"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

POSSIBILIDADE DA CANDIDATURA DE JOAQUIM BARBOSA CAUSA PÂNICO NO PLANALTO - E NO PT

 

http://quintaldanoticia.com.br/wp-content/uploads/2013/06/Dilma-e-Joaquim-Barbosa.jpg

O grande jornalista Carlos Chagas registrou, aqui no Blog da Tribuna, que em Brasília não se fala em outra coisa, desde que foi decretada a prisão dos mensaleiros . Os rumores são de que Joaquim Barbosa pediria aposentadoria em março, para sair candidato a presidente da República.

Essa especulação atingiu em cheio o Palácio do Planalto e o PT. É tudo que a presidente Dilma Rousseff não quer ouvir. Ela continua apostando que o as pesquisas serão favoráveis e o PT vai lhe garantir a legenda. Mas se Joaquim Barbosa entrar na disputa, como se especula na capital, o quadro muda inteiramente.

A presidente Dilma realmente tem motivos para se preocupar. O ministro Barbosa parece estar em campanha 24 horas por dia. Ontem, Dia Nacional da Consciência Negra, ele apareceu em grande destaque na principal coluna de O Globo (de Ancelmo Gois), que é reproduzida em um número enorme de jornais espalhados pelo Brasil. Com chamada na primeira página, foi publicado um texto assinado por Barbosa, incisivo e fortíssimo, sobre a situação dos negros em nosso país. Nada mais eleitoral do que isso.

DE CABEÇA PARA BAIXO

Se Barbosa realmente for candidato, o cenário eleitoral vira de cabeça para baixo, ninguém sabe o que poderá acontecer. O partido ao qual ele se filiaria nem interessa. Não lhe faltam legendas, e certamente não foi por mera coincidência que o PDT anunciou na semana passada que está desembarcando da candidatura de Dilma, a pretexto de um possível apoio ao governador Eduardo Campos. Será um despiste? Dizer uma coisa e fazer outra?

Lula está na expectativa, porque a candidatura de Barbosa significaria o fim das pretensões de Dilma à reeleição. A eleição, com certeza, iria para o segundo turno. Por isso, o PT teria de recorrer a ele como salvação da lavoura.

Ser candidato é tudo que Lula deseja, mas sabe que enfrentar Joaquim Barbosa será uma empreitada muito difícil do que simplesmente atropelar Aécio Neves (ou Serra) e Eduardo Campos (ou Marina), o que até Dilma consegue.

Bem, este é o quadro atual. Parodiando a genial escritora britânica Virginia Woolf, podemos perguntar: “Quem tem medo de Joaquim Barbosa?” E a resposta será: “Todos, inclusive Lula, que de certa forma se beneficia com a candidatura do presidente do Supremo”.

21 de novembro de 2013
Carlos Newton

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE

 
 
21 de novembro de 2013


RANDOLFE, O FOFO DO PARTIDO QUE QUEBRA, DEPREDA E PICHA, QUER SER PRESIDENTE...

 

Assim que ler as primeiras linhas deste texto, um amigo querido vai comentar: “Lá vai o Reinaldo contestar até o PSOL…” Ele acha que compro brigas demais, algumas, diz ele, irrelevantes. Até tendo a achar que ele tem razão. Mas sabe como é… O sapo tem uma natureza, e eu, um rottweiler, também…
Sim, vou falar do PSOL. Sim, vou tratar do lançamento da pré-candidatura do senador Randolfe Rodrigues (AP) à Presidência da República. Sim, numa primeira mirada, não tem importância nenhuma. Leiam o que informa Gabriela Guerreiro na Folha Online. Volto em seguida.
*
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) lançou nesta quinta-feira (21) sua pré-candidatura à Presidência da República. Com o discurso de que será um candidato “legitimamente de esquerda”, o senador disse que seu objetivo é fazer um contraponto às demais candidaturas já colocadas para 2014.
 
O PSOL ainda vai definir o nome de seu candidato à Presidência em congresso que será realizado no final de novembro. A ex-deputada Luciana Genro (PSOL-RS) vai disputar internamente com Randolfe a candidatura da sigla ao Palácio do Planalto –mas o senador tem o apoio da cúpula da sigla, incluindo o presidente Ivan Valente (PSOL-SP).
 
Randolfe disse que sua candidatura não será de “protesto” e sua disposição é entrar na disputa para ser eleito ao Palácio do Planalto — se o PSOL formalizar o seu nome. “Eu quero no dia primeiro de janeiro de 2015 subir a rampa do Planalto como presidente eleito. Vamos disputar para isso.”
 
Valente afirmou que Randolfe deve ser escolhido por ser jovem e disposto a viajar pelo país para divulgar as bandeiras do PSOL. O presidente da sigla disse que não há espaço para o PSOL fazer candidaturas de protesto depois que o partido elegeu o governador do Amapá e quase chegou à Prefeitura do Rio de Janeiro. “O PSOL está em processo de crescimento”, afirmou.
 
A principal bandeira da campanha do senador será a ampliação dos gastos públicos e investimentos em saúde e educação se conseguir ser eleito, na contramão do que prega o governo federal. Randolfe disse que a presidente Dilma Rousseff, que deve disputar a reeleição, e os pré-candidatos Aécio Neves (PSDB-MG) e Eduardo Campos (PSB-PE) são “reféns” do tripé econômico internacional (câmbio flutuante, superavit primário e meta inflacionária).
 
“O dogma das metas de inflação, altas taxas de juros e câmbio flutuante são bandeiras comuns de todos os candidatos. Todos são contra ampliar os investimentos públicos. Como não ter agentes de saúde mesmo com o povo precisando de mais atendimento na saúde, mas ter recursos para favorecer o mercado financeiro? Nós sabemos a quem vamos atender”, afirmou.
(…)


O PSOL vai tentar firmar coligação com o PSTU e o PCB, dois partidos de esquerda, mas ambos já sinalizaram que terão candidatos próprios à Presidência. A cúpula do PSOL diz que fará uma campanha presidencial de baixo custo, com o apoio de sua militância, sem a doação de grandes empresas –como as do agronegócio, bancos ou instituições financeiras, empreiteiras e as que detém monopólios internacionais. “Não vai ter jatinho, vamos voar de aviões de carreira, andar de barco, até na caçamba de caminhão”, disse a ex-senadora Marinor Brito (PSOL-PA).
 
Voltei

Eu me nego a debater o que o senador diz ser “dogma” — até porque, se dogma fosse, deveria mesmo ser preservado. Como dogma não é e como há pessoas estúpidas o bastante para achar que se podem ignorar marcos da estabilidade, discutir o assunto é dar asas a estúpidos.
 
O meu ponto é outro. Vocês viram como ficou a reitoria da USP depois da mais recente invasão. Perdia para um chiqueiro. Violência, desrespeito ao bem público, delírio… O PSOL de Randolfe, o fofo, foi um dos comandantes da invasão. Ainda hoje, o partido impede alguns cursos da FFLCH da universidade de ter aula, em nome de uma greve que não existe. Alunos e professores passam por intimidação. Há um clima de ameaça.
 
No Rio, o PSOL comandou a aloprada greve dos professores, em parceria declarada, assumida por escrito, com os black blocs. Só os pobres se danaram. Só os pobres se ferraram. Não obstante, Randolfe é um do queridinhos da imprensa em Brasília, com seu jeitinho manso, e Marcelo Freixo é o ópio dos subintelectuais do Rio e dos socialistas do Complexo da Ideologia Alemã (Leblon, Ipanema e Copacabana). Recente vídeo de globais convocando um protesto, com endosso ao quebra-quebra, era expressão desse jeito Freixo de ser.
 
Não fosse a violência que essa gente promove cotidianamente nas universidades e no movimento sindical, eu deixaria Randolfe de lado. Mas não deixo, não. Ah, sim: Randolfe não é consenso no partido, não, tá? Há quem o ache moderado demais.
 
21 de novembro de 2013
Reinaldo Azevedo

BARBOSA AUTORIZA GENOINO A SE TRATAR EM CASA OU EM HOSPITAL.

Ainda não é prisão domiciliar

O ministro Joaquim Barbosa deferiu em parte o pedido da defesa de José Genoino, e ele poderá se tratar em casa ou em unidade hospitalar até que se tenha uma avaliação mais precisa sobre a sua saúde.
Barbosa pediu que o boletim médico do IC-DF (Instituto de Cardiologia do Distrito Federal) lhe seja enviado tão logo produzido. Ainda não é prisão domiciliar.
 
O ministro fez o certo. O que me parece é que, dado o estado de saúde de Genoino, era imprudente que estivesse em casa, antes da decretação da prisão, não é mesmo?
 
PERGUNTA – Até quando os sites e portais continuarão a informar o “princípio de infarto”, que é uma expressão da medicina criativa? Ou Genoino teve um infarto ou teve outra coisa. O quê?
 
21 de novembro de 2013
Reinaldo Azevedo

GENOÍNO - NÃO EXISTE PRINCÍPIO DE INFARTO.

ISSO É UMA INVENÇÃO DA TIA DO ADVOGADO DO PETISTA!

