquia. Em “Copacabana-ipanemaleblon”, o autor lembraria que “bebia-se com destemor, é verdade, mas naquele tempo o uísque era sempre do melhor e os nossos fígados jovens ainda podiam transformar o álcool etílico em arroubos de amor e poesia”.

Quando Paulo Mendes Campos aportou no Rio, um café não se diferenciava de um bar ou restaurante populares, também conhecidos como casas de pasto. Tuberculoso diligente, mas sem abrir mão de uma boemiazinha moderada, Manuel Bandeira conta que no Restaurante Reis, na década de 20, um bife à moda da casa dava para cinco pessoas, “mas reforçado com muito pão e muito arroz”. Foi no Bar Nacional, ele relata na crônica “O Bar”, que lhe “relumeou de repente a célula de muito poema de Libertinagem e de Estrela da Manhã”, coletâneas lançadas em 1930 e 1936, respectivamente.

Bandeira deu sua cota para preservar a memória desses bares onde se podia até deixar recado, bilhete ou encomenda para um amigo (inimigo também). E Paulo Mendes Campos recolheu e transmitiu em sua obra boa parte dos hábitos e dos menus das mesas para além dos lares cariocas. Na crônica “Os bares morrem numa quarta-feira”, ele louva as instalações do Juca’s Bar, na rua Senador Dantas, que inovou com o ar-condicionado; homenageou o rosbife servido de entrada no bar do Hotel Central, na praia do Flamengo; exaltou o Nacional e o Lidador, dos bares mais tradicionais que conheceu nos primeiros meses de Rio de Janeiro.

Foi para o Centro do Rio, onde se concentravam as redações dos jornais, que ele se dirigiu assim que Augusto Frederico Schmidt lhe pôs em contato com Paulo Bittencourt, dono do Correio da Manhã. Quando o novo redator publicou o artigo “Paul Valéry” no Correio, em dezembro de 1945, dando início à vida de jornalista morador da cidade, despediu-se das areias de Copacabana, onde até então era visto entre dez da manhã e 13h30, em frente ao Alcazar. Como a admissão no jornal não dispensasse o bar, passou a frequentar o Pardellas e o Vermelhinho, mais perto da avenida Gomes Freire, 471, onde ficava a sede do jornal.

No Diário Carioca ele assinava, a partir de 1946, a coluna “Semana literária”, que em 1950 passaria a ser diária, sob o título de “Primeiro plano”. Como naquele tempo o Diário ficava na praça Tiradentes, no prédio colado à gafieiraEstudantina, precisava pegar o bonde de Copacabana para o Centro. O bondee o bar, e isso demandava perícia. Advertiu ele que “tão desagradável quanto tomar um bonde errado é tomar um bar errado”.
 
Ninguém da turma de Paulo Mendes Campos se opunha à convocação que fizera Baudelaire num de seus famosos poemas em prosa: era preciso embriagar-se sempre – de vinho, de poesia ou de virtude, à escolha de cada um. Quanto ao cuidado para não tomar o bar errado, a intuição do grupo não costumava falhar. O apelo do poeta francês, atendido prontamente por Mendes Campos e amigos como Sérgio Porto, Fernando Lobo, Antônio Maria, José Lins do Rego, Ary Barroso e tantos outros, recebia adesões entusiasmadas. Quando a Casa Villarino Bar foi inaugurada, em 1953, lá estavam os companheiros reunidos em muitas aventuras que Fernando Lobo, freguês vitalício, contou em À Mesa do Villarino.

Tão masculino quanto o Pardellas, o Villarino nunca saiu da avenida Calógeras, 6, esquina com a avenida presidente Wilson, onde resiste até hoje. Passou por reformas, é natural, e se não conserva os desenhos, autógrafos e rabiscos feitos em suas paredes por artistas como Antonio Bandeira, poetas como Vinicius de Moraes ou compositores como Ary Barroso, a foto panorâmica da mesa com os frequentadores célebres em torno, Paulo Mendes Campos inclusive, permanece lá, como registro do passado de glória da Casa, ou do Bar, dependendo do gosto e do perfil do freguês. Fernando Lobo conta que de lá mesmo Adolfo Bloch arrebanhou Paulo Mendes Campos, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), Antônio Maria e outros para revigorar a Manchete, cujos primeiros números, com muitas cores e fotos, mas pouco miolo, não a faziam concorrente d’O Cruzeiro. Passaria a ser depois da chegada do time de boêmios e bambas.

