Este é um blog conservador. Um canal de denúncias do falso 'progressismo' e da corrupção que afronta a cidadania. Também não é um blog partidário, visto que os partidos que temos, representam interesses de grupos, e servem para encobrir o oportunismo político de bandidos. Falamos contra corruptos, estelionatários e fraudadores. Replicamos os melhores comentários e análises críticas, bem como textos divergentes, para reflexão do leitor. Além de textos mais amenos... (ou mais ou menos...) .
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville (1805-1859)
"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville (1805-1859)
"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.
sexta-feira, 18 de julho de 2014
VAI, UBALDO, E REZE POR NÓS...
Vai Ubaldo, descansar... Ficamos nós aqui, com um imenso vazio, pois a sua ausência, é uma ausência que permanecerá, por ser insubstituível. Os que o liam, continuarão, num gesto falho, a procurar a sua crônica, deliciosa crônica, que debochava dos absurdos dessa vida.
Sentirão mais ainda os velhos amigos de Itaparica, onde você sorvia o seu chopinho e servia a todos com o seu humor bonachão, afetivo, derramado. Aquele humor baiano que só quem nasce por aquelas plagas, já nasce predestinado a carrega-lo.
Sentirá também a 'cariocada' do Leblon, que desfrutava da sua verve inesgotável, no boteco JOB, onde não sei dizer se gozava o privilégio de ter "a sua mesa".
Todos os que estiveram próximos, divertiram-se com o seu humor agridoce, ao qual nada passava despercebido, nem mesmo as 'coroas' plastificadas que provocavam a sua admiração e cobiça, quando rebolantes, desfilavam pelas calçadas do Leblon.
Seu leitor por muitos anos, fui admirador das suas incontestáveis crônicas, sempre saborosas, em que respingavam observações inteligentes e engraçadas. Desnecessário falar de suas obras literárias sabidamente consagradas. Fica isso para os críticos, mais preparados para as incansáveis exegeses na descoberta dos ecos das suas leituras e reminiscências que se escondem nas entrelinhas das suas obras.
Os que ficam por aqui, por enquanto, estarão cheios de tristeza e saudades antecipadas. Mas o que fazer?
Lamentar por alguns dias, reler algumas das obras preferidas, e consolar-se com a certeza de que o tempo se incumbirá de tornar perene para as gerações vindouras, o seu espírito que ficou disperso e esquecido em tantos de seus romances deliciosos.
Vai Ubaldo, e lamente por nós, os que ficam nesse mundo ensandecido...
m.americo
"ASSIM É, SE LHE PARECE"
Na famosa peça de Pirandello, os habitantes de uma pacata cidade no interior da Itália têm a sua atenção despertada por três sobreviventes de um terremoto. O problema é que o parentesco que une os três não fica muito claro aos olhos e ouvidos das pessoas. As versões expostas causam enorme alvoroço entre os moradores. Todos desejam saber qual é a verdade, mas como descobri-la, se as coisas se apresentam não como são, mas como parecem ser? Ao final, a busca da verdade se torna invasiva e cruel.
Situação similar é a que vivemos no Brasil nestes tempos de Copa, eleições, manifestações e vaias. Na narrativa do governo, a realidade é escamoteada pelo ufanismo exagerado e pelo jogo repetitivo (e cansativo) de "eles contra nós". Na narrativa da oposição, a verdade vem sendo buscada com pouco empenho e um jeito blasé. Três personagens sabem, no entanto, que o pano de fundo é uma realidade áspera que temem revelar.
Todos sabem (ou deveriam saber) que no Brasil os níveis médios de produtividade são muito baixos; a proporção dos investimentos em relação ao PIB não sustenta um crescimento anual continuado de mais de 4%; a exacerbação do consumo e do crédito não segura o crescimento por muito tempo; e a prescrição de "um pouquinho" de inflação, em vez de estimular a economia, a torna adicta de algo que desagrega a produção e concentra renda. Logicamente, sabem ainda que os níveis de educação e qualificação dos recursos humanos são precários; que o uso predatório de recursos naturais gera mais pobreza; e que as infraestruturas, em geral, são insuficientes (ou deficientes) para dar suporte à carência de serviços, à produção e às exportações.
Não surpreende, pois, que há algum tempo paire no ar um sentimento difuso de frustração e mal-estar. A narrativa de que o crescimento resolve todos os problemas a seu tempo há muito deixou de convencer. O crescimento do PIB é, sem dúvida, condição necessária, mas não suficiente, pois sem estabilidade da moeda, sem aumento da produtividade e sem competitividade neste mundo cada vez mais integrado não se atingem patamares mais elevados de bem-estar e igualdade. A busca de reformas mais ousadas e modernas é sempre postergada e o debate das grandes questões que poderão definir o futuro do País está ausente no Congresso Nacional e no Judiciário. O Executivo, movido por marqueteiros, trata de questões que alcançam um horizonte de quatro ou, no máximo, oito anos.
Tome-se o exemplo das infraestruturas, considerando as de logística, transporte, energia, comunicações e saneamento. O debate se restringe à visão da mera execução de "obras" e se fecha no ciclo da construção em si mesma. Não se pensa em conjuntos de projetos que gerem sinergias para reforço de cadeias produtivas e consolidação de especializações regionais e, muito menos, na funcionalidade do projeto, considerada uma visão sistêmica.
Esse quadro é agravado, ainda, pela abordagem da "obra" como uma realização de concreto e aço, uma conquista da engenharia civil, sem levar em conta que, na realidade, contam tanto ou mais os softwares, as inovações, a incorporação de tecnologias de ponta e os sistemas de gestão, monitoração e manutenção, que dão maior alcance e repercussão à sinergia de grupos de projetos. Em suma, concepção, execução e governança dos projetos de infraestrutura, no Brasil, já estão ultrapassadas há muito tempo. Surpreende como não se incorporam ao debate político esse obsoletismo e a falta de funcionalidade das infraestruturas.
Construir ou promover grandes reformas simultaneamente em 12 estádios pode ser visto como uma narrativa de sucesso da nossa engenharia, apesar de acidentes evitáveis. Assim é, se lhe parece... Mas a dura realidade é que teremos muitos "elefantes brancos", fechados em si mesmos, sem funcionalidade e sujeitos à deterioração por falta de manutenção. Sem falar no malfadado "legado da Copa": obras desconectadas e inacabadas, que se imaginava poderem melhorar a mobilidade, a segurança e a comunicação.
Situação similar é a que vivemos no Brasil nestes tempos de Copa, eleições, manifestações e vaias. Na narrativa do governo, a realidade é escamoteada pelo ufanismo exagerado e pelo jogo repetitivo (e cansativo) de "eles contra nós". Na narrativa da oposição, a verdade vem sendo buscada com pouco empenho e um jeito blasé. Três personagens sabem, no entanto, que o pano de fundo é uma realidade áspera que temem revelar.
Todos sabem (ou deveriam saber) que no Brasil os níveis médios de produtividade são muito baixos; a proporção dos investimentos em relação ao PIB não sustenta um crescimento anual continuado de mais de 4%; a exacerbação do consumo e do crédito não segura o crescimento por muito tempo; e a prescrição de "um pouquinho" de inflação, em vez de estimular a economia, a torna adicta de algo que desagrega a produção e concentra renda. Logicamente, sabem ainda que os níveis de educação e qualificação dos recursos humanos são precários; que o uso predatório de recursos naturais gera mais pobreza; e que as infraestruturas, em geral, são insuficientes (ou deficientes) para dar suporte à carência de serviços, à produção e às exportações.
Não surpreende, pois, que há algum tempo paire no ar um sentimento difuso de frustração e mal-estar. A narrativa de que o crescimento resolve todos os problemas a seu tempo há muito deixou de convencer. O crescimento do PIB é, sem dúvida, condição necessária, mas não suficiente, pois sem estabilidade da moeda, sem aumento da produtividade e sem competitividade neste mundo cada vez mais integrado não se atingem patamares mais elevados de bem-estar e igualdade. A busca de reformas mais ousadas e modernas é sempre postergada e o debate das grandes questões que poderão definir o futuro do País está ausente no Congresso Nacional e no Judiciário. O Executivo, movido por marqueteiros, trata de questões que alcançam um horizonte de quatro ou, no máximo, oito anos.
Tome-se o exemplo das infraestruturas, considerando as de logística, transporte, energia, comunicações e saneamento. O debate se restringe à visão da mera execução de "obras" e se fecha no ciclo da construção em si mesma. Não se pensa em conjuntos de projetos que gerem sinergias para reforço de cadeias produtivas e consolidação de especializações regionais e, muito menos, na funcionalidade do projeto, considerada uma visão sistêmica.
Esse quadro é agravado, ainda, pela abordagem da "obra" como uma realização de concreto e aço, uma conquista da engenharia civil, sem levar em conta que, na realidade, contam tanto ou mais os softwares, as inovações, a incorporação de tecnologias de ponta e os sistemas de gestão, monitoração e manutenção, que dão maior alcance e repercussão à sinergia de grupos de projetos. Em suma, concepção, execução e governança dos projetos de infraestrutura, no Brasil, já estão ultrapassadas há muito tempo. Surpreende como não se incorporam ao debate político esse obsoletismo e a falta de funcionalidade das infraestruturas.
Construir ou promover grandes reformas simultaneamente em 12 estádios pode ser visto como uma narrativa de sucesso da nossa engenharia, apesar de acidentes evitáveis. Assim é, se lhe parece... Mas a dura realidade é que teremos muitos "elefantes brancos", fechados em si mesmos, sem funcionalidade e sujeitos à deterioração por falta de manutenção. Sem falar no malfadado "legado da Copa": obras desconectadas e inacabadas, que se imaginava poderem melhorar a mobilidade, a segurança e a comunicação.
18 de julho de 2014
José Barat, O Estadão
POUCO AMIGÁVEL
Não há nenhuma indicação de como a presidente Dilma pretende restabelecer um mínimo de confiança caso vença as eleições
À TV árabe Al Jazeera, a presidente Dilma declarou segunda-feira que “precisamos de um Estado mais amigável tanto para os empresários como para os cidadãos”. Para não ir mais longe, é o reconhecimento de que o Estado não é suficientemente amigável para o empresário e para o cidadão.
Ficou faltando explicar o que a presidente Dilma entende por essa pretendida transformação do Estado. A campanha eleitoral poderia ser uma boa ocasião para tanto. Mas parece inútil esperar por isso.
Nos investimentos, que estão cada vez mais baixos, o Estado é inoperante e ineficiente. Os programas de concessão avançam muito lentamente, as várias repartições de administração do Estado não se entendem.
Há nove meses, a então ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que na ocasião coordenava os leilões de concessão de infraestrutura, denunciava a existência de um grande número de repartições do governo envolvidas nos projetos que se ignoram sistematicamente umas às outras. Apenas na área dos transportes rodoviários, apontava ela, um emaranhado de siglas composto pela própria Casa Civil, Ministério dos Transportes, Ministério da Fazenda, Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Ibama, encarregado dos licenciamentos ambientais, Tribunal de Contas da União (TCU) e, naturalmente, BNDES. Cada um com sua burocracia, sua cultura, seu ritmo, seu jogo.
As agências reguladoras operam mais como instâncias resultantes do loteamento do poder do que como organismos empenhados em fiscalizar o cumprimento do marco regulatório do setor de que estão encarregados.
O financiamento da máquina estatal é asfixiante tanto para o empresário como para o cidadão comum, na medida em que impõe uma carga tributária pesada demais. A Justiça, outro braço do Estado, é excessivamente lenta no desempenho de sua função de dirimir conflitos e punir desmandos, a ponto de deixar incerto e inseguro até mesmo o passado, como já denunciou o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan.
O problema não está apenas nas relações exageradamente complicadas entre Estado e empresários e Estado e cidadãos. Muita coisa se confunde com a atuação da própria administração.
O governo Dilma inteiro insiste em dizer que não há nada de errado na economia, que o crescimento baixo demais e a inflação alta demais são consequência da crise externa, e não de opções equivocadas da política econômica nem consequência da intromissão ou da má gestão dos organismos do Estado.
Entenda-se com esse tipo de diagnóstico, que não estamos mais nos tempos do presidente Lula, quando a turbulência global não produzia por aqui mais do que aquelas “marolinhas”. Agora, o governo não consegue sozinho enfrentar a crise, embora esta já não produza os vendavais e os vagalhões vistos em 2008.
A confiança na política econômica está abalada. É o que demonstram à exaustão os levantamentos sobre o estado de espírito na Indústria, no Comércio e no Consumidor (veja os gráficos). Não há nenhuma indicação de como a presidente Dilma pretende restabelecer um mínimo de confiança caso vença as eleições.
Coerente com o diagnóstico de que não há nada de errado na economia, para um possível segundo mandato, ela acena apenas com mais do mesmo e retoques de maquilagem, nada que garanta a virada do jogo hoje perdedor.
18 de julho de 2014
Celso Ming, O Estadão
À TV árabe Al Jazeera, a presidente Dilma declarou segunda-feira que “precisamos de um Estado mais amigável tanto para os empresários como para os cidadãos”. Para não ir mais longe, é o reconhecimento de que o Estado não é suficientemente amigável para o empresário e para o cidadão.
Ficou faltando explicar o que a presidente Dilma entende por essa pretendida transformação do Estado. A campanha eleitoral poderia ser uma boa ocasião para tanto. Mas parece inútil esperar por isso.
Nos investimentos, que estão cada vez mais baixos, o Estado é inoperante e ineficiente. Os programas de concessão avançam muito lentamente, as várias repartições de administração do Estado não se entendem.
Há nove meses, a então ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que na ocasião coordenava os leilões de concessão de infraestrutura, denunciava a existência de um grande número de repartições do governo envolvidas nos projetos que se ignoram sistematicamente umas às outras. Apenas na área dos transportes rodoviários, apontava ela, um emaranhado de siglas composto pela própria Casa Civil, Ministério dos Transportes, Ministério da Fazenda, Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Ibama, encarregado dos licenciamentos ambientais, Tribunal de Contas da União (TCU) e, naturalmente, BNDES. Cada um com sua burocracia, sua cultura, seu ritmo, seu jogo.
As agências reguladoras operam mais como instâncias resultantes do loteamento do poder do que como organismos empenhados em fiscalizar o cumprimento do marco regulatório do setor de que estão encarregados.
O financiamento da máquina estatal é asfixiante tanto para o empresário como para o cidadão comum, na medida em que impõe uma carga tributária pesada demais. A Justiça, outro braço do Estado, é excessivamente lenta no desempenho de sua função de dirimir conflitos e punir desmandos, a ponto de deixar incerto e inseguro até mesmo o passado, como já denunciou o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan.
O problema não está apenas nas relações exageradamente complicadas entre Estado e empresários e Estado e cidadãos. Muita coisa se confunde com a atuação da própria administração.
O governo Dilma inteiro insiste em dizer que não há nada de errado na economia, que o crescimento baixo demais e a inflação alta demais são consequência da crise externa, e não de opções equivocadas da política econômica nem consequência da intromissão ou da má gestão dos organismos do Estado.
Entenda-se com esse tipo de diagnóstico, que não estamos mais nos tempos do presidente Lula, quando a turbulência global não produzia por aqui mais do que aquelas “marolinhas”. Agora, o governo não consegue sozinho enfrentar a crise, embora esta já não produza os vendavais e os vagalhões vistos em 2008.
A confiança na política econômica está abalada. É o que demonstram à exaustão os levantamentos sobre o estado de espírito na Indústria, no Comércio e no Consumidor (veja os gráficos). Não há nenhuma indicação de como a presidente Dilma pretende restabelecer um mínimo de confiança caso vença as eleições.
Coerente com o diagnóstico de que não há nada de errado na economia, para um possível segundo mandato, ela acena apenas com mais do mesmo e retoques de maquilagem, nada que garanta a virada do jogo hoje perdedor.
18 de julho de 2014
Celso Ming, O Estadão
PODE, ARNALDO?
Sugestão de intervenção do governo no futebol mostra como falta reflexão sobre as consequências das 'soluções'
Comecei a contribuir para a Folha em setembro de 2006, são quase oito anos escrevendo sobre economia, mas, confesso, gostaria mesmo é de ser colunista de futebol. O vexame da seleção --ou, melhor, a reação ao vexame-- acabou, porém, permitindo de alguma forma atender aos meus anseios, casando os dois assuntos.
Para quem não viu, a resposta inicial da presidente ao fiasco foi sugerir maior intervenção governamental no esporte, inclusive por meio de mecanismos para impedir a saída de jogadores com menos de 19 anos do país. Já seu ministro do Esporte chegou a aventar a possibilidade de "intervenção indireta" na organização das competições e na gestão dos clubes.
Já os que, como eu, acompanham a gestão desastrosa da economia não podem deixar de associar esse tipo de reação ao observado nos últimos anos: para cada problema que aparece, o governo se vê na obrigação de tomar alguma medida pontual a respeito, o que, tipicamente, não apenas não resolve a questão, como costuma, de lambuja, gerar novas dificuldades a serem devidamente atacadas por novas medidas pontuais, perpetuando indefinidamente o ciclo de incompetência.
Os empresários reclamam dos preços de energia? Em vez de identificar as causas últimas e pensar em reformas que possam aumentar a competitividade, o governo baixa as tarifas a canetadas, gerando uma crise no setor.
A inflação está elevada? Em hipótese alguma se considera a possibilidade de alteração nas políticas monetária e fiscal de forma a ajustá-las a um cenário de inflação mais baixa.
É preferível segurar os preços dos combustíveis, colocando a Petrobras na situação de endividamento que hoje se encontra; a única empresa de petróleo do mundo que anseia pela queda dos preços internacionais de seus produtos.
Não é por acaso, portanto, que o país se encontra no estado atual. Não há um exercício de reflexão sobre a natureza das questões, muito menos das consequências das "soluções" propostas.
A imagem recorrente é a do menino do conto holandês, tapando um furo do dique a cada momento, até que não lhe sobram mais dedos para tanto buraco.
Falta, não só para a economia, mas também para o futebol, um diagnóstico preciso das causas do problema.
Contraste a ideia de proibição da saída de jogadores com a hipótese levantada neste espaço pelo meu amigo Samuel Pessôa, a saber, que a Lei Pelé teria reduzido os incentivos à formação de jogadores, já que os clubes que investem nas categorias de base não teriam como evitar o aliciamento de futuros craques, gerando em consequência uma queda na qualidade dos jogadores.
Francamente, não sei se o Samuel está certo, mas, correto ou não, trata-se de hipótese que merece investigação mais cuidadosa.
Busca identificar mecanismos que afetam os incentivos dos agentes envolvidos no processo, tanto clubes quanto jogadores (assim como os indefectíveis "empresários").
Caso se prove correta, traz em si uma sugestão de política que alteraria as instituições (ou regras) sob as quais funciona a atividade futebolística, presumivelmente no sentido de aumentar o retorno dos que investem no desenvolvimento de jogadores, como, aliás, foi feito na Alemanha com enorme sucesso.
É bom que se diga que futebol não é uma questão de vida ou morte (é muito mais do que isto, claro), mas no domínio econômico este tipo de abordagem consegue ter repercussões ainda mais negativas.
A incapacidade de formular um diagnóstico sistêmico acerca das dificuldades do país se encontra por trás do padrão errático de política econômica que predomina no Brasil de 2009 para cá, inépcia que explica muito do fraco desempenho recente do país.