Luiz Fernando Pacheco, advogado de José Genoino, afirma que ele sofreu um princípio de infarto. É mesmo? Torço, podem acreditar nisto, para Genoino se recuperar e fico, então, mais tranquilo. PRINCÍPIO DE INFARTO, LEITOR, NÃO EXISTE. É UMA INVENÇÃO DA SUA TIA, DA TIA DO PACHECO, DOS SEUS VIZINHOS, DO DIZ-QUE-DIZ-QUE. Ou existe o infarto, que infarto é — não um “princípio” —, ou existe outra coisa.
 
Como pode atestar qualquer médico — não sei o que diriam os cubanos de Dilma —, o infarto é uma obstrução da coronária, que provoca uma necrose no coração. Não existe uma “quase necrose”. A necrose não é como a verdade para o PT, que pode ser e não ser ao mesmo tempo. Genoino teve uma disseção da aorta, que é outra coisa.
Podem pesquisar. Podem falar com doutores. O risco de o petista ter um infarto não é maior por isso;  é o mesmo do de qualquer outra pessoa nas suas condições: pressão alta, colesterol elevado e fumante. Segundo o advogado, Genoino passou mal e foi levado para fazer exames no Incor de Brasília.
 
Já recomendei aqui e volto a fazê-lo: Pacheco precisa tomar um pouco mais de cuidado ao falar com a imprensa. Ele já havia dado a entender que um perito médico recomendara a prisão domiciliar para Genoino. O doutor teve de deixar claro que era mentira. Limitara-se a relatar o estado do paciente. Pacheco esclareceu depois que havia apenas feito uma livre interpretação do laudo médico.
 
Agora, ele volta com a história do “princípio de infarto”, que, certamente, não lhe foi fornecida por nenhum médico — nem que a médica fosse a tia de Pacheco.
 
Reitero: Genoino está doente, sim, e sua saúde, sei de fonte certa, inspira cuidados. O que o PT faz, no entanto, com esse fato passa a linha do razoável. E o faz com a concordância do doente. O militante que assinou contratos fraudulentos de empréstimo agora endossa uma pantomima sobre a sua saúde.
De novo para os que insistem em não tirar as patinhas dianteiras do chão: ele está doente, sim; o que é deprimente é o uso político que se faz disso. Bem, já vimos que nem o câncer intimida o PT, não é? Tanto o de Lula como o de Dilma foram parar no palanque.
 
Conforme este blog revelou ontem com exclusividade, Genoino — com a concordância do criativo Pacheco — dispensou o exame médico preventivo do IML na sexta, quando se entregou à Polícia Federal em São Paulo. Se a viagem a Brasília fosse desaconselhável, como se tenta sustentar agora, o exame poderia tê-lo indicado.
 
Jornalismo é precisão. A imprensa não pode sair por aí noticiando “princípio de infarto”. Daqui a pouco vai se dar a notícia da moça que está quase grávida. Que Deus e a medicina protejam a vida do petista.
O que quer que venha a acontecer com ele, à diferença do que sustenta essa gente asquerosa, que transforma tudo em baixa política, não tem nada a ver com a decretação da prisão. Quem escreve é um fumante: o cigarro foi o grande inimigo de Genoino, não Joaquim Barbosa; a alimentação inadequada e a falta de exercício o agrediram muito mais do que a condenação.
É hora de pôr um ponto final nessa farsa.
 
21 de novembro de 2013
Reinaldo Azevedo

MENSALÃO: NO CASO GENOÍNO, HÁ UMA TORCIDA SINISTRA PARA TORNÁ-UM "MÁRTIR"

 

Genoino no momento em que se entregou à Polícia Federal, em São Paulo: partidos políticos costumam atropelar tudo o que for possível para atingir seus objetivos. No caso de Genoino, há quem torça para que ele se torne um "mártir" do mensalão (Foto: Ivan Pacheco)
Genoino no momento em que se entregou à Polícia Federal: partidos políticos costumam atropelar tudo o que for possível para atingir seus objetivos. No caso de Genoino, há quem torça para que ele se torne um “mártir” do mensalão (Foto: Ivan Pacheco)

Antes tarde do que nunca — e cautela nunca é demais: hoje, quinta-feira, 21, o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, determinou provisoriamente a prisão domiciliar ao deputado José Genoino, um dos condenados no caso do mensalão, que passou mal na Penitenciária da Papuda, em Brasília, onde está detido desde sexta-feira passada.
 
O ex-presidente do PT foi levado ao Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, após passar mal no Complexo da Papuda. A decisão do presidente do Supremo é provisória e tem validade até que uma junta médica de cardiologistas analise o quadro clínico do mensaleiro.
 
Antes, Barbosa já ordenara a realização dessa perícia médica para analisar o estado de saúde do deputado. Em sua decisão, o ministro destacou que a avaliação de Genoino deveria ser feita por, no mínimo, três médicos cardiologistas indicados pelos diretores do Hospital Universitário de Brasília (HUB). O ministro quer saber se, para o adequado tratamento do deputado, é necessário que ele permaneça em sua casa, em prisão domiciliar, ou internado em unidade hospitalar.
Acho que o ministro Joaquim demorou, mas fez a coisa certa.
Com saúde de ninguém se brinca — seja ele quem for.
 
E, no caso, por chocante que possa parecer dizer e escrever isso, há no ar um sinistro aspecto de “torcida”, que se nota por parte de gente do PT, para que a saúde de Genoino se deteriore a ponto de que ele se torne um “mártir” no caso do mensalão, cujas condenações, como se sabe, o PT não aceita por considerar que houve um “julgamento político”.
 
Partidos políticos, sobretudo os fanatizados por ideologias, passam por cima de tudo o que for possível atropelar para atingir seus objetivos. Se as condições de Genoino convergirem para que o PT use sua imagem como a de um “mártir”, não tenho dúvidas de que isso será feito.
 
Ninguém em sã consciência, ninguém com os sentimentos medianos de uma decente pessoa deseja que o deputado piore de saúde ou — Deus não permita — morra. Uma coisa é combater as ideias de um político. Outra, muito diferente, e detestável, é desejar-lhe mal como pessoa. Quem acredita nos direitos humanos e os defende para todos os cidadãos não pode pensar assim. E o cenário de um detento com direito à prisão semiaberta morrendo no regime fechado, por falta de vagas, além de significar uma tragédia para a família do deputado jogaria no lixo o julgamento mais importante da história recente do país, revertendo dramaticamente o sentimento espalhado pelo país de que, enfim, se fez justiça num caso envolvendo poderosos.
 
Assim que Genoino foi preso, sua defesa em juízo encaminhou pedido de prisão domiciliar alegando ser “grave” seu estado de saúde. Pessoalmente, não tenho razão alguma para duvidar. O réu condenado sofreu uma cirurgia no meio do ano para reparar uma ruptura na parede interna da aorta, a mais importante artéria do corpo, e, no hospital Sírio-Libanês, enquanto se recuperava, sofreu um pequeno derrame. Sua hospitalização durou mais de dois meses.
 
Laudo do Instituto Médico Legal (IML) atesta que ele precisa de alimentação especial e medicamentos adequados. A perícia concluiu que Genoino é “paciente com doença grave, crônica e que necessita de cuidados gerais”.

21 de novembro de 2013
Ricardo Setti - Veja

A CIÊNCIA ECONÔMICA E O SUBMUNDO

            
          Artigos - Cultura 
A destruição da economia global que está em andamento não é acidental. A irracionalidade contida na raiz dessa destruição foi compreendida bem antes do início do século XX.

Enquanto a economia depende do lado racional do homem, a humanidade, não obstante, busca o irracional. Nós queremos nossa fatia do bolo. Queremos almoço grátis, convênio de saúde grátis e aposentadoria sem custos. Mas nada é de graça. Alguém tem de pagar. Assim diz a ciência econômica.

Quando dizemos que a economia é uma ciência, o homem comum logo faz a associação à física e à biologia. Entretanto, a economia é um tipo diferente de ciência. De acordo com a Escola Austríaca, a economia é uma ciência a priori que “pressupõe um comportamento propositado (que) tenha o poder de afastar ou pelo menos aliviar o seu desconforto”.
O processo pelo qual esse grande alívio se torna possível chama-se capitalismo ou livre mercado. O que quer que alguém tenha a dizer contra o livre mercado, não há alternativa viável.
De acordo com Mises, em seu livro A Mentalidade Anticapitalista,

“O surgimento da economia como nova forma de conhecimento foi um dos eventos mais significativos da história da humanidade. Ao preparar o caminho para a empresa capitalista privada, ela transformou, em poucas gerações, todos os acontecimentos humanos de forma mais radical do que milhares de anos anteriores haviam conseguido”.

Ainda mais surpreendente é que a ciência econômica e a transformação capitalista da vida humana foi obra de um pequeno número de autores cujos livros influenciaram uma igualmente diminuta parcela de homens de estado. Como explicou Mises,

“Não apenas as massas indolentes, mas também a maioria dos homens de negócios que, por meio do seu comércio, tornaram eficientes os princípios do laissez-faire não conseguiram compreender as formas essenciais como agem esses princípios. Mesmo no apogeu do liberalismo, somente alguns tiveram conhecimento integral do funcionamento da economia de mercado”.


