Guilherme Fiuza não poupa os que protestavam contra ‘tudo’, o mesmo que protestar contra nada, e que tomaram as ruas em junho de 2013. Chama isso de ‘rebeldia inofensiva’
Para o filósofo Henri Bergson, o riso não pode ser bondoso. Sua função é “intimidar humilhando”. Lembrei disso ao reler os deliciosos textos de Guilherme Fiuza reunidos no livro “Não é a mamãe”, que será lançado pela Record nesta quinta, às 19h na Travessa do Leblon.
Sua marca registrada é o sarcasmo diante do inacreditável: a passividade da opinião pública frente aos inesgotáveis escândalos do governo petista. Acreditou-se até mesmo nos mitos da “faxineira ética” e da “gerentona eficiente”.
Nunca antes na história deste país se roubou tanto, avançou-se tanto sobre o Estado como se fosse uma “cosa nostra”. Tudo protegido pela narrativa dos “oprimidos do bem”. O “governo popular” das “minorias” — o operário e a mulher — goza de um salvo-conduto para praticar todo tipo de “malfeito”. A imprensa “burguesa e golpista” não tem nada com isso, e deveria parar com essa mania chata de se meter em assuntos “privados” dos governantes.
O humor ácido de Fiuza é um soco na cara de um povo sonolento, hipnotizado pela repetição incansável de slogans vazios e chavões ridículos. Seu principal alvo nem é o PT com suas falcatruas, mas sim os eleitores com sua negligência.
Fiuza não poupa os que protestavam contra “tudo”, o mesmo que protestar contra nada, e que tomaram as ruas em junho de 2013. Chama isso de “rebeldia inofensiva”, um circo que não leva a nada. Acreditar que o gigante havia acordado era a grande piada, só que de mau gosto.
Criativo, ele cunha expressões excelentes para descrever o Brasil de hoje que, visto com o benefício do retrospecto pelos observadores do futuro, será motivo de muita perplexidade. “Esquerda S.A.”, “elite vermelha”, “Império do Oprimido”, “DisneyLula”, entre tantos outros, são termos que descrevem com perfeição a situação surreal de nosso país.
Ótimo frasista, Fiuza tem grande poder de síntese, sem deixar de lado o chiste. Exemplos não faltam:
“É comovente a garra da esquerda brasileira em defesa da melhoria social de sua conta bancária”; “O Brasil acha que um presidente bonzinho pode tudo, inclusive decretar almoço grátis para todos”; “Nunca antes na história deste país os argumentos foram tão inúteis.”
“Que mania os repórteres têm de se meter com a propina alheia”; “O PT já cansou a beleza do Brasil com o politicamente correto como fachada do administrativamente incorreto — os fins nobres justificando os meios torpes.”
“A elite envergonhada se sente nobre quando bajula o povão. Não contem para ninguém que os avanços sociais começaram no governo de um sociólogo, porque isso vai estragar todo o heroísmo da esquerda festiva.”
“No Brasil emergente da era Lula, a pobreza é quase um diploma. E a ignorância enseja carinho e condescendência”; “O brasileiro é, antes de tudo, um crédulo. Deem-lhe um pretexto para ter fé em alguma coisa, e ele se lambuza de esperança”; “Ficou então combinado assim: enquanto Dilma refresca a vida dos fisiológicos, os éticos apoiam Dilma contra o fisiologismo”; “Como o eleitor já deveria saber, quando o PT grita pela ética, é hora de segurar a carteira.”
“Para os intelectuais franceses, Lula é o homem do povo que dobrou as elites, o ex-operário que superou a ignorância para salvar os pobres. Só quem não superou a ignorância, pelo visto, foram os cientistas políticos parisienses.”
“O trabalhismo, como se sabe, é a arte de se pendurar no cabide estatal e não largar o osso”; “Nunca se desafiou a corrupção com tanta compaixão”; “Os fatos, hoje, são um detalhe. O que o senso comum respeita mesmo é a repetição.”
“Para os não iniciados, é bom esclarecer: ‘elite’, no dicionário do PT, é um termo figurativo muito importante para os ladrões do bem, que os mantém na condição de milionários oprimidos”; “O julgamento do mensalão ficará como uma página quase cômica da história brasileira. O país que explode de orgulho com o fim da impunidade é governado, candidamente, pelo mesmo grupo político que pariu o esquema.”
E tem muito mais. O que fica claro é que se trata de um jornalista corajoso, que não teme remar contra a maré vermelha, contra a patrulha dos “oprimidos”, nem contra a farsa oficial montada pela poderosa máquina estatal. Não é à toa que Fiuza entrou para a “lista negra” criada pelo vice-presidente nacional do PT, de formadores de opinião independentes que ousam criticar o governo e apontar para toda a podridão do maior esquema já visto de assalto aos cofres públicos em plena luz do dia.