Neste contexto é impossível não se lembrar da frase precisa de Dave Barry: "Quando problemas surgem e as coisas parecem ruins, há sempre alguém que descobre uma solução e está disposto a assumir o comando. Frequentemente trata-se de um maluco". Pode, Arnaldo?
18 de julho de 2014
ALEXANDRE SCHWARTSMAN, Folha de SP
Comecei a contribuir para a Folha em setembro de 2006, são quase oito anos escrevendo sobre economia, mas, confesso, gostaria mesmo é de ser colunista de futebol. O vexame da seleção --ou, melhor, a reação ao vexame-- acabou, porém, permitindo de alguma forma atender aos meus anseios, casando os dois assuntos.
Para quem não viu, a resposta inicial da presidente ao fiasco foi sugerir maior intervenção governamental no esporte, inclusive por meio de mecanismos para impedir a saída de jogadores com menos de 19 anos do país. Já seu ministro do Esporte chegou a aventar a possibilidade de "intervenção indireta" na organização das competições e na gestão dos clubes.
Já os que, como eu, acompanham a gestão desastrosa da economia não podem deixar de associar esse tipo de reação ao observado nos últimos anos: para cada problema que aparece, o governo se vê na obrigação de tomar alguma medida pontual a respeito, o que, tipicamente, não apenas não resolve a questão, como costuma, de lambuja, gerar novas dificuldades a serem devidamente atacadas por novas medidas pontuais, perpetuando indefinidamente o ciclo de incompetência.
Os empresários reclamam dos preços de energia? Em vez de identificar as causas últimas e pensar em reformas que possam aumentar a competitividade, o governo baixa as tarifas a canetadas, gerando uma crise no setor.
A inflação está elevada? Em hipótese alguma se considera a possibilidade de alteração nas políticas monetária e fiscal de forma a ajustá-las a um cenário de inflação mais baixa.
É preferível segurar os preços dos combustíveis, colocando a Petrobras na situação de endividamento que hoje se encontra; a única empresa de petróleo do mundo que anseia pela queda dos preços internacionais de seus produtos.
Não é por acaso, portanto, que o país se encontra no estado atual. Não há um exercício de reflexão sobre a natureza das questões, muito menos das consequências das "soluções" propostas.
A imagem recorrente é a do menino do conto holandês, tapando um furo do dique a cada momento, até que não lhe sobram mais dedos para tanto buraco.
Falta, não só para a economia, mas também para o futebol, um diagnóstico preciso das causas do problema.
Contraste a ideia de proibição da saída de jogadores com a hipótese levantada neste espaço pelo meu amigo Samuel Pessôa, a saber, que a Lei Pelé teria reduzido os incentivos à formação de jogadores, já que os clubes que investem nas categorias de base não teriam como evitar o aliciamento de futuros craques, gerando em consequência uma queda na qualidade dos jogadores.
Francamente, não sei se o Samuel está certo, mas, correto ou não, trata-se de hipótese que merece investigação mais cuidadosa.
Busca identificar mecanismos que afetam os incentivos dos agentes envolvidos no processo, tanto clubes quanto jogadores (assim como os indefectíveis "empresários").
Caso se prove correta, traz em si uma sugestão de política que alteraria as instituições (ou regras) sob as quais funciona a atividade futebolística, presumivelmente no sentido de aumentar o retorno dos que investem no desenvolvimento de jogadores, como, aliás, foi feito na Alemanha com enorme sucesso.
É bom que se diga que futebol não é uma questão de vida ou morte (é muito mais do que isto, claro), mas no domínio econômico este tipo de abordagem consegue ter repercussões ainda mais negativas.
A incapacidade de formular um diagnóstico sistêmico acerca das dificuldades do país se encontra por trás do padrão errático de política econômica que predomina no Brasil de 2009 para cá, inépcia que explica muito do fraco desempenho recente do país.
Neste contexto é impossível não se lembrar da frase precisa de Dave Barry: "Quando problemas surgem e as coisas parecem ruins, há sempre alguém que descobre uma solução e está disposto a assumir o comando. Frequentemente trata-se de um maluco". Pode, Arnaldo?
18 de julho de 2014
ALEXANDRE SCHWARTSMAN, Folha de SP
BRICS ENGROSSAM A VOZ
Com banco e 'mini-FMI', grupo dá um passo para ir além da retórica na disputa de poder. Bom?
OS BRICS deixaram de ser mera conversa fiada desde ontem, quando criaram o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e uma espécie de "mini-FMI", o Acordo de Reservas de Contingência.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul pingaram dinheiro na mesa a fim de dar alguma substância e marca política a sua ação conjunta, mas quase retórica, contra o predomínio americano e europeu.
Se isso vai resultar em algum benefício para o Brasil, são outros quinhentos. Mas o bonde andou.
O dinheiro é pouco. O capital inicial para valer do NBD é de US$ 10 bilhões. Com apenas esse capital, mas se comportando como um banco multilateral mais agressivo, o NBD pode emprestar uns US$ 40 bilhões em uma década. Em tese, o dinheiro vai para a infraestrutura de países ainda mais pobres que nós.
O BNDES, por exemplo, tem ativos de US$ 334 bilhões, mais que os US$ 324 bilhões do Banco Mundial.
O Banco de Desenvolvimento da China tem o equivalente a US$ 1,2 trilhão em empréstimos, um quarto disso, estima-se, em empréstimos externos --sim, a China vem alugando e comprando boa parte do mundo pobre.
Aliás, para a China tudo isso é troco. O que os chineses estão dizendo para o mundo rico é: "Olhem a minha turma, com o fortão aí do quintal de vocês (Brasil). E vai ficar ainda maior".
O capital pingado pelos Brics é troco perto das reservas internacionais desses países (dinheiro em moeda forte, "dólar", guardado como seguro). A China tem US$ 3,8 trilhões em reservas. A Rússia, US$ 467 bilhões. O Brasil, US$ 368 bilhões. A Índia, US$ 321 bilhões.
O "mini-FMI" dos Brics teria US$ 100 bilhões, um fundo que poderia ser parcialmente sacado em caso de crise de financiamento externo. Não é lá grande dinheiro para as economias dos Brics, com exceção da África do Sul. Na verdade, mesmo o FMI não tem fundos para lidar com o tamanho dos desastres financeiros mundiais.
Note-se de passagem certa ironia ridícula nisso de o governo do Brasil criar um banco para se ajudar em caso de problema financeiro que, em parte, esse governo mesmo cria.
Esse sisteminha financeiro Brics pode, claro, se transformar em seguro para outros países, tomando parte do lugar do FMI e Banco Mundial, dominados por EUA e Europa.
Os Brics dizem que as contrapartidas exigidas não seriam aquelas do FMI. No entanto, qualquer instituição financeira precisa receber seus empréstimos de volta e tem de exigir garantias. Como os Brics vão fazer essa "nova política" financeira?
É fato que o FMI demonstrou incompetência criminosa e terminal nas crises de 1997 a 2008. Cobrindo-se de ridículo atroz, o Fundo dizia que o mundo seguia risonho e franco até a coisa explodir nas suas fuças. Pior, as contrapartidas que o FMI exigia para "socorrer" países causaram dano econômico e desastres políticos e humanitários.
As crises causadas pela finança mundializada e bucaneira foram um dos fatores que levaram os países de fora do centro do mundo a acumular imensas reservas financeiras a fim de se defender do caos.
Com PIBs ainda maiores, Brics e outros blocos agora começam a partir para o ataque no jogo da política financeira mundial.
OS BRICS deixaram de ser mera conversa fiada desde ontem, quando criaram o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e uma espécie de "mini-FMI", o Acordo de Reservas de Contingência.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul pingaram dinheiro na mesa a fim de dar alguma substância e marca política a sua ação conjunta, mas quase retórica, contra o predomínio americano e europeu.
Se isso vai resultar em algum benefício para o Brasil, são outros quinhentos. Mas o bonde andou.
O dinheiro é pouco. O capital inicial para valer do NBD é de US$ 10 bilhões. Com apenas esse capital, mas se comportando como um banco multilateral mais agressivo, o NBD pode emprestar uns US$ 40 bilhões em uma década. Em tese, o dinheiro vai para a infraestrutura de países ainda mais pobres que nós.
O BNDES, por exemplo, tem ativos de US$ 334 bilhões, mais que os US$ 324 bilhões do Banco Mundial.
O Banco de Desenvolvimento da China tem o equivalente a US$ 1,2 trilhão em empréstimos, um quarto disso, estima-se, em empréstimos externos --sim, a China vem alugando e comprando boa parte do mundo pobre.
Aliás, para a China tudo isso é troco. O que os chineses estão dizendo para o mundo rico é: "Olhem a minha turma, com o fortão aí do quintal de vocês (Brasil). E vai ficar ainda maior".
O capital pingado pelos Brics é troco perto das reservas internacionais desses países (dinheiro em moeda forte, "dólar", guardado como seguro). A China tem US$ 3,8 trilhões em reservas. A Rússia, US$ 467 bilhões. O Brasil, US$ 368 bilhões. A Índia, US$ 321 bilhões.
O "mini-FMI" dos Brics teria US$ 100 bilhões, um fundo que poderia ser parcialmente sacado em caso de crise de financiamento externo. Não é lá grande dinheiro para as economias dos Brics, com exceção da África do Sul. Na verdade, mesmo o FMI não tem fundos para lidar com o tamanho dos desastres financeiros mundiais.
Note-se de passagem certa ironia ridícula nisso de o governo do Brasil criar um banco para se ajudar em caso de problema financeiro que, em parte, esse governo mesmo cria.
Esse sisteminha financeiro Brics pode, claro, se transformar em seguro para outros países, tomando parte do lugar do FMI e Banco Mundial, dominados por EUA e Europa.
Os Brics dizem que as contrapartidas exigidas não seriam aquelas do FMI. No entanto, qualquer instituição financeira precisa receber seus empréstimos de volta e tem de exigir garantias. Como os Brics vão fazer essa "nova política" financeira?
É fato que o FMI demonstrou incompetência criminosa e terminal nas crises de 1997 a 2008. Cobrindo-se de ridículo atroz, o Fundo dizia que o mundo seguia risonho e franco até a coisa explodir nas suas fuças. Pior, as contrapartidas que o FMI exigia para "socorrer" países causaram dano econômico e desastres políticos e humanitários.
As crises causadas pela finança mundializada e bucaneira foram um dos fatores que levaram os países de fora do centro do mundo a acumular imensas reservas financeiras a fim de se defender do caos.
Com PIBs ainda maiores, Brics e outros blocos agora começam a partir para o ataque no jogo da política financeira mundial.
18 de julho de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
BALANÇO SEM PALANQUE
A população recebeu bem. Os prazos das obras não foram cumpridos. O país encantou os turistas. Os serviços estavam muito caros, como hotéis, passagens aéreas e restaurantes. Não houve caos aéreo, mas nem todos os aeroportos ficaram prontos e as viagens de negócios foram praticamente suspensas. Ferrovias novas não há. O trânsito foi ajudado por feriados que prejudicaram a economia.
O balanço que a presidente Dilma fez tinha endereço eleitoral. Uma avaliação mais realista permite aprender com o que não funcionou para que o Brasil se prepare para receber grandes eventos internacionais. Temos as Olimpíadas pela frente e, de novo, as obras estão muito atrasadas e de algumas conquistas já desistimos, como a limpeza da Baía de Guanabara.
A infraestrutura de tecnologia de comunicação continua deficiente. Precisamos melhorar muito nessa área e não pelos eventos, é por nós mesmos. A simpatia natural do povo brasileiro — reconhecido por todos como o ponto alto da Copa — pode ser aperfeiçoada com melhor ensino das línguas inglesa e espanhola para quem vai lidar diretamente com o público.
Não foi a Copa das copas. Isso é refrão de marqueteiro. É melhor avaliar o que deu certo, o que deu errado. Os alertas feitos pela imprensa não eram torcida contra. Toda imprensa livre tem o dever de fazer os alertas. Quem não gosta de imprensa livre pode ver como funciona na China, em Cuba, na Coreia do Norte. É o paraíso do governante, e a morte da notícia. Tudo filtrado, controlado, vigiado. O Brasil não quer isso, por mais que o governo passe o tempo todo culpando a imprensa por qualquer fato que o desagrade.
Houve acidentes no Itaquerão durante a construção. Com mortes. O estádio que abriu o evento ficou pronto no último minuto, mas a imagem externa da abertura era deprimente porque não houve tempo para o trabalho do lado de fora. Um viaduto caiu em Belo Horizonte e também houve morte. Ainda não se sabe o que será feito com certos estádios em locais onde não há tradição de futebol. Há um trabalho para fazer nesse pós-Copa para dar utilidade a essas obras caríssimas.
Houve dias de trânsito muito pesado, mas a mobilidade urbana foi ajudada por excessivos feriados. A suspensão de aulas e atividades produtivas não é apenas um prejuízo econômico, mostra que só se evita o pior se o país parar. Um grande evento tem que caber no país. A conta dos feriados está batendo nos números já fracos da economia brasileira.
Os preços extorsivos cobrados por muitos hotéis e restaurantes, além de passagens aéreas, foram um tiro no pé. Ganha-se num mês, mas o risco é apequenar o principal legado da Copa, que é incentivar o turismo estrangeiro. Se o país fica com fama de caro, isso afasta o turismo potencial que nasce desse contato. Foi um erro dos empresários e falta de visão de negócios de longo prazo. Claro que se sabia que haveria maior demanda por esses serviços durante um mês, mas cobrar preços excessivos reduz atratividade no turismo.
Os jogos foram emocionantes, até aqueles dos quais não se esperava muito, e isso ajudou a consolidar a ideia de uma boa Copa. Fica a certeza de que é preciso renovar o futebol brasileiro, para melhorar o desempenho em campo e eliminar o desconforto de ter certas figuras nefastas no comando do esporte. O Cafu sendo barrado por José Maria Marin no vestiário, no dia da nossa maior tristeza, mostra a inversão de valores. O que cada um deles fez pelo Brasil? Basta comparar.
O melhor balanço é aquele que é feito longe dos palanques, e ele mostrará os pontos fortes e as lições do evento. Em todos os campos.
18 de julho de 2014
Miriam Leitão, O Globo
O balanço que a presidente Dilma fez tinha endereço eleitoral. Uma avaliação mais realista permite aprender com o que não funcionou para que o Brasil se prepare para receber grandes eventos internacionais. Temos as Olimpíadas pela frente e, de novo, as obras estão muito atrasadas e de algumas conquistas já desistimos, como a limpeza da Baía de Guanabara.
A infraestrutura de tecnologia de comunicação continua deficiente. Precisamos melhorar muito nessa área e não pelos eventos, é por nós mesmos. A simpatia natural do povo brasileiro — reconhecido por todos como o ponto alto da Copa — pode ser aperfeiçoada com melhor ensino das línguas inglesa e espanhola para quem vai lidar diretamente com o público.
Não foi a Copa das copas. Isso é refrão de marqueteiro. É melhor avaliar o que deu certo, o que deu errado. Os alertas feitos pela imprensa não eram torcida contra. Toda imprensa livre tem o dever de fazer os alertas. Quem não gosta de imprensa livre pode ver como funciona na China, em Cuba, na Coreia do Norte. É o paraíso do governante, e a morte da notícia. Tudo filtrado, controlado, vigiado. O Brasil não quer isso, por mais que o governo passe o tempo todo culpando a imprensa por qualquer fato que o desagrade.
Houve acidentes no Itaquerão durante a construção. Com mortes. O estádio que abriu o evento ficou pronto no último minuto, mas a imagem externa da abertura era deprimente porque não houve tempo para o trabalho do lado de fora. Um viaduto caiu em Belo Horizonte e também houve morte. Ainda não se sabe o que será feito com certos estádios em locais onde não há tradição de futebol. Há um trabalho para fazer nesse pós-Copa para dar utilidade a essas obras caríssimas.
Houve dias de trânsito muito pesado, mas a mobilidade urbana foi ajudada por excessivos feriados. A suspensão de aulas e atividades produtivas não é apenas um prejuízo econômico, mostra que só se evita o pior se o país parar. Um grande evento tem que caber no país. A conta dos feriados está batendo nos números já fracos da economia brasileira.
Os preços extorsivos cobrados por muitos hotéis e restaurantes, além de passagens aéreas, foram um tiro no pé. Ganha-se num mês, mas o risco é apequenar o principal legado da Copa, que é incentivar o turismo estrangeiro. Se o país fica com fama de caro, isso afasta o turismo potencial que nasce desse contato. Foi um erro dos empresários e falta de visão de negócios de longo prazo. Claro que se sabia que haveria maior demanda por esses serviços durante um mês, mas cobrar preços excessivos reduz atratividade no turismo.
Os jogos foram emocionantes, até aqueles dos quais não se esperava muito, e isso ajudou a consolidar a ideia de uma boa Copa. Fica a certeza de que é preciso renovar o futebol brasileiro, para melhorar o desempenho em campo e eliminar o desconforto de ter certas figuras nefastas no comando do esporte. O Cafu sendo barrado por José Maria Marin no vestiário, no dia da nossa maior tristeza, mostra a inversão de valores. O que cada um deles fez pelo Brasil? Basta comparar.
O melhor balanço é aquele que é feito longe dos palanques, e ele mostrará os pontos fortes e as lições do evento. Em todos os campos.
18 de julho de 2014
Miriam Leitão, O Globo
FELIPÃO, O PROFESSOR DE GESTÃO DE DILMA
Dilma Rousseff disse, em 1.º de julho de 2013, que seu governo tinha o "padrão Felipão", em resposta a uma pergunta sobre se seus ministros tinham "padrão Fifa". Referia-se ao ex-técnico da seleção brasileira Luiz Felipe Scolari após reunião ministerial depois da vitória sobre a Espanha por 3 a 0 no Maracanã, onde ela seria vaiada várias vezes domingo, na final da Copa, antes e ao entregar a taça ao capitão alemão, Philipp Lahm. A comparação havia sido feita na temporada de protestos nas ruas em que o povo exigiu "padrão Fifa" para a gestão pública federal, nada exemplar. Apesar de ter escolhido o treinador como modelo, ela não foi entregar a Copa das Confederações ao time que ele treinou. Um ano e 13 dias depois, tendo o mesmo time sofrido hecatombes inéditas nos jogos finais da "Copa das Copas", ela o relegou ao ostracismo para se refugiar no verso de um samba de Paulo Vanzolini ("levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima") e na criatividade ("a derrota é a mãe de todas as vitórias").
Dilma não atuou na seleção nem a treinou. Não é também dirigente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Mas não resiste a recorrer ao dito esporte bretão para parecer simpática. Nascida em Minas, comemorou a conquista da Libertadores da América pelo Atlético Mineiro em 2013 em redes sociais. "Congratulo (sic) com toda a torcida do Atlético pela conquista do título. Eu sou torcedora do Atlético e, quando criança, ia com meu pai a muitos jogos do Galo no Mineirão", postou. Não faltou quem nos mesmos veículos lembrasse que 1) como nasceu em 1947, tinha 18 anos e, portanto, não era criança quando o estádio foi inaugurado; e 2) que o pai morrera em 1962, três anos antes de sua inauguração.
Consta que Clio, a deusa da história, é irônica. Pelo visto, os deuses do futebol também. Em 8 de julho o estádio foi palco da derrota mais humilhante que o Brasil sofreu na história, ao perder de 7 a 1 na semifinal da Copa. Dela o técnico saiu como padrão de incompetência, e não de excelência.
