Enganam-se os que pensam que falarei hoje dos jovens, dos adolescentes, dos nossos filhos e netos viciados em tecnologia, baladas e futilidades, que têm no narcisismo, na indiferença e no egocentrismo seu perfil espalhado nas redes sociais. Ou nas famosas fotos de si mesmo em frente a espelhos, na mania do “selfie”.
Não e não! Falarei de todos nós, habitantes de um mundo que mais parece uma nau sem rumo, em uma tempestade catastrófica, sem um capitão a bordo e em um “porre” danado.
Nos dividimos entre a tripulação que acredita que é o fim de tudo e os que acham que tudo é uma aventura cheia de adrenalina, e vivemos um grande reality show.
O certo é que alguma coisa muito séria está prestes a explodir, quando uma dessas tantas manias ou modismos surge do nada e até a presidente da República convoca ministros, polícia e Exército para enfrentar uns “manos” de bairros periféricos que alegam ser ídolos de milhares de meninas carentes (de 20 a 50 mil seguidoras, segundo reportagem da “Folha”), que marcam encontros em shoppings (templos até então sagrados de consumo, segurança, ar-condicionado, cinemas e fast-food), quando os ídolos de classe baixa, das redes sociais – a entrevista com três deles mostram meninos comuns, com roupas falsificadas de marcas e exibição de raps, com físico mais maneiro – marcam um encontro num shopping para receber presentes, beijar o máximo de bocas, fazer algazarras, para “zoar”. É o que constatou a grande mídia.
CAUSANDO PAVOR
As correrias que causaram pânico e os arrastões dos marginais infiltrados ganharam tal pavor das classes médias que virou discussão esquizofrênica de sociólogos, psiquiatras, políticos e autoridades, com descalabros do tipo “guerra social”, em que ricos repelem a juventude periférica, ou pior, seria uma rejeição social contra os pardos, negros e pobres, em ambientes luxuosos de consumo, num “apartheid” brazuca.
“E outras teorias de guerra tribal, intercalasses, ou a falência das megacidades olhadas por uma classe abastada e alienada nos seus excessos, ganâncias, apoderamento da política e da economia, a nos torturar diariamente com notícias de corrupção, e os grandes centros urbanos cercados de pobreza e falta de ambientes de lazer, saúde, educação, redes de esgoto e moradias.
Os shoppings viraram as praias, ou seja os poucos locais onde ricos, pobres e remediados andam lado a lado e podem obter um momento de compartilhamento do ar-condicionado, da beleza e da ilusão.
Épocas de radicalismo imbecil, em que nas redes sociais, radicais do PT ou da oposição se agridem de forma pueril, retroalimentando a guerra civil subliminar que vivemos. Virão por aí “rolezões” de jovens pseudo-politizados, de entidades diversas, de tudo. Se não bastassem assaltos que já vinham acontecendo, mais essa moda e as crises socioeconômicas, com certeza o ato de ir aos shoppings nunca mais será o mesmo. Os templos do consumo foram violados.
OS GÊNIOS DO BBB
Por fim, o crônico “BBB” nos constrange a cada ano com uma amostragem de adultos jovens, involuídos, imaturos, sem conteúdo, com seus corpos exageradamente artificiais, suas cada vez mais sérias atrofias mentais e, pior , irrigados por festas desregradamente alcoólicas, que nos mostram o quanto somos retardadamente consumidores de conteúdos infames, sem qualidade, fúteis, com palavras chulas, diálogos banais e vazios. Deus salve o 1/3 dos jovens que sobreviverão ao emburrecimento coletivo.
Fiquei feliz quando vi a reportagem da menina que passou em primeiro lugar na UFMG e na UFES, e que, além disso, já tinha quase sido bailarina do Bolshoi, e que praticamente não usa as redes sociais, tem impressionante conhecimento geral e será uma grande médica. Há esperança e vida inteligente na geração do milênio ou “Y”. E adultos que servem de exemplo.
Esporte, cultura, ecologia, vida ao ar livre, valorização da família, da fé e busca pela competência são caminhos fantásticos de quem vencerá na vida, fará a diferença neste mundão de Deus! Sou otimista e sei que este momento tão medíocre em que vivemos – fruto de falha de todos nós, pais, avós, escola, instituições políticas, sociais, econômicas entre outras – é a senha para grandes mudanças conceituais e comportamentais.
O novo só é possível quando o modelo antigo entra em colapso. Somos todos construtores de um novo tempo!
(transcrito de O Tempo)
20 de janeiro de 2014
Eduardo Aquino