A ideia de criar uma supertele brasileira não cansa de fracassar. Foi um projeto desenvolvido no governo Lula, que envolveu mudança de regulação e empréstimos do BNDES, que é um dos acionistas. Não deu certo, e a empresa acabou tendo uma grande fatia comprada por uma companhia portuguesa. Agora, a ex-supertele brasileira é atingida pelos estilhaços do que acontece em além-mar.
O último lance dessa complicação fez o valor da Oi despencar e depois se recuperar em parte. O que detonou a crise de confiança em relação à empresa não foi resolvido. Hoje, o Banco Espírito Santo terá que pagar títulos comprados pela Portugal Telecom e que, se não forem pagos, enfraquecem financeiramente a maior acionista da Oi. O pior é que o investimento temerário feito pela PT não foi comunicado à tele brasileira.
O governo Lula achava que era preciso um esforço para haver uma empresa de telecomunicações forte de capital nacional. Por isso, em 2008, removeu um importante obstáculo regulatório e permitiu que ela comprasse a Brasil Telecom. Isso expandiu de forma significativa a área de atuação da empresa.
Para a compra em 2008, a empresa recebeu injeção de recursos do BNDES. O banco nos informou ontem que ao todo emprestou R$ 22 bilhões à empresa desde a privatização. Além disso, de 1999 até agora, o BNDESPar aplicou em compra de debêntures e ações um total de R$ 6 bilhões na empresa.
A fusão com a Portugal Telecom não conseguiu cumprir a promessa de simplificar sua confusa estrutura societária. Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, especializada em telecomunicações, explicou por que a compra da Brasil Telecom não atingiu os objetivos:
— Desde que a Oi comprou a Brasil Telecom é como se ela tivesse engolido uma caça maior do que ela. A empresa entrou em estado de paralisia, num longo processo de reestruturação interna e de recomposição acionária. O processo consumiu muita energia e tempo na empresa, enquanto as concorrentes continuaram buscando crescer no mercado.
No ano passado, veio outra novidade: a Portugal Telecom comprou uma grande fatia da empresa e virou a maior acionista do que passou a ser a ex-supertele nacional. A operação foi anunciada como “fusão”. Desde o início do processo, as ações da Oi, segundo o “Valor”, caíram 62%. Agora, quando a empresa se preparava para uma oferta de ações para fortalecer-se financeiramente, a maior acionista, exatamente a Portugal Telecom, aparece encrencada por ter feito aplicações em papéis de um banco português em dificuldades.
A Oi, desde a privatização, enfrentou vários momentos de muita desconfiança do mercado por falta de transparência nas decisões da empresa, falta de governança. A expectativa era que a companhia conseguisse agora passar mais segurança sobre sua gestão.
A Portugal Telecom se comprometeu a aportar R$ 5,7 bilhões em ativos dela na empresa. No total, contando os que iriam acompanhar a capitalização, a empresa receberia R$ 14 bilhões. O processo estava em andamento quando saiu a notícia de que a PT comprou debêntures do Grupo Espírito Santo, sem comunicar aos seus sócios, e agora está sob risco de levar um calote. Então o problema que seria resolvido com a entrada do sócio estrangeiro acabou ficando pior exatamente por causa desse sócio.
A confusão nunca é pequena quando se trata dessa empresa. Descobriu-se que a Previ vendeu ações no período que não poderia, porque estava se preparando uma nova oferta bilionária de ações. O fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil tem participação no capital da Oi tanto diretamente quanto indiretamente, através da Telemar Participações.
As confusões além-mar são piores. Aqui, o que se trata é mais um nó na empresa escolhida para ser campeã nacional, que virou portuguesa, e agora está a bater com os burros n’água na sua relação com o novo dono. Lá, o risco é de insolvência do Banco Espírito Santo, que pode chacoalhar a economia de Portugal e ter reflexos fora do país. Portugal, recentemente, pagou o que devia ao Fundo Monetário Internacional e dispensou nova ajuda do Fundo, dizendo ser capaz de lidar sozinho com seus problemas. Mas agora seu principal grupo financeiro está em apuros.
