Este texto, vindo à luz no início de nosso blog como independente, em 02 de Outubro de 2011, foi um dos posts que me deu mais prazer em publicar.
Faz 3 anos de sua publicação, e acredito que muitos leitores de hoje não o leram. Peço licença para republicá-lo, apenas para lembrar de uma heroína da Segunda Guerra Mundial que ficou oculta nas sombras da História. A montagem da ilustração foi feita pelo nosso saudoso editor Giulio Sanmartini.
No dia 12 de Maio de 2008 cerrava-se o véu da vida sobre Irena Sendler. Não sabem quem é? Era apenas mais uma heroína desconhecida da Segunda Grande Guerra, no estilo de Oskar Schindler, que ficou conhecido em meio mundo graças a Steven Spielberg. Irena Sendler era uma heroína desconhecida fora do seu país, a Polônia, e apenas reconhecida por alguns historiadores, já que os anos de obscurantismo comunista havia apagado a sua façanha dos livros de história oficiai, como é de hábito, infelizmente, nos idiotas esquerdistas.
QUANDO UMA SÓ PESSOA FAZ A DIFERENÇA
Ela nunca contou a ninguém nada da sua vida durante todos aqueles anos. Em 1999 a sua história começou a ser conhecida, e foi graças a um grupo de alunos de um Instituto do Kansas, EUA, e ao seu trabalho de final de curso sobre os heróis do Holocausto. Na investigação deram com poucas referências sobre Irena e somente existia um dado surpreendente: Era um católica romana que tinha salvado a vida de 2.500 meninos judeus! Como era possivel que existisse tão pouca informação sobre uma pessoa assim? Quando buscaram sua tumba, não a encontraram, porque ainda estava viva. Foram vê-la e obtiveram seu depoimento pessoal. Vivia em um asilo no centro de Varsóvia.
Irena Sendler, née Krzyżanowska, depois Sendlerowa, era uma polonesa, enfermeira e assistente social que vivia em Varsóvia, trabalhando no Depto de Bem-Estar Social, que cuidava das salas de jantar comunitárias da cidade, em 1939, quando a Alemanha invadiu o país. Em 1942, os alemães confinaram os judeus no infame gueto de Varsóvia e Irena, horrorizada pelas condições de vida naquele lugar, uniu-se ao Conselho para Ajuda aos Judeus (Zegota). Conseguiu identificações da oficina sanitária, sendo que uma das tarefas era a luta contra as doenças contagiosas. Como os alemães invasores tinham medo de que se desencadeasse uma epidemia, aceitavam que os poloneses controlassem o lugar. Logo ela entrou em contato com famílias às quais se oferecia para levar os filhos com ela para fora do gueto. Mas não podia dar garantias de sucesso. Era um momento horroroso, tinha de convencer os pais de que lhe entregassem seus filhos e eles perguntavam-lhe: “Pode prometer que meu filho viverá”?… O que poderia prometer quando nem podia saber se poderiam sair do Gueto? E a única coisa certa era que os meninos morreriam se permanecessem ali. As mães e as avós não queriam separar-se de filhos e netos. Irena as entendia perfeitamente e, naquele então, ela era mãe. De todo o processo que ela levava a cabo com os meninos, o mais duro era o momento da separação. Algumas vezes, quando Irena ou suas companheiras tornavam a visitar as famílias para tentar fazê-las mudar de opinião, ficava sabendo que todos tinham sido levados ao trem que os conduziria aos campos de extermínio. Cada vez que isso acontecia, ela lutava com mais força para salvar as crianças. Começou a tirá-las em ambulâncias como vítimas de tifo, mas logo a seguir se valeu de tudo o que estivesse ao seu alcance para escondê-las e tirá-las dali: cestos de lixo, caixas de ferramentas, carregamentos de mercadorias, sacos de batatas, ataúdes… Nas suas mãos, qualquer coisa se transformava numa via de escape. Conseguiu recrutar ao menos uma pessoa de cada um dos dez centros do Departamento de Bem-estar Social. Com a ajuda dessas pessoas elaborou centros de documentos falsos, com assinaturas falsificadas, dando identidade temporária aos meninos judeus. Irena vivia os tempos da guerra pensando nos tempos da paz. Por isso não se cansava de manter com vida esses meninos. Queria que um dia pudessem