 
Vendo hoje os documentos do arquivo de Paulo Mendes Campos, fica-se assombrado diante da lista de periódicos em que ele trabalhou. São quatro páginas manuscritas, feitas por ele mesmo, reveladoras de uma atividade febril na imprensa. Atuou em pelo menos 25 títulos. Só na Manchete escreveu aproximadamente 770 crônicas entre 1958 e 1974. Num dos textos para o jornal Sombra, de Niterói, ele cita Machado de Assis: “A embriaguez é causada pelo bacilo zigue-zague.” Na pontuação originalmente machadiana, lê-se em A Semana, de 9 de dezembro de 1892: “O bacilo zigue-zague, causa da embriaguez.”

Por volta de 1952, já era evidente a migração dos boêmios para Copacabana, onde Nora Ney sangrava corações com o clássico Ninguém Me Ama, de Antônio Maria e Fernando Lobo. Joaquim Ferreira dos Santos diz no perfil biográfico Antônio Mariaque, no início da década de 50, “quem sabia das coisas frequentava o Vogue e o Maxim’s”. Mendes Campos não negava erudição: tomava uísque no Pardellas e de lá seguia para o Vogue. Apesar de não ser exatamente um pé de valsa, colava o rosto no de um broto disponível para, uh-la-lá, dançar C’est Magnifique.

A primeira coisa que reparava numa mulher, “depois da qualidade de expressão, era a tonalidade da voz”. Atributo indispensável na moça a quem se enlaçava para deslizar seu corpo de homem magro, de 1,67 metro, ao som de Unforgettable, que também arrancava suspiros, ainda que não passassem de uma noite. Isso até conhecer a inglesa Joan Abercrombie, futura senhora Mendes Campos, com quem dançou no Vogue algumas vezes, antes que em 1955 um incêndio destruísse a casa.
Os bolsos da rapaziada preferiam os chopes, mas ninguém deixou de sucumbir ao uísque, mais do que referendado por Vinicius de Moraes. Aos que não compreendiam como jornalistas que tinham de brigar “pelo dinheirinho de cada dia” se esbaldavam no bom scotch, Paulo Mendes Campos justificava na crônica “Sérgio e Stanislaw Ponte Preta”: “Já que o dinheiro era pouco, o jeito era gastá-lo no essencial: o apartamento próprio que esperasse.”

No caso dele, valeu a pena esperar. Tratou de publicar A Palavra Escrita, seu primeiro livro de versos, em 25 de outubro de 1951, mesmo dia em que se uniu a Joan Abercrombie. Ainda que o casamento não o tenha feito abdicar dos conselhos baudelairianos, o trabalho continuava frenético. Foi imbatível na conjugação de boemia com disciplina, até, na última década de vida, ser castigado pelo alcoolismo, que, em crônica, chamou de “vício roaz”. O assunto certamente lhe doía: quando, em março de 1984, Maria Julieta Drummond de Andrade o entrevistou para OGloboe quis saber o que o álcool representava para ele, Mendes Campos preferiu responder com o conselho que ouvira do pai: “Meu filho, o álcool é um dos maiores amigos do homem. Insensatez é transformá-lo em inimigo.”

O inglês Chesterton tinha, afinal, razão ao confessar: “Quando tomo um drinque me sinto um outro homem, e este outro homem pede logo um drinque.” Nos últimos 25 anos de sua vida, o cronista morou na rua Carlos Gois, no Leblon, mas não abandonou os bares ipanemenses Jangadeiros e Zeppelin, este reconhecível pelas “paredes revestidas pelo verde mais arrogante e desentoado que já existiu: o verde-Oskar. Oskar, que chegou ao Brasil com o circo Sarrazani, era forte, bonito e alemão”, conforme sua descrição. Trabalhava no escritório de sua casa – o seu “laboratório de pesquisas” –, e lá produziu a admirável obra de poeta, cronista e tradutor, sob as bênçãos de Li Po, boêmio exemplar do século viii, representado sempre com um copo na mão. A estátua do poeta, em marfim, fica até hoje na estante que foi do autor de O Anjo Bêbado, conservada pela família.
 