Nenhum torcedor dotado do mínimo de bom senso teria apostado pesado no time de Scolari na Copa: ganhou da Croácia com a ajuda do juiz, empatou com o México contando com muita sorte e ao vencer Camarões passou para as oitavas de final contra o Chile, e não contra a Holanda, por absurdos erros do árbitro, que anulou dois gols legítimos dos mexicanos no jogo de estreia contra os africanos. A trave nos últimos segundos da prorrogação e no último pênalti carimbou o passaporte para as quartas de final contra a Colômbia, que nunca foi páreo para a canarinha nos melhores momentos dela e nos piores desta. O Brasil ficou entre os quatro melhores com a ajuda da sorte e de apito amigo.
Mas na véspera da semifinal contra a temida Alemanha a presidente resolveu apostar todas as fichas de chefe de governo e de Estado e de candidata à reeleição no "padrão Felipão" de excelente gestão. A página oficial da Presidência da República na internet, usada na campanha eleitoral com uma sem-cerimônia só comparável à do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao desconhecer o fato, divulgou sua "conversa" com internautas sobre a Copa. Chamou os adversários de "urubus", condenou o "pessimismo indevido" de um sujeito oculto chamado imprensa, vulgo "mídia golpista", e adotou como mascote de palanque o craque Neymar, cuja dor, ao ser atingido por um jogador do time que fora menos violento do que o Brasil no jogo, segundo ela, "feriu o coração de todos os brasileiros". Para completar, sem se dignar a explicar o significado do gesto nem da expressão, copiou do astro do Barcelona o "é tóis", paródia criada por ele para o "é nóis" dos corintianos, com a letra T formada pelos braços e pelo cotovelo. E enquanto a torcida lhe fazia eco gritando o nome do ídolo ferido, os alemães impingiram à seleção mais campeã das Copas a pior goleada em semifinais do torneio.
Felipão, fiel a seu padrão de embromation, mal consumado o desastre elogiou o próprio trabalho, lembrando que seu "grupo" - sua "família", ou seja, as vítimas de suas doses patéticas de autoajuda - foi o primeiro a chegar a uma semifinal desde a Copa em que ele mesmo treinou o time campeão, em 2002, há 12 anos. O auxiliar técnico Carlos Alberto Parreira comprometeu o respeitável currículo de campeão mundial de 1994 lendo na entrevista a carta de uma fã que elogiou a preparação do time de um esporte cujos fundamentos ela própria dizia desconhecer.
Antes de o "padrão Felipão" ser submetido a outro vexame na disputa pelo terceiro lugar contra a Holanda na arena Mané Garrincha, com o nome de um gênio do tempo em que nosso futebol tinha cara e vergonha, os bombeiros do Planalto correram para salvar a chefe do incêndio. Descalçaram-lhe as chuteiras e ela pôs de novo o capacete de chefe de obras, para jogar espuma sobre a tentativa canhestra de barganhar o sucesso da seleção por votos na eleição. Apelaram até para o óbvio: "Futebol e política não se misturam". Fez-se isso com desleixo idêntico ao de estropiarem a frase de Nelson Rodrigues "a pátria em chuteiras" por outra, que só adquiriu nexo após o vexame: "a pátria de chuteiras". Dilma e seu professor (assim os pupilos chamam seus técnicos) usaram pátria, hino e bandeira para chutar a realidade para escanteio.
Dilma ainda contribuiu para o besteirol de político ignorante em esporte ao atribuir o chamado mineiratsen à exportação dos melhores jogadores nacionais para o exterior. O uso da palavra exportação, cabível para médicos cubanos, mas não para nossos craques, omite as evidências de que a seleção atuou em nível similar ao dos campeonatos locais por absoluta incapacidade de dirigentes que se recusam a aprender como se joga nos mercados que hoje vencem. E de governantes que perdoam as dívidas monstruosas acumuladas por estes bancando papagaios de pirata para ganhar votos, perdendo o pudor e as Copas.
18 de julho de 2014
José Nêumanne, O Estado de S.Paulo
Dilma não atuou na seleção nem a treinou. Não é também dirigente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Mas não resiste a recorrer ao dito esporte bretão para parecer simpática. Nascida em Minas, comemorou a conquista da Libertadores da América pelo Atlético Mineiro em 2013 em redes sociais. "Congratulo (sic) com toda a torcida do Atlético pela conquista do título. Eu sou torcedora do Atlético e, quando criança, ia com meu pai a muitos jogos do Galo no Mineirão", postou. Não faltou quem nos mesmos veículos lembrasse que 1) como nasceu em 1947, tinha 18 anos e, portanto, não era criança quando o estádio foi inaugurado; e 2) que o pai morrera em 1962, três anos antes de sua inauguração.
Consta que Clio, a deusa da história, é irônica. Pelo visto, os deuses do futebol também. Em 8 de julho o estádio foi palco da derrota mais humilhante que o Brasil sofreu na história, ao perder de 7 a 1 na semifinal da Copa. Dela o técnico saiu como padrão de incompetência, e não de excelência.
Nenhum torcedor dotado do mínimo de bom senso teria apostado pesado no time de Scolari na Copa: ganhou da Croácia com a ajuda do juiz, empatou com o México contando com muita sorte e ao vencer Camarões passou para as oitavas de final contra o Chile, e não contra a Holanda, por absurdos erros do árbitro, que anulou dois gols legítimos dos mexicanos no jogo de estreia contra os africanos. A trave nos últimos segundos da prorrogação e no último pênalti carimbou o passaporte para as quartas de final contra a Colômbia, que nunca foi páreo para a canarinha nos melhores momentos dela e nos piores desta. O Brasil ficou entre os quatro melhores com a ajuda da sorte e de apito amigo.
Mas na véspera da semifinal contra a temida Alemanha a presidente resolveu apostar todas as fichas de chefe de governo e de Estado e de candidata à reeleição no "padrão Felipão" de excelente gestão. A página oficial da Presidência da República na internet, usada na campanha eleitoral com uma sem-cerimônia só comparável à do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao desconhecer o fato, divulgou sua "conversa" com internautas sobre a Copa. Chamou os adversários de "urubus", condenou o "pessimismo indevido" de um sujeito oculto chamado imprensa, vulgo "mídia golpista", e adotou como mascote de palanque o craque Neymar, cuja dor, ao ser atingido por um jogador do time que fora menos violento do que o Brasil no jogo, segundo ela, "feriu o coração de todos os brasileiros". Para completar, sem se dignar a explicar o significado do gesto nem da expressão, copiou do astro do Barcelona o "é tóis", paródia criada por ele para o "é nóis" dos corintianos, com a letra T formada pelos braços e pelo cotovelo. E enquanto a torcida lhe fazia eco gritando o nome do ídolo ferido, os alemães impingiram à seleção mais campeã das Copas a pior goleada em semifinais do torneio.
Felipão, fiel a seu padrão de embromation, mal consumado o desastre elogiou o próprio trabalho, lembrando que seu "grupo" - sua "família", ou seja, as vítimas de suas doses patéticas de autoajuda - foi o primeiro a chegar a uma semifinal desde a Copa em que ele mesmo treinou o time campeão, em 2002, há 12 anos. O auxiliar técnico Carlos Alberto Parreira comprometeu o respeitável currículo de campeão mundial de 1994 lendo na entrevista a carta de uma fã que elogiou a preparação do time de um esporte cujos fundamentos ela própria dizia desconhecer.
Antes de o "padrão Felipão" ser submetido a outro vexame na disputa pelo terceiro lugar contra a Holanda na arena Mané Garrincha, com o nome de um gênio do tempo em que nosso futebol tinha cara e vergonha, os bombeiros do Planalto correram para salvar a chefe do incêndio. Descalçaram-lhe as chuteiras e ela pôs de novo o capacete de chefe de obras, para jogar espuma sobre a tentativa canhestra de barganhar o sucesso da seleção por votos na eleição. Apelaram até para o óbvio: "Futebol e política não se misturam". Fez-se isso com desleixo idêntico ao de estropiarem a frase de Nelson Rodrigues "a pátria em chuteiras" por outra, que só adquiriu nexo após o vexame: "a pátria de chuteiras". Dilma e seu professor (assim os pupilos chamam seus técnicos) usaram pátria, hino e bandeira para chutar a realidade para escanteio.
Dilma ainda contribuiu para o besteirol de político ignorante em esporte ao atribuir o chamado mineiratsen à exportação dos melhores jogadores nacionais para o exterior. O uso da palavra exportação, cabível para médicos cubanos, mas não para nossos craques, omite as evidências de que a seleção atuou em nível similar ao dos campeonatos locais por absoluta incapacidade de dirigentes que se recusam a aprender como se joga nos mercados que hoje vencem. E de governantes que perdoam as dívidas monstruosas acumuladas por estes bancando papagaios de pirata para ganhar votos, perdendo o pudor e as Copas.
18 de julho de 2014
José Nêumanne, O Estado de S.Paulo
NA TV, DILMA TERÁ BONS ROTEIROS
O problema surgirá nos debates, sobretudo se houver 2º turno, com tempos iguais para os dois candidatos
As últimas falas da doutora Dilma, listando realizações num estilo que despreza o final das sentenças e o encadeamento dos raciocínios, indicam que, durante a propaganda gratuita de televisão, ela estará blindada. Conseguirá despejar uma enciclopédia de números capaz de mostrar os aspectos exitosos de sua administração. Na TV, essas informações serão arrumadas por João Santana e seus efeitos especiais, os 11min48s diários, contra 4min31s de Aécio Neves e 1min49s de Eduardo Campos, farão sensível diferença. Isso no primeiro turno.
Se houver segundo turno, cada candidato terá o mesmo tempo. Pior: nele, o debate pesará muito mais, pois será um mano a mano, sem candidatos fazendo perguntas teatrais. Pior ainda: os dois principais adversários da doutora falam com clareza, enquanto ela se perde em estatísticas. Aécio Neves exagera nos adjetivos grandiloquentes. Eduardo Campos, nos adjetivos fáceis. Mesmo assim, fazem mais sentido que ela. Sempre vale lembrar que, na primeira campanha de Bill Clinton à Presidência dos Estados Unidos, o marqueteiro James Carville proibiu-o de pronunciar a palavra "infraestrutura". Na campanha brasileira pode-se acrescentar que "centro da meta" pode ser a marca do pênalti.
Até hoje, as propostas concretas de Aécio Neves e Eduardo Campos somam benignas platitudes. Aécio quer a "introdução de um novo conceito de cultura na política pública brasileira, com prioridade para uma visão integrada da ação cultural, abrangendo todas as instâncias governamentais e de estímulo a toda a produção cultural nacional, em todos os seus segmentos".
Campos quer passe livre em transportes públicos para todos os estudantes. Tudo bem. Passe livre para a garotada da Escola Britânica do Rio? Lá a mensalidade vai a cerca de R$ 4.500. Será que eles precisam? Se é o caso de se prometer gratuidades, por que não entregá-las só a quem pedir? Já a doutora oferece como novidade um Brasil sem burocracia. Logo ela, que tem 25 ministérios e 14 comissários com status de ministro. Ao contrário dos outros dois, a doutora tem o que mostrar, e o êxito da Copa lustrou-lhe a imagem de gerentona. (Registre-se o surgimento de uma piada macabra: um novo 7x1: 7 por cento de inflação e 1 por cento de crescimento. Pelo andar da carruagem, vem aí um 6x1.)
Não se pode saber até que ponto as tensões registradas no comissariado da campanha derivam de maus números chegados ao Planalto ou da simples autofagia petista. A doutora já sofreu um processo de corrosão com o "Volta, Lula", não precisa de outro.
A temática oferecida pelas falas de Dilma sugere que sua campanha depende muito das obras e pompas do marqueteiro João Santana e de sua capacidade de administrar o capital do tempo na televisão. Essa tática poderá ser eficiente num primeiro turno. Depois, a eleição será outra. Pelas ansiedades que se percebem no comissariado, usando-se um verbo criado pela psicóloga Maria Regina Brandão, há o risco de o PT "panicar", como panicou a turma da Granja Comary. Um PT "panicado" seria uma reedição da velha técnica de "partir pra cima", radicalizando o que for possível radicalizar.
As últimas falas da doutora Dilma, listando realizações num estilo que despreza o final das sentenças e o encadeamento dos raciocínios, indicam que, durante a propaganda gratuita de televisão, ela estará blindada. Conseguirá despejar uma enciclopédia de números capaz de mostrar os aspectos exitosos de sua administração. Na TV, essas informações serão arrumadas por João Santana e seus efeitos especiais, os 11min48s diários, contra 4min31s de Aécio Neves e 1min49s de Eduardo Campos, farão sensível diferença. Isso no primeiro turno.
Se houver segundo turno, cada candidato terá o mesmo tempo. Pior: nele, o debate pesará muito mais, pois será um mano a mano, sem candidatos fazendo perguntas teatrais. Pior ainda: os dois principais adversários da doutora falam com clareza, enquanto ela se perde em estatísticas. Aécio Neves exagera nos adjetivos grandiloquentes. Eduardo Campos, nos adjetivos fáceis. Mesmo assim, fazem mais sentido que ela. Sempre vale lembrar que, na primeira campanha de Bill Clinton à Presidência dos Estados Unidos, o marqueteiro James Carville proibiu-o de pronunciar a palavra "infraestrutura". Na campanha brasileira pode-se acrescentar que "centro da meta" pode ser a marca do pênalti.
Até hoje, as propostas concretas de Aécio Neves e Eduardo Campos somam benignas platitudes. Aécio quer a "introdução de um novo conceito de cultura na política pública brasileira, com prioridade para uma visão integrada da ação cultural, abrangendo todas as instâncias governamentais e de estímulo a toda a produção cultural nacional, em todos os seus segmentos".
Campos quer passe livre em transportes públicos para todos os estudantes. Tudo bem. Passe livre para a garotada da Escola Britânica do Rio? Lá a mensalidade vai a cerca de R$ 4.500. Será que eles precisam? Se é o caso de se prometer gratuidades, por que não entregá-las só a quem pedir? Já a doutora oferece como novidade um Brasil sem burocracia. Logo ela, que tem 25 ministérios e 14 comissários com status de ministro. Ao contrário dos outros dois, a doutora tem o que mostrar, e o êxito da Copa lustrou-lhe a imagem de gerentona. (Registre-se o surgimento de uma piada macabra: um novo 7x1: 7 por cento de inflação e 1 por cento de crescimento. Pelo andar da carruagem, vem aí um 6x1.)
Não se pode saber até que ponto as tensões registradas no comissariado da campanha derivam de maus números chegados ao Planalto ou da simples autofagia petista. A doutora já sofreu um processo de corrosão com o "Volta, Lula", não precisa de outro.
A temática oferecida pelas falas de Dilma sugere que sua campanha depende muito das obras e pompas do marqueteiro João Santana e de sua capacidade de administrar o capital do tempo na televisão. Essa tática poderá ser eficiente num primeiro turno. Depois, a eleição será outra. Pelas ansiedades que se percebem no comissariado, usando-se um verbo criado pela psicóloga Maria Regina Brandão, há o risco de o PT "panicar", como panicou a turma da Granja Comary. Um PT "panicado" seria uma reedição da velha técnica de "partir pra cima", radicalizando o que for possível radicalizar.
18 de julho de 2014
Elio Gaspari, Folha de SP
CADA PINGO COM SEU i
Graças à existência de um fator chamado massa crítica a presidente Dilma Rousseff pode comemorar a realização de uma Copa do Mundo muito bem-sucedida, mesmo tendo o Brasil levado uma lavada histórica dentro de campo e fora dele o governo deixado de cumprir boa parte dos compromissos assumidos em relação ao “legado” de infraestrutura.
Expectativa lá embaixo, resultado lá no alto.
Houve improvisos, houve atrasos, houve superfaturamento e isso está demonstrado nos números, seja pela quantidade de obras que ficaram pelo caminho ou que ainda não foram entregues, seja pelos custos muito superiores aos previstos. Tudo isso foi apontado e o conjunto da ópera não autorizava ninguém a fazer uma previsão otimista.
Saiu tudo muitíssimo melhor que a encomenda? Ótimo. A ninguém satisfaria hoje contabilizar desastres e lamentar episódios que pudessem nos transformar em objeto de vergonha mundial. O sentimento de regozijo é compartilhado como se pode constatar em todos os veículos de comunicação.
Não há, portanto, razão para a presidente da República dizer, como se fosse marechal de espada em punho diante do batalhão, que derrotou os “pessimistas”.
Não houve derrotados porque ninguém estava disputando coisa alguma; nem havia pessimistas, mas uma imprensa, no Brasil e no mundo, acompanhando os preparativos com olhos realistas e espírito crítico aguçado. Como deve ser. Diferente ocorreu na área da imprensa esportiva onde, salvo as exceções de praxe, imperou o otimismo. Cronistas mais experientes mantiveram-se com o regulamentar pé atrás. Mas, no geral, o tom foi de submissão aos ditames do “comando”.
A convocação do time aceita sem contestações e o mantra “já estamos com a taça na mão”, agora analisado como sinal de prepotência, abraçado com naturalidade. De que adiantou mesmo tanto otimismo? Não se construiu nada com ele. Só uma expectativa lá no alto para um resultado lá embaixo.
Nem por isso é cabível dizer que houve “derrota dos otimistas”. Não disputavam. Talvez tenham apenas se intimidado de ir contra corrente e, assim, passarem a integrar o índex dos “pessimistas” aos quais parecia haver certa obrigação de fazer um contraponto.
Tudo normal se a gente entender que a benevolência do elogio não garante êxito nem tampouco o exercício da crítica contundente significa aposta no fracasso.
Contraste. O estado de espírito da presidente Dilma Rousseff em ambientes fechados é muito diferente daquele exibido quando exposta ao público. Que o digam os sorrisos durante a cerimônia do balanço da Copa em contraposição ao semblante fechado no Maracanã. Em nada parecia a representante de um país cuja alegria da população era celebrada como um dos trunfos dessa Copa.
Gente bronzeada. Você conhece alguém que já foi “pesquisado” sobre intenção de voto? A pergunta é recorrente, decerto pela dimensão reduzida da amostragem em relação ao universo ao nosso lado.
Já a pesquisa sobre o grau de satisfação dos visitantes estrangeiros com a Copa é de facílima constatação. Não só pelo amplamente noticiado, mas pelas histórias que cada um tem para contar comprovando a aprovação de 95% sobre a hospitalidade brasileira apontada na pesquisa do Datafolha.
A minha veio da Austrália. Um grupo de 10 jovens, cujas impressões bem resumidas são as seguintes: paisagem impecável, comida esplêndida e variada (só detestaram goiabada, mas adoraram churrascarias rodízio), povo de primeira no quesito amabilidade, moças lindas e rapazes “muito abusados”.
No dia da final, vestidos com a camisa da Austrália, verde-amarela como a do Brasil, foram hostilizados por argentinos e, se antes estranhavam a torcida contra, saíram daqui entendendo perfeitamente a razão da pinimba.
Expectativa lá embaixo, resultado lá no alto.
Houve improvisos, houve atrasos, houve superfaturamento e isso está demonstrado nos números, seja pela quantidade de obras que ficaram pelo caminho ou que ainda não foram entregues, seja pelos custos muito superiores aos previstos. Tudo isso foi apontado e o conjunto da ópera não autorizava ninguém a fazer uma previsão otimista.