Foi uma louca história como um punhado de pensadores começou a entender a ciência econômica. Mais raro ainda, em termos de política, que um punhado de homens de estado tenha conseguido colocar em prática os apontamentos ali descobertos.
Como explicou Mises, “a civilização ocidental adotou o capitalismo por recomendação de uma pequena elite”.
Por sua essência, o capitalismo sempre esteve pendurado por um fio; porquanto, com qual frequência podemos encontrar inteligência suficiente nas classes dominantes? Quão frequentemente um gênio passa despercebido? Afinal, todo homem é um gênio em sua própria mente.

Pense como os vários gênios que produzem tão poucas coisas de valor a partir dos seus egos inflados hoje naturalmente amaldiçoam qualquer um cujo pensamento esteja em um patamar mais alto. Com efeito, a cruel história humana sugere que uma verdadeira e digna ciência social (ou econômica) é tão improvável quanto um rato correndo atrás do gato, pois tudo aquilo que toca nas estruturas sociais e institucionais deve necessariamente acabar como vítima de poderosos interesses e paixões políticas.

Ainda assim a ciência econômica conseguiu operar seu milagre. Maravilhas tecnológicas e riquezas agora abundam. Nossos ancestrais dificilmente poderiam imaginar o mundo moderno. Ao mesmo tempo, uma nuvem sombria se aproxima. Os poucos inteligentes foram sobrepujados pela esmagadora maioria. Ninguém pode ser tão ingênuo a ponto de imaginar que a história é apenas a história do progresso. Se estivermos prestando atenção, lembraremos do ditado, “tudo aquilo que sobe, desce.”

Se a praxeologia é o estudo dedutivo da ação humana, então devemos considerar a existência de dois tipos de ação:
(1) ações racionais;
(2) ações irracionais.

Encontra-se na humanidade um lado obscuro – muitas vezes autodestrutivo e paranoico, agressivo e homicida.
Ao observar isso, Freud descreveu aquilo que ele veio a chamar de pulsão de morte (todestrieb em alemão).
Sua hipótese era que o instinto mortal poderia efetivamente se opor à racionalidade e à civilização. Um dos grandes pensadores da psicologia moderna, Carl Jung, propôs a existência das “sombras”, que faz referência aos elementos instintivos e irracionais da psique que estão propensos à projeção psicológica.
Como descrito primeiramente por Freud, a projeção psicológica é um mecanismo de defesa em que nossas próprias deficiências morais são percebidas como pertencentes a outras pessoas.
É uma espécie de paranoia encontrada no ladrão que acredita que os outros estão planejando dar um fim nele. Pode também ser visto como um aspecto da mentalidade anticapitalista. Nesse caso, o mercado se torna um quadro ao qual todos os males da sociedade humana são projetados.
O mercado é, portanto, retratado negativamente, enquanto às personalidades malignas que se opõem ao mercado lhe são atribuídos motivos totalmente cândidos.

Jung alertou que um ser humano que entra no estado de projeção psicológica pode se tornar “possesso” por sua sombra. Jung escreveu: “um ser humano possuído por sua sombra está postado em sua própria luz, caindo em suas próprias armadilhas...”.

Durante as primeiras décadas do século XX, Jung temeu que a possessão pela sombra estivesse crescendo. Com o advento do totalitarismo e o declínio do laissez-faire, Jung observou que a religião estava sendo substituída pela ideologia política a tal ponto, que um crescente número de pessoas estavam sujeitas à possessão sombria.
Pior ainda, Jung disse que uma pessoa pode estar possuída pelo lado sexual oposto da sua personalidade, pois cada homem tem uma pequena parte de mulher em si e cada mulher tem uma pequena parte de homem. Se um homem se torna possesso pelo seu lado feminino, essa possessão chama-se anima. Se uma mulher se tornar possessa pelo seu lado masculino, então a possessão é animus.

Acerca desse assunto, Jung observou que “nesse estado de possessão” por anima/animus “ambas as figuras perdem seu encanto e seus valores”. Nesse caso, constata-se um mundo em que homens viraram mulheres e mulheres viraram homens.
Os homens assim não são mulheres de charme e graça, são apenas fracos e mornos. Ao mesmo tempo, mulheres que tentam fazer o papel da força e dos princípios acabam por ser dominadoras e errôneas. Tudo é então colocado na cabeça: desordem substituindo ordem, escuridão substituindo luz, o desejo de morte inconscientemente ganhando vantagem sobre a vida...

Um dos primeiros sintomas, como observado por Jung, é a perda da grande arte. Quando o manancial da criatividade, o inconsciente, toma o lugar do consciente, então ele não pode mais exercer sua função criativa. Em vez disso, a arte passa a apresentar algo parecido com a pulsão de morte freudiana. Como escreveu Jung em sua obra ‘Presente e Futuro’,

“o desenvolvimento da arte moderna com sua tendência aparentemente niilista de dissolução deve ser entendido como sintoma e símbolo de um espírito universal de decadência e de renovação do nosso tempo. Esse espírito se manifesta em todos os campos, tanto político como social e filosófico”.

Podemos acrescentar também que essa disposição tem ultimamente se manifestado na economia.

A destruição da economia global que está em andamento não é acidental. A irracionalidade contida na raiz dessa destruição foi compreendida bem antes do início do século XX.
A destruição da economia global e da civilização foi aludida nos escritos de visionários do século XIX como Dostoievski, Kierkegaard e Nietzsche.
Foi Dostoievski quem previu que o socialismo viria a matar 100 milhões de pessoas na Rússia durante o século XX. Décadas antes do século XX, Kierkegaard alertou contra a vã arrogância da opinião pública, a democracia hedonista e a tóxica cultura do autoengano.
Mais famoso ainda, mas ainda menos compreendido, Friedrich Nietzsche alertou que o cristianismo estava morrendo por dentro, que Deus havia sido sepultado nas igrejas. Nietzsche previu um período de dissolução e destruição gradual que duraria 200 anos, indo de 1888 até 2088, onde o “advento do niilismo europeu” levaria ao cesarismo (i. e., totalitarismo) e à guerras cujo escopo destrutivo não teria precedentes. Nietzsche não podia suportar o que ele chamou de "otimismo econômico".
Em seu pensamento, o igualitarismo levou embora a autoridade e a inteligência que uma vez reinou sobre os altos postos da civilização. Sem uma ordem de autoridade e inteligência no comando, tudo estava destinado ao colapso.

Ao tentar entender a situação econômica não devemos apenas enfocar na economia. Devemos observar a história, a psicologia, a ciência política e a religião.
Jung disse que estamos vivendo uma era de metamorfose dos “princípios e símbolos”. A transição pela qual estamos passando está cheia de perigos por causa da nossa própria tecnologia, que por sua vez pode nos destruir.
Não apenas a ciência econômica é desdenhada por aqueles que estão no poder, como lamentou Mises, mas há também o problema daquilo que Jung chamou de “atraso moral da humanidade em geral que se mostra hoje inadequada diante do desenvolvimento científico, técnico e social”.
Assim como Mises adotou o individualismo metódico, Jung também disse que tudo dependia de valorizar o indivíduo singular como “unidade infinitesimal de quem depende um mundo, a essência individual, na qual – se percebermos corretamente o sentido da mensagem cristã – o próprio Deus busca a sua finalidade”.

A massa de homens nos dias de hoje, possuída por suas sombras e precipitada ao submundo, opõe-se ao livre mercado por inveja ou ignorância. Contudo, o indivíduo necessita de liberdade e livre mercado, pois a alternativa socialista ameaça riscá-lo dos planos. Isso é algo que não podemos permitir – e mesmo assim está acontecendo diante dos nossos olhos.
De alguma forma, em algum lugar, devemos reverter a atual tendência que ruma à morte universal e à destruição. Homens devem ser homens e mulheres devem ser mulheres. A ignorância deve ser dissipada e a inveja suprimida. Devemos, se quisermos sobreviver.

21 de novembro de 2013
Jeffrey Nyquist
Publicado no Financial Sense.
Tradução: Leonildo Trombela Junior

PLANOS TERRORISTAS DAS FARC RATIFICAM A FARSA DE PAZ EM HAVANA


          Internacional - América Latina 
Ingênuos e defasados os que acreditam em imaginários incoerentes com a metodologia marxista-leninista de guerra revolucionária.

Em que pese não ser nenhuma novidade procedimental nem uma notícia imprevisível, o fato de que a coluna das FARC Teófilo Forero tenha várias personalidades na mira para assassiná-las ou seqüestrá-las, os meios de comunicação e os analistas políticos que sabem tanto do divino quanto do humano em torno à guerra na Colômbia, os meios de comunicação e os mentirosos políticos, continuam empantanados como há três décadas, quando ocorreu a farsa de Casa Verde.


Todos, sem exceção, seguem embelezados na idiotice coletiva de que dentro das FARC há duas alas: a política e a armada. Com base nessa estupidez ratificada por muitos sabichões, dizia-se que Tirofijo encarnava uma ala criminosa-terrorista, mas que, ao contrário, Alfonso Cano era o cérebro pensante, o ideólogo, o político conservador.

