"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

NÃO. NÃO PODE ACONTECER.


          Artigos - Conservadorismo 
Não é só abominável matar. É abominável pensar que se pode matar outra pessoa para defender uma idéia.
Jesus teria vindo ao mundo para resgatar uma só alma e por uma só alma teria entregado na cruz seu sofrimento e seu sangue.

Um bom dia desafiaram Chesterton na rua sobre um tema de doutrina, e ele se foi para sua casa para escrever Ortodoxia, uma de suas obras capitais. Eu não sou Chesterton, nem tenho seu talento nem o espaço para escrever outra obra parecida. Porém, tampouco me deixo desafiar em vão, como o fez Rudolf Hommes em sua bem conseguida coluna do domingo passado.
Neste escrito, Hommes nos propunha a Álvaro Uribe e a mim, que disséssemos que nos pareceria abominável o crime que se cometeu contra Aída Avella, ou contra Petro, ou contra Iván Cepeda, ou contra Piedad Córdoba.
Tal coisa ajudaria a pôr contra a parede os bandidos que quiseram fazer isso ou algo parecido.
 
Em pouco me ocupa o doutor Hommes com seu cordial desafio. Porque não somente me pareceria abominável um crime desses, senão que me antecipo a declarar abominável a só ameaça ou advertência de cometê-lo. E não me limito à declaração pedida, mais ou menos concisa, que qualquer um poderia supor mais ou menos desmotivada. Vou muito além, jogando em cima de mim a responsabilidade de explicar a razão do meu dito e suas profundas conseqüências.
 
A vida humana é sagrada, não porque os mil códigos penais o digam, nem porque está escrito nos Direitos do Homem e do Cidadão, que redigiram na Revolução Francesa, nem porque o secretário da ONU repita isso diariamente. A vida humana é sagrada porque esse é o primeiro e fundamental dos princípios do Direito Natural, que existe além de qualquer formulação positiva que o desenvolva e precise. Para um cristão, como eu sou, Jesus teria vindo ao mundo para resgatar uma só alma e por uma só alma teria entregado na cruz seu sofrimento e seu sangue. O valor de uma vida, a mais humilde, é maior que o de todas as coisas que giram em nosso universo.
 
Pertenço a uma corrente de pensamento que politicamente se expressa por esses lados como conservadora e que no mundo europeu se chama liberal. Dessa doutrina o grande Suárez pôde tirar sua definição do conservadorismo, como o partido do Direito. E o Direito é a regra e medida dos atos dos que entram em comunidade com outros. Só pelo respeito a essas regras essenciais é fecunda e próspera a convivência humana. De outro modo não seria possível, como com freqüência se nos ocorre que é a nossa.
 
O Direito Político não pode se levantar, senão a partir de algumas pautas axiológicas fundamentais. E a primeira é o respeito à vida de todos, sem que o estorvem diferenças de opinião, distâncias de pareceres sobre a organização social, controvérsias de qualquer intensidade sobre a coisa pública. Não há concessão possível na matéria.
 
Ninguém tem direito de matar outro. Semelhante extremo seria possível nos limites da legítima defesa e no estado de necessidade, que uma classe particular de agentes, os membros das Forças Armadas, desempenha por cada um, no trágico caso em que isso fosse mister.
 
Dificilmente encontraria pessoas mais distantes das idéias e crenças em que me movo sobre os temas essenciais da sociedade e do Estado que as que Hommes cita. Porém, não há assunto que me movesse de minha linha de conduta. A violência é a razão da sem-razão. É a capitulação ante o fenômeno essencial da Política. É a barbárie que quer apagar 25 séculos de tentativa civilizatória. Por isso me parecem tão pobres de espírito os que matam, seqüestram, assaltam, dizem que em defesa de seus ideários. Pobres selvagens, carentes de tudo, especialmente de fé na causa que dizem servir.
 
Aos que quiseram me matar lhes guardo profunda compaixão. Se os odiasse me pareceria a eles, que é a última coisa que queria deixar para meus filhos e meus compatriotas como lembrança de minha vida. Essa é minha resposta.
 
14 de fevereiro de 2014
Fernando Londoño Hoyos
Tradução: Graça Salgueiro

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