Aos 60 anos, Paulo Mendes Campos foi visto com Joan, de mãos dadas, tomando vinho branco e sussurrando no cantinho de um restaurante em Petrópolis. Ela se recorda muito bem dessa noite. O restaurante chamava-se Le Moulin, e já foi posto abaixo. Eram casados havia trinta anos. Juntos tinham criado o casal de filhos e visto os netos crescerem. Paulo atribuiu o êxito do casamento à bondade e pa-ciência da mulher, que deu azar – dizia ele – de encontrá-lo, enquanto ele tivera a sorte de conhecê-la.

A verdade é que a ternura de Joan Abercrombie Mendes Campos pelo marido é reconhecível até hoje no olhar e na voz. Conserva um pouco do sotaque – pronuncia o paspirado, do inglês, quando fala “Paulo”. Sorri, delicada, ao evocar a memória do companheiro ou episódios vividos juntos. Entendeu profundamente que “mesmo abstêmio, o poeta costuma ser um anjo bêbado”.

04 de abril de 2014

[1]O presidente do IMS, João Moreira Salles, é um dos fundadores de piauí.
[2]Os títulos estão sendo lançados pela Companhia das Letras. Um dos fundadores de piauíé sócio minoritário da editora.
[3]Um Beaujolais frutado/ como o langor de Verlaineou Uma malvasia tenra/ como as crianças de Renoir.

FICÇÃO NO CÁRCERE



Leituras sob segurança máxima
por Nina Rahe
 

A tarde avançava calorenta em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, mas Márcio Akira continuava recostado em sua cama de concreto. Suas pernas repousavam em cima do colchão à prova de fogo e as costas se acomodavam sobre travesseiros.
De calça comprida e camiseta – um uniforme de cor azul-bebê –, o músico de 40 anos terminava as 448 páginas de Inferno, sexto romance de Dan Brown. “É entretenimento”, disse, antes que alguém pudesse pensar em alguma metáfora ou pôr em dúvida seu refinamento estético. Ele definiu o autor de O Código Da Vinci como “um Sidney Sheldon melhorado”. Brown nunca figuraria em sua lista de futuras releituras, no momento com mais de sessenta títulos.

Naquela semana de outubro, Akira abriu mão por dois dias do banho de sol. Preso ao Inferno, abdicou do contato social e da dose de vitamina D. Levar o romance para o pátio da Penitenciária Federal de Campo Grande estava fora de cogitação; a conversa dos colegas atrapalharia sua concentração.

Os livros só costumam escapar das celas individuais quando provocam debate, como aconteceu com o romance místico A Cabana, do canadense William P. Young. No banho de sol,os presos se dividiram. Uns achavam que a história do pai chamado a conversar com Deus depois do assassinato da filha representava um sonho do protagonista; outros apostavam que o encontro de fato tinha acontecido. Akira jogou no primeiro time. Estava convicto de que o evento transcendental não passou de delírio.

Magro, Akira usa óculos de aros finos e quadrados sobre os olhos discretamente puxados. Está há quatro anos e nove meses no presídio de segurança máxima, onde cumpre pena por homicídio e espera um julgamento por tráfico de drogas. Nesse período, leu quase 500 livros, pouco menos de dois por semana. Sempre que a leitura agrada, tenta voltar ao romance. “Gosto de reler, aprendi com Nelson Rodrigues”, disse. Em outubro, esperava pela releitura de Os Miseráveis, que conta a história do ex-presidiário Jean Valjean.