Saiu tudo muitíssimo melhor que a encomenda? Ótimo. A ninguém satisfaria hoje contabilizar desastres e lamentar episódios que pudessem nos transformar em objeto de vergonha mundial. O sentimento de regozijo é compartilhado como se pode constatar em todos os veículos de comunicação.
Não há, portanto, razão para a presidente da República dizer, como se fosse marechal de espada em punho diante do batalhão, que derrotou os “pessimistas”.
Não houve derrotados porque ninguém estava disputando coisa alguma; nem havia pessimistas, mas uma imprensa, no Brasil e no mundo, acompanhando os preparativos com olhos realistas e espírito crítico aguçado. Como deve ser. Diferente ocorreu na área da imprensa esportiva onde, salvo as exceções de praxe, imperou o otimismo. Cronistas mais experientes mantiveram-se com o regulamentar pé atrás. Mas, no geral, o tom foi de submissão aos ditames do “comando”.
A convocação do time aceita sem contestações e o mantra “já estamos com a taça na mão”, agora analisado como sinal de prepotência, abraçado com naturalidade. De que adiantou mesmo tanto otimismo? Não se construiu nada com ele. Só uma expectativa lá no alto para um resultado lá embaixo.
Nem por isso é cabível dizer que houve “derrota dos otimistas”. Não disputavam. Talvez tenham apenas se intimidado de ir contra corrente e, assim, passarem a integrar o índex dos “pessimistas” aos quais parecia haver certa obrigação de fazer um contraponto.
Tudo normal se a gente entender que a benevolência do elogio não garante êxito nem tampouco o exercício da crítica contundente significa aposta no fracasso.
Contraste. O estado de espírito da presidente Dilma Rousseff em ambientes fechados é muito diferente daquele exibido quando exposta ao público. Que o digam os sorrisos durante a cerimônia do balanço da Copa em contraposição ao semblante fechado no Maracanã. Em nada parecia a representante de um país cuja alegria da população era celebrada como um dos trunfos dessa Copa.
Gente bronzeada. Você conhece alguém que já foi “pesquisado” sobre intenção de voto? A pergunta é recorrente, decerto pela dimensão reduzida da amostragem em relação ao universo ao nosso lado.
Já a pesquisa sobre o grau de satisfação dos visitantes estrangeiros com a Copa é de facílima constatação. Não só pelo amplamente noticiado, mas pelas histórias que cada um tem para contar comprovando a aprovação de 95% sobre a hospitalidade brasileira apontada na pesquisa do Datafolha.
A minha veio da Austrália. Um grupo de 10 jovens, cujas impressões bem resumidas são as seguintes: paisagem impecável, comida esplêndida e variada (só detestaram goiabada, mas adoraram churrascarias rodízio), povo de primeira no quesito amabilidade, moças lindas e rapazes “muito abusados”.
No dia da final, vestidos com a camisa da Austrália, verde-amarela como a do Brasil, foram hostilizados por argentinos e, se antes estranhavam a torcida contra, saíram daqui entendendo perfeitamente a razão da pinimba.
18 de julho de 2014
Dora Kramer, O Estadão
OPOSIÇÃO OU DISSIDÊNCIA?
Criticar até não poder mais o governo da presidente Dilma, para marcar uma posição oposicionista, mas poupar o ex-presidente Lula, para não perder os votos de petistas desiludidos com o governo, pode estar dando uma caráter dúbio à candidatura do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, do PSB, mas ele está convencido de que esta é a estratégia mais adequada.
Foi bastante explícito sobre isso numa declaração à revista Piauí , quando afirmou que não criticava Lula porque esperava que muitos eleitores do PT o escolhessem como alternativa a Dilma.
Ontem, em debate promovido por Folha de S. Paulo , UOL e rádio Jovem Pan, insistiu em que discutir com Lula era uma armadilha em que o PSDB está caindo: Você acha que eu vou entrar nessa do PSDB, de ficar debatendo com o Lula? , indagou. Nós vamos ficar fazendo debate com quem não é candidato? .
Por trás dessa tentativa de dar um ar estratégico à sua postura, o que Campos esconde é o objetivo de ser trocado por Dilma como candidato petista à Presidência, situação semelhante à que acontece hoje em São Paulo, onde o candidato petista ao governo, Alexandre Padilha, está sendo cristianizado em favor do candidato do PMDB, Paulo Skaf.
A diferença, além de que Dilma está na liderança nas pesquisas, e Padilha não consegue decolar, é que o presidente licenciado da Fiesp não quer se confundir com o PT nem com Dilma, embora evidentemente não renegue eventuais votos de petistas dissidentes.
Já Campos gostaria de ser ligado a Lula para dar efetividade a seu plano de se transformar na terceira via da eleição presidencial, mas, ligando-se indiretamente a Lula, tem perdido o caráter de oposição, papel que deixou para o candidato do PSDB Aécio Neves, para ser quase um dissidente. Opor-se ao PT e a Dilma, mas aspirar a ser um herdeiro presuntivo do lulismo, pode ser uma tarefa excessivamente sutil para o eleitorado.
A tentativa de quebra da polarização entre PT e PSDB na disputa presidencial é estudada pelo cientista político da PUC-Rio Cesar Romero Jacob, que é cético quanto ao êxito dessa empreitada, pois, desde a redemocratização, não há repetição de uma terceira via solidamente implantada no território, que é onde, segundo sua definição, faz-se a política, com máquina, militância, uma ação no plano do territorial.
A terceira via tem sido questão muito episódica, lembra Romero Jacob. Em cada eleição houve uma preponderância: Brizola era bem votado no Rio e no Rio Grande do Sul. Enéas, no entorno metropolitano. Ciro Gomes era centrado no Nordeste. Garotinho, no Rio e nos territórios evangélicos.
Desta vez, quem aparece nesse papel é Campos, porque a ex-senadora Marina Silva, a candidata da terceira via de 2010, apesar da excelente votação que teve (20% dos votos) não conseguiu organizar seu partido a tempo de concorrer e entrou no PSB como candidata a vice.
De maneira indireta, ela confirma a tese de Romero Jacob de que os candidatos da terceira via sofrem de uma espécie de maldição que pode ser medida pelo retrospecto dos candidatos que chegaram em terceiro lugar nas recentes eleições presidenciais. Ninguém emplacou na eleição seguinte.
Brizola, em 1989, teve 16% dos votos, quase foi para o segundo turno contra Collor. Em 1994, teve apenas 3%. Em 1998, foi vice de Lula e terminou a carreira política sendo derrotado para senador. Enéas teve 7% de votos em 1994, caiu para 2% em 1998 e, em 2002, candidatou-se a deputado federal. Ciro Gomes teve 11% em 1998, 12% em 2002, mas, em 2006, candidatou-se a deputado federal. Garotinho tenta retomar o protagonismo e disputa o governo do estado, depois de ter sido deputado federal.
Isso se deve, segundo o cientista político, ao peso de São Paulo no jogo eleitoral: o estado tem um terço do PIB nacional e um quarto do eleitorado, e os partidos solidamente implantados em São Paulo são o PSDB e o PT, o que, para ele, condiciona o resto.
Por isso, Campos resistiu à oposição de Marina e decidiu participar da coligação para a reeleição do governador Geraldo Alckmin em São Paulo. E também por isso o candidato do PSDB Aécio Neves escolheu o senador Aloysio Nunes Ferreira para seu vice, um paulista para trabalhar o eleitorado do estado e não deixar que a chapa Edualdo (uma associação de Eduardo com Geraldo) tenha vida fácil.
Foi bastante explícito sobre isso numa declaração à revista Piauí , quando afirmou que não criticava Lula porque esperava que muitos eleitores do PT o escolhessem como alternativa a Dilma.
Ontem, em debate promovido por Folha de S. Paulo , UOL e rádio Jovem Pan, insistiu em que discutir com Lula era uma armadilha em que o PSDB está caindo: Você acha que eu vou entrar nessa do PSDB, de ficar debatendo com o Lula? , indagou. Nós vamos ficar fazendo debate com quem não é candidato? .
Por trás dessa tentativa de dar um ar estratégico à sua postura, o que Campos esconde é o objetivo de ser trocado por Dilma como candidato petista à Presidência, situação semelhante à que acontece hoje em São Paulo, onde o candidato petista ao governo, Alexandre Padilha, está sendo cristianizado em favor do candidato do PMDB, Paulo Skaf.
A diferença, além de que Dilma está na liderança nas pesquisas, e Padilha não consegue decolar, é que o presidente licenciado da Fiesp não quer se confundir com o PT nem com Dilma, embora evidentemente não renegue eventuais votos de petistas dissidentes.
Já Campos gostaria de ser ligado a Lula para dar efetividade a seu plano de se transformar na terceira via da eleição presidencial, mas, ligando-se indiretamente a Lula, tem perdido o caráter de oposição, papel que deixou para o candidato do PSDB Aécio Neves, para ser quase um dissidente. Opor-se ao PT e a Dilma, mas aspirar a ser um herdeiro presuntivo do lulismo, pode ser uma tarefa excessivamente sutil para o eleitorado.
A tentativa de quebra da polarização entre PT e PSDB na disputa presidencial é estudada pelo cientista político da PUC-Rio Cesar Romero Jacob, que é cético quanto ao êxito dessa empreitada, pois, desde a redemocratização, não há repetição de uma terceira via solidamente implantada no território, que é onde, segundo sua definição, faz-se a política, com máquina, militância, uma ação no plano do territorial.
A terceira via tem sido questão muito episódica, lembra Romero Jacob. Em cada eleição houve uma preponderância: Brizola era bem votado no Rio e no Rio Grande do Sul. Enéas, no entorno metropolitano. Ciro Gomes era centrado no Nordeste. Garotinho, no Rio e nos territórios evangélicos.
Desta vez, quem aparece nesse papel é Campos, porque a ex-senadora Marina Silva, a candidata da terceira via de 2010, apesar da excelente votação que teve (20% dos votos) não conseguiu organizar seu partido a tempo de concorrer e entrou no PSB como candidata a vice.
De maneira indireta, ela confirma a tese de Romero Jacob de que os candidatos da terceira via sofrem de uma espécie de maldição que pode ser medida pelo retrospecto dos candidatos que chegaram em terceiro lugar nas recentes eleições presidenciais. Ninguém emplacou na eleição seguinte.
Brizola, em 1989, teve 16% dos votos, quase foi para o segundo turno contra Collor. Em 1994, teve apenas 3%. Em 1998, foi vice de Lula e terminou a carreira política sendo derrotado para senador. Enéas teve 7% de votos em 1994, caiu para 2% em 1998 e, em 2002, candidatou-se a deputado federal. Ciro Gomes teve 11% em 1998, 12% em 2002, mas, em 2006, candidatou-se a deputado federal. Garotinho tenta retomar o protagonismo e disputa o governo do estado, depois de ter sido deputado federal.
Isso se deve, segundo o cientista político, ao peso de São Paulo no jogo eleitoral: o estado tem um terço do PIB nacional e um quarto do eleitorado, e os partidos solidamente implantados em São Paulo são o PSDB e o PT, o que, para ele, condiciona o resto.
Por isso, Campos resistiu à oposição de Marina e decidiu participar da coligação para a reeleição do governador Geraldo Alckmin em São Paulo. E também por isso o candidato do PSDB Aécio Neves escolheu o senador Aloysio Nunes Ferreira para seu vice, um paulista para trabalhar o eleitorado do estado e não deixar que a chapa Edualdo (uma associação de Eduardo com Geraldo) tenha vida fácil.
18 de julho de 2014
Merval Pereira, O Globo
PADRÃO PÓS-COPA
BRASÍLIA - O futebol volta à vida real nesta quarta-feira (16). O Campeonato Brasileiro será retomado. Os jornais publicarão depois as estatísticas dos estádios, todos com menos público do que na Copa. Os os jogos são às 22h por determinação da TV patrocinadora do evento.
Haverá uma certa ressaca. Dilma Rousseff sabe disso. Resolveu então começar a semana reunindo mais de 15 ministros para martelar que esta foi a Copa das Copas. O slogan é um jogo de palavras um pouco infantil e ingênuo. No século 21, Copa é igual a computador: sempre haverá um melhor e mais atraente a cada quatro anos. Só que numa campanha eleitoral, às vezes ganha quem ocupa espaços, sintetizando ideias e repetindo uma versão "ad nauseam".
O problema é a realidade. A do futebol é uma delas. Assisti a cinco jogos da Copa do Mundo no estádio Mané Garrincha, em Brasília. É uma edificação melhor do que eram as arenas pré-Copa? Claro que sim. Custou R$ 1,4 bilhão (valor oficial). Mas o acabamento é de quinta categoria. Vi várias portas quebradas nos banheiros --não por vandalismo. O material é de péssima qualidade. Havia exemplos por todos os lados.
No aeroporto de Brasília, o piso na segunda-feira à noite pós-Copa já estava imundo. O local continua em obras. Durante o torneio houve a preocupação de lustrar o que era possível. Agora, nos guichês das companhias aéreas já há menos gente trabalhando. Padrão pós-maquiagem.
É evidente que alguma coisa ficará do torneio hospedado pelo Brasil. Estádios novos, algumas obras de mobilidade urbana, aeroportos quase prontos. E a memória dos brasileiros do mês de semiférias coletivas no país, com vários feriados sucessivos para que tudo pudesse funcionar.
Para efeito eleitoral, o impacto ainda está para ser apurado. Dilma tenta faturar enquanto pode. Faz parte. Só não está claro o quanto os brasileiros vão comprar dessa versão tão edulcorada sobre a Copa das Copas.
Haverá uma certa ressaca. Dilma Rousseff sabe disso. Resolveu então começar a semana reunindo mais de 15 ministros para martelar que esta foi a Copa das Copas. O slogan é um jogo de palavras um pouco infantil e ingênuo. No século 21, Copa é igual a computador: sempre haverá um melhor e mais atraente a cada quatro anos. Só que numa campanha eleitoral, às vezes ganha quem ocupa espaços, sintetizando ideias e repetindo uma versão "ad nauseam".
O problema é a realidade. A do futebol é uma delas. Assisti a cinco jogos da Copa do Mundo no estádio Mané Garrincha, em Brasília. É uma edificação melhor do que eram as arenas pré-Copa? Claro que sim. Custou R$ 1,4 bilhão (valor oficial). Mas o acabamento é de quinta categoria. Vi várias portas quebradas nos banheiros --não por vandalismo. O material é de péssima qualidade. Havia exemplos por todos os lados.
No aeroporto de Brasília, o piso na segunda-feira à noite pós-Copa já estava imundo. O local continua em obras. Durante o torneio houve a preocupação de lustrar o que era possível. Agora, nos guichês das companhias aéreas já há menos gente trabalhando. Padrão pós-maquiagem.
É evidente que alguma coisa ficará do torneio hospedado pelo Brasil. Estádios novos, algumas obras de mobilidade urbana, aeroportos quase prontos. E a memória dos brasileiros do mês de semiférias coletivas no país, com vários feriados sucessivos para que tudo pudesse funcionar.
Para efeito eleitoral, o impacto ainda está para ser apurado. Dilma tenta faturar enquanto pode. Faz parte. Só não está claro o quanto os brasileiros vão comprar dessa versão tão edulcorada sobre a Copa das Copas.
18 de julho de 2014
Fernando Rodrigues, Folha de SP
O CUSTO DA CRISE ELÉTRICA E A POLÍTICA OFICIAL
Em menos de dois anos, os custos da política da presidente Dilma Rousseff para o setor elétrico atingiram R$ 53,8 bilhões, calcula a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Foi o preço da decisão voluntarista de buscar a modicidade tarifária com uma política que se mostra insustentável, onerando os consumidores e as contas públicas.
Do total de R$ 53,8 bilhões estimados pela CNI, a maior parte (R$ 35,3 bilhões) será paga pelos consumidores no momento em que quitarem as contas de eletricidade. Como parte dos reajustes dos preços de eletricidade só estará nas contas de luz em 2015, o ônus total não aparecerá neste ano. Os R$ 18,5 bilhões restantes se referem a tributos, isto é, recairão sobre toda a população.
O governo continua defendendo sua política de energia elétrica, baseando-se no fato de que poderia mudar - como de fato mudou - o marco regulatório. Como o novo marco regulatório não convinha a muitas empresas, estas preferiram discutir os termos no órgão regulador ou na Justiça a operar com prejuízo. Quem não pode escolher, como a holding federal Eletrobrás, assumiu os ônus.
Mas o vulto dos ônus é tão grande que, sem socorro federal, algumas empresas ficariam insolventes. Os cálculos foram transmitidos aos candidatos à Presidência. Estão no documento Setor elétrico: Uma agenda para garantir o suprimento e reduzir o custo da energia.
O texto propõe, por exemplo, que os consumidores livres possam participar dos leilões de energia das concessões que vão vencer em 2015; que se construam hidrelétricas com reservatórios; que a gestão seja aperfeiçoada, para evitar os atrasos constantes nas obras; e que os leilões de energia levem mais em conta o desenvolvimento de fontes alternativas (biomassa, solar e eólica). Ainda mais importante é a criação de um ambiente favorável ao aumento do investimento em geração.
É provável que o governo tenha razão ao afirmar que os riscos de um colapso energético, neste ano, estão afastados. As fontes térmicas supriram, até aqui, a falta de geração hídrica - a um custo enorme, suportado, no primeiro momento, por empresas e pelo governo e, a seguir, pelos consumidores.
O reajuste médio de 16% a 17% na tarifa residencial, em 2014, indica que o marco regulatório de 2012 está em xeque. Seria melhor que a presidente ao menos admitisse o problema.
Do total de R$ 53,8 bilhões estimados pela CNI, a maior parte (R$ 35,3 bilhões) será paga pelos consumidores no momento em que quitarem as contas de eletricidade. Como parte dos reajustes dos preços de eletricidade só estará nas contas de luz em 2015, o ônus total não aparecerá neste ano. Os R$ 18,5 bilhões restantes se referem a tributos, isto é, recairão sobre toda a população.
O governo continua defendendo sua política de energia elétrica, baseando-se no fato de que poderia mudar - como de fato mudou - o marco regulatório. Como o novo marco regulatório não convinha a muitas empresas, estas preferiram discutir os termos no órgão regulador ou na Justiça a operar com prejuízo. Quem não pode escolher, como a holding federal Eletrobrás, assumiu os ônus.
Mas o vulto dos ônus é tão grande que, sem socorro federal, algumas empresas ficariam insolventes. Os cálculos foram transmitidos aos candidatos à Presidência. Estão no documento Setor elétrico: Uma agenda para garantir o suprimento e reduzir o custo da energia.
O texto propõe, por exemplo, que os consumidores livres possam participar dos leilões de energia das concessões que vão vencer em 2015; que se construam hidrelétricas com reservatórios; que a gestão seja aperfeiçoada, para evitar os atrasos constantes nas obras; e que os leilões de energia levem mais em conta o desenvolvimento de fontes alternativas (biomassa, solar e eólica). Ainda mais importante é a criação de um ambiente favorável ao aumento do investimento em geração.
É provável que o governo tenha razão ao afirmar que os riscos de um colapso energético, neste ano, estão afastados. As fontes térmicas supriram, até aqui, a falta de geração hídrica - a um custo enorme, suportado, no primeiro momento, por empresas e pelo governo e, a seguir, pelos consumidores.
