A eleição deste ano terá componentes diferentes motivados pelos protestos. O senhor entendeu o recado das ruas?
É um recado claro para toda a classe política. A população está cansada da ineficiência dos serviços, do desleixo com o dinheiro público, das sucessivas denúncias de corrupção. Ela clama por valores, por novas oportunidades. As respostas que o governo federal buscou dar, com uma agenda absolutamente descolada da realidade do Brasil e desse sentimento das pessoas, como a pífia reforma política, que foi a mais eloquente delas, não respondeu em absolutamente a essas expectativas. Nós não trabalhamos esses eventos como um ativo eleitoral. Se ocorrerem, os governantes, todos eles, têm que estar prontos para dar as respostas. Mas é algo que nós, democratas, temos que compreender. As pessoas hoje estão inquietas, insatisfeitas com o que está acontecendo. Agora, o governo federal, que vendeu aos brasileiros um nirvana, um país onde só existiam virtudes, que não tinha problemas, que superou a miséria, que tem suas empresas públicas geridas com a maior eficiência, esse país da fantasia se desfez. Esses movimentos rasgaram a fantasia do PT.
Que alianças o senhor vai buscar nessas eleições? O PMDB, por exemplo, demonstra insatisfação com o governo.
Essas alianças são consequência da capacidade que você tenha ou não de apresentar um projeto viável. A nossa preocupação neste momento é apresentar ao Brasil um projeto exequível, que recomponha a credibilidade da nossa economia e aponte para cenário de crescimento sustentável por um bom período. As alianças são consequência disso. O que posso antecipar é que cada estado é uma realidade, e nós teremos, certamente, apoios em vários deles, de forças políticas, mesmo estando em nível nacional, de alguma forma, alinhadas a este governismo de cooptação, porque não tem nada de coalisão, tem é de cooptação através de cargos públicos. Mas não se consegue cooptar todos.
O senhor acha que vai ser possível se aliar ao PSB em Minas Gerais? Existe a possibilidade de palanque duplo?
O PSB é aliado do PSDB em muitos estados, inclusive em Minas, desde o meu primeiro mandato. Essa é uma aliança absolutamente natural, e eu acredito que ela possa ser mantida, sim, como será em outros estados. Tenho conversado com o governador Eduardo Campos, e o nosso entendimento é o de que vamos deixar que as situações regionais, locais caminhem sem qualquer intervenção nossa. O que eu percebo é que o PSB terá, em muitos estados, alianças com o PSDB e pouquíssimas com o PT, o que é uma sinalização importante em relação ao segundo turno.
A eleição terá um capítulo à parte na internet. O PT está lançando, inclusive, cartilha para a militância e o PSDB, como vai trabalhar com as mídias sociais?
O PT sempre utilizou a internet para fazer uma guerrilha que foge aos padrões éticos que deveriam orientar a disputa política e vai continuar nesse mesmo caminho, não é nenhuma novidade. Agora talvez mais, com financiamento maior e parte até com financiamento público, já estão montando um verdadeiro exército na internet. Obviamente, nós temos que estar atuando. Vamos usar a internet para difundir ideias, debater o nosso programa, mobilizar as nossas forças. O PT costuma usar a internet para fazer, como fez recentemente com o Eduardo Campos, como faz permanentemente em relação aos seus opositores, o jogo da calúnia, da difamação, da desconstrução. Mas eu acredito muito no bom senso das pessoas. Se não acreditasse, não estaria na política. Esse esforço hercúleo que é feito na internet, da difamação permanente, acaba tendo um resultado absolutamente inócuo. As pessoas têm capacidade de discernir o que é certo e o que é errado.
A atuação do senhor na televisão também pode fazer a diferença?
A nossa campanha será a da verdade. A presidente da República fará uma campanha na defensiva porque falharam na condução da economia. Falharam na gestão do estado, porque o Brasil é hoje um grande cemitério de obras inacabadas. Demonizaram por mais de 10 anos as concessões e as fazem agora de forma açodada, envergonhada e com absoluta falta de planejamento. Mesmo no campo social, onde se apregoam os grandes construtores de uma nova realidade no Brasil, os efeitos são muito limitados, daquelas antigas ações, na verdade, herdadas do governo do presidente Fernando Henrique. Não houve nada novo. A saúde é trágica para grande parte da população. A segurança pública aflige brasileiros de todas as regiões, de todas as classes sociais. Na educação, também estamos no final da fila nos principais institutos de avaliação internacionais. No caso especificamente de Minas, a presidente tem muitas explicações a dar, porque o estado foi absolutamente preterido ao longo desses 12 anos de governo do PT.
Como?
Seja em relação a investimentos programados, seja pelo setor automotivo que foram para outros estados. O metrô não terá no governo da presidente Dilma um centímetro sequer de expansão. Nas prometidas obras da BR–381, o governo apresenta um programa que atende a apenas 25% . O Anel Rodoviário prometido lá atrás, ainda pelo presidente Lula, foi transferido para o estado devido à incapacidade do governo.
O senhor já definiu quem vai ser o marqueteiro?
Nós não temos o candidato ainda, só depois de março. O que posso adiantar é que nós não teremos, aí, um marqueteiro, um salvador da pátria, como o PT. O marqueteiro do PT tem status de primeiro-ministro de estado. Se ele ligar para o ministro da Fazenda, é atendido no primeiro toque, tamanha a importância dele para o atual governo. Mas por que isso? Porque é o governo do marketing. Tem poucos resultados a apresentar e precisa privilegiar o marketing. Nós teremos pessoas competentes na área de comunicação, que nos permitam difundir nossas ideias, dar a elas visibilidade.
Acredita que essa será uma campanha cara, mas também difícil para se arrecadar recursos devido às denúncias de corrupção e caixa 2?
Para o governo, certamente não será difícil, já que o PT, ao longo dos últimos anos, não tem tido qualquer dificuldade para se financiar, haja vista a movimentação não só dos candidatos majoritários, mas os parlamentares do PT em Minas. Nós vamos ter o apoio daqueles que querem mudar o Brasil. Eu tenho muita confiança, mas não sei dimensionar quanto custa uma campanha presidencial. Mas vamos fazer uma campanha dentro da lei, oficialmente, como sempre fizemos em Minas. Nós vamos contar com financiamentos também dos cidadãos brasileiros.
O mensalão mineiro pode atrapalhar o senhor?
A mim, de forma alguma, porque não tenho com ele qualquer vinculação. O que eu sempre digo em relação a essas denúncias e acho até com um nome inadequado, porque mensalão pressupõe pagamentos mensais e, ali, há denúncia em relação à parte do financiamento do ex-governador Eduardo Azeredo, que sequer venceu as eleições. Mas o que eu defendo é que todas as denúncias sejam investigadas e que possamos dar a ele o direito à defesa.
Como o senhor está se sentindo com a notícia que será pai de novo?
Muito feliz. Esse é o lado bom. Eu sou alguém de bem com a vida. Estou na política porque acredito na transformação da sociedade. Mas ela não é toda a minha vida. Diferentemente de alguns que estão na política para ascender socialmente ou a tem como único objetivo de suas vidas e, aí, quando perdem, se frustram. Eu vou cumprir o meu papel. Se couber a mim a responsabilidade de conduzir essa candidatura, vou fazê-la inspirado na minha história pessoal, nos mineiros e, quem sabe, depois de 60 anos, Minas tenha um presidente da República eleito pelo voto.
14 de fevereiro de 2014