A cada três meses, os detentos conferem a lista atualizada do acervo e anotam em uma ficha tudo o que desejam ler. O rol, eclético, mistura clássicos literários com destaques das listas de mais vendidos. Os presos recebem três exemplares por semana. Nem sempre aquilo que gostariam de ler primeiro chega antes, uma vez que, por alguma idiossincrasia burocrática, o pedido e a entrega devem seguir a ordem dos números atribuídos a cada livro na listagem.

Akira esperou semanas por Guerra e Paz. Sabia que é o melhor romance de Tolstói, “acima de Anna Kariênina e tudo”. Quando colocou as mãos no clássico, acabou frustrado. O texto era condensado, “um livrinho de apenas 300 páginas, que empobreceu muito o enredo”. Assim que for libertado – o que ele calcula que deve acontecer daqui a três anos, ou antes, caso seu pedido de condicional seja aprovado –, o calhamaço sem cortes será sua primeira aquisição.
 
Márcio Akira foi preso em 1998 pelo assassinato da mãe adotiva, um crime que chocou Campo Grande. Antes, chegou a cursar um ano da faculdade de letras. A música, no entanto, tomava quase todo o seu tempo. Ele tocava na banda O Cabelo e As Moscas, que apresentava canções dos Beatles e composições próprias. “Nada que valha a pena lembrar”, desconversou o detento, que não gosta de falar do passado.

Condenado a dezoito anos de prisão, Akira tinha cumprido oito anos em regime fechado e quase dois em semiaberto quando fugiu para a Bahia. Foragido, fazia apresentações em bares. Não demorou a ser capturado de novo, em Belém, agora sob a acusação de narcotráfico.

O músico é o único dos mais de 150 detentos da penitenciária federal que participou das treze rodadas do projeto Remição pela Leitura, lançado em 2010 pelo Ministério da Justiça. O número de participantes por rodada costuma variar entre 50 e 60. A cada livro lido e resenhado em até trinta dias, os presos ganham uma redução de quatro dias na pena, desde que o relatório de leitura ganhe no mínimo a nota seis.

Entre as obras que avaliou, ele considerou Vidas Secas e O Pequeno Príncipe excelentes. Descobriu que autoajuda não é o seu forte, dando nota apenas regular para O Vendedor de Sonhos e O Futuro da Humanidade, de Augusto Cury. O humor de Verissimo também não fez sua cabeça – ele tachou de “péssimo” Os Espiões. Apesar de preferir narrativas em terceira pessoa, aprovou O Apanhador no Campo de Centeio. “Eu e John Lennon gostamos muito do livro”, disse, sem mencionar que o assassino do beatle foi encontrado com o romance de J. D. Salinger nas mãos.

Quando começou a escrever sobre O Caçador de Pipas, do afegão Khaled Hosseini, Akira já o havia lido duas vezes. Talvez passasse no teste sem a terceira leitura, mas o resultado não ficaria do seu agrado. “Soaria falso, artificial”, explicou. Seu boletim é repleto de notas nove. Ganhou um dez ao avaliar O Menino do Pijama Listrado, do irlandês John Boyne. Na resenha, ele comparou a cerca que separa o garoto judeu do menino filho de nazista com as ideologias que dividem a sociedade atual.

O presidiário disse que tinha vontade de escrever textos parecidos com os das revistas. Começar criando uma atmosfera, destrinchando aos poucos o enredo, na espera de um momento oportuno para citar o nome do livro. Não pode. O projeto exige que a referência bibliográfica, com título, autor e ano, venha no início da resenha. A imposição, desculpou-se, o impede de desenvolver um estilo.
Akira faz planos de ler ao menos um livro por mês quando estiver fora da prisão. Além de Guerra e Paz, quer comprar 1Q84, do japonês Haruki Murakami. Ele leu sobre a trilogia e ficou curioso com o tom “psicodélico” do encontro entre um professor de matemática aspirante a escritor e uma assassina profissional que acredita viver num universo paralelo.

04 de abril de 2014
 

DIÁRIO DA DILMA

 

Em pau caído todo mundo faz graveto


1º DE JANEIRO_Ano novo, vida nova. Aprendi a fazer stand up paddle.
 