O reajuste médio de 16% a 17% na tarifa residencial, em 2014, indica que o marco regulatório de 2012 está em xeque. Seria melhor que a presidente ao menos admitisse o problema.
18 de julho de 2014
Editorial O Estadão
DE VOLTA AO BRASIL REAL
Finda a fantasia que os brasileiros e milhares de estrangeiros aqui viveram durante Copa do Mundo - quando nosso verdadeiro dia a dia foi adiado -, o que resta é encarar a realidade. E não é só o trânsito ruim, a má qualidade dos aeroportos e a fragilidade da segurança pública que nos trazem de volta ao Brasil real. A economia, por mais que tenhamos nos esquecido dela, vai mal, e a rotina de enfrentá-la retorna no pós-Copa justamente quando o Banco Central reúne seus diretores no Comitê de Política Monetária (Copom) para decidir o que fazer com a taxa básica de juros.
É esse o principal instrumento (senão o único) de que dispõe a autoridade monetária para evitar que a inflação desmoralize a moeda e desvalorize os salários, já que o governo não fez por onde reduzir as pressões sobre os preços advindas dos gastos públicos imoderados. O constrangimento de ter de "criar" soluções contábeis e receitas não recorrentes para fechar mal fechado o balanço fiscal por parte do Tesouro Nacional é a prova do dever de casa não cumprido.
O resultado é que, mesmo com a ajuda da queda dos preços dos alimentos nas últimas semanas (já era tempo!), a inflação insiste em se afastar da meta de 4,5% fixada para este ano. Ela está perigosamente perto do teto de tolerância de 6,5% e todo mundo sabe que há preços artificialmente controlados, como o da gasolina e as tarifas de energia elétrica. Ambos são base de cadeias produtivas de grande peso na economia e o que se teme é o seu impacto na inflação de 2015, quando forem, afinal, liberados.
Há, pois, razões convincentes para que a autoridade gire mais um ponto percentual no torniquete da política monetária, quando nada, para preparar o terreno contra eventual disparada de preços na virada do ano. Mas isso é só o que manda a lógica, o que ensina o manual. Neste pós-Copa, o que somos obrigados a ver é que as coisas pioraram muito no país e, nesse caso, nem Felipão nem a Seleção Alemã têm algo a ver com isso.
O que está em jogo são os empregos, que, mais dia menos dia, serão afetados pela desaceleração da atividade econômica. A indústria, por exemplo, está no terceiro mês consecutivo de queda da produção. No acumulado dos cinco primeiros meses, o nível de atividade foi 3,3% mais baixo do que o de igual período de 2013. Especialistas já temem que a indústria tenha desempenho negativo de 4% até o fim do ano. A cada dia, caem as previsões de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) e não falta quem aposte em nada mais do que 1%, configurando o quarto ano seguido de baixo crescimento.
Ante cenário tão pouco animador e sem sinais claros de que a atual administração da economia fará mudanças de rumo, é querer demais que o empresário invista na expansão do negócio. E os dados mais recentes da produção e da importação de bens de capital não deixam dúvida de que o número de projetos engavetados vai comprometer a taxa de crescimento da conta de formação bruta de capital fixo, tradicional termômetro dos investimentos na economia do país.
Nesta hora, tudo parece conspirar contra o varejo. Os juros ao consumidor já refletem os aumentos da taxa básica que o Copom vem promovendo desde abril de 2013 (de 7,25% para os atuais 11% ao ano) e os bancos reduziram a oferta de crédito, temendo inadimplência. Portanto, apesar do manual, ninguém vai levar a mal se, na reunião de hoje, o Copom deixar a Selic onde está.
18 de julho de 2014
Editorial Correio Braziliense
É esse o principal instrumento (senão o único) de que dispõe a autoridade monetária para evitar que a inflação desmoralize a moeda e desvalorize os salários, já que o governo não fez por onde reduzir as pressões sobre os preços advindas dos gastos públicos imoderados. O constrangimento de ter de "criar" soluções contábeis e receitas não recorrentes para fechar mal fechado o balanço fiscal por parte do Tesouro Nacional é a prova do dever de casa não cumprido.
O resultado é que, mesmo com a ajuda da queda dos preços dos alimentos nas últimas semanas (já era tempo!), a inflação insiste em se afastar da meta de 4,5% fixada para este ano. Ela está perigosamente perto do teto de tolerância de 6,5% e todo mundo sabe que há preços artificialmente controlados, como o da gasolina e as tarifas de energia elétrica. Ambos são base de cadeias produtivas de grande peso na economia e o que se teme é o seu impacto na inflação de 2015, quando forem, afinal, liberados.
Há, pois, razões convincentes para que a autoridade gire mais um ponto percentual no torniquete da política monetária, quando nada, para preparar o terreno contra eventual disparada de preços na virada do ano. Mas isso é só o que manda a lógica, o que ensina o manual. Neste pós-Copa, o que somos obrigados a ver é que as coisas pioraram muito no país e, nesse caso, nem Felipão nem a Seleção Alemã têm algo a ver com isso.
O que está em jogo são os empregos, que, mais dia menos dia, serão afetados pela desaceleração da atividade econômica. A indústria, por exemplo, está no terceiro mês consecutivo de queda da produção. No acumulado dos cinco primeiros meses, o nível de atividade foi 3,3% mais baixo do que o de igual período de 2013. Especialistas já temem que a indústria tenha desempenho negativo de 4% até o fim do ano. A cada dia, caem as previsões de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) e não falta quem aposte em nada mais do que 1%, configurando o quarto ano seguido de baixo crescimento.
Ante cenário tão pouco animador e sem sinais claros de que a atual administração da economia fará mudanças de rumo, é querer demais que o empresário invista na expansão do negócio. E os dados mais recentes da produção e da importação de bens de capital não deixam dúvida de que o número de projetos engavetados vai comprometer a taxa de crescimento da conta de formação bruta de capital fixo, tradicional termômetro dos investimentos na economia do país.
Nesta hora, tudo parece conspirar contra o varejo. Os juros ao consumidor já refletem os aumentos da taxa básica que o Copom vem promovendo desde abril de 2013 (de 7,25% para os atuais 11% ao ano) e os bancos reduziram a oferta de crédito, temendo inadimplência. Portanto, apesar do manual, ninguém vai levar a mal se, na reunião de hoje, o Copom deixar a Selic onde está.
18 de julho de 2014
Editorial Correio Braziliense
A BOA-NOVA DO FED
Boa notícia para o governo brasileiro, já assombrado pelo mau desempenho do comércio exterior, por pressões na área cambial e pelo risco de fuga de capitais estrangeiros: o novo aumento de juros nos Estados Unidos, mais um fator de perturbação, ainda poderá demorar muito tempo. A decisão dependerá da combinação de vários fatores - recuperação mais firme da economia, com normalização do mercado de emprego, aumento da inflação e das expectativas inflacionárias e maior avanço da reforma financeira. O recado foi transmitido aos senadores em Washington, ontem, pela presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, Janet Yellen.
Não se pode fixar uma data, com segurança, para a próxima alteração dos juros, porque isso dependerá da evolução conjunta de todos aqueles indicadores. Se tudo correr muito bem, a mudança poderá ocorrer no próximo ano, poucos meses depois de encerrada a atual fase de estímulos monetários (emissão de dinheiro por meio do recolhimento de títulos federais no mercado). Essa fase poderá terminar em outubro, segundo estimativa divulgada há poucos dias e reafirmada pela presidente do Fed, mas também isso dependerá das condições econômicas nos próximos meses.
De acordo com Yellen, a economia tem melhorado e o recuo do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deve ter sido causado, principalmente, por fatores transitórios. O inverno excepcionalmente longo e severo tem sido citado como uma das causas. Mas a recuperação, ressaltou a presidente do Fed, é incompleta. Embora o desemprego tenha continuado em queda e chegado a 6,1% da força de trabalho, permanece acima do nível normal de longo prazo, estimado por participantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc). Esse comitê, semelhante ao Copom brasileiro, é responsável pela orientação da política monetária.
O pronunciamento de Yellen foi classificado como ambíguo por fontes do mercado financeiro. É uma crítica um tanto gratuita. Autoridades monetárias devem, de fato, comunicar-se com a máxima clareza e fornecer as melhores indicações para a operação dos vários mercados, mas a presidente do Fed parece ter sido tão explícita quanto poderia ser. Não é sua função indicar data e hora para as próximas decisões sobre juros, nem isso teria sentido, quando ainda há muita incerteza quanto à evolução dos principais indicadores nos próximos meses. Há pouca dúvida sobre a tendência de melhora da economia americana, mas as decisões do comitê, acentuou Yellen, serão baseadas numa avaliação geral e segura, tanto quanto possível, do quadro da produção, do emprego, dos preços e do estado do sistema financeiro.
Não há nenhuma ambiguidade nessa mensagem. Ao contrário, há uma clara referência à disposição de cumprir o duplo mandato do Fed - garantir a melhor combinação entre emprego e estabilidade de preços.
Os mercados haviam reagido com alguma ansiedade à comunicação anterior do Fed, quando se mencionou o mês de outubro como provável ponto de encerramento das compras mensais de títulos. A perspectiva de aumento de juros em pouco tempo, a partir daí, excitou a especulação. Mas a distância entre os dois fatos poderá ser maior, segundo Yellen.
Se esse for o caso, e se o mercado entender dessa forma, tanto melhor para o Brasil. Com a perspectiva de mais um déficit em conta corrente em torno de US$ 80 bilhões, neste ano, qualquer novo aperto nas condições internacionais de financiamento será ruim para o País. Já se prevê um investimento estrangeiro direto na altura de US$ 63 bilhões, insuficiente, portanto, para cobrir aquele déficit. A cobertura dependerá, como em 2013, de outros tipos de capitais, menos seguros, mais especulativos e menos comprometidos com o fortalecimento do setor produtivo. Mas o fechamento das contas externas de 2014 é apenas o desafio mais fácil, embora mais próximo. O fortalecimento efetivo do setor externo dependerá de políticas de longo alcance para tornar a economia mais produtiva e com melhor atuação internacional. Isso exige muito mais que soluções improvisadas.
Não se pode fixar uma data, com segurança, para a próxima alteração dos juros, porque isso dependerá da evolução conjunta de todos aqueles indicadores. Se tudo correr muito bem, a mudança poderá ocorrer no próximo ano, poucos meses depois de encerrada a atual fase de estímulos monetários (emissão de dinheiro por meio do recolhimento de títulos federais no mercado). Essa fase poderá terminar em outubro, segundo estimativa divulgada há poucos dias e reafirmada pela presidente do Fed, mas também isso dependerá das condições econômicas nos próximos meses.
De acordo com Yellen, a economia tem melhorado e o recuo do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deve ter sido causado, principalmente, por fatores transitórios. O inverno excepcionalmente longo e severo tem sido citado como uma das causas. Mas a recuperação, ressaltou a presidente do Fed, é incompleta. Embora o desemprego tenha continuado em queda e chegado a 6,1% da força de trabalho, permanece acima do nível normal de longo prazo, estimado por participantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc). Esse comitê, semelhante ao Copom brasileiro, é responsável pela orientação da política monetária.
O pronunciamento de Yellen foi classificado como ambíguo por fontes do mercado financeiro. É uma crítica um tanto gratuita. Autoridades monetárias devem, de fato, comunicar-se com a máxima clareza e fornecer as melhores indicações para a operação dos vários mercados, mas a presidente do Fed parece ter sido tão explícita quanto poderia ser. Não é sua função indicar data e hora para as próximas decisões sobre juros, nem isso teria sentido, quando ainda há muita incerteza quanto à evolução dos principais indicadores nos próximos meses. Há pouca dúvida sobre a tendência de melhora da economia americana, mas as decisões do comitê, acentuou Yellen, serão baseadas numa avaliação geral e segura, tanto quanto possível, do quadro da produção, do emprego, dos preços e do estado do sistema financeiro.
Não há nenhuma ambiguidade nessa mensagem. Ao contrário, há uma clara referência à disposição de cumprir o duplo mandato do Fed - garantir a melhor combinação entre emprego e estabilidade de preços.
Os mercados haviam reagido com alguma ansiedade à comunicação anterior do Fed, quando se mencionou o mês de outubro como provável ponto de encerramento das compras mensais de títulos. A perspectiva de aumento de juros em pouco tempo, a partir daí, excitou a especulação. Mas a distância entre os dois fatos poderá ser maior, segundo Yellen.
Se esse for o caso, e se o mercado entender dessa forma, tanto melhor para o Brasil. Com a perspectiva de mais um déficit em conta corrente em torno de US$ 80 bilhões, neste ano, qualquer novo aperto nas condições internacionais de financiamento será ruim para o País. Já se prevê um investimento estrangeiro direto na altura de US$ 63 bilhões, insuficiente, portanto, para cobrir aquele déficit. A cobertura dependerá, como em 2013, de outros tipos de capitais, menos seguros, mais especulativos e menos comprometidos com o fortalecimento do setor produtivo. Mas o fechamento das contas externas de 2014 é apenas o desafio mais fácil, embora mais próximo. O fortalecimento efetivo do setor externo dependerá de políticas de longo alcance para tornar a economia mais produtiva e com melhor atuação internacional. Isso exige muito mais que soluções improvisadas.
18 de julho de 2014
Editorial O Estadão
MANTER PADRÃO DOS ESTÁDIOS E SANEAR OS CLUBES
Torcedores tiveram tratamento nos jogos da Copa que precisa ser mantido em competições nacionais. Não é uma revolução, apenas medidas de bom senso
O êxito da Copa, aprovada com nota 9,25 dada pela Fifa, será apenas um diploma pendurado na parede caso o país não usufrua da experiência de ter sediado, durante um mês, o mais visto torneio de esporte do mundo, com jogos em 12 cidades-sede, milhares de turistas e tudo o mais.
Há muito a fazer, desde reconstruir dos escombros a seleção brasileira. Neste aspecto, o legado foi constatar que a desorganização e anacronismo do futebol brasileiro, antes mantidos fora das quatro linhas, também entraram em campo.
Não há o benefício de obras incluídas no projeto da Copa, para melhorar a mobilidade nessas 12 cidades, devido à proverbial incompetência administrativa do poder público. Alguns projetos serão concluídos, outros sequer saíram das pranchetas. Os benefícios, então, ainda demorarão.
Há legados que dependem dos responsáveis pelos novos estádios, dos clubes e federações. Um deles, o “padrão Fifa” de organização de jogos. Impossível não se aprovar o sistema pelo qual compra-se o ingresso numerado pela internet, chega-se ao estádio e o assento adquirido está à espera do expectador. E caso haja alguma dificuldade, haverá pessoas especialmente designadas para garantir que aquilo que foi adquirido seja entregue: a cadeira com aquela numeração.
Não é difícil — ficou demonstrado na Copa. Infelizmente, isso não vem ocorrendo, pelo menos no Maracanã, em jogos do Campeonato Brasileiro. Será muito ruim se um benefício como este — ocupar o lugar comprado —, tão comezinho, não fique para o torcedor como legado. Outro aspecto é a manutenção dos estádios, No Maracanã, por exemplo, aprovado com louvor depois da reforma para a Copa, números de cadeiras já começam a desaparecer, pela exposição a chuvas e ao sol.
A comercialização de ingressos pela internet já tem sido usada por clubes com seus “sócios-torcedores”. E quanto mais for assim, melhor. Além disso, a fim de se ampliar o pacote de benefícios para os frequentadores de estádios no Brasileirão e qualquer outro campeonato, a experiência positiva de abertura de catracas na ida e saída dos jogos, para o metrô e trens suburbanos, deveria levar a estudos que incluíssem o transporte no custo do bilhete.
Não é uma revolução, algo a ser alcançado apenas com um esforço descomunal. Tratam-se apenas de medidas de bom senso, que requerem alguma capacidade de gestão.
Ainda na esteira da Copa, o Congresso poderia começar a aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, pela qual as dívidas (impagáveis) dos clubes — tributárias, com a Previdência — serão renegociadas, à base de juros baixos, cobrados em investimentos de longa maturação. Em troca, devido a punições pesadas aos inadimplentes, os clubes serão induzidos a se profissionalizar.
Esta é a base para qualquer reforma séria do futebol brasileiro. Inclusive para ajudar na melhoria do tratamento aos torcedores nos estádios.
O êxito da Copa, aprovada com nota 9,25 dada pela Fifa, será apenas um diploma pendurado na parede caso o país não usufrua da experiência de ter sediado, durante um mês, o mais visto torneio de esporte do mundo, com jogos em 12 cidades-sede, milhares de turistas e tudo o mais.
Há muito a fazer, desde reconstruir dos escombros a seleção brasileira. Neste aspecto, o legado foi constatar que a desorganização e anacronismo do futebol brasileiro, antes mantidos fora das quatro linhas, também entraram em campo.
Não há o benefício de obras incluídas no projeto da Copa, para melhorar a mobilidade nessas 12 cidades, devido à proverbial incompetência administrativa do poder público. Alguns projetos serão concluídos, outros sequer saíram das pranchetas. Os benefícios, então, ainda demorarão.
Há legados que dependem dos responsáveis pelos novos estádios, dos clubes e federações. Um deles, o “padrão Fifa” de organização de jogos. Impossível não se aprovar o sistema pelo qual compra-se o ingresso numerado pela internet, chega-se ao estádio e o assento adquirido está à espera do expectador. E caso haja alguma dificuldade, haverá pessoas especialmente designadas para garantir que aquilo que foi adquirido seja entregue: a cadeira com aquela numeração.
Não é difícil — ficou demonstrado na Copa. Infelizmente, isso não vem ocorrendo, pelo menos no Maracanã, em jogos do Campeonato Brasileiro. Será muito ruim se um benefício como este — ocupar o lugar comprado —, tão comezinho, não fique para o torcedor como legado. Outro aspecto é a manutenção dos estádios, No Maracanã, por exemplo, aprovado com louvor depois da reforma para a Copa, números de cadeiras já começam a desaparecer, pela exposição a chuvas e ao sol.
A comercialização de ingressos pela internet já tem sido usada por clubes com seus “sócios-torcedores”. E quanto mais for assim, melhor. Além disso, a fim de se ampliar o pacote de benefícios para os frequentadores de estádios no Brasileirão e qualquer outro campeonato, a experiência positiva de abertura de catracas na ida e saída dos jogos, para o metrô e trens suburbanos, deveria levar a estudos que incluíssem o transporte no custo do bilhete.
Não é uma revolução, algo a ser alcançado apenas com um esforço descomunal. Tratam-se apenas de medidas de bom senso, que requerem alguma capacidade de gestão.
Ainda na esteira da Copa, o Congresso poderia começar a aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, pela qual as dívidas (impagáveis) dos clubes — tributárias, com a Previdência — serão renegociadas, à base de juros baixos, cobrados em investimentos de longa maturação. Em troca, devido a punições pesadas aos inadimplentes, os clubes serão induzidos a se profissionalizar.
Esta é a base para qualquer reforma séria do futebol brasileiro. Inclusive para ajudar na melhoria do tratamento aos torcedores nos estádios.
18 de julho de 2014
Editorial O Globo
COPA DO MUNDO
Legado de infraestrutura do Mundial deixa a desejar, mas evento foi bem avaliado por estrangeiros e representa chance de expandir turismo
Dois fatores são sempre mencionados quando se trata de defender a realização de um grande evento esportivo, como a Copa do Mundo: o estímulo para melhorar a infraestrutura do país e a oportunidade de expandir o turismo.
