"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O MULTICULTURALISMO DESTRÓI A DIGNIDADE DOS GRUPOS QUE DIZ DEFENDER

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Multiculturalismo: a prática é bem diferente da utopia...

O tema do multiculturalismo é um dos mais importantes da era moderna, especialmente para os países europeus, imersos em um caldeirão cultural cada vez mais agitado e produzindo radicalismo para todo lado. A praga do politicamente correto chegou ao ponto de impedir julgamentos básicos acerca de atrocidades cometidas por indivíduos ou grupos de indivíduos no seio da Europa, só porque vêm de “culturas diferentes”.
João Pereira Coutinho, em sua coluna de hoje, volta ao assunto relatando um caso escabroso ocorrido em uma pequena cidade perto de Londres. Algo como 1.400 menores teriam sido abusadas sexualmente e traficadas para prostituição. Caso se recusassem, eram submetidas a extrema violência. Isso se deu por vários anos, e não em Cabul, mas a três horas da capital britânica. Como pode?
O colunista explica: as “autoridades” locais sabiam, mas nada fizeram. Ou pior: fizeram, contra as vítimas! Afinal, eram brancas, e os “supostos” criminosos eram paquistaneses muçulmanos. Como resume Coutinho, isso foi possível porque “no glorioso mundo do multiculturalismo demente, parece que é pior ser racista, ou acusado de racismo, do que ser pedófilo e cafetão”.
A bizarrice toda só é possível em um mundo que rasgou qualquer critério minimamente objetivo de julgamento moral, enterrou completamente seus valores básicos, seus pilares civilizatórios. Para Coutinho, podemos extrair duas lições do episódio:
A primeira, óbvia, é mostrar como o pensamento politicamente correto não é apenas uma doença intelectual. Na prática, essa doença tem consequências: ao desejar “proteger as minorias” de estigmas e discriminações, os fanáticos do pensamento politicamente correto acabam desprotegendo outras minorias que estariam melhor servidas se a lei fosse igual para todos. Cega e justa.
Mas existe uma segunda lição, menos óbvia, mas igualmente importante: a covardia das autoridades de Rotherham não é apenas uma traição a gente pequena e vulnerável. Também é uma traição para a própria comunidade paquistanesa, sobretudo para os milhares de inocentes que, como lembra o enviado desta Folha, ajudaram a construir o país e a defender o reino na Segunda Guerra Mundial.
Se os criminosos tivessem sido tratados e punidos individualmente, a comunidade paquistanesa não seria confundida com eles. Nem manchada pelos seus crimes. Mas o pensamento politicamente correto não trata os indivíduos como indivíduos. Prefere a atitude totalitária de os tratar em rebanho, removendo-lhes a identidade —e a responsabilidade.
Eis a ironia final: aqueles que defendem a “política de grupos” são os mesmos que destroem a dignidade desses grupos. 
É um resultado esperado da mentalidade coletivista que assola o mundo hoje. Ao enxergar apenas grupos, e não indivíduos, os inocentes pagam o pato dos criminosos só por pertencerem ao mesmo grupo cultural. É a mania de segregar com base em tribos e ignorar a menor minoria de todas: o indivíduo.
Algo como punir todo um time porque alguns torcedores xingaram o adversário. A “culpa coletiva” é altamente injusta, pois exime de responsabilidade aquele que cometeu o erro. Os liberais e conservadores rejeitam tais práticas e pregam, em seu lugar, o império das leis isonômicas, igualmente válidas para todos sob uma mesma nação.
Rodrigo Constantino

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