E como a mesma direita desinformada e os jornalistas cheios de galardões por sua escassa profundidade investigativa repetiram esse coro, as FARC e os comunistas de todos os matizes encontraram um ponto de apoio a mais para puxar o saco, com a farsa da paz em sucessivos governos e ao próprio povo colombiano.

O espiral tragicômico do assunto é dessa forma enredado e contraditório, pois os computadores de Reyes, Jojoy, Romaña, El Paisa, Sonia la pilosa, Cano, os 33 cabeças abatidos no Meta, etc., confirmaram e re-confirmaram o contrário, que ademais é ratificado diariamente pelos terroristas das FARC fora das mesas de conversação e nos documentos que diariamente as autoridades apreendem: 

1. As FARC como braço armado do Partido Comunista Colombiano e como parte do Movimento Continental Bolivariano, fazem parte do Plano Estratégico do castro-chavismo para meter a Colômbia no curral comunista do “Socialismo do Século XXI”.

2. As FARC negociam para tirar vantagens político-estratégicas, não para entregar as armas, nem para se desmobilizar. Disseram isso em Uribe-Meta, Tlaxcala-México, Caracas-Venezuela, Cravo Norte-Arauca, El Caguán, Oslo e agora em Havana, onde acrescentaram que jamais darão ao governo a oportunidade de tirar uma foto com eles entregando as armas.

3. O que foi alcançado no ponto 1 do “acordo parcial” da agenda em Cuba, resume-se na repetição do estabelecido pelo Partido Comunista com as republiquetas independentes de Marquetalia, Riochiquito, El Pato e El Guayabero, transferidas a outras regiões do país e inseridas dentro das Zonas de Reserva Camponesa, (ZRC), para fortalecer e repetir a vergonhosa palhaçada de uns indígenas encorajadas pelas FARC agredindo soldados que, por ordem do pacifista Santos, não podiam reagir contra os atacantes no Cauca, com zonas controladas pelas FARC e pelos bandidos do Partido Comunista Clandestino.

4. O conseguido no acordo no segundo ponto da agenda, em um suspeito pacto secreto depois da também suspeita libertação de um maluquinho gringo que se meteu em fanfarronices no Guaviare, é sem dúvida a legitimação antecipada do controle político calculado das Zonas de Reserva Camponesa e das republiquetas independentes por parte das FARC, com projeção em desmobilizar as Forças Militares, único elemento tangível que Santos tem para negociar.

5. Belisario Betancur, Pastrana e Santos foram de maneira desaforada atrás do imerecido Prêmio Nobel da Paz. E Santos ainda agregou sua imerecida re-eleição. Porém, como o mar de saliva corre pelos lábios e queixo de muitos ingênuos, por meio de vaidosas fanfarronices Santos pode sair com a sua à custa de entregar o campo colombiano aos comunistas que não saciarão seu apetite com isto, senão que, fortalecidos, buscarão o prêmio maior.

É decisivo pôr os pontos sobre os is. Não há divisão de linhas de concepção revolucionária dentro das FARC, grupo fundamentalista e terrorista. O que os bandidos fazem em Havana é concertado com os demais cabeças, depende do roteiro traçado no Plano Estratégico e é um apêndice de seu plano revolucionário integral comunista. Não há as tais rodas soltas. 

É falso o rumor cretino de que os bandidos que estão em Cuba entrarão para a política e que Joaquín Gómez, com os delinqüentes do Bloco Sul e os do Oriental, continuarão a traficar coca. Não. Isso não é assim.

É mais simples e concreto do que parece. É parte do plano de guerra das FARC contra o capitalismo colombiano. São revolucionários comunistas que buscam o lucro político em cada ação armada ou dialética. Ingênuos e defasados os que acreditam em imaginários incoerentes com a metodologia marxista-leninista de guerra revolucionária.

Concluindo, os planos descobertos pela inteligência militar, com o computador de El Paisa ou sem ele (pois ao que parece, Santos ordenou negar este assunto para evitar que se rompessem as conversações em Havana), assassinar várias pessoas e seqüestrar outras é a lógica da guerra comunista, uma conseqüência óbvia de “conversar em meio ao conflito”, e uma demonstração patética de que os bandidos das FARC que estão em Havana aprovam e coordenam a dupla agenda de falar de paz na ilha, enquanto ampliam redes internacionais de apoio e instigam o narcoterror comunista contra a Colombia. 
Não há pior cego do que o que não quer ver.

21 de novembro de 2013
Cel. Luis Alberto Villamarín Pulido
www.luisvillamarin.com 

Tradução:
 Graça Salgueiro

A PICARETAGEM DO NEOLIBERALISMO

  
          Artigos - Movimento Revolucionário 
Neoliberalismo é algo que serve para palanques e panfletos políticos, não é uma categoria de análise.

Toda vez que vejo um acadêmico usando o termo neoliberalismo para analisar qualquer coisa confesso sentir um grande mal-estar. Dificilmente ele consegue chegar a uma definição exata do que isso significa sem apelar para suas afinidades políticas, econômicas ou particularismos. Dada a insignificância do conceito, o governo Lula é tão neoliberal quanto não neoliberal.


Neoliberalismo simplesmente não funciona como categoria de analise. Não é uma questão de gosto, mas de um termo que é usado e definido sem rigor, caracterizando mais um sentimento político de quem rejeita a economia de mercado do que uma corrente de pensamento ou um conjunto de políticas públicas.

O neoliberalismo às vezes é tomado como um momento histórico (governos na América Latina na década de 1990), um texto fundador (o chamado Consenso de Washington) ou políticas econômicas emanadas por instituições como Banco Mundial e FMI. Pior ainda, pode ser definido como qualquer medida liberal (como privatização, redução de impostos e controle de déficit governamental) feita em governos contemporâneos. Em casos extremos, já vi referências ao governo de Porfírio Diaz (1876-1911), no México, como neoliberal.
Analisemos algumas dessas supostas definições.

O governo Collor é considerado um dos marcos do neoliberalismo no Brasil e na América Latina. Foi esse governo que iniciou a (ainda tímida) abertura econômica no Brasil. Entretanto, foi o mesmo governo que confiscou a poupança e a conta corrente dos brasileiros, o mais longe da heterodoxia intervencionista que os economistas brasileiros foram capazes. Collor não tinha nada de liberal convicto — em Notícias do Planalto, Mário Sérgio Conti relata como Collor tomou emprestado de José Guilherme Merquior um rótulo de “socialista liberal” só para não ficar sem algo para se definir. Na página 336, Conti relata o seguinte diálogo entre Collor e José Guilherme Merquior:

— Embaixador, preciso de uma base ideológica. Falam que eu sou de direita, e para mim a direita é o Delfim Netto e o Roberto Campos. O senhor me vê como político de direita?
— Não. O vejo como um socialista liberal.
— Mas não há uma contradição entre o socialismo e o liberalismo?
— Não. O Norberto Bobbio usa e defende essa classificação — disse o diplomata, apoiando-se nas teorias do cientista político italiano.

É com essa “convicção” que tratam Collor como o marco inicial do neoliberalismo no Brasil. Como menino rico, Collor via que os carros brasileiros eram carroças e podia intuir que mais protecionismo não iria melhorar a base industrial existente, mas Collor não tinha formação intelectual sólida nem convicções liberais. Tanto que, ao confiscar a poupança, quase matou do coração Roberto Campos, como relata o jornalista e ex-assessor do senador pelo Rio de Janeiro, Olavo Luz, no livro ‘Roberto Campos — um retrato pouco falado’ (2002).
Já muitos socialistas brasileiros foram gratos a Collor por poder finalmente comprar um Lada…
Sem convicção liberal, Collor apoiou um plano econômico que era um brutal confisco à propriedade privada porque achava que era a bala que ia matar a inflação. Suas medidas liberalizantes também podem ser lidas da mesma forma, mais pelo fracasso e esgotamento do antigo modelo de substituição de importações do que por um vendaval liberal.

Mesmo a privatização brasileira foi feita desde o final dos anos 1970 mais por pragmatismo do que por ideologia. Um bom histórico sobre o assunto encontra-se em ‘Privatização no Brasil: Por quê? Até onde? Até quando?’, de Armando Castelar Pinheiro, para quem tanto a estatização no Brasil quanto a privatização se deu mais por pragmatismo do que por ventos ideológicos.

O tal Consenso de Washington tem sua origem num texto do economista John Williamson, ‘What Washington Means by Policy Reform’. Escrito no ano 1990, buscava sintetizar o que os países da América Latina deveriam empreender dentro dos pacotes de reformas estruturantes para lidar com a região, que ainda não havia se encontrado após a década perdida.
Estão lá 10 tópicos bastante pragmáticos de como colocar a casa em ordem e obter crescimento de longo prazo, como controlar o déficit público, alocar melhor subsídios, redução (e não eliminação) do protecionismo. Mas também investir mais em educação e saúde para os mais pobres, em infraestrutura para sustentar o crescimento, e ter uma taxa de câmbio flutuante e “competitiva” de forma a incentivar as exportações.
E é dito e repetido que a Argentina foi a aluna mais aplicada do “Consenso de Washington” na década de 90. Mas como é possível apontar para o país do “comitê monetário” (currency board) e dos déficits incontroláveis das províncias e dizer que ela aplicou “fielmente” as “lições” do “Consenso de Washington?” Só mesmo na fantasia dos que acreditam em “neoliberalismo”.