No caso brasileiro, como se sabe, o primeiro desses aspectos deixou a desejar. Das 167 obras prometidas, apenas 88 foram concluídas a tempo, enquanto 45 foram entregues incompletas, segundo levantamento desta Folha. Outras 23 ficaram para depois do Mundial, e 11 terminaram abandonadas.
O descumprimento do cronograma não é o único problema. Afora melhorias em aeroportos --que dificilmente ocorreriam de outra maneira-- e ampliação do sistema de mobilidade em algumas cidades-sede, muito do legado limita-se a intervenções destinadas a facilitar a vida de quem vai aos estádios.
Ou seja, se os gastos governamentais chegam a R$ 29,3 bilhões, nem por isso o brasileiro verá investimentos dessa monta no setor de infraestrutura propriamente dita. Basta lembrar que as arenas, muitas das quais terão pouca serventia, custaram R$ 8,5 bilhões.
A situação é muito mais alvissareira no campo do turismo. Segundo pesquisa Datafolha, a imagem que os estrangeiros levam do Brasil é das melhores possíveis.
O levantamento realizado em seis capitais (Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo) constatou que, aos olhos desses hóspedes, os anfitriões da Copa são vistos como simpáticos (para 98%) e receptivos (95%); 95% consideraram ótima ou boa a hospitalidade dos brasileiros, e 84% fizeram esse juízo acerca de nossas atrações turísticas.
Sobraram elogios até para a segurança e o transporte, mas o custo de vida, os preços dos hotéis e a qualidade do ambiente urbano despertaram menos entusiasmo.
Ainda que o universo da pesquisa não represente o total de estrangeiros no país durante a Copa, a resposta dos entrevistados é sinal inequívoco de que o Brasil passou com folga nesse teste: a organização do Mundial foi bem avaliada por 83% deles, e 51% viram a realidade superar suas expectativas.
É preciso explorar esse sentimento. Pelas contas do governo, 1 milhão de estrangeiros de 203 nacionalidades visitaram o país na Copa --e, na pesquisa Datafolha, 61% disseram vir pela primeira vez.
A cifra é expressiva; representa, em apenas 30 dias, um sexto do total registrado em 2013. Melhor ainda, os meses de junho e julho costumam estar entre os que contabilizam menos estrangeiros, em torno de 350 mil cada um.
A entrada de turistas de outros países já vinha crescendo nos últimos anos. O sucesso da Copa, dentro e fora de campo, pode fazer esse fluxo aumentar ainda mais. Espera-se que o governo esteja atento a esse legado imaterial.
Dois fatores são sempre mencionados quando se trata de defender a realização de um grande evento esportivo, como a Copa do Mundo: o estímulo para melhorar a infraestrutura do país e a oportunidade de expandir o turismo.
No caso brasileiro, como se sabe, o primeiro desses aspectos deixou a desejar. Das 167 obras prometidas, apenas 88 foram concluídas a tempo, enquanto 45 foram entregues incompletas, segundo levantamento desta Folha. Outras 23 ficaram para depois do Mundial, e 11 terminaram abandonadas.
O descumprimento do cronograma não é o único problema. Afora melhorias em aeroportos --que dificilmente ocorreriam de outra maneira-- e ampliação do sistema de mobilidade em algumas cidades-sede, muito do legado limita-se a intervenções destinadas a facilitar a vida de quem vai aos estádios.
Ou seja, se os gastos governamentais chegam a R$ 29,3 bilhões, nem por isso o brasileiro verá investimentos dessa monta no setor de infraestrutura propriamente dita. Basta lembrar que as arenas, muitas das quais terão pouca serventia, custaram R$ 8,5 bilhões.
A situação é muito mais alvissareira no campo do turismo. Segundo pesquisa Datafolha, a imagem que os estrangeiros levam do Brasil é das melhores possíveis.
O levantamento realizado em seis capitais (Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo) constatou que, aos olhos desses hóspedes, os anfitriões da Copa são vistos como simpáticos (para 98%) e receptivos (95%); 95% consideraram ótima ou boa a hospitalidade dos brasileiros, e 84% fizeram esse juízo acerca de nossas atrações turísticas.
Sobraram elogios até para a segurança e o transporte, mas o custo de vida, os preços dos hotéis e a qualidade do ambiente urbano despertaram menos entusiasmo.
Ainda que o universo da pesquisa não represente o total de estrangeiros no país durante a Copa, a resposta dos entrevistados é sinal inequívoco de que o Brasil passou com folga nesse teste: a organização do Mundial foi bem avaliada por 83% deles, e 51% viram a realidade superar suas expectativas.
É preciso explorar esse sentimento. Pelas contas do governo, 1 milhão de estrangeiros de 203 nacionalidades visitaram o país na Copa --e, na pesquisa Datafolha, 61% disseram vir pela primeira vez.
A cifra é expressiva; representa, em apenas 30 dias, um sexto do total registrado em 2013. Melhor ainda, os meses de junho e julho costumam estar entre os que contabilizam menos estrangeiros, em torno de 350 mil cada um.
A entrada de turistas de outros países já vinha crescendo nos últimos anos. O sucesso da Copa, dentro e fora de campo, pode fazer esse fluxo aumentar ainda mais. Espera-se que o governo esteja atento a esse legado imaterial.
18 de julho de 2014
Editorial Folha de SP
MITOLOGIA REFORÇADA
Em entrevista a canal de televisão do Oriente Médio, Dilma pediu votos e evocou o mito lulista do “nunca antes neste país”
A presidente Dilma Rousseff deu entrevista semana passada à tevê Al Jazeera, do Qatar, na qual pede votos para continuar mais quatro anos no poder. Embora notável em todo o mundo por suas corajosas reportagens, sobretudo a respeito dos conflitos que envolvem o Oriente Médio, a emissora certamente não tem no Brasil nem a audiência, nem o poder de influenciar decisivamente os eleitores. Nem por isso – ou até mesmo por isso – Dilma age de forma prudente ao usar um meio de comunicação para, falando na condição de presidente da República, desfilar supostos sucessos do seu grupo político na administração do país e afirmar que o povo, por gratidão, deve dar-lhe um novo mandato.
O principal feito de Dilma e de seu padrinho-antecessor, o ex-presidente Lula, teria sido o de elevar à classe média milhões de brasileiros que viviam na pobreza extrema. Disse-o com a arrogância com que complementou a explicação pelo sucesso: ela e seu grupo, se souberam bem governar nos últimos 12 anos, poderão repetir o êxito nos próximos anos – ao contrário dos que os antecederam e que, embora pudessem ter feito melhor, não sabiam como fazer. Evidentemente, Dilma se referia aos oito anos de Fernando Henrique Cardoso.
Não se trata, aqui, de fazer uma defesa político-partidária do ex-presidente, mas tão-somente de restabelecer uma verdade histórica – abafada pela mitologia lulista do “nunca antes neste país”, segundo a qual o PT ergueu o Brasil do zero – que mereceu reconhecimento mundial: é de FHC a obra principal que deu sustentação às (sem dúvida elogiáveis) políticas de promoção social empreendidas por seus sucessores imediatos.
Não fosse a derrota que impôs à renitente e galopante inflação que herdou; não fosse a implementação do Plano Real, que estabilizou a moeda e estabeleceu condições para o controle das contas públicas; não fosse a abertura dos mercados e desestatizações que tiraram, em vários setores, o país da era das trevas – não fosse este conjunto de ações, Lula e Dilma não teriam tido as mesmas condições para dar continuidade às políticas sociais também já iniciadas pelo antecessor.
É certo que o país cresceu pouco nos anos FHC, mas, ao assumir seu primeiro mandato, em 2003, Lula já encontrou o país minimamente ajustado e com firmes fundamentos de política econômica, de viés nitidamente liberal e flagrantemente contrária à pregação estatizante e heterodoxa do PT até então. Aliás, para conquistar a vitória em 2002, Lula precisou fazer juras de obediência à cartilha do Plano Real ao assinar a Carta aos brasileiros, instrumento que usou para afastar o medo que evocava na opinião pública.
Por mais que Lula negue, foi por seguir rigorosamente a cartilha que sua gestão pôde assegurar ao país exuberantes taxas de crescimento econômico – um ciclo que foi quebrado já no fim de seu segundo mandato, quando abandonou os fundamentos para aventurar-se na heterodoxia que denominou de anticíclica, uma política que deveria se reduzir à sua eventualidade conjuntural apenas para combater os efeitos de nova crise mundial, a de 2008, mas que erroneamente se perpetua. Foi o que bastou para desarrumação que hoje se reflete na pressão inflacionária, nos falsos números da “contabilidade criativa” e no crescimento pífio da economia brasileira – diferentemente dos Estados Unidos e dos países europeus, muito mais sensíveis à crise, que já voltaram a crescer, enquanto por aqui Dilma segue culpando a crise internacional pelos fracos resultados de sua gestão.
Ao negar o passado e atribuir-se todos os êxitos, faltou a Dilma a aura do verdadeiro estadista, aquele que mais se preocupa com o futuro da nação que com a próxima eleição.
A presidente Dilma Rousseff deu entrevista semana passada à tevê Al Jazeera, do Qatar, na qual pede votos para continuar mais quatro anos no poder. Embora notável em todo o mundo por suas corajosas reportagens, sobretudo a respeito dos conflitos que envolvem o Oriente Médio, a emissora certamente não tem no Brasil nem a audiência, nem o poder de influenciar decisivamente os eleitores. Nem por isso – ou até mesmo por isso – Dilma age de forma prudente ao usar um meio de comunicação para, falando na condição de presidente da República, desfilar supostos sucessos do seu grupo político na administração do país e afirmar que o povo, por gratidão, deve dar-lhe um novo mandato.
O principal feito de Dilma e de seu padrinho-antecessor, o ex-presidente Lula, teria sido o de elevar à classe média milhões de brasileiros que viviam na pobreza extrema. Disse-o com a arrogância com que complementou a explicação pelo sucesso: ela e seu grupo, se souberam bem governar nos últimos 12 anos, poderão repetir o êxito nos próximos anos – ao contrário dos que os antecederam e que, embora pudessem ter feito melhor, não sabiam como fazer. Evidentemente, Dilma se referia aos oito anos de Fernando Henrique Cardoso.
Não se trata, aqui, de fazer uma defesa político-partidária do ex-presidente, mas tão-somente de restabelecer uma verdade histórica – abafada pela mitologia lulista do “nunca antes neste país”, segundo a qual o PT ergueu o Brasil do zero – que mereceu reconhecimento mundial: é de FHC a obra principal que deu sustentação às (sem dúvida elogiáveis) políticas de promoção social empreendidas por seus sucessores imediatos.
Não fosse a derrota que impôs à renitente e galopante inflação que herdou; não fosse a implementação do Plano Real, que estabilizou a moeda e estabeleceu condições para o controle das contas públicas; não fosse a abertura dos mercados e desestatizações que tiraram, em vários setores, o país da era das trevas – não fosse este conjunto de ações, Lula e Dilma não teriam tido as mesmas condições para dar continuidade às políticas sociais também já iniciadas pelo antecessor.
É certo que o país cresceu pouco nos anos FHC, mas, ao assumir seu primeiro mandato, em 2003, Lula já encontrou o país minimamente ajustado e com firmes fundamentos de política econômica, de viés nitidamente liberal e flagrantemente contrária à pregação estatizante e heterodoxa do PT até então. Aliás, para conquistar a vitória em 2002, Lula precisou fazer juras de obediência à cartilha do Plano Real ao assinar a Carta aos brasileiros, instrumento que usou para afastar o medo que evocava na opinião pública.
Por mais que Lula negue, foi por seguir rigorosamente a cartilha que sua gestão pôde assegurar ao país exuberantes taxas de crescimento econômico – um ciclo que foi quebrado já no fim de seu segundo mandato, quando abandonou os fundamentos para aventurar-se na heterodoxia que denominou de anticíclica, uma política que deveria se reduzir à sua eventualidade conjuntural apenas para combater os efeitos de nova crise mundial, a de 2008, mas que erroneamente se perpetua. Foi o que bastou para desarrumação que hoje se reflete na pressão inflacionária, nos falsos números da “contabilidade criativa” e no crescimento pífio da economia brasileira – diferentemente dos Estados Unidos e dos países europeus, muito mais sensíveis à crise, que já voltaram a crescer, enquanto por aqui Dilma segue culpando a crise internacional pelos fracos resultados de sua gestão.
Ao negar o passado e atribuir-se todos os êxitos, faltou a Dilma a aura do verdadeiro estadista, aquele que mais se preocupa com o futuro da nação que com a próxima eleição.
18 de julho de 2014
Editorial Gazeta do Povo, PR
POLÍTICA DO COTIDIANO, DO JORNALISTA CLAUDIO HUMBERTO
“Chega de gambiarras e pandoras”
Luiz Pitiman (PSDB), candidato ao governo do DF, criticando “políticos profissionais”
PLANALTO BRECA CONGRESSO
O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) se reuniu ontem com o presidente da Câmara, Henrique Alves (RN), e o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), tentando “dar férias” logo aos deputados e evitar votações que rendam novas derrotas a Dilma. O Planalto teme não conseguir impedir a base aliada de aprovar projetos com forte apelo eleitoral, mas que impliquem em gastos ao governo federal.
PAUTA BOMBA
Dentre as matérias que preocupam o Planalto está o aumento para 2% do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), articulado pelo PMDB.
DESPRESTÍGIO
Líderes aliados ficaram irritados com a sensação de que estavam sendo levados no bico pelo ministro da Articulação, Ricardo Berzoini,
QUEM RESOLVE
Enquanto perdiam tempo com Berzoini, os líderes viram Henrique Alves e Eduardo Cunha decidindo tudo com Aloizio Mercadante.
PAROU GERAL
Henrique Alves prometeu a Mercadante que só haverá esforço concentrado em uma semana em agosto e outra em setembro.
ESQUECIMENTO
Em meio a processo que responde no conselho de ética por quebra de decoro parlamentar, acusado de manter relações promíscuas com o doleiro Alberto Youssef, o deputado André Vargas (ex-PT-PR) circula na Câmara dos Deputados, como aconteceu ontem, saboreando o progressivo esquecimento do escândalo de corrupção que protagonizou. Age como se nada tivesse acontecido.
PARCERIA
Vargas é acusado de fazer negócios e lobby para o doleiro Alberto Youssef, que ontem teve nova prisão preventiva decretada.
SEPARAÇÃO CONVENIENTE
Apesar de oficialmente desligado do PT, o deputado André Vargas continua muito influente no governo e na bancada do ex-partido.
COBERTURA
O centro de mídia montado em Brasília, durante a Copa, foi utilizado por mais de 1.400 jornalistas, dos quais 433 eram estrangeiros.
GOLEADA
Após paciente espera, o advogado Bruno Dantas foi finalmente aprovado pela Câmara dos Deputados, por 270x7 votos, para o cargo de ministro do TCU. Foi indicado pelo Senado.
ELEIÇÃO VERGONHOSA
O presidente da Fecomércio-RJ, Orlando Diniz, único candidato de oposição à presidência da Confederação Nacional do Comércio, deve ser impugnado pelo rival, Antonio Santos, presidente há 34 anos. Que julgará a impugnação e eventuais recursos. Sem efeito suspensivo.
CAMPO MINADO
A presidente Dilma convidou o senador Eunício Oliveira para o almoço com os presidentes dos Brics, em Fortaleza. Queria saber como anda o ambiente no PMDB. A resposta dele: “péssimo”.
DIREITA RAIVOSA
Tem gente, até no Congresso, que acha Vladimir Putin um “comunista”. Na verdade, entre o antigo regime e o presidente direitista russo, só há em comum o autoritarismo, a truculência e a ojeriza à Democracia.
PARTIU PRA BRIGA
O PV ameaça entrar com processo por crime de desobediência contra o presidente da Câmara, Henrique Alves, a quem acusa de protelar há um mês a posse de Denilson Teixeira (MG), determinada pelo STF.
TOMANDO AS RÉDEAS
Com objetivo de retomar as rédeas do PMDB, o vice-presidente da República e candidato à reeleição Michel Temer assumirá nesta quarta-feira comando nacional do PMDB, ocupado pelo senador Valdir Raupp (RO).
ASILO PARA SNOWDEN
Candidata ao Planalto, Luciana Genro (PSOL) participa hoje de ato em Brasília pedindo asilo político para Edward Snowden, americano que revelou espionagem do governo Barack Obama contra nações amigas.
ZONA FRANCA
Aprovada na Câmara, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que amplia os incentivos fiscais à Zona Franca de Manaus por mais 50 anos, deverá ser votada nesta quarta-feira no Senado.
POR 7 X 1
Se “meu governo é padrão Felipão”, como Dilma afirmou, a CBF foi mais realista: demitiu o Felipão.
PODER SEM PUDOR
DORMINDO COM O INIMIGO
Jornalistas faziam plantão à frente do prédio em que morava o então ministro Rafael Greca, em Brasília. Eram fortíssimos os rumores de sua iminente demissão. Em certo momento, perceberam a aproximação de um carro, que saía da garagem. Correram, mas não era Greca, e sim o deputado José Dirceu (SP), na época presidente nacional do PT.
O distraído líder petista parecia espantado:
- E o Greca mora neste prédio também?
Os repórteres confirmaram e ele complementou, coçando a cabeça:
- Ah, por isso que toda noite eu ouço uns gemidinhos...
Luiz Pitiman (PSDB), candidato ao governo do DF, criticando “políticos profissionais”
PLANALTO BRECA CONGRESSO
O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) se reuniu ontem com o presidente da Câmara, Henrique Alves (RN), e o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), tentando “dar férias” logo aos deputados e evitar votações que rendam novas derrotas a Dilma. O Planalto teme não conseguir impedir a base aliada de aprovar projetos com forte apelo eleitoral, mas que impliquem em gastos ao governo federal.
PAUTA BOMBA
Dentre as matérias que preocupam o Planalto está o aumento para 2% do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), articulado pelo PMDB.
DESPRESTÍGIO
Líderes aliados ficaram irritados com a sensação de que estavam sendo levados no bico pelo ministro da Articulação, Ricardo Berzoini,
QUEM RESOLVE
Enquanto perdiam tempo com Berzoini, os líderes viram Henrique Alves e Eduardo Cunha decidindo tudo com Aloizio Mercadante.
PAROU GERAL
Henrique Alves prometeu a Mercadante que só haverá esforço concentrado em uma semana em agosto e outra em setembro.
ESQUECIMENTO
Em meio a processo que responde no conselho de ética por quebra de decoro parlamentar, acusado de manter relações promíscuas com o doleiro Alberto Youssef, o deputado André Vargas (ex-PT-PR) circula na Câmara dos Deputados, como aconteceu ontem, saboreando o progressivo esquecimento do escândalo de corrupção que protagonizou. Age como se nada tivesse acontecido.
PARCERIA
Vargas é acusado de fazer negócios e lobby para o doleiro Alberto Youssef, que ontem teve nova prisão preventiva decretada.
SEPARAÇÃO CONVENIENTE
Apesar de oficialmente desligado do PT, o deputado André Vargas continua muito influente no governo e na bancada do ex-partido.
COBERTURA
O centro de mídia montado em Brasília, durante a Copa, foi utilizado por mais de 1.400 jornalistas, dos quais 433 eram estrangeiros.