O livro é leitura obrigatória para quem não quer hibernar enquanto é saqueado pelos “representantes do povo”.
Para o filósofo Henri Bergson, o riso não pode ser bondoso. Sua função é “intimidar humilhando”. Lembrei disso ao reler os deliciosos textos de Guilherme Fiuza reunidos no livro “Não é a mamãe”, que será lançado pela Record nesta quinta, às 19h na Travessa do Leblon.
Sua marca registrada é o sarcasmo diante do inacreditável: a passividade da opinião pública frente aos inesgotáveis escândalos do governo petista. Acreditou-se até mesmo nos mitos da “faxineira ética” e da “gerentona eficiente”.
Nunca antes na história deste país se roubou tanto, avançou-se tanto sobre o Estado como se fosse uma “cosa nostra”. Tudo protegido pela narrativa dos “oprimidos do bem”. O “governo popular” das “minorias” — o operário e a mulher — goza de um salvo-conduto para praticar todo tipo de “malfeito”. A imprensa “burguesa e golpista” não tem nada com isso, e deveria parar com essa mania chata de se meter em assuntos “privados” dos governantes.
O humor ácido de Fiuza é um soco na cara de um povo sonolento, hipnotizado pela repetição incansável de slogans vazios e chavões ridículos. Seu principal alvo nem é o PT com suas falcatruas, mas sim os eleitores com sua negligência.
Fiuza não poupa os que protestavam contra “tudo”, o mesmo que protestar contra nada, e que tomaram as ruas em junho de 2013. Chama isso de “rebeldia inofensiva”, um circo que não leva a nada. Acreditar que o gigante havia acordado era a grande piada, só que de mau gosto.
Criativo, ele cunha expressões excelentes para descrever o Brasil de hoje que, visto com o benefício do retrospecto pelos observadores do futuro, será motivo de muita perplexidade. “Esquerda S.A.”, “elite vermelha”, “Império do Oprimido”, “DisneyLula”, entre tantos outros, são termos que descrevem com perfeição a situação surreal de nosso país.
Ótimo frasista, Fiuza tem grande poder de síntese, sem deixar de lado o chiste. Exemplos não faltam:
“É comovente a garra da esquerda brasileira em defesa da melhoria social de sua conta bancária”; “O Brasil acha que um presidente bonzinho pode tudo, inclusive decretar almoço grátis para todos”; “Nunca antes na história deste país os argumentos foram tão inúteis.”
“Que mania os repórteres têm de se meter com a propina alheia”; “O PT já cansou a beleza do Brasil com o politicamente correto como fachada do administrativamente incorreto — os fins nobres justificando os meios torpes.”
“A elite envergonhada se sente nobre quando bajula o povão. Não contem para ninguém que os avanços sociais começaram no governo de um sociólogo, porque isso vai estragar todo o heroísmo da esquerda festiva.”
“No Brasil emergente da era Lula, a pobreza é quase um diploma. E a ignorância enseja carinho e condescendência”; “O brasileiro é, antes de tudo, um crédulo. Deem-lhe um pretexto para ter fé em alguma coisa, e ele se lambuza de esperança”; “Ficou então combinado assim: enquanto Dilma refresca a vida dos fisiológicos, os éticos apoiam Dilma contra o fisiologismo”; “Como o eleitor já deveria saber, quando o PT grita pela ética, é hora de segurar a carteira.”
“Para os intelectuais franceses, Lula é o homem do povo que dobrou as elites, o ex-operário que superou a ignorância para salvar os pobres. Só quem não superou a ignorância, pelo visto, foram os cientistas políticos parisienses.”
“O trabalhismo, como se sabe, é a arte de se pendurar no cabide estatal e não largar o osso”; “Nunca se desafiou a corrupção com tanta compaixão”; “Os fatos, hoje, são um detalhe. O que o senso comum respeita mesmo é a repetição.”
“Para os não iniciados, é bom esclarecer: ‘elite’, no dicionário do PT, é um termo figurativo muito importante para os ladrões do bem, que os mantém na condição de milionários oprimidos”; “O julgamento do mensalão ficará como uma página quase cômica da história brasileira. O país que explode de orgulho com o fim da impunidade é governado, candidamente, pelo mesmo grupo político que pariu o esquema.”
E tem muito mais. O que fica claro é que se trata de um jornalista corajoso, que não teme remar contra a maré vermelha, contra a patrulha dos “oprimidos”, nem contra a farsa oficial montada pela poderosa máquina estatal. Não é à toa que Fiuza entrou para a “lista negra” criada pelo vice-presidente nacional do PT, de formadores de opinião independentes que ousam criticar o governo e apontar para toda a podridão do maior esquema já visto de assalto aos cofres públicos em plena luz do dia.
O livro é leitura obrigatória para quem não quer hibernar enquanto é saqueado pelos “representantes do povo”.
20 de agosto de 2014
Rodrigo Constantino, O Globo