Quem comparar o que já ouviu falar do tal de “Consenso de Washington” e o que de fato está escrito no texto de Williamson vai ter muitas surpresas. O economista chega a afirmar ter dúvidas sobre os benefícios da privatização. “Minha visão pessoal é a de que a privatização pode ser muito construtiva quando resulta em aumento da competição, e muito benéfica quando alivia pressões fiscais, mas eu não estou persuadido de que o serviço público é sempre inferior à ganância privada como força motivadora.”
E cita setores como transporte público e fornecimento de água como áreas em que pode ser mais vantajosa a operação estatal.

Se através de políticas macroeconômicas fica difícil caracterizar um país como neoliberal, na política social tampouco. Vejamos o caso do Bolsa-Escola e as demais bolsas criadas no governo FHC, depois chamadas conjuntamente de Rede de Proteção Social. Eram chamados antes como política neoliberal pela oposição petista.

A linha de argumentação é de que se tratava de um pacote de políticas assistencialistas, que em vez de modificar a estrutura econômica e a participação da renda dos trabalhadores na sociedade capitalista, apenas redistribuía parte dos recursos para alguns, dessa forma aliviando a pobreza e mitigando a mobilização para mudanças de verdade. Havia ainda outra linha, que classificava todos os programas de distribuição de renda com foco nos mais pobres como neoliberais, uma vez que pretendiam substituir as ações universalistas de um gigante estado de bem-estar social. Aí o Bolsa Escola vira Bolsa Família, no governo Lula, e programas semelhantes começam a pipocar na América Latina “bolivariana”, como o “Bônus Juancito Pinto” de Evo Morales, na Bolívia. Evo, adotando política social neoliberal?

Conheço vários intelectuais que defendem o liberalismo político e econômico e eles podem divergir em muitos pontos. Normalmente, quando perguntado por qual corrente se identificariam, podem dizer algo como “austríaco”, “monetarista”, ou mesmo social-democrata ou terceira-via. Nenhum deles se identifica como “neoliberal”, um rótulo usado pela esquerda que foi preenchido com tudo o que esta tendência política não gosta.

A administração Lula manteve a estrutura econômica do governo anterior, o “neoliberal”, mas claro que petistas rejeitam esse tipo de rótulo.
Mas a esquerda da esquerda, o PSOL ou PSTU, continuaram repetindo que o PT traiu os ideais dos trabalhadores e governaram com os grandes banqueiros e o neoliberalismo. Ou seja: neoliberalismo é algo que serve para palanques e panfletos políticos, não é uma categoria de análise. Pena que inúmeros acadêmicos, não só no Brasil, não queiram ver isso, o que provoca enorme dano a discussão séria de ideias.
O que começa nos palanques vai sendo reproduzido como verdade em artigos e livros acadêmicos, criando grupos de picaretas (que sabem que o termo é oco e só serve para atacar adversários) e desavisados. Sendo assim, o governo Dilma que nem começou poderá ser visto como neoliberal ou como não neoliberal, a depender do gosto de quem use a palavra.

21 de novembro de 2013

Renato Lima, jornalista, é mestre em Estudos da América Latina (University of Illinois at Urbana-Champaign) e doutorando em ciência política (MIT).

A KGB E O ASSASSINATO DE JFK: PROGRAMADO PARA MATAR


          Artigos - Desinformação        
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A conspiração do assassinato de Kennedy nascera – e jamais morreria. Em abril de 1977, Yury Andropov, chefe da KGB, informou o Politburo que a KGB estava lançando uma nova campanha de desinformação para implicar ainda mais “os serviços especiais americanos” no assassinato de Kennedy.


N.doT.: 
A entrevista abaixo foi publicada no site FrontPageMagazine em 3 de outubro de 2007. O editor Jamie Glazov entrevistou o general Ion Mihai Pacepa.

A Frontpage Interview hoje recebe o general Ion Mihai Pacepa, o oficial de inteligência de mais alta patente que desertou do bloco soviético.
Em 1989, o presidente romeno Nicolae Ceausescu e a esposa foram executados após um julgamento, onde a maior parte das acusações foram, palavra por palavra, tiradas do livro Red Horizons, de Pacepa.
Esta obra foi publicada em 27 países. O seu mais recente livro é Programmed to Kill: Lee Harvey Oswald, the Soviet KGB, and the Kennedy Assassination.


FP: General Ion Mihai Pacepa, bem-vindo ao Frontpage Interview.
Pacepa: É uma grande honra estar aqui. A sua revista é uma das poucas que entendem totalmente o Kremlin.
FP: Mr. Pacepa, você tem conhecimento direto dos laços da KGB com Oswald, e também teve acesso a documentos da KGB recentemente descobertos. Fale sobre a sua experiência de perito neste assunto e sobre as provas recentemente tornadas públicas. Fale também sobre as suas conclusões.
Pacepa: Moscou, é claro, não admitiu para nós, líderes representantes dos serviços de inteligência soviéticos, qualquer envolvimento no assassinato do presidente Kennedy. O Kremlin sabia que qualquer imprudência poderia dar início à Terceira Guerra Mundial. Mas, durante 15 anos da minha outra vida no topo do serviço de inteligência do bloco soviético, estive envolvido num esforço mundial de desinformação destinado a desviar a atenção do envolvimento da KGB com Lee Harvey Oswald, o marine americano que desertou para Moscou, retornou para os EUA e assassinou o presidente Kennedy.
Lançamos boatos, publicamos artigos e até mesmo livros insinuando que os culpados estavam nos EUA, não na União Soviética. A nossa máxima “prova” foi um bilhete endereçado a “Mr. Hunt”, datado de 8 de novembro de 1963, e assinado por Oswald, cujas cópias foram descobertas nos EUA em 1975. Sabíamos que o bilhete era falso, mas os peritos americanos em grafologia atestaram a sua autenticidade, e teóricos da conspiração o conectaram com o agente da CIA E. Howard Hunt, na época bem conhecido pelo escândalo de Watergate, e o usaram para “provar” o envolvimento da CIA no assassinato do presidente Kennedy.
Documentos originais da KGB existentes no Arquivo Mitrokhin, trazidos à luz na década de 1990, finalmente provaram que o bilhete fôra forjado pela KGB durante o escândalo de Watergate. O falso bilhete foi verificado duas vezes quanto à “autenticidade” pela Technical Operations Directorate (OTU) da KGB e liberado para ser usado. Em 1975, a KGB enviou, do México, três fotocópias do bilhete para entusiastas de teorias da conspiração nos Estados Unidos. [1] (O regulamento da KGB só permitia o uso de fotocópias dos documentos falsificados para evitar o exame meticuloso do original.)
Após o colapso da União Soviética, tive esperança de que os novos líderes em Moscou revelassem a mão da KGB por trás do assassinato do presidente Kennedy. Porém, em 1993, eles publicaram Passport to Assassination: the Never-Before-Told Story of Lee Harvy Oswald by the KGB Colonel Who Knew Him, um livro sustentando que uma investigação completa sobre Oswald não havia encontrado o mínimo indício do envolvimento soviético. [2] Os carrascos não se incriminam a si mesmos.
FP: Você pode dar detalhes sobre o Arquivo Mitrokhin?
Pacepa: Na década de 1990, o oficial da KGB aposentado Vasily Mitrokhin, ajudado pelo M16 britânico, contrabandeou de Moscou cerca de 25 mil páginas de documentos da KGB altamente confidenciais. Representam uma minúscula parte do arquivo da KGB, estimado em cerca de 27 bilhões de páginas (o arquivo da alemã oriental Stasi tinha cerca de 3 bilhões). Mesmo assim, o FBI descreveu o Arquivo Mitrokhin como “o mais completo e extenso arquivo de inteligência jamais recebido de qualquer fonte”. De acordo com este arquivo, o primeiro livro americano sobre o assassinato, Oswald: Assassin or Fall Guy?, que culpa a CIA e o FBI pelo crime, foi idealizado pela KGB. O autor do livro, Joachim Joesten, um comunista americano nascido na Alemanha, ficou cinco dias em Dallas após o assassinato, e em seguida foi para a Europa e sumiu de vista. Poucos meses depois, o livro de Joesten foi publicado pelo comunista americano Carlo Aldo Marzani (New York), que recebeu 80 mil dólares da KGB para produzir livros pro-soviéticos, mais 10 mil dólares por ano para divulgá-los agressivamente. Outros documentos do Arquivo Mitrokhin identificam o primeiro crítico americano deste livro, Victor Perlo, como um agente disfarçado da KGB.
O livro de Joesten foi dedicado ao americano Mark Lane, descrito no Arquivo Mitrokhin como um esquerdista que recebeu dinheiro anonimamente da KGB. Em 1966, Lane publicou o best-seller Rush to Judgment, alegando que Kennedy havia sido morto por um grupo americano direitista. Estes dois livros encorajaram as pessoas com algum conhecimento minimamente relacionado com a matéria a entrar na briga. Cada qual via os acontecimentos da sua própria perspectiva, mas todos acusavam grupos americanos pelo crime. O representante do distrito de New Orleans, Jim Garrison, olhou ao redor do seu distrito doméstico e em 1967 prendeu um homem do lugar, a quem acusou de conspiração com os grupos da inteligência americana para assassinar Kennedy e assim parar os mais recentes esforços de acabar com a Guerra Fria. O acusado foi inocentado em 1969, mas Garrison apegou-se à sua história, escrevendo primeiramente A Heritage of Stone (Putnam, 1970) e por fim publicando On the Trail of the Assassins (Sheriden Square, 1988), um dos livros inspiradores do filme JFK de Oliver Stone.
A conspiração do assassinato de Kennedy nascera – e jamais morreria. De acordo com outro documento, em abril de 1977, Yury Andropov, chefe da KGB, informou o Politburo que a KGB estava lançando uma nova campanha de desinformação para implicar ainda mais “os serviços especiais americanos” no assassinato de Kennedy. Infelizmente, o Arquivo Mitrokhin silencia sobre o assunto daí em diante.
FP: Você descobriu documentos escritos pessoalmente pelo assassino, Lee Harvey Oswald, sugerindo que ele estava ligado ao departamento da KGB para assassinatos no exterior e que voltou aos Estados Unidos vindo da União Soviética apenas temporariamente, em missão. Duas investigações federais e mais de 2500 livros analisaram o assassinato mas ninguém tocou neste assunto. Por quê?
Pacepa: Porque nenhum dos investigadores ou pesquisadores estavam suficientemente familiarizados com as práticas e códigos de operação da KGB. O FBI recentemente disse ao Congresso americano que somente um interlocutor árabe nativo pode captar os sutis detalhes da uma interceptação telefônica da al-Qaida – especialmente ligações com a dupla linguagem de inteligência. Passei 23 anos da minha outra vida falando por meio destes códigos. Até mesmo a minha própria identidade era codificada. Em 1955, quando me tornei oficial da inteligência estrangeira, fui informado que dali em diante o meu nome seria Mihai Podeanu, e Podeanu permaneci até 1978, quando rompi com o comunismo. Todos os meus subordinados – e todos os demais oficiais de inteligência estrangeira do bloco soviético – usavam códigos nos relatórios escritos, ao falar com as suas fontes e até mesmo nas conversas com os seus próprios colegas. Quando deixei a Romênia para sempre, o meu serviço de espionagem era a “universidade”, o líder do país era o “Arquiteto”, Viena era “Videle” e assim por diante.
Em uma entrevista publicada nos EUA, o general da KGB, Boris Solomantin, durante muito tempo representante-chefe do PGU (inteligência estrangeira soviética) disse:

“não me considero um homem que conhece tudo sobre inteligência – como alguns oficiais deste Primeiro Departamento [isto é, do PGU], escritores tentando se mostrar. Em inteligência e contrainteligência somente o homem que está chefiando estes serviços conhece tudo. Estou dizendo isto porque todas as questões sobre criptografia e máquinas de criptografia estavam sob responsabilidade de outro departamento – em uma diretoria fora da minha, similar à sua National Security Agency”. [3]
Durante os meus últimos dez anos na Romênia, também gerenciei o equivalente do país à NSA, e me familiarizei com os sistemas de codificação usados por todo o serviço de inteligência do bloco soviético. Este conhecimento me permitiu perceber que as aparentemente inócuas cartas de Oswald e da sua esposa soviética para a embaixada soviética em Washington, D.C. (disponibilizadas para a Warren Commission) eram mensagens veladas para a KGB. Nelas, encontrei a prova de que Oswald havia sido enviado para os EUA em missão temporária, e que ele planejava retornar para a impenetrável União Soviética após a conclusão da sua tarefa.
Levei muitos anos para separar o joio do trigo enquanto percorria as pilhas de relatórios de investigação gerados pela morte violenta do jovem presidente americano, mas, quando terminei, estava enfeitiçado pela abundânica de impressões digitais da KGB em toda a história de Oswald e do seu assassino, Jack Ruby.
FP: Dê exemplos concretos.
Pacepa: Por exemplo, no bilhete escrito a mão em russo deixado por Oswald para a esposa soviética, Marina, pouco antes de tentar assassinar o general americano Edwn Walker, que serviu como um ensaio para o assassinato do presidente Kennedy. Aquele importantísimo bilhete contém dois códigos da KGB: amigos (código para oficial de suporte) e Cruz Vermelha (código para ajuda financeira). No bilhete, Oswald diz a Marina o que fazer caso ele fôsse preso. Ele reforça que ela deve entrar em contato com a “embaixada” (soviética), que eles têm “amigos aqui” e que a “Cruz Vermelha” vai ajudá-la financeiramente. De particular importância é a instrução de Oswald para ela “mandar para a embaixada a informação do que aconteceu a mim”. Na época, o código para embaixada era “escritório” mas parece que Oswald queria ter certeza de que Marina iria entender que ela devia informar imediatamente a embaixada soviética. É de se notar que Marina nao mencionou este bilhete às autoridades americanas após a prisão de Oswald. Ele foi encontrado na casa de Ruth Paine, uma amiga americana com a qual Marina estava no momento do assassinato.
FP: Segundo a conclusão da Warren Commission e do House Select Committee on Assassinations, Oswald não tinha a menor conexão com a KGB. Mas, de acordo com o seu livro, Oswald encontrou-se secretamente com um oficial do departamento de assassinatos da KGB na Cidade do México poucas semanas antes de matar o presidente Kennedy. Qual a prova disso?
Pacepa: Há muitas evidências sutis provando a conexão de Oswald com a KGB. Um indício tangível é a carta enviada por ele à embaixada soviética em Washington poucos dias antes de se encontrar com o “Camarada Kostin” na Cidade do México. A CIA identificou Valery Kostikov como um oficial do 13° Departamento da PGU para “wet affairs” (expressão na qual wet é um eufemismo para sangrento). Um rascunho escrito à mão daquela carta foi encontrada entre os pertences de Oswald após o assassinato. A já mencionada Ruth Paine testemunhou que Oswald reescreveu aquela carta diversas vezes antes de datilografá-la na máquina de escrever dela. Marina garantiu que ele “redatilografou o envelope dez vezes”. Era importante para ele. Uma fotocópia da carta final enviada por Oswald para a embaixada soviética foi recuperada pela Warren Commission. Deixe-me citar algumas frases daquela carta, na qual eu também inseri, entre parênteses, a versão antes rascunhada por Oswald:
“Isto é para informar você dos eventos recentes desde as minhas reuniões com o camarada Kostin [no rascunho: “sobre novos eventos desde as minhas entrevistas com o camarada Kostine”] na embaixada da União Soviética, Cidade do México, México. Não pude permanecer no México [riscado no rascunho: “porque considerei desnecessário”] indefinidamente devido às restrições do meu visto mexicano, de apenas 15 dias de duração. Não tive a chance de pedir um novo visto [no rascunho: “solicitando uma prorrogação”] a não ser usando o meu nome real, por isso voltei para os Estados Unidos.”
O fato de Oswald ter usado um codinome operacional para Kostikov confirma, para mim, que tanto a sua reunião com Kostikov na Cidade do México como a sua correspondência com a embaixada soviética em Washington foram conduzidas em um contexto operacional da PGU. O fato de Oswald não ter usado o seu nome real para obter o visto mexicano confirma esta conclusão.
Agora, vamos sobrepor esta carta combinada ao guia gratuito Esta Semana – de 28 de setembro a 4 de outubro de 1963, e a um dicionário Castelhano-Inglês, ambos encontrados entre os pertences de Oswald. O guia tem o número de telefone da embaixada soviética sublinhado, os nomes Kosten e Oswald anotados em cirílico na página listando os “Diplomatas no México” e, na página anterior, marcas de verificação perto de cinco cinemas. [4] Atrás do dicionário Castelhano-Inglês, Oswald escreveu: “comprar ingressos [plural] para a tourada” [5] e a praça de touros Plaza México está circulada no mapa da Cidade do México. [6] O Palácio de Belas Artes, local predileto dos turistas que se juntam aos domingos de manhã para assistir o Balé Folclórico, também está marcado no mapa de Oswald, [7].
Ao contrário do que Oswald informou, ele não foi visto na embaixada soviética em nenhum momento durante a sua estadia na Cidade do México – a CIA tinha câmeras de vigilância na entrada da embaixada na época. [8] Resumindo: todos os fatos acima, reunidos, sugerem para mim que Oswald recorreu a uma reunião não programada, ou “iron meeting” – zheleznaya yavka, em russo – para uma conversa urgente com Kostikov na Cidade do México. A “iron meeting” era um procedimento padrão da KGB para situações de emergência: “iron” significava firme ou inalterável.
Na minha época eu aprovei muito poucas “iron meetings” na Cidade do México (local favorito para o contato com nossos agentes importantes morando nos EUA) e a reunião “iron meeting” de Oswald parece, para mim, uma “iron meeting” típica. Ou seja, um breve encontro em um cinema para marcar uma reunião para o dia seguinte nas touradas (na Cidade do México, elas acontecem às 4h30 na tarde do domingo); um encontro breve em frente do Palácio de Belas Artes para passar para Kostikov um dos ingressos comprado por Oswald para a tourada; e uma longa reunião para discussão na tourada de domingo.
Não posso, é claro, ter certeza de que tudo aconteceu exatamente desta forma – cada oficial de apoio tem as suas próprias peculiaridades. Mas independentemente de como eles possam ter entrado em contato, é claro que Kostikov e Oswald se encontraram secretamente naquele fim de semana de 28 e 29 de setembro de 1963. Na terça-feira seguinte, ainda na Cidade do México, ele telefonou para a embaixada soviética a partir da embaixada cubana e pediu ao guarda em serviço para conectá-lo com o “Camarada Kostikov” com o qual ele “conversou em 28 de setembro”. Aquele telefonema foi interceptado pela CIA.
FP: Cada partido comunista era gerenciado por um politburo ao estilo soviético, todos os exércitos do bloco soviético usavam o mesmo uniforme, cada força policial do Leste Europeu foi substituída por uma milícia ao estilo soviético. Como este padrão soviético refletiu no serviço de inteligência do bloco?