GOLEADA
Após paciente espera, o advogado Bruno Dantas foi finalmente aprovado pela Câmara dos Deputados, por 270x7 votos, para o cargo de ministro do TCU. Foi indicado pelo Senado.
ELEIÇÃO VERGONHOSA
O presidente da Fecomércio-RJ, Orlando Diniz, único candidato de oposição à presidência da Confederação Nacional do Comércio, deve ser impugnado pelo rival, Antonio Santos, presidente há 34 anos. Que julgará a impugnação e eventuais recursos. Sem efeito suspensivo.
CAMPO MINADO
A presidente Dilma convidou o senador Eunício Oliveira para o almoço com os presidentes dos Brics, em Fortaleza. Queria saber como anda o ambiente no PMDB. A resposta dele: “péssimo”.
DIREITA RAIVOSA
Tem gente, até no Congresso, que acha Vladimir Putin um “comunista”. Na verdade, entre o antigo regime e o presidente direitista russo, só há em comum o autoritarismo, a truculência e a ojeriza à Democracia.
PARTIU PRA BRIGA
O PV ameaça entrar com processo por crime de desobediência contra o presidente da Câmara, Henrique Alves, a quem acusa de protelar há um mês a posse de Denilson Teixeira (MG), determinada pelo STF.
TOMANDO AS RÉDEAS
Com objetivo de retomar as rédeas do PMDB, o vice-presidente da República e candidato à reeleição Michel Temer assumirá nesta quarta-feira comando nacional do PMDB, ocupado pelo senador Valdir Raupp (RO).
ASILO PARA SNOWDEN
Candidata ao Planalto, Luciana Genro (PSOL) participa hoje de ato em Brasília pedindo asilo político para Edward Snowden, americano que revelou espionagem do governo Barack Obama contra nações amigas.
ZONA FRANCA
Aprovada na Câmara, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que amplia os incentivos fiscais à Zona Franca de Manaus por mais 50 anos, deverá ser votada nesta quarta-feira no Senado.
POR 7 X 1
Se “meu governo é padrão Felipão”, como Dilma afirmou, a CBF foi mais realista: demitiu o Felipão.
PODER SEM PUDOR
DORMINDO COM O INIMIGO
Jornalistas faziam plantão à frente do prédio em que morava o então ministro Rafael Greca, em Brasília. Eram fortíssimos os rumores de sua iminente demissão. Em certo momento, perceberam a aproximação de um carro, que saía da garagem. Correram, mas não era Greca, e sim o deputado José Dirceu (SP), na época presidente nacional do PT.
O distraído líder petista parecia espantado:
- E o Greca mora neste prédio também?
Os repórteres confirmaram e ele complementou, coçando a cabeça:
- Ah, por isso que toda noite eu ouço uns gemidinhos...
18 de julho de 2014
O EMPREGO DEPOIS DA COPA
Terminada a Copa do Mundo, os brasileiros estão à espera dos frutos do espetacular evento. No campo do emprego, as promessas foram sedutoras. O presidente da Embratur, José Vicente L. Neto, disse que a Copa criaria 1 milhão de empregos. Considerando os efeitos de longo prazo, José Benin, do Ministério do Esporte, anunciou a geração de 3,6 milhões de postos de trabalho. O que dizer?
Com base em estudos das Copas do Mundo realizadas na Europa e na África, sabe-se que as estimativas de geração de emprego apresentadas antes do evento são muito superiores às constatas depois do certame.
Na realidade, a Copa do Mundo é simplesmente uma grande festa que, como toda festa, gera oportunidades de trabalho temporário e de curta duração. Nas estimativas de Edson P. Domingues, da Universidade Federal de Minas Gerais, o total de empregos gerados pelo torneio deve ter ficado em torno de 185 mil, na maioria, temporários e ligados às atividades de turismo, alimentação, transporte, produção e vendas de bens alusivos ao evento - camisetas, bandeiras, flâmulas e adereços.
E o turismo, não teria alavancado a geração de empregos? O evento atraiu mais estrangeiros do que se esperava (cerca de 700 mil), o que gerou contratações de curta duração. Tudo seria diferente se, a partir da Copa, o Brasil se tomasse um polo de atração permanente para o turismo mundial, como são a França, os EUA, a China e o Caribe. É pouco provável que a Copa do Mundo tenha removido os focos de preocupação e apreensão dos estrangeiros em relação à insegurança e à violência no Brasil - assunto fartamente divulgado na imprensa internacional.
No comércio, o impacto também parece ter sido pequeno, mesmo porque, como compradores, os brasileiros não estavam tão animados como nas Copas anteriores. No setor de varejo ocorreu algo inesperado: a Copa esvaziou as lojas (com exceção das que vendem eletrodomésticos). A própria abertura do certame coincidiu com o Dia dos Namorados (12 de junho). De modo geral, os feriados decretados nas cidades-sede afetaram o setor de comércio e serviços, o que limitou a contratação de temporários.
A expansão da infraestrutura merece consideração especial. A construção dos estádios, aeroportos, vias de acesso e transporte estimulou a geração de empregos, sem dúvida. Mas, aqui também, concluídas as obras, terminam os empregos, com exceção dos ligados à operação dos novos empreendimentos como, por exemplo, os funcionários dos estádios, aeroportos e meios de transporte. Mesmo assim, ficamos longe da imensidão de empregos prometida.
Em suma, como aconteceu nas Copas do Mundo da França, Alemanha e Africado Sul, tudo indica que a promessa de geração de empregos decorrentes do certame no Brasil foi exagerada.
Wolfgang Maennig, que é especialista na análise dos impactos dos grandes eventos esportivos, salienta que o ganho mais concreto das Copas do Mundo é a disseminação de um sentimento de euforia e felicidade na população -fato que no Brasil durou só até a humilhante derrota para a Alemanha. Terminada a Copa, diz ele, as pessoas descobrem que, voltando à vida normal, têm de contar com os empregos de longa duração da indústria, agricultura, comércio e serviços, porque os que vieram com a Copa com ela se foram.
Nesse sentido, lamento dizer que no campo do emprego o Brasil vai tão mal quanto no campo do futebol. Nos primeiros cinco meses de 2014, a geração de novos postos de trabalho formal foi 32% menor do que em 2013 e 46% menor que em 2012. Isso indica a debilidade da nossa economia para gerar empregos, tudo agravado pela inflação, pelo custo Brasil, abaixa produtividade e a complexidade da CLT, que continuam tão perversos quanto antes da Copa. Quem sabe, passada a Copa, o Brasil decida remover esses entraves para os brasileiros poderem trabalhar e viver melhor...
Com base em estudos das Copas do Mundo realizadas na Europa e na África, sabe-se que as estimativas de geração de emprego apresentadas antes do evento são muito superiores às constatas depois do certame.
Na realidade, a Copa do Mundo é simplesmente uma grande festa que, como toda festa, gera oportunidades de trabalho temporário e de curta duração. Nas estimativas de Edson P. Domingues, da Universidade Federal de Minas Gerais, o total de empregos gerados pelo torneio deve ter ficado em torno de 185 mil, na maioria, temporários e ligados às atividades de turismo, alimentação, transporte, produção e vendas de bens alusivos ao evento - camisetas, bandeiras, flâmulas e adereços.
E o turismo, não teria alavancado a geração de empregos? O evento atraiu mais estrangeiros do que se esperava (cerca de 700 mil), o que gerou contratações de curta duração. Tudo seria diferente se, a partir da Copa, o Brasil se tomasse um polo de atração permanente para o turismo mundial, como são a França, os EUA, a China e o Caribe. É pouco provável que a Copa do Mundo tenha removido os focos de preocupação e apreensão dos estrangeiros em relação à insegurança e à violência no Brasil - assunto fartamente divulgado na imprensa internacional.
No comércio, o impacto também parece ter sido pequeno, mesmo porque, como compradores, os brasileiros não estavam tão animados como nas Copas anteriores. No setor de varejo ocorreu algo inesperado: a Copa esvaziou as lojas (com exceção das que vendem eletrodomésticos). A própria abertura do certame coincidiu com o Dia dos Namorados (12 de junho). De modo geral, os feriados decretados nas cidades-sede afetaram o setor de comércio e serviços, o que limitou a contratação de temporários.
A expansão da infraestrutura merece consideração especial. A construção dos estádios, aeroportos, vias de acesso e transporte estimulou a geração de empregos, sem dúvida. Mas, aqui também, concluídas as obras, terminam os empregos, com exceção dos ligados à operação dos novos empreendimentos como, por exemplo, os funcionários dos estádios, aeroportos e meios de transporte. Mesmo assim, ficamos longe da imensidão de empregos prometida.
Em suma, como aconteceu nas Copas do Mundo da França, Alemanha e Africado Sul, tudo indica que a promessa de geração de empregos decorrentes do certame no Brasil foi exagerada.
Wolfgang Maennig, que é especialista na análise dos impactos dos grandes eventos esportivos, salienta que o ganho mais concreto das Copas do Mundo é a disseminação de um sentimento de euforia e felicidade na população -fato que no Brasil durou só até a humilhante derrota para a Alemanha. Terminada a Copa, diz ele, as pessoas descobrem que, voltando à vida normal, têm de contar com os empregos de longa duração da indústria, agricultura, comércio e serviços, porque os que vieram com a Copa com ela se foram.
Nesse sentido, lamento dizer que no campo do emprego o Brasil vai tão mal quanto no campo do futebol. Nos primeiros cinco meses de 2014, a geração de novos postos de trabalho formal foi 32% menor do que em 2013 e 46% menor que em 2012. Isso indica a debilidade da nossa economia para gerar empregos, tudo agravado pela inflação, pelo custo Brasil, abaixa produtividade e a complexidade da CLT, que continuam tão perversos quanto antes da Copa. Quem sabe, passada a Copa, o Brasil decida remover esses entraves para os brasileiros poderem trabalhar e viver melhor...
18 de julho de 2014
José Pastores, O Estado de S.Paulo
O MUNDO DARÁ UMA FORÇA EM 2015?
Economia mundial um tico melhor em 2015 decerto não atrapalha, mas a bola está com o Brasil
O ANO QUE VEM será muito difícil para a economia brasileira, parece se tratar de quase um consenso. Curiosamente, a estimativa mediana de crescimento do PIB para 2015 é de 1,5%, muito fraquinho, decerto, mas superior ao 1% previsto para este 2014.
Dada a incerteza sobre qual será o próximo governo e o que será feito da política econômica, a previsão para o ano que vem não vale nem como ficção científica nível "C".
O resto do mundo, em especial as elites burocráticas do mundo rico, insiste porém que 2015 será enfim um ano, vá lá, bom. Ano de "volta à normalidade", medíocre que seja em termos de crescimento, e não importa que o couro dos mais pobres continue a ser esfolado nessa recuperação sempre mais ou menos frustrada, desde 2009. Vai rolar? A "retomada" euroamericana daria uma mãozinha ao Brasil?
Previa-se neste ano que os EUA crescessem 3%, excelente para um país tão rico. Deve crescer uns 2%, ainda ótimo, mas não é disso que se trata aqui. A Europa do euro sairia da recessão, crescendo pouco mais de 1%. Mas embica para pouco menos que isso.
No ano que vem, os Estados Unidos chegariam aos 3%, a eurozona iria a 1,5%, o Japão repetiria algo em torno de 1,7%, assim como a China repetiria seus 7,5%.
Nada mal. Nada muito bom, no que nos diz respeito. O efeito direto do crescimento da economia mundial no Brasil já é pequeno, pois o país negocia pouco com o exterior. A variação do PIB das economias maiores tende a fazer ainda menos efeito devido a problemas domésticos, brasileiros, e ao tipo de crescimento que virá no curto prazo.
Não haverá valorização anormal dos nossos produtos dominantes de exportação --comida e minério. Para piorar, a economia brasileira permanece inflacionada num mundo que, em parte, namora a deflação.
Ou seja, não vamos ganhar mercados em produtos manufaturados, pelo contrário. China e companhia avançam nos nossos clientes. Nossos custos altos e câmbio valorizado reduzem o interesse pelos nossos produtos (importamos mais, de resto). A Europa está com uma gigantesca sobra na capacidade de sua indústria (como não tem demanda lá, consumo, a Europa faz "xepa" dos seus produtos).
Pode-se argumentar que, pelo menos, pior do que agora não vai ficar. Pode ser, a princípio. Ainda há os riscos da transição.
Como se está cansado de saber, haverá mudança na política monetária americana (grosso modo, taxas de juros mais altas). Mudanças desse tipo sempre causaram algum tumulto financeiro mundial ou pelo menos efeitos colaterais em países mais frágeis (com inflação e déficit externo desconfortáveis).
Como se está cansado de especular, a crise europeia não acabou, por qualquer critério que se empregue, mas há o risco de aparecer outro entulho crítico, o de deflação.
Isto é o caso de uma economia tão fria, já com juro zero, com tanto desemprego de trabalho e de capital, com baixíssimo investimento e corte de gasto público, que passa a esfriar ainda mais.
Não quer dizer que estejamos fritos. Caso não sobrevenham tumultos financeiros maiores nos EUA e na Europa, o cenário externo tende a ser meio neutro. Como quase sempre, a bola está conosco.
18 de julho de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
O ANO QUE VEM será muito difícil para a economia brasileira, parece se tratar de quase um consenso. Curiosamente, a estimativa mediana de crescimento do PIB para 2015 é de 1,5%, muito fraquinho, decerto, mas superior ao 1% previsto para este 2014.
Dada a incerteza sobre qual será o próximo governo e o que será feito da política econômica, a previsão para o ano que vem não vale nem como ficção científica nível "C".
O resto do mundo, em especial as elites burocráticas do mundo rico, insiste porém que 2015 será enfim um ano, vá lá, bom. Ano de "volta à normalidade", medíocre que seja em termos de crescimento, e não importa que o couro dos mais pobres continue a ser esfolado nessa recuperação sempre mais ou menos frustrada, desde 2009. Vai rolar? A "retomada" euroamericana daria uma mãozinha ao Brasil?
Previa-se neste ano que os EUA crescessem 3%, excelente para um país tão rico. Deve crescer uns 2%, ainda ótimo, mas não é disso que se trata aqui. A Europa do euro sairia da recessão, crescendo pouco mais de 1%. Mas embica para pouco menos que isso.
No ano que vem, os Estados Unidos chegariam aos 3%, a eurozona iria a 1,5%, o Japão repetiria algo em torno de 1,7%, assim como a China repetiria seus 7,5%.
Nada mal. Nada muito bom, no que nos diz respeito. O efeito direto do crescimento da economia mundial no Brasil já é pequeno, pois o país negocia pouco com o exterior. A variação do PIB das economias maiores tende a fazer ainda menos efeito devido a problemas domésticos, brasileiros, e ao tipo de crescimento que virá no curto prazo.
Não haverá valorização anormal dos nossos produtos dominantes de exportação --comida e minério. Para piorar, a economia brasileira permanece inflacionada num mundo que, em parte, namora a deflação.
Ou seja, não vamos ganhar mercados em produtos manufaturados, pelo contrário. China e companhia avançam nos nossos clientes. Nossos custos altos e câmbio valorizado reduzem o interesse pelos nossos produtos (importamos mais, de resto). A Europa está com uma gigantesca sobra na capacidade de sua indústria (como não tem demanda lá, consumo, a Europa faz "xepa" dos seus produtos).
Pode-se argumentar que, pelo menos, pior do que agora não vai ficar. Pode ser, a princípio. Ainda há os riscos da transição.
Como se está cansado de saber, haverá mudança na política monetária americana (grosso modo, taxas de juros mais altas). Mudanças desse tipo sempre causaram algum tumulto financeiro mundial ou pelo menos efeitos colaterais em países mais frágeis (com inflação e déficit externo desconfortáveis).
Como se está cansado de especular, a crise europeia não acabou, por qualquer critério que se empregue, mas há o risco de aparecer outro entulho crítico, o de deflação.
Isto é o caso de uma economia tão fria, já com juro zero, com tanto desemprego de trabalho e de capital, com baixíssimo investimento e corte de gasto público, que passa a esfriar ainda mais.
Não quer dizer que estejamos fritos. Caso não sobrevenham tumultos financeiros maiores nos EUA e na Europa, o cenário externo tende a ser meio neutro. Como quase sempre, a bola está conosco.
18 de julho de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
SOBRE A CANA-DE-AÇÚCAR E A DESCARBONIZAÇÃO ENERGÉTICA
O economista Jeffrey Sachs, em seu artigo "Os limites das negociações do clima", publicado na edição de 27/6/2014 do Valor, afirma que os países precisam inspirar-se nos casos em que governos, cientistas e indústria uniram-se para produzir grandes mudanças para o mundo vencer a crise decorrente das mudanças climáticas.
Nesse aspecto, o Brasil é frequentemente lembrado e elogiado com relação às emissões antrópicas associadas à matriz energética. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com relação às emissões por habitante, cada brasileiro, produzindo e consumindo energia em 2013, emitiu em média 2,3 t CO2 equivalente (tCO2 -eq), ou seja, aproximadamente 8 vezes menos do que um americano e 3 vezes menos do que emite um europeu ou um chinês.
O fator que possibilita esse desempenho brasileiro tem sido a elevada participação de energia renovável na matriz energética, e que se manteve entre as mais elevadas do mundo em 2013, mesmo com a redução de oferta de energia hídrica e o aumento da geração térmica mais poluente.
Setor sucroenergético não pode continuar sendo penalizado por políticas públicas distorcidas
De fato, até houve uma redução na participação das renováveis na matriz energética brasileira de 42,3% para 41%, mas que não foi maior devido ao aumento de quase 10% na oferta interna de energia pelos produtos da cana-de-açúcar, leia-se etanol e bioeletricidade.
O aumento da oferta de cana e de etanol na safra passada na Região Centro-Sul, da ordem de 10%, ocorreu justamente em um período de falta de rentabilidade para os produtores, o que pode parecer um contrassenso, mas é reflexo do enorme esforço que tem sido realizado para reduzir a capacidade ociosa nas usinas instaladas.
Também do lado da bioeletricidade não ocorreu cenário diferente. Dados apresentados pela EPE mostram que a fonte biomassa atingiu uma geração recorde total de 39.679 GWh, um valor 14% superior ao ano anterior e equivalente a 1/3 do consumo anual residencial no sistema interligado em 2013. Basicamente, o resultado dessa geração foi fruto do citado aumento da oferta de cana e da maturação de investimentos realizados em anos anteriores, sob um cenário institucional totalmente diferente do quadro adverso atual.
Essa produção de bioeletricidade foi superior à geração de energia elétrica somada das fontes carvão, nuclear e eólica durante todo o ano, num momento em que a energia armazenada nos reservatórios das hidrelétricas apresentou os piores valores desde 2001, quando se decretou o racionamento de energia.
Mesmo com esse desempenho estratégico dos produtos energéticos da cana causa extrema preocupação o futuro do setor sucroenergético na matriz elétrica brasileira. A preocupação reside na inexistência de uma política setorial clara, estruturante e capaz de estimular o investimento no etanol e na bioeletricidade, comprometendo o futuro desses produtos na matriz energética brasileira. Ao contrário, os incentivos decorrentes da política pública brasileira voltada para combustíveis e eletricidade têm estimulado o consumo de combustíveis fósseis por meio de subsídio e desoneração tributária da gasolina. O resultado tem sido desastroso.