O último lance dessa complicação fez o valor da Oi despencar e depois se recuperar em parte. O que detonou a crise de confiança em relação à empresa não foi resolvido. Hoje, o Banco Espírito Santo terá que pagar títulos comprados pela Portugal Telecom e que, se não forem pagos, enfraquecem financeiramente a maior acionista da Oi. O pior é que o investimento temerário feito pela PT não foi comunicado à tele brasileira.
O governo Lula achava que era preciso um esforço para haver uma empresa de telecomunicações forte de capital nacional. Por isso, em 2008, removeu um importante obstáculo regulatório e permitiu que ela comprasse a Brasil Telecom. Isso expandiu de forma significativa a área de atuação da empresa.
Para a compra em 2008, a empresa recebeu injeção de recursos do BNDES. O banco nos informou ontem que ao todo emprestou R$ 22 bilhões à empresa desde a privatização. Além disso, de 1999 até agora, o BNDESPar aplicou em compra de debêntures e ações um total de R$ 6 bilhões na empresa.
A fusão com a Portugal Telecom não conseguiu cumprir a promessa de simplificar sua confusa estrutura societária. Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, especializada em telecomunicações, explicou por que a compra da Brasil Telecom não atingiu os objetivos:
— Desde que a Oi comprou a Brasil Telecom é como se ela tivesse engolido uma caça maior do que ela. A empresa entrou em estado de paralisia, num longo processo de reestruturação interna e de recomposição acionária. O processo consumiu muita energia e tempo na empresa, enquanto as concorrentes continuaram buscando crescer no mercado.
No ano passado, veio outra novidade: a Portugal Telecom comprou uma grande fatia da empresa e virou a maior acionista do que passou a ser a ex-supertele nacional. A operação foi anunciada como “fusão”. Desde o início do processo, as ações da Oi, segundo o “Valor”, caíram 62%. Agora, quando a empresa se preparava para uma oferta de ações para fortalecer-se financeiramente, a maior acionista, exatamente a Portugal Telecom, aparece encrencada por ter feito aplicações em papéis de um banco português em dificuldades.
A Oi, desde a privatização, enfrentou vários momentos de muita desconfiança do mercado por falta de transparência nas decisões da empresa, falta de governança. A expectativa era que a companhia conseguisse agora passar mais segurança sobre sua gestão.
A Portugal Telecom se comprometeu a aportar R$ 5,7 bilhões em ativos dela na empresa. No total, contando os que iriam acompanhar a capitalização, a empresa receberia R$ 14 bilhões. O processo estava em andamento quando saiu a notícia de que a PT comprou debêntures do Grupo Espírito Santo, sem comunicar aos seus sócios, e agora está sob risco de levar um calote. Então o problema que seria resolvido com a entrada do sócio estrangeiro acabou ficando pior exatamente por causa desse sócio.
A confusão nunca é pequena quando se trata dessa empresa. Descobriu-se que a Previ vendeu ações no período que não poderia, porque estava se preparando uma nova oferta bilionária de ações. O fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil tem participação no capital da Oi tanto diretamente quanto indiretamente, através da Telemar Participações.
As confusões além-mar são piores. Aqui, o que se trata é mais um nó na empresa escolhida para ser campeã nacional, que virou portuguesa, e agora está a bater com os burros n’água na sua relação com o novo dono. Lá, o risco é de insolvência do Banco Espírito Santo, que pode chacoalhar a economia de Portugal e ter reflexos fora do país. Portugal, recentemente, pagou o que devia ao Fundo Monetário Internacional e dispensou nova ajuda do Fundo, dizendo ser capaz de lidar sozinho com seus problemas. Mas agora seu principal grupo financeiro está em apuros.
18 de julho de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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