2 DE JANEIRO_Ligaram o maçarico no céu da Base Naval de Aratu. Não sinto tanto calor desde a menopausa. Pedi para montarem uma piscina Tone no gramado. Ficamos eu, mamãe e titia jiboiando o dia todo. Paula fritou umas linguicinhas e trouxe um isopor cheio de Nova Schin geladinha. Para ficar perfeito, preparou um setlist com os sucessos do Reginaldo Rossi.
Meta para 2014: me reeleger presidenta, aumentar o PIB, baixar a inflação e controlar o frizz.
 
4 DE JANEIRO_Valeu o esforço de fim de ano! Saí muito bem naquela foto em que estou sensualizando de biquíni na praia. Foi um mês de dieta das proteínas light, mais um pacote de drenagem linfática e umas caminhadas na esteira. Quando a gente quer a gente consegue.
A Bahia é uma delícia, mas todo ano ter de aguentar Jaquito e Fatinha me enche um pouco. Tive logo de acionar um “Meus queridos” quando vi que estavam engatilhando um convite para eu ir à Lavagem do Bonfim. Nem morta!
 
5 DE JANEIRO_Gleisi me passou uma informação preciosa. Quando a gente lava roupa na máquina basta colocar meia xícara de bicarbonato de sódio antes do enxágue para neutralizar odores e mofo. Vou sentir falta dela na Casa Civil.
 
6 DE JANEIRO_A data anda meio esquecida, mas hoje é o dia da Festa de Reis. Mamãe chegou tocando sanfona, titia pegou o violão e Paulinha trouxe os pandeiros de fita.
7 DE JANEIRO_Michelle Obama pediu aos convidados para irem de barriga cheia no seu niver de 50 anos. Austeridade é isso. Encaminhei a notícia para o Guido.
Bem que mamãe falou para eu não ficar abrindo a geladeira de biquíni. Peguei uma baita gripe.
 
8 DE JANEIRO_O pessoal do PT mandou para o Joaquim Barbosa um remix do jingle da reeleição do Lula. O protagonista agora é o Dirceu, mas o slogan é o mesmo: “Deixa o homem trabalhar.”
 
9 DE JANEIRO_Estava prestes a sucumbir ao tédio da rotina quando Mercadante meteu a cabeça para dentro da sala e soltou: “Vai começar o BBB!” Consolidou ali mesmo a indicação para a Casa Civil.
 
10 DE JANEIRO_Se a Dilma de 1968 soubesse que a Dilma de 2014 seria aliada dos Sarney, faria sessão de autocrítica e pediria para ser mandada para um campo de reeducação política na Albânia. Que vergonha, meu Deus.
 
12 DE JANEIRO_Ideli entrou esbaforida, botou para fora aquele ministro de cujo nome nunca me lembro e ligou a tevê. Minha santa Bernadette Soubirous, que bafo quente! Quem diria que o goiaba do Hollande estava com essa bola toda? A mulher dele até deu entrada no hospital, o que não é para qualquer um, não! Terei sido o pomo da discórdia? Ele foi tão gentil comigo quando esteve aqui em Brasília. Fico tão focada no trabalho que as oportunidades passam e eu nem percebo.
 
13 DE JANEIRO_Ideli, invejosa que só ela, expulsou da sala o ministro do bigodinho – não o Aldo, o outro, mais de direita – só para me informar que eu não tive papel nenhum na separação do Hollande. A notícia é que ele se envolveu com uma atrizinha. Deixa estar. A Ideli é muito ingênua e não faz ideia dos recursos diversionistas a serviço de um chefe de Estado.
 
14 DE JANEIRO_Vou aproveitar essa onda de rolezinho para ir clandestinamente ao shopping com titia. Quero ver se a Zara tem algum vestido com decote insinuante para eu usar em Davos. A ideia é causar arritmia no Hollande. Ah, esses jogos do amor. Estou nas nuvens.
 
15 DE JANEIRO_Minha página chegou a 200 mil curtidas no Facebook! Vontade de mandar um beijinho no ombro para a oposição. João Santana julgou imprudente. Com exceção do Moreno, estou cercada de homens antiquados.
 