Pacepa: “Tudo o que você verá aqui é idêntico ao que eu vi no seu serviço” disse-me Sergio del Valle – Ministro do Interior cubano e chefe geral da segurança nacional e da inteligência estrangeira – quando me apresentou para os dirigentes do serviço de espionagem cubano, o DGI. [9] Até mesmo o treinamento dos oficiais do DGI era baseado nos mesmos manuais recebidos da PGU por nós, do serviço de espionagem romeno, o DIE – Departamentul de Informatii Externe.
Sim, a inteligência soviética, como o governo soviético em geral, tinha uma forte propensão por padrões. Pela sua própria natureza, a espionagem é um empreendimento enigmático e dúbio, mas nas mãos dos soviéticos desenvolveu-se e virou uma filosofia completa, onde cada aspecto tinha o seu próprio conjunto de regras testadas e precisas e seguia um padrão fixo.
Durante os muitos anos que passei pesquisando os laços de Oswald com a KGB, peguei as informações reais e verificáveis sobre a sua vida desenvolvidas pelo governo americano e pesquisadores independentes relevantes, e as examinei à luz dos padrões operacionais da PGU – pouco conhecidos por estrangeiros devido ao absoluto segredo então – como hoje – endêmico na Rússia. Novos insights sobre o assassinato de repente ganharam vida. As experiências de Oswald como marine servindo no Japão, por exemplo, se encaixaram perfeitamente no padrão da PGU para recrutar membros das forças armadas americanas fora dos Estados Unidos que, por muitos anos, eu apliquei nas operações romenas. Também ficou óbvio que o armário no terminal de ônibus usado por Oswald em 1959, após retornar aos EUA vindo do Japão, para depositar uma mochila de lona cheia de fotografias de aviões militares americanos, era de fato uma intelligence dead drop [N do T: local onde duas pessoas de um serviço secreto podem colocar e retirar objetos sem precisar se encontrar]. [10] Durante aqueles anos o uso de tais armários era moda na PGU – e no DIE.
As operações da espionagem soviética podem ser separadas de acordo com padrões, se você estiver familiarizado com elas. Os peritos em contrainteligência chamam estes padrões de “evidência operacional”, mostrando as impressões digitais do perpetrador.
FP: A maior parte do trabalho do assassinato de Kennedy sugere que Oswald era um marine de baixo escalão sem informações importantes a oferecer para a KGB. Também era nitidamente perturbado e um tanto imprevisível. Se isto é verdade, por que a KGB o recrutou?
Pacepa: Isto é desinformação soviética – disseminada também pelo meu DIE, sob ordens da KGB. A verdade é bem diferente. Veja um exemplo. Como operador de radar na Base Aérea de Atsugi no Japão, Oswald sabia a altitude de vôo dos super-secretos aviões espiões U-2 da CIA que sobrevoavam a União Soviética partindo daquela base. Em 1959, quando eu era o chefe do posto de inteligência da Romênia na Alemanha Ocidental, um requerimento soviético endereçado a mim pediu “tudo, incluindo boatos” sobre a altitude de vôo dos aviões U-2. O Ministro de Defesa soviético sabia que os aviões U-2 haviam sobrevoado a União Soviética diversas vezes, mas o Comando de Defesa Aérea não havia sido capaz de rastreá-los porque os radares soviéticos da época não alcançavam grandes altitudes.
Francis Gary Powers, o piloto do U-2 abatido pelos soviéticos em 1° de maio de 1960, acreditava que os soviéticos haviam sido capazes de atingi-lo porque Oswald os havia informado sobre a altitude do seu vôo. De acordo com as declarações de Powers, Oswald tinha acesso “não somente aos códigos de radar e rádio mas também ao novo equipamento de radar MPS-16 com reconhecimento de altura” e a altitude na qual o U-2 voava, que era um dos segredos mais bem guardados.[11]
Parece que Oswald, que desertou para a União Soviética em 1959, era uma das pessoas presentes na audiência do julgamento espetacular de Powers em Moscou. Em 15 de fevereiro de 1962, Oswald escreveu para o irmão Robert: “Ouvi pela Voz da América que eles libertaram Powers, o sujeito do avião de espionagem U-2. É uma grande notícia onde você está, acredito. Ele parecia ser um americano fino e inteligente quando eu o vi em Moscou.” [12]
Terá sido um procedimento normal para a KGB mandar Oswald observar o julgamento de Powers como uma recompensa por ter ajudado a União Soviética abater o U-2.
FP: Yuri Nosenko, um oficial da KGB que desertou para os Estados Unidos em 1964, disse a Gerald Posner, pesquisador do assassinato: “Estou surpreso pela importância dada ao fato de [Oswald] ser um marine. O que ele era na Marinha – major, capitão, coronel?” [13] Como você explica esta declaração de Nosenko?
Pacepa: É fato que Nosenko desertou de boa fé. Mas ele pertenceu ao departamento doméstico da KGB e não sabia nada sobre as fontes estrangeiras da PGU – como um agente de nível médio do FBI não sabe nada sobre as fontes da CIA no exterior.
O recrutamento de membros das forças armadas era uma das mais altas prioridades da PGU na época. A busca por “serzhant” era a minha principal prioridade durante os três anos (1957-59) em que fui designado para residir na Alemanha Ocidental, e ainda era uma das principais prioridades em 1978, quando rompi com o comunismo. Evidentemente, a PGU gostaria de ter recrutado coronéis americanos, mas era difícil se aproximar deles, enquanto oficiais de baixo escalão eram mais acessíveis e podiam fornecer excelentes informações se usados corretamente.
Um bom exemplo é o sargento Robert Lee Johnson. Na década de 1950 ele estava servindo no exterior onde, como Oswald, ficou apaixonado pelo comunismo. Em 1953, Johnson secretamente entrou na unidade militar soviética na Berlin Oriental, onde pediu – como Oswald obviamente fez – garantia de asilo político no “paraíso dos trabalhadores”. Uma vez lá, Johnson foi recrutado pela PGU e persuadido a voltar temporariamente aos EUA para executar uma “tarefa histórica” antes de iniciar a sua nova vida na União Soviética – como foi o caso de Oswald. Realmente, o sargento Johnson foi recompensado secretamente com a patente de major do Exército Vermelho e recebeu congratulações escritas pelo próprio Khrushchev. [14]
De acordo com o coronel da PGU Vitaly Yurchenko, que desertou para a CIA em 1985 e logo em seguida re-desertou, o oficial chefe americano John Anthony Walker – outro “serzhant” – foi o maior agente da história da PGU, “ultrapassando em importância até o roubo soviético dos projetos anglo-americanos da primeira bomba atômica”. John F. Lehman, secretário americano da Marinha na época da prisão de Walker, concordou. [15]
FP: Em 1962, quando Oswald retornou da União Soviética, trouxe com ele um documento de 13 páginas intitulado “Diário Histórico”. Por que tinha este nome?
Pacepa: “Histórico” era um slogan da PGU na época. O termo foi cunhado pelo general Aleksandr Sakharovsky, antigo conselheiro-chefe soviético para a Securitate romena e comandante da PGU por imprecedentes 14 anos. “Histórico” era a sua expressão favorita. A Securitate tinha a “tarefa histórica” de eliminar a burguesia do solo romeno, como ele constantemente pregava para nós. O “dever histórico” da PGU era cavar a cova da burguesia internacional. Dogonyat i peregonyat era a nossa “tarefa histórica monumentalnaya”, ele nos disse logo após Khrushchev ter lançado aquele famoso slogan sobre a sua crítica ao Ocidente e sobre a superação do Ocidente no espaço de dez anos.
Diários pessoais também eram uma invenção de Sakharovsky. Todos os nossos oficiais e agentes ilegais enviados ao Ocidente com biografia fictícia deviam levar algum tipo de apoio escrito para a memória, para lembrarem exatamente onde, quando e o que supostamente haviam feito em vários períodos da sua alegada vida. Até o fim da década de 1950, estas anotações eram transportadas na forma de microdots ou filmes flexíveis escondidos em algum objeto de uso diário, mas, é claro, apresentavam o risco potencial de se tornar prova incriminatória se fôssem encontrados. Em janeiro de 1959, Sakharovsky deu ordens a todos os serviços de inteligência estrangeira do bloco soviético para dissimular estas biografias na forma de diários, rascunhos de livros, cartas pessoais ou notas autobiográficas. Estas notas eram escritas por especialistas em desinformação, copiadas à mão pelo agente ilegal ou de inteligência, normalmente imediatamente antes dele partir para o Ocidente, e em seguida passavam pela fronteira livremente.
