"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

CRISE POLÍTICA NA ITÁLIA FAZ PAÍS MANTER SILÊNCIO SOBRE A FUGA DE PIZZOLATO

Ministra da Justiça italiana tem outras preocupações no momento; Anna Maria Cancellieri é acusada por tráfico de influência

 O governo italiano mantém o silêncio sobre a fuga do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, condenado pelo mensalão. E só deverá se pronunciar publicamente quando receber o pedido de extradição ou algum comunicado oficial do governo brasileiro — o que, até o momento, não aconteceu.
 
— Nada a declarar hoje. São questões delicadas, precisamos de alguns dias. Tente amanhã — respondeu um porta-voz do Ministério da Justiça italiano, que há três dias usa variações da mesma frase a todos os jornalistas que ligam buscando uma reação oficial do governo.

 A ministra da Justiça italiana que vai lidar com o caso Pizzolato, Anna Maria Cancellieri, quase caiu do governo esta semana, sob acusação de tráfico de influência. O Movimento 5 Estrelas, que se tornou uma das maiores forças políticas da Itália, propôs uma moção de desconfiança contra Cancellieri — isto é, sua saída do governo — alegando que ela se empenhou para tirar da prisão Giulia Ligresti, filha do magnata Salvatore Ligresti, seu amigo.Os porta-vozes do primeiro ministro Enrico Letta também não quiserem falar sobre o assunto, e justificaram a recusa em se pronunciar sobre o caso afirmando que a bola está com o Ministério da Justiça. Desde que a fuga foi revelada, a Itália, mergulhada numa crise econômica e política, não reage. Não apenas porque o assunto é delicado (Pizzolato, para a Itália, é italiano), mas há outro motivo: o fugitivo ítalo-brasileiro, neste momento particularmente conturbado para a Itália, não é prioridade.
 
A ministra garantiu sua permanência no governo nesta quarta-feira: por 405 votos contra moção e 154 a favor, a Câmara dos Deputados da Itália rejeitou a proposta para derrubá-la, depois de ouvir as explicações da ministra.
 
O caso Pizzolato passou despercebido no país também por conta de outra polêmica envolvendo o governo italiano: a contestada construção de um trem-bala entre Lyon, na França, e Torino, na Itália. Enquanto o presidente francês, François Hollande, participava de uma reunião de cúpula em Roma, alguns pontos do centro histórico da capital se transformaram numa praça de guerra com violentos confrontos entre manifestantes e policiais. Resultado: oito feridos, dos quais seis policiais, um manifestantes e um militante do Partido Democrático.
 
Pizzolato pode se beneficiar dessas confusões e de uma complicada trajetória de trâmites burocráticos. O governo brasileiro, para pedir a extradição de Pizzolato, terá que percorrer um sinuoso trajeto no Brasil, que inclui a tradução para o italiano de milhares de páginas do processo do mensalão. Pizzolato teria fugido para a Itália há 50 dias, apostando na força de uma constituição italiana que torna praticamente impossível a extradição de italianos.
 
Itália não vai se vingar do caso Battisti, diz senador
O terreno, agora, está fértil para especulações. Nesta quarta-feira, o senador ítalo-brasileiro Fausto Longo fez uma breve intervenção numa comissão de indústria, comércio e turismo do Parlamento, comparando o escândalo do mensalão no Brasil ao caso “Mani Pulite“ (Mãos Limpas), de combate aos mafiosos na Itália. Lembrando que Pizzolato foi condenado a 12 anos de prisão por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva, o senador defendeu uma decisão técnica para o caso, sem repetir “atos políticos” como o do Brasil, que negou a extradição do terrorista italiano Cesare Battisti.
 
— Se engana quem presume que a Itália possa responder com atos políticos, como ocorreu no caso Battisti. Em algumas declarações acaloradas, políticos do Brasil defenderam a ideia de que a Itália poderia negar a restituição de Pizzolato à Justiça brasileira para se vingar (do caso Battisti) — disse o senador.
 
Ele assegurou que o governo italiano não deverá se comportar da mesma forma que o brasileiro  
 
— O governo da Itália, razoavelmente e provavelmente, não se comportará de forma diferente, dificultando um pedido de extradição da parte do Brasil – disse o senador Longo.
 
Não houve discussão após o discurso de Fausto Longo.
 
21 de novembro de 2013
DEBORAH BERLINCK - O Globo

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