Segundo o Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise Br), em meados de 2013 cerca de 250 indústrias de Sertãozinho-SP, o "Vale do Silício da Indústria Sucroenergética", apresentavam ociosidade chegando a 60%. Desde 2010 empresas de bens de capital voltadas para a indústria canavieira registram queda de 50% no faturamento, com corte de milhares de postos de trabalho e 66 unidades produtoras de açúcar e etanol em recuperação judicial atualmente, considerando as unidades em operação e também as inativas.
Outra consequência dessa conjuntura: em 2008, os desembolsos do BNDES em bioeletricidade sucroenergética chegaram a R$ 2 bilhões. Em 2013, foram de apenas R$ 200 milhões, reflexo de um cenário de incertezas quanto ao papel tanto da bioeletricidade quanto do etanol na matriz de energia do país.
Nenhuma cadeia produtiva consegue sobreviver a uma política de stop and go como a que está vivenciando o portfólio de produtos do setor sucroenergético. Este é um péssimo sinal. É necessário estabelecer condições institucionais para que o etanol e a bioeletricidade sejam tratados como prioridade no planejamento energético brasileiro.
O investimento em bioeletricidade será impulsionado de forma consolidada novamente quando voltarmos a expandir os canaviais. E essa expansão somente acontecerá se tivermos políticas públicas que estimulem o etanol hidratado e seu papel na matriz de energia do Brasil. Etanol e bioeletricidade são produtos sinérgicos e, portanto, precisam de políticas públicas concatenadas adequadas e de longo prazo.
Na linha do artigo do professor Jeffrey Sachs, para que etanol e bioeletricidade continuem sendo casos brasileiros de sucesso e possam servir de inspiração para o mundo quanto à "descarbonização" do sistema energético, o setor sucroenergético não pode continuar sendo penalizado por políticas públicas distorcidas que não reconhecem os atributos desses produtos e seu papel na matriz energética brasileira.
18 de julho de 2014
Elizabeth Farina e Zilma de Souza, Valor Econômico
Nesse aspecto, o Brasil é frequentemente lembrado e elogiado com relação às emissões antrópicas associadas à matriz energética. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com relação às emissões por habitante, cada brasileiro, produzindo e consumindo energia em 2013, emitiu em média 2,3 t CO2 equivalente (tCO2 -eq), ou seja, aproximadamente 8 vezes menos do que um americano e 3 vezes menos do que emite um europeu ou um chinês.
O fator que possibilita esse desempenho brasileiro tem sido a elevada participação de energia renovável na matriz energética, e que se manteve entre as mais elevadas do mundo em 2013, mesmo com a redução de oferta de energia hídrica e o aumento da geração térmica mais poluente.
Setor sucroenergético não pode continuar sendo penalizado por políticas públicas distorcidas
De fato, até houve uma redução na participação das renováveis na matriz energética brasileira de 42,3% para 41%, mas que não foi maior devido ao aumento de quase 10% na oferta interna de energia pelos produtos da cana-de-açúcar, leia-se etanol e bioeletricidade.
O aumento da oferta de cana e de etanol na safra passada na Região Centro-Sul, da ordem de 10%, ocorreu justamente em um período de falta de rentabilidade para os produtores, o que pode parecer um contrassenso, mas é reflexo do enorme esforço que tem sido realizado para reduzir a capacidade ociosa nas usinas instaladas.
Também do lado da bioeletricidade não ocorreu cenário diferente. Dados apresentados pela EPE mostram que a fonte biomassa atingiu uma geração recorde total de 39.679 GWh, um valor 14% superior ao ano anterior e equivalente a 1/3 do consumo anual residencial no sistema interligado em 2013. Basicamente, o resultado dessa geração foi fruto do citado aumento da oferta de cana e da maturação de investimentos realizados em anos anteriores, sob um cenário institucional totalmente diferente do quadro adverso atual.
Essa produção de bioeletricidade foi superior à geração de energia elétrica somada das fontes carvão, nuclear e eólica durante todo o ano, num momento em que a energia armazenada nos reservatórios das hidrelétricas apresentou os piores valores desde 2001, quando se decretou o racionamento de energia.
Mesmo com esse desempenho estratégico dos produtos energéticos da cana causa extrema preocupação o futuro do setor sucroenergético na matriz elétrica brasileira. A preocupação reside na inexistência de uma política setorial clara, estruturante e capaz de estimular o investimento no etanol e na bioeletricidade, comprometendo o futuro desses produtos na matriz energética brasileira. Ao contrário, os incentivos decorrentes da política pública brasileira voltada para combustíveis e eletricidade têm estimulado o consumo de combustíveis fósseis por meio de subsídio e desoneração tributária da gasolina. O resultado tem sido desastroso.
Segundo o Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise Br), em meados de 2013 cerca de 250 indústrias de Sertãozinho-SP, o "Vale do Silício da Indústria Sucroenergética", apresentavam ociosidade chegando a 60%. Desde 2010 empresas de bens de capital voltadas para a indústria canavieira registram queda de 50% no faturamento, com corte de milhares de postos de trabalho e 66 unidades produtoras de açúcar e etanol em recuperação judicial atualmente, considerando as unidades em operação e também as inativas.
Outra consequência dessa conjuntura: em 2008, os desembolsos do BNDES em bioeletricidade sucroenergética chegaram a R$ 2 bilhões. Em 2013, foram de apenas R$ 200 milhões, reflexo de um cenário de incertezas quanto ao papel tanto da bioeletricidade quanto do etanol na matriz de energia do país.
Nenhuma cadeia produtiva consegue sobreviver a uma política de stop and go como a que está vivenciando o portfólio de produtos do setor sucroenergético. Este é um péssimo sinal. É necessário estabelecer condições institucionais para que o etanol e a bioeletricidade sejam tratados como prioridade no planejamento energético brasileiro.
O investimento em bioeletricidade será impulsionado de forma consolidada novamente quando voltarmos a expandir os canaviais. E essa expansão somente acontecerá se tivermos políticas públicas que estimulem o etanol hidratado e seu papel na matriz de energia do Brasil. Etanol e bioeletricidade são produtos sinérgicos e, portanto, precisam de políticas públicas concatenadas adequadas e de longo prazo.
Na linha do artigo do professor Jeffrey Sachs, para que etanol e bioeletricidade continuem sendo casos brasileiros de sucesso e possam servir de inspiração para o mundo quanto à "descarbonização" do sistema energético, o setor sucroenergético não pode continuar sendo penalizado por políticas públicas distorcidas que não reconhecem os atributos desses produtos e seu papel na matriz energética brasileira.
18 de julho de 2014
Elizabeth Farina e Zilma de Souza, Valor Econômico
OS BRICS COMO BLOCO
Em Fortaleza, o Brics dará o primeiro passo para ser mais do que uma sigla. Embora não passem de um aglomerado de países grandes com escassos interesses em comum, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul sacramentam a criação de duas instituições que podem aumentar sua influência conjunta na geopolítica global.
Criada há 13 anos por Jim O'Neill, então economista-chefe do banco Goldman Sachs, a sigla pretendia apenas apontar os países emergentes com mais condições de influência futura no mundo. Agora, seus dirigentes pretendem costurar projetos em comum e agir como bloco.
As mais importantes decisões a serem tomadas hoje em Fortaleza pelos chefes de Estado dos Brics são a criação de um banco de desenvolvimento, o New Development Bank (NDB), e um fundo de reservas para prevenir incapacidades de pagamento, o Contingency Reserve Arrangement (CRA).
Ambos nascem a partir das críticas à atuação das duas grandes instituições globais fundadas em 1944, na reunião de Bretton Woods, destinadas então a compor a reorganização global no pós-guerra: o Banco Mundial (World Bank) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Os Brics entendem que o Banco Mundial e o FMI fazem o jogo dos Estados Unidos, estão esclerosados, rechaçam reformas que garantam maior participação dos emergentes em sua direção e fazem exigências demais aos países que eventualmente precisem de recursos para enfrentar uma crise na sua capacidade de honrar compromissos.
O novo banco terá capital inicial de US$ 50 bilhões, a ser subscrito equitativamente pelos cinco sócios. O CRA deverá contar com US$ 100 bilhões, com os quais a China aportará 41%; Brasil, Rússia e Índia entrarão com 18% cada um; e a África do Sul, com 5%.
Com esse capital de apenas US$ 50 bilhões, o novo banco terá limitado poder de fogo. Apenas para comparar, um projeto de trem-bala, tal como o previsto para o Brasil, não sai por menos de US$ 14 bilhões. Apenas a Petrobrás prevê investimentos de US$ 220 bilhões nos próximos quatro anos. É claro que esse banco poderá completar seu passivo com levantamento de recursos no mercado global. Ainda assim, será pequeno. Somente o nosso BNDES tem um passivo de US$ 350 bilhões.
Quando integralizadas, as disponibilidades do novo fundo de reserva serão apenas uma fração do volume de reservas externas em poder de cada um dos Brics - exceção feita ao caso da África do Sul.
Ou seja, se for para se apoiar mutuamente, essas duas instituições terão baixo alcance. E, se for para atender terceiros países, terão alcance mais limitado ainda. No entanto, o tamanho e a função real a ser desempenhada por essas instituições não serão as questões mais importantes. Mais importante será saber se os cinco integrantes do Brics conseguirão se entender em torno de um projeto comum que se apresente como alternativa ao Banco Mundial e ao FMI.
Criada há 13 anos por Jim O'Neill, então economista-chefe do banco Goldman Sachs, a sigla pretendia apenas apontar os países emergentes com mais condições de influência futura no mundo. Agora, seus dirigentes pretendem costurar projetos em comum e agir como bloco.
As mais importantes decisões a serem tomadas hoje em Fortaleza pelos chefes de Estado dos Brics são a criação de um banco de desenvolvimento, o New Development Bank (NDB), e um fundo de reservas para prevenir incapacidades de pagamento, o Contingency Reserve Arrangement (CRA).
Ambos nascem a partir das críticas à atuação das duas grandes instituições globais fundadas em 1944, na reunião de Bretton Woods, destinadas então a compor a reorganização global no pós-guerra: o Banco Mundial (World Bank) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Os Brics entendem que o Banco Mundial e o FMI fazem o jogo dos Estados Unidos, estão esclerosados, rechaçam reformas que garantam maior participação dos emergentes em sua direção e fazem exigências demais aos países que eventualmente precisem de recursos para enfrentar uma crise na sua capacidade de honrar compromissos.
O novo banco terá capital inicial de US$ 50 bilhões, a ser subscrito equitativamente pelos cinco sócios. O CRA deverá contar com US$ 100 bilhões, com os quais a China aportará 41%; Brasil, Rússia e Índia entrarão com 18% cada um; e a África do Sul, com 5%.
Com esse capital de apenas US$ 50 bilhões, o novo banco terá limitado poder de fogo. Apenas para comparar, um projeto de trem-bala, tal como o previsto para o Brasil, não sai por menos de US$ 14 bilhões. Apenas a Petrobrás prevê investimentos de US$ 220 bilhões nos próximos quatro anos. É claro que esse banco poderá completar seu passivo com levantamento de recursos no mercado global. Ainda assim, será pequeno. Somente o nosso BNDES tem um passivo de US$ 350 bilhões.
Quando integralizadas, as disponibilidades do novo fundo de reserva serão apenas uma fração do volume de reservas externas em poder de cada um dos Brics - exceção feita ao caso da África do Sul.
Ou seja, se for para se apoiar mutuamente, essas duas instituições terão baixo alcance. E, se for para atender terceiros países, terão alcance mais limitado ainda. No entanto, o tamanho e a função real a ser desempenhada por essas instituições não serão as questões mais importantes. Mais importante será saber se os cinco integrantes do Brics conseguirão se entender em torno de um projeto comum que se apresente como alternativa ao Banco Mundial e ao FMI.
18 de julho de 2014
Celso Ming, O Estado de S.Paulo
SUPERTELE DO ALÉM
A ideia de criar uma supertele brasileira não cansa de fracassar. Foi um projeto desenvolvido no governo Lula, que envolveu mudança de regulação e empréstimos do BNDES, que é um dos acionistas. Não deu certo, e a empresa acabou tendo uma grande fatia comprada por uma companhia portuguesa. Agora, a ex-supertele brasileira é atingida pelos estilhaços do que acontece em além-mar.
O último lance dessa complicação fez o valor da Oi despencar e depois se recuperar em parte. O que detonou a crise de confiança em relação à empresa não foi resolvido. Hoje, o Banco Espírito Santo terá que pagar títulos comprados pela Portugal Telecom e que, se não forem pagos, enfraquecem financeiramente a maior acionista da Oi. O pior é que o investimento temerário feito pela PT não foi comunicado à tele brasileira.
O governo Lula achava que era preciso um esforço para haver uma empresa de telecomunicações forte de capital nacional. Por isso, em 2008, removeu um importante obstáculo regulatório e permitiu que ela comprasse a Brasil Telecom. Isso expandiu de forma significativa a área de atuação da empresa.
Para a compra em 2008, a empresa recebeu injeção de recursos do BNDES. O banco nos informou ontem que ao todo emprestou R$ 22 bilhões à empresa desde a privatização. Além disso, de 1999 até agora, o BNDESPar aplicou em compra de debêntures e ações um total de R$ 6 bilhões na empresa.
A fusão com a Portugal Telecom não conseguiu cumprir a promessa de simplificar sua confusa estrutura societária. Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, especializada em telecomunicações, explicou por que a compra da Brasil Telecom não atingiu os objetivos:
— Desde que a Oi comprou a Brasil Telecom é como se ela tivesse engolido uma caça maior do que ela. A empresa entrou em estado de paralisia, num longo processo de reestruturação interna e de recomposição acionária. O processo consumiu muita energia e tempo na empresa, enquanto as concorrentes continuaram buscando crescer no mercado.
No ano passado, veio outra novidade: a Portugal Telecom comprou uma grande fatia da empresa e virou a maior acionista do que passou a ser a ex-supertele nacional. A operação foi anunciada como “fusão”. Desde o início do processo, as ações da Oi, segundo o “Valor”, caíram 62%. Agora, quando a empresa se preparava para uma oferta de ações para fortalecer-se financeiramente, a maior acionista, exatamente a Portugal Telecom, aparece encrencada por ter feito aplicações em papéis de um banco português em dificuldades.
A Oi, desde a privatização, enfrentou vários momentos de muita desconfiança do mercado por falta de transparência nas decisões da empresa, falta de governança. A expectativa era que a companhia conseguisse agora passar mais segurança sobre sua gestão.
A Portugal Telecom se comprometeu a aportar R$ 5,7 bilhões em ativos dela na empresa. No total, contando os que iriam acompanhar a capitalização, a empresa receberia R$ 14 bilhões. O processo estava em andamento quando saiu a notícia de que a PT comprou debêntures do Grupo Espírito Santo, sem comunicar aos seus sócios, e agora está sob risco de levar um calote. Então o problema que seria resolvido com a entrada do sócio estrangeiro acabou ficando pior exatamente por causa desse sócio.
A confusão nunca é pequena quando se trata dessa empresa. Descobriu-se que a Previ vendeu ações no período que não poderia, porque estava se preparando uma nova oferta bilionária de ações. O fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil tem participação no capital da Oi tanto diretamente quanto indiretamente, através da Telemar Participações.
As confusões além-mar são piores. Aqui, o que se trata é mais um nó na empresa escolhida para ser campeã nacional, que virou portuguesa, e agora está a bater com os burros n’água na sua relação com o novo dono. Lá, o risco é de insolvência do Banco Espírito Santo, que pode chacoalhar a economia de Portugal e ter reflexos fora do país. Portugal, recentemente, pagou o que devia ao Fundo Monetário Internacional e dispensou nova ajuda do Fundo, dizendo ser capaz de lidar sozinho com seus problemas. Mas agora seu principal grupo financeiro está em apuros.
O último lance dessa complicação fez o valor da Oi despencar e depois se recuperar em parte. O que detonou a crise de confiança em relação à empresa não foi resolvido. Hoje, o Banco Espírito Santo terá que pagar títulos comprados pela Portugal Telecom e que, se não forem pagos, enfraquecem financeiramente a maior acionista da Oi. O pior é que o investimento temerário feito pela PT não foi comunicado à tele brasileira.
O governo Lula achava que era preciso um esforço para haver uma empresa de telecomunicações forte de capital nacional. Por isso, em 2008, removeu um importante obstáculo regulatório e permitiu que ela comprasse a Brasil Telecom. Isso expandiu de forma significativa a área de atuação da empresa.
Para a compra em 2008, a empresa recebeu injeção de recursos do BNDES. O banco nos informou ontem que ao todo emprestou R$ 22 bilhões à empresa desde a privatização. Além disso, de 1999 até agora, o BNDESPar aplicou em compra de debêntures e ações um total de R$ 6 bilhões na empresa.
A fusão com a Portugal Telecom não conseguiu cumprir a promessa de simplificar sua confusa estrutura societária. Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, especializada em telecomunicações, explicou por que a compra da Brasil Telecom não atingiu os objetivos:
— Desde que a Oi comprou a Brasil Telecom é como se ela tivesse engolido uma caça maior do que ela. A empresa entrou em estado de paralisia, num longo processo de reestruturação interna e de recomposição acionária. O processo consumiu muita energia e tempo na empresa, enquanto as concorrentes continuaram buscando crescer no mercado.
No ano passado, veio outra novidade: a Portugal Telecom comprou uma grande fatia da empresa e virou a maior acionista do que passou a ser a ex-supertele nacional. A operação foi anunciada como “fusão”. Desde o início do processo, as ações da Oi, segundo o “Valor”, caíram 62%. Agora, quando a empresa se preparava para uma oferta de ações para fortalecer-se financeiramente, a maior acionista, exatamente a Portugal Telecom, aparece encrencada por ter feito aplicações em papéis de um banco português em dificuldades.
A Oi, desde a privatização, enfrentou vários momentos de muita desconfiança do mercado por falta de transparência nas decisões da empresa, falta de governança. A expectativa era que a companhia conseguisse agora passar mais segurança sobre sua gestão.
A Portugal Telecom se comprometeu a aportar R$ 5,7 bilhões em ativos dela na empresa. No total, contando os que iriam acompanhar a capitalização, a empresa receberia R$ 14 bilhões. O processo estava em andamento quando saiu a notícia de que a PT comprou debêntures do Grupo Espírito Santo, sem comunicar aos seus sócios, e agora está sob risco de levar um calote. Então o problema que seria resolvido com a entrada do sócio estrangeiro acabou ficando pior exatamente por causa desse sócio.
A confusão nunca é pequena quando se trata dessa empresa. Descobriu-se que a Previ vendeu ações no período que não poderia, porque estava se preparando uma nova oferta bilionária de ações. O fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil tem participação no capital da Oi tanto diretamente quanto indiretamente, através da Telemar Participações.
As confusões além-mar são piores. Aqui, o que se trata é mais um nó na empresa escolhida para ser campeã nacional, que virou portuguesa, e agora está a bater com os burros n’água na sua relação com o novo dono. Lá, o risco é de insolvência do Banco Espírito Santo, que pode chacoalhar a economia de Portugal e ter reflexos fora do país. Portugal, recentemente, pagou o que devia ao Fundo Monetário Internacional e dispensou nova ajuda do Fundo, dizendo ser capaz de lidar sozinho com seus problemas. Mas agora seu principal grupo financeiro está em apuros.
18 de julho de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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