"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

UNIÃO EUROPÉIA DEVE ACIONAR JUÍZES CONTRA O BRASIL NA OMC

No primeiro dia de consultas, governo deu explicações sobre incentivos fiscais, mas europeus parecem determinados a continuar com a disputa
 
A Europa caminha para acionar os juízes da Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o Brasil, ainda que ontem, em Genebra, o governo brasileiro tenha tentado a todo custo evitar a abertura da disputa legal no primeiro de dois dias de consultas entre europeus e o País.
 
Bruxelas questiona os incentivos fiscais dados pelo governo a diversos setores, como automotivo e de produtos de informática. Além disso, os europeus questionam as regras da Zona Franca de Manaus e dizem que as práticas brasileiras seriam violações às normas da OMC.
 
Pelas regras, os europeus precisam realizar consultas bilaterais com o Brasil antes de recorrer aos juízes. Mas em Bruxelas a etapa é considerada apenas uma formalidade, e a UE já teria indicado que deve continuar com a disputa. Mesmo com todas as explicações brasileiras, os europeus consideram que os fatos "falam por si sós" e que as regras internacionais estão violadas.
 
Em Brasília, o caso é visto com especial preocupação, já que uma condenação da OMC exigiria do governo refazer toda sua estratégia industrial, justamente em ano de eleição. Em seis horas de reuniões ontem, a estratégia do governo brasileiro foi a de responder a todas as perguntas da Europa, mostrar que está cooperando e explicando como funciona o sistema de isenção no Brasil.
 
O esforço dos diplomatas era no sentido de mostrar que, na realidade, era o sistema tributário "complexo" nacional que impedia os europeus de entenderem que não existe de fato um benefício específico derivado dos programas do governo. Apresentando o sistema tributário, o governo tentou mostrar que um importador também tinha benefícios fiscais.
 
Para isso, Brasília levou uma equipe de cerca de 15 pessoas, incluindo Itamaraty, Ministério do Desenvolvimento, Fazenda, Receita Federal. Suframa e AGU. Hoje, as consultas serão concluídas.
 
Mercosul. Enquanto em Genebra o Brasil tentava se explicar, em Caracas o Mercosul vivia mais um dia de tensão. A Argentina se recusava a aceitar o projeto brasileiro de redução de tarifas de importação e barrava os esforços do Brasil para que o Mercosul apresente uma oferta conjunta para destravar as negociações com a Europa.
 
Ontem, numa reunião em Caracas, a delegação argentina apresentou um veto à lista preparada pelo Brasil e abriu mais uma crise no bloco, que ameaça enterrar o processo de aproximação com a Europa.
 
A reação da Argentina na reunião foi causada por informações de que o Brasil havia feito críticas à condução das negociações por parte deles, especialmente a lentidão na melhoria da oferta. A delegação argentina cobrou explicações do Brasil e a reunião chegou a ser interrompida, mas explicações foram dadas, o Brasil negou ter feito quaisquer críticas e a reunião foi retomada. Depois do incidente, de acordo com fontes do Itamaraty, as negociações passaram a correr bem.
 
O Mercosul espera apresentar uma oferta aos europeus sobre os setores que estaria disposto a liberalizar, em troca de uma ação similar por parte da União Europeia, principalmente no setor agrícola.
A crise com a Argentina vem justamente em um momento que o cancelamento da cúpula entre Europa e Brasil pela presidente Dilma Rousseff caiu como "uma bomba" no meio diplomático em Bruxelas. A presidente argumentou problemas de datas e o evento foi adiado, ainda sem uma nova data.
 
Com isso, pelo menos cinco iniciativas diferentes ficam suspensas entre o Brasil e a União Europeia, incluindo o debate sobre o setor aéreo, a proposta de um entendimento sobre investimentos e, claro, as negociações comerciais com o bloco do Mercosul.
 
"Não nos culpem depois se optarmos por dar prioridade para a Ásia", declarou um diplomata europeu, visivelmente irritado com a atitude de Dilma de cancelar uma cúpula duas semanas antes do evento. "Não vamos ficar esperando pelo Mercosul", disse.

14 de fevereiro de 2014
Jamil Chade e Lisandra Paraguassu - O Estado de S.Paulo

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