Os últimos relatórios divulgados no mês passado sobre a desaceleração no crescimento da atividade industrial global iniciada em final de 2017 revelam que esta desaceleração realmente alcançou um patamar preocupante, já que ela continua apresentando uma progressiva escalada que pode levar o segmento a uma retração de âmbito mundial. Indicadores universais ilustram bem o grau com que o conflito comercial entre os EUA e a China vem afetando o crescimento.
Infelizmente, o desempenho mundial do setor segue se enfraquecendo, sem ao menos sinalizar em algum momento indícios de alívio ou, até mesmo, apresentar alguma possibilidade de repique de alta. Isso nos remete a outubro de 2008, quando o banco Lehman Brothers declarou falência, tornando-se o verdadeiro estopim da crise nos EUA (subprime), aquela que modificou totalmente o panorama da economia mundial pelos impactos que causou mundo afora.
Este cenário justifica muito bem a guinada estratégica “dovish” (taxa de juros mais baixa e menor preocupação com a inflação) que vem sendo praticada há algum tempo por alguns Bancos Centrais ao redor do planeta. Aliás, a economia global, nesses últimos anos, tem passado por um estado de alerta permanente. Os banqueiros centrais estão decididos a não permitir que a deterioração avance ainda mais, uma vez que as ferramentas clássicas de combate à estagnação da economia tornaram-se limitadas, justamente por praticarem taxas de juros demasiadamente baixas.
Por outro lado, o mais interessante é que algumas nações desenvolvidas e emergentes não parecem nem de perto refletir a deterioração da atividade global. Os mercados seguem em um ambiente supostamente positivo, sustentados pela tese de que “más notícias são boas notícias”.
Viciados nas maravilhas das primeiras rodadas de “quantitative easing” (política monetária expansionista no combate a recessões econômicas), após o “crash” do “subprime” (crise americana), desde então, nas ocasiões em que os bancos centrais flexibilizaram a política monetária de forma não convencional ou simplesmente ameaçaram fazer isso, os investidores têm reagido positivamente, sendo compradores de ativos de risco em praças desenvolvidas e emergentes.
Na verdade, ainda não chegamos à uma recessão porque o consumo, os mercados de trabalho e os serviços ainda estão aparentemente sustentando a economia. Até então, o enfraquecimento concentra-se na indústria, porém com o comércio em processo de contaminação, correndo um sério risco de ser disseminado para o conjunto da economia devido aos inúmeros vínculos que o setor estabelece com outras atividades produtivas. Sem dúvida, a situação poderá se agravar ainda mais se as elevadas tensões comerciais não forem resolvidas ou se políticas macroeconômicas falharem em se ajustar à mudança de circunstâncias.
Analistas econômicos temem que esse desaquecimento global nos domínios da indústria possa levar à perda de empregos e atingir o setor de serviços, que em muitos países ainda é um ponto de certa forma, positivo. A possibilidade de cortes na taxa de juros dos EUA e de mais estímulo econômico do Banco Central Europeu (BCE) poderá reforçar a confiança e impulsionar os mercados financeiros, todavia isso não levará a uma recuperação do setor industrial.
A economia mundial envia sinais de que já estamos entrando num período de pré-crise de acordo com previsões que apontam uma desaceleração no seu crescimento. É quase inconcebível que ela permaneça saudável diante de sérios problemas econômicos tanto na China quanto nos Estados Unidos, deixando de lado seus conflitos sobre comércio e tecnologia. A Europa não tem energia econômica e as incertezas associadas ao Brexit, os protestos franceses, a transição política alemã e o populismo italiano significam que o continente tem mais probabilidade de ser uma fonte de problemas do que realmente de solução.
06 de agosto de 2019
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
Infelizmente, o desempenho mundial do setor segue se enfraquecendo, sem ao menos sinalizar em algum momento indícios de alívio ou, até mesmo, apresentar alguma possibilidade de repique de alta. Isso nos remete a outubro de 2008, quando o banco Lehman Brothers declarou falência, tornando-se o verdadeiro estopim da crise nos EUA (subprime), aquela que modificou totalmente o panorama da economia mundial pelos impactos que causou mundo afora.
Este cenário justifica muito bem a guinada estratégica “dovish” (taxa de juros mais baixa e menor preocupação com a inflação) que vem sendo praticada há algum tempo por alguns Bancos Centrais ao redor do planeta. Aliás, a economia global, nesses últimos anos, tem passado por um estado de alerta permanente. Os banqueiros centrais estão decididos a não permitir que a deterioração avance ainda mais, uma vez que as ferramentas clássicas de combate à estagnação da economia tornaram-se limitadas, justamente por praticarem taxas de juros demasiadamente baixas.
Por outro lado, o mais interessante é que algumas nações desenvolvidas e emergentes não parecem nem de perto refletir a deterioração da atividade global. Os mercados seguem em um ambiente supostamente positivo, sustentados pela tese de que “más notícias são boas notícias”.
Viciados nas maravilhas das primeiras rodadas de “quantitative easing” (política monetária expansionista no combate a recessões econômicas), após o “crash” do “subprime” (crise americana), desde então, nas ocasiões em que os bancos centrais flexibilizaram a política monetária de forma não convencional ou simplesmente ameaçaram fazer isso, os investidores têm reagido positivamente, sendo compradores de ativos de risco em praças desenvolvidas e emergentes.
Na verdade, ainda não chegamos à uma recessão porque o consumo, os mercados de trabalho e os serviços ainda estão aparentemente sustentando a economia. Até então, o enfraquecimento concentra-se na indústria, porém com o comércio em processo de contaminação, correndo um sério risco de ser disseminado para o conjunto da economia devido aos inúmeros vínculos que o setor estabelece com outras atividades produtivas. Sem dúvida, a situação poderá se agravar ainda mais se as elevadas tensões comerciais não forem resolvidas ou se políticas macroeconômicas falharem em se ajustar à mudança de circunstâncias.
Analistas econômicos temem que esse desaquecimento global nos domínios da indústria possa levar à perda de empregos e atingir o setor de serviços, que em muitos países ainda é um ponto de certa forma, positivo. A possibilidade de cortes na taxa de juros dos EUA e de mais estímulo econômico do Banco Central Europeu (BCE) poderá reforçar a confiança e impulsionar os mercados financeiros, todavia isso não levará a uma recuperação do setor industrial.
A economia mundial envia sinais de que já estamos entrando num período de pré-crise de acordo com previsões que apontam uma desaceleração no seu crescimento. É quase inconcebível que ela permaneça saudável diante de sérios problemas econômicos tanto na China quanto nos Estados Unidos, deixando de lado seus conflitos sobre comércio e tecnologia. A Europa não tem energia econômica e as incertezas associadas ao Brexit, os protestos franceses, a transição política alemã e o populismo italiano significam que o continente tem mais probabilidade de ser uma fonte de problemas do que realmente de solução.
06 de agosto de 2019
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).