Um exame miscroscópico do “Diário Histórico” de Oswald realmente mostrou que “foi escrito em uma ou duas sessões”. [16] Também foi copiado muito apressadamente, como sugerem os diversos erros de ortografia.
FP: O seu livro dá uma intrigante guinada no modo como conta o enredo. No fim, você diz que a evidência sugere que Oswald perdeu o apoio da PGU (Inteligência Estrangeira Soviética), e que ele foi sozinho para matar o presidente Kennedy. Isto é um tanto surpreendente. Conte-nos o que você sabe e explique a sua interpretação.
Pacepa: Em outubro de 1962, a Suprema Corte da Alemanha Ocidental realizou o julgamento público de Bogdan Stashinsky, desertor da inteligência soviética condecorado por Khrushchev por ter assassinado inimigos da União Soviética moradores no Ocidente. Este julgamento revelou Khrushchev ao mundo como um insensível assassino político. Em 1963, o extravagante ditador soviético já era um tirano incapacitado e ofegante. A mínima referência a qualquer envolvimento soviético no assassinato do presidente americano poderia ter sido fatal para Khrushchev. Assim, a KGB – como também o meu DIE – cancelou todas as operações destinadas a assassinar inimigos no Ocidente.
A PGU tentou, sem sucesso, desprogramar Oswald. Os documentos disponíveis mostram que, para provar para a PGU que ele era capaz de executar com segurança o assassinato ordenado, Oswald fez um ensaio atirando – apesar de ter errado por pouco – no general americano Edwin Walker. Oswald fez um pacote, completo com fotografias, mostrando como ele tinha planejado esta operação, e em seguida levou este material para a Cidade do México para provar ao “Camarada Kostin”, o seu oficial de apoio, a sua capacidade. Apesar de Oswald ter conseguido executar a tentativa de assassinato de Walker sem ser identificado como o atirador, Moscou permaneceu inflexível.
O obstinado Oswald estava arrasado, mas no fim ele foi em frente por si só, totalmente convicto de estar cumprindo a sua tarefa “histórica”. Tinha apenas 24 anos e tinha dado o melhor de si para obter armas de modo imperceptível e para fabricar documentos de identidade, usando os métodos aprendidos com a KGB. Até o derradeiro final ele também seguiu as instruções de emergência recebidas originalmente da KGB – não admitir nada e pedir um advogado.
Como Oswald já sabia demais sobre o plano original, entretanto, Moscou providenciou para que fosse silenciado para sempre, caso continuasse tentando realizar o impensável. Era outro padrão soviético. Sete chefes da própria polícia política soviética foram secreta ou abertamente assassinados para evitar incriminar o Kremlin. Alguns foram envenenados (Vyacheslav Menzhinsky, em 1934), outros executados como espiões ocidentais (Genrikh Yagoda em 1938, Nikolay Yezhov em 1939, Lavrenty Beriya e Vsevolod Merkulov em 1953, e Viktor Abakumov em 1954).
Além do mais, imediatamente após as notícias do assassinato de Kennedy, Moscou lançou a operação “Dragão”, um esforço de desinformação no qual o meu serviço esteve profundamente envolvido. O objetivo – plenamente atingido – era jogar a culpa em vários grupos nos Estados Unidos por terem matado o seu próprio presidente.
FP: A primeira resenha sobre Programmed to Kill, feita pela Publishers Weekly, afirma que o seu livro é baseado em histórias antigas de inteligência e não oferece nenhum motivo convincente sobre o interesse soviético pelo assassinato. O que você diz a respeito?
Pacepa: Em 3 de janeiro de 1988, o The New York Times publicou uma resenha parecida sobre o meu primeiro livro, Red Horizons, afirmando que ele continha apenas “histórias esquálidas” sobre o presidente romeno Nicolae Ceausescu. Dois anos depois, entretanto, Ceausescu foi executado após um julgamento cujas acusações eram provenientes, palavra por palavra, do meu livro – que ainda continua vendendo.
FP: Então tudo isso – se isso é verdade – não era um pouco estranho para Khrushchev ter arriscado tanto? Poderia ter causado uma guerra mundial?
Pacepa: Khrushchev, o meu chefe de facto por nove anos, era irracional. Hoje, as pessoas se lembram dele como um camponês que consertou as maldades de Stalin. O Khrushchev que eu conheci era sanguinário, impetuoso e extrovertido, e tendia a destruir todos os projetos tão logo caíssem nas suas mãos. A irracionalidade de Khrushchev fez dele o mais controverso e imprevisível dos líderes soviéticos. Desmascarou os crimes de Stalin mas converteu o assassinato político no principal instrumento da sua política externa. Criou a política de coexistência pacífica com o Ocidente mas acabou por empurrar o mundo para a iminência de uma guerra nuclear. Concluiu o primeiro acordo para o controle de armas nucleares, mas tentou garantir a posição de Fidel Castro no comando de Cuba com a ajuda de armas nucleares. Restabeleceu as relações de Moscou com a Iugoslávia de Tito mas rompeu com Beijing e assim destruiu a unidade do mundo comunista. Em 11 de setembro de 1971, Khrushchev morreu em desonra, como uma não-pessoa, não sem antes ter visto as suas memórias publicadas no Ocidente dando a sua versão da história.
FP: General Ion Mihai Pacepa, obrigado por ter vindo à Frontpage Interview. Ao lado das suas novas revelações e dos importantes fatos e assuntos trazidos à tona sobre o assassinato de Kennedy, o seu livro serve como mais um lembrete sobre a natureza maléfica da KGB e sobre a entidade sinistra e verdadeiramente tenebrosa que nós enfrentamos no regime soviético.
Obrigado por sua luta pela verdade e pela memória histórica.
Será uma honra recebê-lo mais uma vez.
Pacepa: Parabéns pela sua coragem em debater este tema tão controverso.
Notas:
[1] Cristopher Andrew and Vasily Mitrokhin, The Mitrokhin Archive and the Secret History of the KGB (New York, Perseus Books Group, 1999), p. 229.
[2] Oleg Nechiporenko, Passport to Assassination: the Never-Before-Told Story of Lee Harvy Oswald by the KGB Colonel who knew him (New York: Carol Publishing Group, 1993).
[3] Washington Post Magazine, April 23, 1995.
[4] Warren Commission Exhibit 2486.
[5] Testimony of Ruth Hyde Paine, Warren Commission Vol. 3, pp. 12-13.
[6] Warren Commission Exhibit 1400.
[7] Priscilla Johnson McMillan, Marina and Lee (New York: Harper & Row, 1977), p. 496.
[8] Edward Jay Epstein, Legend: The Secret World of Lee Harvey Oswald (New York: Reader’s Digest Press), p. 16.
[9] Dirección General de Inteligencia
[10] Epstein, Legend, p. 89.
[11] Francis Gary Powers, with Curt Gentry, Operation Overflight: The U-2 spy pilot tells his story for the first time (New York: Holt, Rinehart, 1970), p. 357.
[12] Warren Commission Exhibit 315.
[13] Gerald Posner, Case Closed: Lee Harvey Oswald and the Assassination of JFK (New York: Random House, 1993), p. 49.
[14] Christopher Andrew and Oleg Gordievsky, KGB: The Inside Story Of Its Foreign Operations from Lenin to Gorbachev (New York: HarperCollins, 1990), p. 462.
[15] John Barron, Breaking the Ring (Boston: Houghton Mifflin, 1987), pp. 148, 212.
[16] Epstein, Legend, pp. 109, 298n.
21 de novembro de 2013
Jamie Glazov
é editor da Frontpage Magazine.
Tem Ph.D. em História com especialidade em política externa russa, americana e canadense. É o autor de Canadian Policy Toward Khrushchev’s Soviet Union e co-editor (com David Horowitz) de The Hate America Left. Editou e escreveu a introdução de Left Illusions, de David Horowitz. O seu novo livro é United in Hate: The Left’s Romance with Tyranny and Terror. Para ver os seus simpósios, entrevistas e artigos anteriores, clique aqui. Email: jglazov@rogers.com Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. .
Tradução: Ricardo Hashimoto