17 DE JANEIRO_Aquele doido do Maduro agora culpa as novelas pela violência. Fico chateada. Além de ser a cara do Professor Girafales, o homem só diz asneira. Acaba envergonhando a esquerda, sabe? Vira chacota. Em pau caído todo mundo faz graveto. Só o Marco Aurélio ainda acredita nessa xaropada bolivariana.
 
18 DE JANEIRO_Estou evitando atender o telefone da Ideli. Ela anda uma arara porque diz que está sem função no governo. E mudou o quê?
 
19 DE JANEIRO_Esse furdúncio de reforma ministerial está me deixando maluca! Vou deixar isso para o Temer resolver. Ele pega os 70% do PMDB e eu vejo o que faço com o resto. Minha única condição é levar o bigodão para a Casa Civil. Muito gentil ele! Depois da nomeação me mandou uma caixa de bombom de cereja com licor da Kopenhagen. A gente sente quando uma pessoa tem berço.
 
20 DE JANEIRO_O pessoal pediu uma reunião para discutir rolezinho. Quando me vieram com sociologia, luta de classe, essas bobagens, cortei logo o papo. E esses donos de shopping que se virem! Sou lá segurança?
 
21 DE JANEIRO_Encrenca feia com a arena do Paraná! Esse Jérôme Valcke não larga do meu pé. Parece encosto! Sei lá o que fizeram com o dinheirol! Olha, vou ser franca: agora que me disseram que o Zidane se aposentou, meu interesse por esse assunto de Copa, que já não era grande, caiu a zero. Dane-se se não tiver arena em Curitiba: que joguem no gramadão em frente àquele olho esquisito do Niemeyer.
 
22 DE JANEIRO_Esse calorão está me matando. Usar cinta vira um suplício! E ainda fui obrigada a inaugurar a tal da arena de Natal. Na minha época lugar de jogar futebol era estádio. Agora virou essa boiolice de arena. Bom, pelo menos uma está pronta.
 
23 DE JANEIRO_Menina, o Justin Bieber foi pego dirigindo bêbado em Miami! Estou com dó, tão bonitinho ele. O Fidel é que tem razão: aquela cidade é um antro de descaminho.
 
24 DE JANEIRO_Por que o Niemeyer não fez Brasília aqui em Davos? É tudo tão elegante, refinado. Ainda bem que a Ideli não veio, ela não tem roupa, ia ficar deslocada. Eu mesma me senti um pouco jeca.
 
25 DE JANEIRO_Rapaz, Davos me deixou exausta. Além de ter de prestar atenção nos talheres, fui obrigada a prometer mundos e fundos. Espero que tenham acreditado. Fiz o melhor que pude, mas mentir tanto de uma só vez me deixou exausta! Para piorar, nem cruzei com o Hollande. Kamura, Zara, fio japonês, criolipólise: uma dinheirama jogada fora. Pedi para fazer aquela paradinha em Portugal para descomprimir e já começam a cair de pau. Fui mesmo, pus tênis, um conjuntão Adidas, comi muito bem, enchi a cara de vinho, fiquei cantando fado na mesa e até ensaiei um vira. Noitada!
Haja estômago agora para enfrentar aqueles comunistas de Cuba. Que preguiça!
 
26 DE JANEIRO_Até Cuba consegue inaugurar porto! O que há de errado com o Brasil, meu Deus?! Soube que, lá no Rio, o Eduardo já adiou umas cinco vezes a inauguração dos quiosques da avenida Atlântica. Quiosques!
 
27 DE JANEIRO_Estou pelas tampas com o Gilbertinho! Que boca-de-afofô! Tinha que chamar os pobres de ingratos por causa daquelas badernas de junho? Precisava dizer que a gente ficou magoado? Essas coisas a gente guarda para si!
 
30 DE JANEIRO_Minha santa Giuseppina Bakhita do Sudão, alguém me explica o que é aquele Cauã Reymond? Que homem sensual, bonito, gostoso, bocudo, uma coisa! Se eu fosse a Grazi ia ficar muito mal vendo esses Amores Roubados. Quem já provou do melhor não vai se acostumar nem com o bom.

04 de abril de 2014