São profundas as consequências do Covid-19 na economia global, pois trata-se de uma crise como nenhuma outra por ser ela verdadeiramente universal, complexa, incerta, de tal maneira que nenhum país será poupado, o que deixa uma imensa incerteza sobre seu impacto no âmbito corporativo, na vida das pessoas e, principalmente, na sua subsistência.
A grandeza e a velocidade do colapso na atividade econômica mundial são diferentes de tudo o que já vimos, obrigando-nos a mergulhar numa recessão sem precedentes, cuja profundidade vai depender da extensão e da magnitude dos seus efeitos.
Atualmente, alguns analistas econômicos comentam que o impacto na economia brasileira será superior a 5% do PIB (Produto Interno Bruto). Obviamente, tudo irá depender da sua duração no país e, especialmente, da consistência, da celeridade e da eficiência na implementação de políticas e medidas de combate à crise.
Dentro desse contexto, alguns pontos são importantes a considerar, sobretudo, com relação à nossa economia antes dessa crise se instalar. Sua retomada vinha sendo lenta, porém, em alguns momentos, ela apresentou um quadro de estagnação.
Na verdade, o PIB per capita no acumulado de 2017/2019 não conseguiu ultrapassar de 0,3% ao ano, depois de uma retração acumulada de 6% durante o período 2015/2016, o mais crítico que enfrentamos.
Os investimentos realizados pela Formação Bruta de Capital Fixo (indicador macroeconômico que reflete como investimentos correntes em ativos fixos aumentam a capacidade produtiva de uma economia no futuro), infelizmente, hoje, encontram-se num patamar 25% inferior ao de 2014.
Crescem com a crise a nossa dependência pela produção e exportação de commodities, dos produtos de baixa complexidade e valor agregado.
A questão não é somente pela escassez da demanda internacional, mas também, pela queda dos preços. O petróleo bruto, minérios de ferro e produtos siderúrgicos sofrem acentuadas perdas em suas cotações.
Somos dependentes de uma boa parcela de componentes fabricados em regiões seriamente atingidas na China, o que dificulta a nossa produção aqui no Brasil.
O crescimento vertiginoso das incertezas implica no aumento da volatilidade nos mercados financeiros, com impactos nos juros, no câmbio e nas bolsas. As empresas exportadoras atravessam um período dificílimo, com a queda violenta nas suas receitas. A combinação desses efeitos poderá adiar ou até mesmo sepultar novos projetos, investimentos e contratações.
Com esse cenário, torna-se inevitável que o Estado venha a adotar políticas e medidas anticíclicas, em função dos desequilíbrios regionais e de renda existentes, diante da vulnerabilidade em que se encontram milhões de brasileiros.
É fundamental assegurar recursos para expandir exponencialmente a capacidade de atendimento da saúde. Outro ponto relevante está intimamente ligado ao avanço da pandemia que exigirá um esforço brutal para reduzir drasticamente a mortalidade.
Torna-se extremamente necessário que o programa complementar de renda básica venha a chegar o mais rápido possível à parcela da nossa população mais exposta, como moradores de rua, trabalhadores informais e os desempregados, buscando alcançar sua considerável amplitude.
Na semana passada, fomos surpreendidos com uma redução substancial da Selic (taxa básica da economia) caindo de 3,75% para 3% ao ano, uma decisão unânime dos membros do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), com amplas possibilidades de novo corte na próxima reunião em final de junho e com excelentes perspectivas de outros, até o final do ano. Com isso, nada mais oportuno para intensificar linhas específicas de crédito e financiamentos para empresas e famílias, mas em condições bem mais acessíveis do que temos atualmente.
As políticas a serem adotadas pressupõem um custo em torno de R$ 700 bilhões ao ano, o que equivale aproximadamente a 10% do nosso PIB. Naturalmente, esse montante não cabe no Orçamento e, provavelmente, terão que ser ampliadas, com responsabilidade, a emissão monetária e a dívida pública, criando-se dessa forma, condições para que esses gastos sejam assumidos.
Sem dúvida, trata-se de um valor significativo, todavia deixar de fazê-lo representaria um custo econômico e social bastante elevado, de acordo com expectativas previstas para a recessão e suas graves consequências, como a falência de empresas, desemprego nas alturas, deterioração da renda e queda da arrecadação tributária, proporcionando um impacto fiscal negativo.
Vencer essa crise exige romper com paradigmas e requer uma boa gestão para suavizar os seus nefastos efeitos. A grande oportunidade do momento é aproveitar a desvalorização do real e criar programas de estímulo à reindustrialização/reconversão produtiva a fim de atender as nossas reais necessidades, permitindo viabilizar mais empregos e elevar a renda do povo brasileiro.
11 de maio de 2020
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).