recuperar seus verdadeiros nomes, sua identidade, suas histórias pessoais, suas famílias. Foi quando criou um arquivo que registrava os nomes dos meninos e as suas novas identidades. Anotava os dados em pedaços pequenos de papel que enterrava dentro de potes de conserva, debaixo de uma macieira, no jardim do seu vizinho. Guardou, sem que ninguém suspeitasse, o passado de 2.500 meninos… até que os nazistas foram embora acabando com o gueto. Mas um dia os nazistas souberam das suas atividades. Em 20 de Outubro de 1943, Irena foi detida pela Gestapo e levada à prisão de Pawiak onde foi brutalmente torturada. No colchão de palha da sua cela, encontrou uma estampa de Jesus Cristo. E ficou com ela como resultado de uma casualidade miraculosa naqueles duros momentos da sua vida, até o ano de 1979, em que se desfez dela dando-a de presente a João Paulo II. Irena era a única que sabia os nomes e onde se encontravam as famílias que albergaram os meninos judeus. Suportou a tortura e se recusou a trair seus colaboradores ou a qualquer dos meninos ocultos. Quebraram-lhe os pés e as pernas, além de outras inúmeras torturas. Mas ninguém conseguiu romper a sua vontade. Foi sentenciada à morte. Uma sentença que nunca chegou a se cumprir, porque a caminho do local da execução, o soldado que a levava a deixou escapar. Os membros da Zegota o tinha subornado. Mas, oficialmente, ela constava das listas dos executados. A partir de então, continuou trabalhando, mas com uma identidade falsa. No final da guerra, ela mesmo desenterrou os vidros de conserva e fez uso das anotações para encontrar as 2.500 crianças que colocou com familias adotivas. Ajuntou muitas delas aos seus parentes, ainda vivos, espalhados por toda Europa, mas a maioria tinha perdido as suas famílias nos campos de concentração. Os meninos só a conheciam pelo apelido: JOLANTA. Anos mais tarde, quando a sua história saiu num jornal, junto com fotos suas da época da guerra, diversas pessoas começaram a contactá-la para dizer: “Lembro de seu rosto… sou um daqueles meninos, lhe devo a minha vida, meu futuro, e gostaria de vê-la”! Irena tinha no seu quarto fotos com alguns daqueles meninos sobreviventes ou com filhos deles. Seu pai, um médico que faleceu quando ela ainda era pequena, lhe fez memorizar o seguinte: “Sempre ajude a quem estiver se afogando, sem levar em conta a sua religião ou nacionalidade. Ajudar cada dia a alguém, tem que ser uma necessidade que saia do coração”! Ela não se considerava uma heroína, e nunca reinvidicou crédito algum pelas suas ações. “Poderia ter feito mais. Este lamento me acompanhará até o dia de minha morte”. A frase que disse às crianças era: ‘Não se planta sementes de comida. Planta-se sementes de bondade. Tratem de fazer um círculo de bondade, pois ele os rodeará e os fará crescer mais e mais.’ Em 2006 foi proposta para receber o Prêmio Nobel da Paz… mas não foi selecionada. Quem o recebeu foi Al Gore por sua campanha sobre o Aquecimento Global. Nem sempre o prêmio é atribuído a quem mais o merece… Sabemos que o prêmio é político… Hoje, a internet tem um movimento através de emails para, pelo menos, milhões de pessoas possam conhecer sua história e, também, em memória dos 6 milhões de judeus, 20 milhões de russos, 10 milhões de cristãos (inclusive 1.900 sacerdotes católicos ) 500 mil ciganos, centenas de milhares de socialistas, comunistas e democratas e milhares de deficientes físicos e mentais que foram assassinados, massacrados, violados, humilhados e mortos à fome, com os povos do mundo e os próprios alemães muitas vezes olhando para o outro lado. Agora, mais do que nunca, com o recrudescimento do racismo, da discriminação e os massacres de milhões civis em conflitos e guerras sem fim em todos os continentes, é imperativo assegurar que o Mundo nunca esqueça. Gente como Irena Sendler, que salvou milhares de vidas praticamente sozinha, é extremamente necessária.
Texto de apoio: Manuel Franco del Castillo (tradutor)
10 de setembro de 2014MAGU
in blog do Giulio sanmartini